10.03.2017
O PROBLEMA COM O TRABALHO [1]
* Clique aqui para baixar os slides da aula.
Na semana passada, nós concluímos o estudo dos quatro atos da história de Deus sobre o trabalho: criação, queda, redenção e restauração. Nesta e na próxima aula, nós iremos nos deter com alguns detalhes ao segundo deles: como a queda afetou o trabalho. Esta é a nossa vida hoje: trabalhar em um mundo caído, arruinado pelo pecado. Na sequência, ao longo das três semanas seguintes, olharemos para o terceiro ato: redenção. Mas o que temos para hoje é o problema com o trabalho.
Como falamos na semana passada, trabalhar em um mundo caído é difícil. Em vez de sentir a satisfação de trazer ordem ao caos, sentimos a frustração de um local de trabalho caótico; em vez de ver o nosso trabalho como adoração, somos tentados a adorá-lo. Por que o nosso trabalho hoje não se parece com o quadro de Gênesis 1 e 2?
A resposta curta e grossa é Gênesis 3: Adão e Eva escolheram trabalhar para si mesmos, priorizando aquilo que julgaram ser melhor e descartando o que Deus idealizou como perfeito. Ao invés de representar Deus, cultivando o mundo como o Criador havia orientado, o primeiro casal buscou a sua própria agenda e usou a criação para os seus propósitos pessoais.
Desde então, o trabalho nunca mais foi o mesmo, tornou-se penoso, insignificante e compulsório. Afinal, você corta a grama hoje, ela volta a crescer amanhã; trabalha duro para aprovar uma lei este ano e, no pleito seguinte, outros vêm e desfazem o que foi feito. O pecado colocou um pedágio em nosso trabalho pesado, limitando-o a apenas aquilo que se pode realizar e ao tempo em que ele durar, além, é claro, de reduzir a satisfação que nós podemos extrair daquilo que fazemos. “É frustrante, nada faz sentido, nada faz o menor sentido, é como correr atrás do vento”, foi como Salomão descreveu a vida e o trabalho (Eclesiastes 2.17-26).
Pois bem, antes de prosseguirmos, precisamos falar sobre o que é isso: quais são alguns dos problemas de se trabalhar em um mundo caído? No que tange a esse assunto, é tudo muito difícil, mas, talvez mais do que qualquer outra coisa, o maior problema com o trabalho em um mundo que foi infectado pelo pecado é que se torna quase automático para nós deixar de cumprir os planos de Deus para ele. Por isso que na aula de hoje e na seguinte nós veremos duas categorias básicas de fracasso: primeiro (aula de hoje), observaremos que podemos facilmente tornar num ídolo o nosso trabalho; segundo (próxima aula), veremos como é fácil para nós nos tornarmos negligentes no trabalho; ou seja: idolatria e indolência – os perigos gêmeos do local de trabalho.
A idolatria do trabalho [2]
Observe a seguir a história de como Sebastian Traeger, um dos autores de nosso livro texto, certa vez transformou o trabalho num ídolo em sua vida (p. 29-31):
Eu me lembro da primeira vez que percebi que aquele trabalho havia se tornado um ídolo para mim. Esse momento veio exatamente depois de um ponto alto em minha carreira profissional. Um amigo e eu havíamos começado uma empresa e, nos últimos anos, nós nos derramamos nela – coração, alma e corpo – e a empresa estava indo bem. Após cinco anos nessa aventura, por uma série de razões, decidimos que havia chegado a hora de vendê-la. O grupo para o qual acabamos vendendo a empresa havia nos procurado por vários anos consecutivos, mas a nossa resposta sempre era “Não, obrigado”. Naquele momento, entretanto, parecia ser a hora certa. Durante os meses seguintes, passamos por uma experiência surreal de negociações para a venda. Quando a última fase – a fase quando os advogados conversam com os contadores – estava terminada, chegou a hora de fechar o negócio.
