10.09.2017
O DIREITO DE SER FILHO DE DEUS
João 1.6-13
6Deus enviou um homem chamado João 7para falar a respeito da luz, a fim de que, por meio de seu testemunho, todos cressem. 8Ele não era a luz, mas veio para falar da luz. 9Aquele que é a verdadeira luz, que ilumina a todos, estava chegando ao mundo. 10Veio ao mundo que ele criou, mas o mundo não o reconheceu. 11Veio a seu próprio povo, e eles o rejeitaram. 12Mas, a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus. 13Estes não nasceram segundo a ordem natural, nem como resultado da paixão ou da vontade humana, mas nasceram de Deus.
Eu também sou filho de Deus!
“Eu também sou filho de Deus!” A expressão é usada quando uma pessoa quer reforçar que tem o direito a alguma coisa ou a um merecido descanso. Talvez seja uma das máximas que nós mais ouvimos ou dizemos na vidas. Quem nunca a usou?
Usá-la como força de expressão, tudo bem, mas será que a Bíblia sustenta dizer que todas as pessoas, realmente, são filhas de Deus? Isso é o que nós buscaremos responder na exposição bíblica desta noite.
Nem todos são filhos de Deus
Desde a queda (Gn 3), em todas as épocas, as pessoas, cônscias que são da existência do Criador, sempre fizeram confusão a respeito do estado delas diante de Deus. Deus mesmo infundiu no coração de todos o senso da divindade. Tanto é verdade que não existe civilização nenhuma, em toda a história humana, em que não se verifique alguma religiosidade, superstição, crença fervorosa ou algum ritual geligioso. O ser humano nunca deixou de buscar uma maneira de se (re)ligar a Deus, como um filho ao seu Pai.
O problema é que nem religião nem religiosidade tornam alguém filho ou filha de Deus. Se tornasse, Jesus não teria dito o que disse aos judeus, que em questão de piedade religiosa superaria a maioria dos seres humanos em todos os tempos:
Jo 1.11-13 | 11Veio a seu próprio povo, e eles o rejeitaram. 12Mas, a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus. 13Estes não nasceram segundo a ordem natural, nem como resultado da paixão [do sangue] ou da vontade humana [nem da vontade da carne], mas nasceram de Deus.
Esses versículos são muito importantes, pois além de nos dizerem que (apesar de toda religiosidade) nem todos são filhos de Deus (vv. 11-12), eles nos revelam como alguém pode se tornar por direito um filho de Deus (v. 13). Tudo bem que Deus a todos criou, e nesse sentido todos somos suas criaturas (filhos criados, por assim dizer). Mas, por causa do pecado, simplesmente ter sido criado por Deus não torna alguém filho legítimo de Deus. Jesus disse assim:
Jo 8.34-37 e 42-45 | 34 […]“Eu lhes digo a verdade: todo o que peca é escravo do pecado. 35O escravo não é membro permanente da família, mas o filho faz parte da família, para sempre. 36Portanto, se o Filho os libertar, vocês serão livres de fato. 37Sim, eu sei que vocês são descendentes de Abraão. E, no entanto, procuram me matar, […] 42[…]Se Deus fosse seu Pai, vocês me amariam, porque eu venho até vocês da parte de Deus. Não estou aqui por minha própria conta, mas ele me enviou. 43Por que vocês não entendem o que eu digo? É porque nem sequer conseguem me ouvir! 44Pois são filhos de seu pai, o diabo, e gostam de fazer as coisas perversas que ele deseja. Ele foi assassino desde o princípio. Sempre odiou a verdade, pois não há verdade alguma nele. Quando ele mente, age de acordo com seu caráter, pois é mentiroso e pai da mentira. 45Portanto, quando eu digo a verdade, é natural que não creiam em mim!
Em outras palavras: religiosidade, ascendência religiosa, rituais e coisas do tipo (afinal, os judeus tinham tudo isso), não tornam alguém filho de Deus, apenas revela servidão ao diabo. O escravo não é membro da família. Os filhos, sim, livres que são da escravidão do pecado, da surdez e da cegueira religiosas, fazem parte da família de Deus para sempre. O que está em jogo, quando se fala em ser ou não ser filho de Deus, é a vida eterna. Então, eu pergunto: “Nem todos são filhos de Deus, você é?”. O apóstolo Paulo, aos Romanos, escreveu assim:
Rm 8.15-17 | 15Pois vocês não receberam um espírito que os torne, de novo, escravos medrosos, mas sim o Espírito de Deus, que os adotou como seus próprios filhos. Agora nós o chamamos “Aba, Pai”, 16pois o seu Espírito confirma a nosso espírito que somos filhos de Deus. 17Se somos seus filhos, então somos seus herdeiros e, portanto, co-herdeiros com Cristo. Se de fato participamos de seu sofrimento, participaremos também de sua glória.
Quando alguém se torna filho de Deus, essa pessoa se torna herdeira de tudo o que Deus possui. Tudo o que pertence a Deus passa a ser dela por herança. Na ressurreição, tudo o que existe será dela por “direito” (Jo 1.12); e Deus cuidará dela para sempre e fará dela uma pessoa eterna e infinitamente feliz em sua presença (Sl 16.11). Por outro lado, se a pessoa não se torna filha de Deus, haverá apenas julgamento e condenação.
Não haverá escravos no porvir, apenas filhos. Os escravos não são membros permanentes da família (Jo 8.35). Eles experimentarão o que Jesus chama de ressurreição “para serem julgados” (Jo 5.29), e será tarde demais para qualquer processo de adoção.
