26.10.2016
O FLUXO DA GRAÇA
Salmo 19.7-11
Para o mestre de música. Salmo davídico.
Por que ler a Bíblia?
Através dela, corre e a nós chega o fluxo da graça de Deus.
Nenhuma passagem no Antigo Testamento lida com o fluxo da graça de Deus através da Bíblia, de forma tão sucinta e prodigiosa, quanto o Salmo 19. O Salmo 119 também cobre este assunto, porém com maior profundidade. O Salmo 19 é mais conciso.
O tema do Salmo 19 é a revelação de Deus. Os seis primeiros versículos lidam com a revelação natural (ou geral); isto é, a revelação de Deus de si mesmo segundo visto na criação (também descrito em Romanos 1) – é o ministério da criação.
Sl 19.1-6 | 1 Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. 2 Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite. 3 Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz. 4 Mas a sua voz ressoa por toda a terra, e as suas palavras, até os confins do mundo. Nos céus ele armou uma tenda para o sol, 5 que é como um noivo que sai de seu aposento e se lança em sua carreira com a alegria de um herói. 6 Sai de uma extremidade dos céus e faz o seu trajeto até a outra; nada escapa ao seu calor.
Os versículos 7 a 9 descrevem a revelação especial, ou a revelação que Deus faz de si mesmo em sua Palavra.
Sl 19.7-9 | 7 A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes. 8 Os preceitos do Senhor são justos, e dão alegria ao coração. Os mandamentos do Senhor são límpidos, e trazem luz aos olhos. 9 O temor do Senhor é puro, e dura para sempre. As ordenanças do Senhor são verdadeiras, são todas elas justas.
Os versículos 10 a 14 tratam dos efeitos da revelação de Deus sobre nós.
Sl 19.10-14 | 10 São mais desejáveis do que o ouro, do que muito ouro puro; são mais doces do que o mel, do que as gotas do favo. 11 Por elas o teu servo é advertido; há grande recompensa em obedecer-lhes. 12 Quem pode discernir os próprios erros? Absolve-me dos que desconheço! 13 Também guarda o teu servo dos pecados intencionais; que eles não me dominem! Então serei íntegro, inocente de grande transgressão. 14 Que as palavras da minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis a ti, Senhor, minha Rocha e meu Resgatador!
É nos versículos 7 a 9 que queremos nos deter e considerar com maior cuidado.
À medida que olharmos para as seis afirmações que este Salmo faz da Bíblia, observaremos a arrebatadora descrição que Deus faz acerca do fluxo da graça que irradia e alcança cada necessidade espiritual e emocional das pessoas. A Bíblia é um meio de graça.
1. A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma
O primeiro título para a Palavra de Deus nesses versículos é lei ou torah. É a palavra bíblica favorita para representar as Escrituras, identificando-as como instrução divina.
Refere-se ao fato de que a Bíblia é, na realidade, Deus ensinando a verdade à humanidade. Ela tem em vista a instrução divina relativa ao credo, ao caráter e à conduta. Retrata-a como um manual completo que descortina a lei de Deus para as nossas vidas.
Em outras palavras, a Bíblia é a lei do SENHOR para a vida humana. Como tal, ela é perfeita. Aqui, o salmista contrasta as Escrituras com os raciocínios e as instruções imperfeitos e falhos da humanidade.
A Lei do SENHOR – esta instrução divina que é completamente exaustiva e perfeita – tem o efeito de restaurar a alma: converter a alma, reavivar a alma e trazer novo alento à alma. Todas essas poderiam ser traduções adequadas do verbo hebraico.
A palavra alma, aqui, é a expressão hebraica nephesh: vida, pessoa, eu, e coração. Refere-se ao ser interior. Aqui, então, está o sentido dessa primeira afirmação: as Escrituras, revelação especial de Deus ao homem, são tão exaustivas que são capazes de transformar totalmente o ser interior de uma pessoa. Esta é uma afirmação monumental. Significa que as Escrituras são completas para a conversão, transformação, restauração, nascimento espiritual e para o crescimento rumo à perfeição.
2. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes
A palavra “testemunho” nessa frase comunica a idéia de que as Escrituras se constituem em uma testemunha divina. Essa expressão é o próprio testemunho de Deus a respeito de si mesmo. Ela é o testemunho pessoal de Deus acerca de quem ele é.
E é “digno”; no sentido de que é inequívoca, firme, fiel e digna de confiança.
As Escrituras estão mais certas do que qualquer outra coisa. Elas fornecem uma fundação que não se moverá e na qual uma pessoa pode edificar uma vida e um destino eterno sem hesitar. E essa Palavra segura, esse testemunho seguro de Deus acerca de Si mesmo, torna sábios os símplices.
A palavra hebraica traduzida por “inexperiente” nesse versículo vem de uma raiz que descreve uma porta aberta. Os santos do Antigo Testamento enxergavam uma pessoa simples como tendo uma porta aberta no intelecto.
Você já ouviu alguém dizer: “Sou uma pessoa que tem a mente aberta”? Um judeu do Antigo Testamento diria: “Feche-a”. Em sua forma de raciocínio, uma pessoa simples era alguém que estava literalmente de mente aberta – incapaz de manter algo dentro ou fora. O mesmo termo hebraico é usado com frequência em Provérbios para identificar a pessoa ingênua, sem discernimento, que não sabe julgar, inexperiente, um tolo desinformado.
De acordo com o salmista, então, as Escrituras – o testemunho seguro, confiável, digno de confiança, imutável de Deus acerca de Si mesmo – chegam até aquele que é simples e o tornam sábio.
Observe cuidadosamente: a sabedoria mencionada aqui não constitui dados intelectuais a serem armazenados no cérebro. O conceito hebraico de sabedoria diz mais respeito a como uma pessoa vive. No Antigo Testamento, sabedoria é definida como a capacidade de tomar decisões corretas no viver diário; viver na terra com uma compreensão celestial. A palavra sábio significa, de fato, “habilitado em todos os aspectos do viver santo”. O maior tolo de todos é aquele que conhece a verdade, mas não vive de acordo com ela.
Por conseguinte, esse verso significa que as Escrituras são tão seguras, confiáveis e imutáveis que pegam a pessoa simples, sem discernimento, desinformada, ignorante e incapaz de reter conteúdos, e fazem dela uma pessoa habilitada em todos os aspectos do viver santo. Nisso reside o poder santificador da Palavra.
3. Os preceitos do Senhor são justos, e dão alegria ao coração
Esta terceira afirmação acerca das Escrituras descreve a Palavra de Deus como preceitos ou princípios divinos. Em outras palavras, a Palavra de Deus constitui-se em um conjunto de diretrizes para o viver. E esses princípios são justos ou retos.
A intenção da palavra no hebraico aqui é que os preceitos de Deus ordenam uma vereda reta. Deus não nos deixa vagando sem rumo em meio ao nevoeiro das opiniões humanas. Temos uma Palavra verdadeira que determina a vereda verdadeira a ser seguida. E qual é o resultado disso? “Alegra o coração.”
A vida caracterizada por verdadeira alegria é decorrente de andarmos de acordo com os princípios divinos. As pessoas que caminham segundo os padrões do mundo, longe da Palavra, não encontram alegria. Aqueles que vivem de acordo com o caminho esboçado pelas Escrituras encontram alegria completa e plena.
Sendo assim, essa frase está dizendo que a Palavra de Deus delineia os princípios corretos que perfazem o caminho seguro no qual todo aquele que nele caminhar encontrará plenitude de alegria. Dá para se começar a ver como essas descrições das Escrituras se harmonizam, respondendo a toda e qualquer necessidade do coração humano.
4. Os mandamentos do Senhor são límpidos, e trazem luz aos olhos
A palavra “mandamento” retrata as Escrituras como mandato divino. Isso quer dizer que a Palavra de Deus é plena de autoridade, imperativa, e não opcional.
A Bíblia não é um livro de sugestões de Deus. Ela contém mandamentos divinos, não abertos a negociação. Essas exigências, diz o salmista, são “límpidas”, no sentido de serem simplesmente “claras”. Os mandamentos divinos são lúcidos, fáceis de se ver, e fornecem direcionamento claro. A questão é que as Escrituras iluminam nossos olhos para as coisas obscuras da vida.