Ainda me lembro da conclusão. Eu estava em Anaheim, na Califórnia, quando meu sócio ligou de Washington para me dar o bê-á-bá da assinatura. Ele leu todos os documentos mais de uma vez. Fiz algumas perguntas sobre alguns detalhes, depois ele assinou e enviou os papéis por fax. A propriedade de nossa empresa foi transferida para outra pessoa, e uma porção significativa de mudança foi transferida a nós.
Foi um grande dia. Era também o início de uma nova era em minha vida. Deus estava para me ensinar algo novo sobre mim mesmo e sobre a maneira como eu abordava o meu trabalho. Uma vez que a poeira da venda havia baixado, eu me deparei com uma nova realidade: tinha de encontrar alguma outra coisa para fazer. Ansioso, otimista e empolgado para ver aonde Deus me levaria em minha vida profissional, comecei a buscar novas oportunidades.
Procurei por um longo período. Um período realmente longo. Portas fechadas. Propostas rejeitadas. Telefonemas ignorados. E-mails que se “perderam”. Ao final de vários meses de busca, eu tinha esgotado as ideias. Eu confiava que Deus estava me dirigindo para algum lugar, mas era para um lugar que eu nunca havia previsto ou desejado. Ele havia me levado ao desemprego, e junto com ele a uma falta de esperança e a um sentimento profundo e totalmente desconhecido de dúvida. Em apenas alguns meses, minhas emoções haviam despencado do topo do mundo para um lugar de desespero. Minhas expectativas, que haviam sido tão elevadas durante a venda de minha empresa, agora estavam arruinadas. Minha fé em Deus estava quase estagnando.
Como isso aconteceu? Por que eu experimentei essa profunda mudança em minhas emoções e expectativas? Por que a minha fé se abalou de forma tão profunda? Olhando para trás, posso ver o motivo. Minhas expectativas não estavam arraigadas em Deus, mas em minhas circunstâncias – em meu sucesso profissional e em minha capacidade de controlar o futuro. O trabalho havia se tornado um ídolo para mim. Meu senso de bem-estar – minha própria identidade como pessoa – estava envolto em meu sucesso profissional. Uma vez que isso se foi, eu fiquei devastado. Meu deus havia sido tirado de debaixo de mim. E me senti desesperado.
O que é um ídolo?
O que significa dizer que uma pessoa fez do trabalho um ídolo? Isso significa apenas que ela trabalha muito? Será que apreciar aquilo que fazemos, ter prazer em nosso trabalho é ser idólatra? E se gostarmos demais daquilo que fazemos? É errado querer deixar a nossa marca no mundo, “deixar a nossa pegada no universo” (assim como Steve Jobs fez)? Todas essas coisas podem perfeitamente ser boas motivações para o nosso trabalho e nenhuma delas é necessariamente errada. O problema começa quando a nossa busca por satisfação, influência ou prestígio no trabalho começa a fazer dele a fonte suprema de satisfação ou de significado para nós. Quando isso acontece, o nosso trabalho se torna o nosso Deus.
A Bíblia nos diz que o nosso coração é desesperadamente propenso a adorar ídolos. Somos adoradores pela nossa própria natureza. Sempre acharemos algo diante do que nos prostrar, algo para entregar a nossa vida e devoção. Nós adoraremos algo. Centralizaremos a nossa vida em torno de alguém ou de alguma coisa.
A nossa compulsão para adorar não é algo ruim. Deus nos fez para a adoração. A adoração é uma coisa muito boa, contanto que o objeto adorado seja digno dela. Sendo assim, qual é o objeto correto para a nossa adoração? Somente o próprio Deus. Jesus disse certa vez: “Adore o Senhor, seu Deus, e sirva somente a ele” (Lucas 4.8). A nossa adoração deve ser reservada para Deus; somente ele deve dominar a nossa mais elevada devoção, e é em torno dele que devemos centralizar e organizar a nossa vida. Quando esse lugar de destaque vai para qualquer outra coisa ou pessoa, nós estamos dobrando os nossos joelhos a um ídolo.
No Antigo Testamento, os ídolos eram exatamente como você havia imaginado – pequenas estátuas de ouro semelhantes àquela que Indiana Jones roubou do Templo da Perdição. É claro que elas nem sempre eram de ouro, e nem sempre eram pequenas. As pessoas adoravam esses objetos físicos porque acreditavam que eles representavam de alguma forma os deuses reais – seres espirituais com poder para satisfazer suas necessidades. As pessoas realizavam toda sorte de atos de adoração em relação aos seus ídolos, lançando riquezas aos seus pés, vestindo-os com as mais finas roupas e até se prostrando fisicamente diante deles. Elas organizavam suas vidas em torno de sua devoção aos deuses que esses ídolos representavam.
Hoje em dia não somos toscos em nossa idolatria. Normalmente, não temos estátuas de ouro para venerar, e nem nos reunimos em templos para oferecer presentes em abundância para essas estátuas. Temos nos tornado mais sofisticados em nossa idolatria, mas a nossa tendência para adorar as coisas no lugar de Deus é exatamente tão intensa como sempre. Para muitas pessoas hoje em dia, sua paixão é o seu trabalho e todas as coisas que seu emprego pode oferecer a elas – dinheiro, prestígio, identidade, prazer e propósito. O nosso trabalho aprisiona o nosso coração e a nossa devoção. Nós nos entregamos a ele dia após dia, ele se torna o objeto principal de nossa paixão, de nossa energia e de nosso amor. Podemos não admitir isso de bom grado, mas adoramos o nosso trabalho.
Lucas 18.18-29 nos ajuda a compreender melhor o que significa permitir que algo se torne um ídolo para nós. Um governante rico vem a Jesus para aprender o que se exige dele para que ele herde a vida eterna. Jesus o diz, e aquele homem fala com empolgação que era exatamente assim que sua vida sempre foi! Mas, então, Jesus sonda a única área da vida daquele jovem que ele queria guardar para si mesmo. “Uma coisa ainda te falta”, afirma Jesus, “vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me”. A Bíblia diz que quando aquele jovem ouviu isso, “ficou muito triste, porque era riquíssimo”. Desse modo, Jesus revelou o ídolo daquele homem – seu amor pelo dinheiro e pelo prestígio que isso oferecia a ele. Seu ídolo o impediu de seguir a Jesus. Você percebe o ponto principal dessa história? Ela nos dá um dos exemplos mais claros e simples de idolatria em toda a Bíblia. Um ídolo é algo que desejamos mais do que desejamos Jesus.
Você faz de seu trabalho um ídolo?
É fácil transformar o nosso trabalho em um ídolo. Nossa cultura nos pressiona para sermos bem-sucedidos, mas o sucesso é definido normalmente de maneiras específicas. Pense nas conversas que você tem quando encontra alguém que você não conhece. Uma das primeiras perguntas que você provavelmente fará é: “O que você faz?” ou “Trabalha com o quê?” Nesse ponto, a pressão é para convencer a outra pessoa de que aquilo que fazemos é importante, e que somos bons nisso. A sugestão social ao nosso redor nos força a encontrar a nossa identidade em nossa profissão – nas coisas que fazemos.
Idolatrar o nosso trabalho, no entanto, é mais do que apenas uma ideia ruim; é um perigo espiritual fatal. Se a nossa busca por alegria, satisfação e significado estiver centrada “naquilo que fazemos” e “naquilo que estivermos realizando”, no final das contas não encontraremos nada além de um vácuo. A satisfação profunda e duradoura só pode ser encontrada quando nossa adoração é dirigida para o único que a merece – Jesus Cristo.