Novos convertidos que passaram anos na escuridão compreenderão a importância dessa frase. Você provavelmente notou que sempre que um cristão relativamente novo fala da mudança ocorrida em sua vida, via de regra ele destaca essa verdade. Quando uma pessoa nasce novamente, muitas coisas obscuras se tornam claras. Isso é porque a Palavra de Deus ilumina os olhos. Muita coisa se torna clara. As coisas confusas da vida se tornam compreensíveis.
Por conseguinte, a Palavra de Deus é suficiente para a salvação, para a transformação total da pessoa interior, a fonte de habilidade em todos os assuntos do viver santo, a vereda da alegria, e a fonte de uma clara compreensão das coisas.
5. O temor do Senhor é puro, e dura para sempre
O substantivo utilizado aqui é temor, mas por causa do paralelismo, sabemos que ele se refere às Escrituras. Por que o texto, aqui, se refere às Escrituras como temor? Porque a Bíblia é o manual de adoração. Ela nos ensina como temer a Deus, como reverenciá-lo. Já que o hábito da alma humana é adorar, precisamos de instrução acerca de Quem adorar e como adorá-lo de forma apropriada.
Como manual de adoração, a Bíblia é “límpida” – sem mal, sem corrupção, e sem erro. A palavra no hebraico é tahor, no sentido de “sem impureza, profanação, imundície, ou imperfeição” – Salmo 12.6: “As palavras do Senhor são palavras puras, prata refinada em cadinho de barro, depurada sete vezes”.
A questão é que a Palavra de Deus nos conduzirá à pureza. Você jamais encontrará nas Escrituras uma descrição enganosa de Deus, do homem, de Satanás, dos anjos, ou dos demônios. Você jamais encontrará uma afirmação errada acerca do que é certo ou errado. Tudo aqui é absolutamente límpido e imaculado. Ela é a fonte perfeita para nós.
E observe que esse “temor do SENHOR” dura para sempre. Ele é permanente e eternamente relevante. Não carece de atualização. Não precisa ser editado. Não tem necessidade de ser polido ou refinado. Qualquer pessoa vivendo em qualquer época da história humana, em qualquer cultura, em qualquer clima, descobrirá a Bíblia como perfeitamente aplicável. Os mesmos princípios básicos da Palavra de Deus se aplicam igualmente a uma miríade de pessoas e situações diferentes com o mesmo efeito poderoso.
6. As ordenanças do Senhor são verdadeiras, são todas elas justas
A palavra ordenanças enxerga as Escrituras como veredictos divinos ou juízos. Essa frase projeta Deus como o Juiz de toda a Terra e as Escrituras como Seu pronunciamento do tribunal divino. Esses juízos, de acordo com o salmista, são verdadeiros. Há uma riqueza de importância nesse simples adjetivo.
Resumindo
Para onde nos voltamos…
Existe apenas uma resposta: a Palavra de Deus, a Bíblia.
Em nenhum outro lugar podemos encontrar o que pode transformar completamente a pessoa, torná-la sábia, trazer alegria, iluminar os olhos, ser permanentemente relevante, e produzir justiça completa.
Não é à toa, portanto, que o versículo 10 diz: “São mais desejáveis do que o ouro, do que muito ouro puro; são mais doces do que o mel, do que as gotas do favo”.
Existe algo mais doce? Algo mais precioso? “Por elas o teu servo é advertido; há grande recompensa em obedecer-lhes.” (vv. 11).
Nesses versículos, o salmista resume o que Deus está dizendo acerca de Sua Palavra: as Escrituras são nosso bem maior, mais preciosas do que o ouro. Elas se constituem em nosso maior prazer, mais doces do que o mel. Elas são nossa maior proteção, alertando-nos contra o erro. Elas oferecem a maior promessa: uma recompensa eterna. Elas são o maior agente purificador, afastando-nos do pecado.
O Salmo 1.1-3 ecoa muito bem o pensamento do Salmo 19:
Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quando ele faz será bem-sucedido.
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