O nosso trabalho se torna um ídolo quando nos identificamos com ele em demasia, quando se torna o principal consumidor de nosso tempo, de nossa atenção e de nossa paixão, bem como o meio principal de medir nossa felicidade ou nossa insatisfação na vida. Então, quais são alguns dos sinais de advertência de que isso está acontecendo? Eis algumas das maneiras mais comuns de idolatrar o nosso trabalho. Veja se alguma delas descreve você.
1. O nosso trabalho é a fonte principal de nossa satisfação
É muito fácil buscar gratificação em nosso trabalho, encontrando o nosso propósito supremo no desempenho profissional e no sucesso no local de trabalho. Para alguns, esse tipo de idolatria toma a forma sutil da insistência em fazer apenas aquilo que foram “feitos para fazer” e da recusa em fazer – ou fazer bem feito – qualquer coisa aquém daquilo que eles têm paixão para fazer. Para outros, ela pode tomar a forma de uma frustração constante e opressiva – um sentimento de que seu trabalho não é totalmente gratificante. E para outros, é o oposto – uma autossatisfação crônica naquilo que eles já realizaram.
E você? O sucesso no trabalho supre uma grande necessidade de sua vida? Você acha que seu humor muda radicalmente à medida que seu valor profissional tem altos e baixos? O nosso trabalho jamais poderá oferecer o tipo de satisfação e gratificação que estamos exigindo dele. Ele simplesmente não foi planejado para alcançar essas expectativas. Portanto, não deveríamos nos surpreender quando a satisfação que experimentamos através de nosso trabalho desvanece ou falha em nos confortar.
É como uma criança andando de patinete: ela pode andar muito bem em volta da garagem, mas ficará furiosa quando o seu patinete não voar. Podemos achar isso cômico ou divertido, mas o menininho fica cada vez mais frustrado e bravo, chutando o patinete e gritando com ele. Obviamente, o problema é simples: patinetes não foram feitos para voar. A criança fica confusa em relação ao propósito do patinete – mas ele não deveria voar! Ele foi planejado para ser guiado. Se a criança tivesse as expectativas apropriadas com relação ao seu patinete, ela o desfrutaria melhor. O mesmo é verdade em relação ao nosso trabalho. Se tivéssemos as expectativas corretas em relação a ele, provavelmente nos veríamos desfrutando-o mais frequentemente. O nosso trabalho jamais foi planejado para carregar o peso de nos oferecer a satisfação suprema e duradoura. E quando tentarmos fazer com que ele carregue essa carga, logo ficaremos desapontados.
2. O nosso trabalho diz respeito a fazer o nosso nome
O nosso trabalho pode se tornar um ídolo quando colocamos uma ênfase excessiva na busca pela excelência. É claro que não há nada inerentemente errado no fato de trabalhar duro e fazer o nosso trabalho bem feito. Na verdade, isso é algo que Deus exige de nós. O problema está em nosso desejo de sermos reconhecidos como alguém que é bom em alguma coisa. Isso pode facilmente se tornar um ídolo. Queremos causar uma boa impressão, que as pessoas nos notem e nos elogiem pelas nossas habilidades, que elas nos valorizem e enfim… nos glorifiquem.
Essa manifestação de idolatria no local de trabalho geralmente leva a uma mentalidade continuamente competitiva. Mentalmente, ficamos sempre avaliando quem é o melhor. “Será que sou tão bom quanto aqueles caras”? “Como as minhas realizações se equiparam às daquela pessoa”? Etc. Claro que um pouco de competição pode ser saudável, pois ela pode levar-nos um pouco além e a trabalhar com mais empenho. Entretanto, isso se torna desastroso quando o nosso desejo de estar no topo começa a governar o nosso coração. Até mesmo quando somos bem-sucedidos, a idolatria do sucesso pode nos deixar com o sentimento de que isso ainda não é bom o bastante – um perfeccionismo incessante. E se não formos bem-sucedidos, a idolatria do sucesso pode nos levar a um desencorajamento autodestrutivo ou a uma severa resignação desoladora.
3. O nosso trabalho se torna principalmente uma questão de fazer a diferença no mundo
Outra forma de o nosso trabalho se tornar um ídolo é quando pensamos que o seu propósito absoluto é trazer algum benefício para as pessoas ao nosso redor. Há algo profundamente correto no desejo de fazer a diferença no mundo ao nosso redor. No entanto, esse desejo pode também se elevar à idolatria se acreditarmos que o valor do nosso trabalho é determinado basicamente pelo seu impacto no mundo.
Quando o nosso desejo de causar impacto ocupa a prioridade, é provável que Deus e seus propósitos sejam expulsos do cenário. Essa expressão de idolatria nos enche de orgulho, já que levamos o crédito pelas realizações de nosso trabalho, em vez de reconhecer essas conquistas como dons de Deus. O fato de fazer a diferença ou de trabalhar para “transformar o mundo” pode também nos levar a negligenciar outras responsabilidades dadas por Deus. Justificamos nossa negligência noutra coisa porque estamos fazendo algo bom – servindo aos outros. Mas, depois, se os nossos esforços não produzem os resultados que queremos ver, ficamos desanimados e irados; ficamos frustrados, achando que o nosso trabalho foi simplesmente uma perda de tempo.
Toda forma de idolatria – todo ato de adoração a algo que não seja digno da nossa adoração – gerará frutos amargos em nossa vida. Os desejos bons e piedosos podem ser rapidamente transformados em ídolos, produzindo avareza, insatisfação e uma competitividade incessante. A idolatria é a clássica propaganda enganosa. Os ídolos prometem gratificação, mas nunca oferecem isso. Somos abandonados com uma insatisfação crescente e um anseio frustrado.
Por que o trabalho é um deus terrível?
Deus nos diz que nada neste mundo é digno da nossa adoração, exceto Jesus. Tudo o mais, inclusive nosso trabalho, falhará em trazer satisfação nesta vida e será inútil na vida por vir. Por que é assim? Por que não podemos encontrar uma satisfação profunda e duradoura em nosso trabalho? Por que ele não traz a satisfação que tantas vezes nos convencemos que ele trará? A resposta é porque o nosso coração sempre quer obter mais. Se nos entregarmos ao ídolo do trabalho, descobriremos que ele é um capataz insuportável, um senhor de escravos que jamais pode ser totalmente satisfeito. Ele sempre nos desapontará e abandonará. No final, ele nunca concederá a satisfação que promete.
Sebastian Traeger narra a sua experiência após conseguir entrar na Universidade de Princeton para estudar:
Eu me lembro da primeira vez que reconheci essa verdade. Sendo um calouro da Universidade de Princeton, um dia eu estava caminhando pelo campus e percebi que havia alcançado a meta motivadora de todo o trabalho que eu havia realizado ao longo do ensino médio: eu era um estudante de uma das oito melhores universidades dos Estados Unidos! Naquele exato momento, entretanto, também percebi que eu não estava satisfeito. Por que não? Porque percebi que o ensino médio havia sido apenas um trampolim para chegar a Princeton, e agora Princeton havia se tornado um trampolim para algum outro alvo. Princeton parecia ser o alvo, mas, na verdade, não era. Eu ainda não estava satisfeito. Eu queria mais.
Pensando em tudo isso, comecei a me fazer a simples pergunta: o que vem depois? Eis-me aqui na pomposa faculdade; legal, e o que vem depois? Uma ótima profissão logo após a faculdade? Joia! Mas, o que virá depois?
Na minha opinião, a lógica da idolatria é evidente. Sempre haverá um próximo passo, sempre haverá algo mais para eu atingir. Trabalhar para mim mesmo e para a minha própria gratificação sempre acabará em insatisfação.
Comecei uma grande empresa e fui bem-sucedido em desenvolvê-la; tudo bem, mas o que vem depois? Uma casa enorme e uma casa de férias; já tenho isso, e o que vem depois? Produzir um filme em Hollywood; e o que vem depois? Comprei um time de baseball e posso considerá-lo o time dos meus sonhos, sim, e o que vem depois? Mais rico que Bill Gates – 90 bilhões de dólares no banco; e o que vem depois?
O problema ficou espantosamente claro: a cada passo, ao longo do caminho, eu estava olhando adiante para a coisa seguinte; uma coisa que pudesse finalmente cumprir aquela promessa de satisfação feita a mim. Mas não conseguia encontrá-la.
Entretanto, a realidade não é que o nosso coração sempre anseia por: “E o que vem depois?”; mas é também o fato vívido de que a Bíblia nos diz que o nosso trabalho é amaldiçoado. Quando os seres humanos se rebelaram contra Deus e mergulharam o mundo no pecado, o nosso trabalho tornou-se arduamente difícil e seus frutos se tornaram penosos e transitórios. Apenas pioramos a questão quando falhamos em reconhecer essa realidade e começamos a buscar satisfação absoluta e duradoura em nosso trabalho.
Eis o principal problema com o fato de deixar que nosso trabalho se torne um ídolo: há sempre mais a ser feito, mais a ser conquistado. Sempre haverá um “E o que vem depois?” a ser buscado. Sempre poderemos tornar a cidade um pouquinho melhor, tornar o nosso trabalho um pouco mais eficiente e um pouco mais fácil. A trave do gol continua se movendo, e a satisfação se comprova ilusória.
A solução para a idolatria do trabalho
A conclusão verdadeira e final de tudo isso é que não vale a pena viver para o mundo. Ah, mas ele alega que sim! E faz todo tipo de promessas a respeito do bem que ele pode nos dar se apenas esgotarmos nossa vida no serviço dele. Porém, só vale a pena viver para o próprio Deus. Somente ele pode dar a satisfação duradoura e absoluta.
E você? De que maneira você tem buscado intensamente felicidade, alegria, gratificação ou propósito em seu trabalho? Você tem se visto desejando mais o bem que seu trabalho promete do que tem desejado a Jesus? Você transformou o seu trabalho em um ídolo? Se a resposta for sim, a solução é simples, embora não seja fácil: Você precisa se arrepender! Você precisa rejeitar essa forma de pensamento fútil e errônea, reconhecer sua idolatria do trabalho como ela realmente é e concentrar sua mente no trabalho como um ato de adoração a Deus. Quando você fizer isso, você descobrirá, para sua grande alegria, que a trave do gol parou de se mover de repente. Isso acontece porque uma vez que fundamentamos a nossa vida, alegria e satisfação em Deus, não há mais “E o que vem depois?”. Por que não? Porque não há necessidade de nada mais.
Reflexão e aplicação
Na aula a seguir estudaremos sobre a indolência no trabalho. Daí, passaremos as aulas subsequentes caminhando pela estrada da reconstrução do ideal bíblico para o trabalho. Portanto, não é a intenção apresentar agora um monte de orientações sobre como solucionar o problema com o trabalho. No entanto, para se aproveitar ao máximo as próximas leituras e encontros, tome algum tempo esta semana para pensar em tudo o que dissemos, aplicando o que se segue:
[1] Material traduzido e adaptado pelo Pr. Leandro B. Peixoto do curso Christians in the workplace. Trata-se de parte do programa de Escola Bíblica Dominical da Capitol Hill Baptist Church em Washington D.C. (pastoreada por Mark Dever), denominado Core Seminars – Engaging the World. Fonte: http://www.capitolhillbaptist.org
[2] Foram acrescidos trechos do capítulo 1 do livro O Evangelho no Trabalho, de autoria de Sebastian Traeger e Greg Gilbert, publicado pela editora Fiel (pp. 29-43).
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