Então, voltemos para João 1.6-13 em busca de resposta para a pergunta mais importante da vida: “Como se tornar filho de Deus?” Sobre o direito de ser filho de Deus, à partir de nosso texto, faremos três afirmações: o direito de ser filho de Deus 1é apresentado pela palavra de Cristo (vv. 6-9); 2é possibilitado pela obra de Cristo (v. 12-13); 3é obtido pela fé em Cristo (v. 12).
1. O direito de ser filho de Deus é apresentado pela palavra de Cristo
Semana retrasada, nós estudamos esse texto de João (1.6-9); afirmamos que a maneira de Deus espalhar a luz da vida, dissipando, assim, as trevas — no mundo e no coração das pessoas — é através de testemunhas como João Batista. Reveja o texto:
6Deus enviou um homem chamado João 7para falar a respeito da luz, a fim de que, por meio de seu testemunho, todos cressem. 8Ele não era a luz, mas veio para falar da luz. 9Aquele que é a verdadeira luz, que ilumina a todos, estava chegando ao mundo.
Note, primeiro, que João Batista ou a testemunha não é a luz — v. 8 (João falará da pessoa do Batista mais adiante, lá em 1.19-28); segundo, João Batista ou a testemunha foi enviado para testemunhar a respeito da luz — vv. 7-8 (João discorrerá com detalhes sobre o testemunho do Batista mais adiante, lá em 1.29-34); terceiro, o objetivo de João Batista ou da testemunha é que todos creiam em Cristo (João falará dos efeitos do testemunho do Batista lá em 1.35-51). Esse relato de João Evangelista é muito importante, tanto para quem prega como para quem ouve o evangelho:
O pregador (ou testemunha da luz), quando apresenta o evangelho (ou fala a respeito de Jesus Cristo), “ilumina a todos” com a luz da vida que chegou ao mundo (v. 9). O que isso significa? Existem várias interpretações para João 1.9:
A melhor explicação é que João 1.9 se refere à exposição que a luz traz quando ela brilha; o verbo grego significa iluminar ou tornar visível. Isso não se refere à iluminação interior, mas à revelação objetiva ou à luz que veio ao mundo através da encarnação e que todos podem ver (cf. Carson, p. 124; Schreiner, p. 240). D. A. Carson explica assim:
Ele brilha sobre todo homem e divide a espécie: aqueles que odeiam a luz reagem como o mundo faz (1.10): eles fogem para que suas obras não sejam expostas por essa luz (3.19-21). Mas alguns recebem essa [mesma] revelação (1.12-13), e assim testemunham que suas ações são feitas por intermédio de Deus (3.21). No Evangelho de João, repetidamente acontece que a luz brilha sobre todos e força uma distinção (p.ex., 3.19-21; 8.12; 9.39-41). Essa luz [Jesus] “brilha sobre todos” — 1.9 (quer ele veja isso quer não).
O ponto de João é que Jesus é para todos, sem distinção — i.e., a revelação especial de Deus em Jesus está para todos, e a testemunha da luz é enviada por Deus para testemunhar a respeito da luz na esperança de que todos creiam. Agora, quando a luz expõe a corrupção e o pecado que está no coração de todos, alguns irão fugir como baratas expostas à luz acesa na cozinha — correrão para cobrir, esconder suas obras más, seus pecados. Outros, porém, receberão a luz, sabendo que ela veio para curar e salvar. Veja:
Jo 1.9-12 | 9Aquele que é a verdadeira luz, que ilumina a todos, estava chegando ao mundo. 10Veio ao mundo que ele criou, mas o mundo não o reconheceu. 11Veio a seu próprio povo, e eles o rejeitaram. 12Mas, a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus.
Nós precisamos da luz que brilha em Jesus através da apresentação da palavra de Cristo. O direito de ser filho de Deus é apresentado pela palavra de Cristo. A fé vem pelo ouvir a palavra de Cristo (Rm 1.17). Portanto, não despreze a leitura da Bíblia, não torça o nariz para a apresentação do Evangelho, não menospreze a exposição e o ensino das Escrituras. Não fuja como barata à exposição da luz; seja como aleluia ou mariposa que se aproxima e é guiada pela luz.
2. O direito de ser filho de Deus é possibilitado pela obra de Cristo
Entre nós e a vida eterna (o direito de ser filho de Deus), existem dois grandes obstáculos: 1primeiro, estamos espiritualmente inanimados — sem vida ou mortos; e, 2segundo, somos pecaminosamente corruptos e culpados. Logo, por causa do problema legal, não podemos herdar a vida eterna e, por causa do problema espiritual, não queremos herdar a vida eterna. Então, como poderemos, já que nós estamos mortos e somos culpados? A saída está no amor de Deus. Deus nos amou tanto que fez duas coisas pelas suas ovelhas: enviou Jesus Cristo e o Espírito Santo.
Primeiro, Deus enviou seu Filho, “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29), e removeu a culpa de todos os que nele creem (Jo 3.16). Então, no momento em que cremos em Cristo, apesar de sermos pecadores, somos autorizados a nos apropriar da herança dos filhos de Deus. Pela fé em Cristo nós recebemos o direito de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1.12); e, assim, o nosso primeiro obstáculo é removido.
O nosso problema, porém, não é apenas de ordem legal; é também de ordem espiritual — ou seja, além de condenados, estávamos espiritualmente mortos. Daí que, em segundo lugar, Cristo enviou o Espírito para nos fazer nascer de novo, para nos vivificar e nos transportar da morte para a vida; e, assim, ele superou o nosso segundo obstáculo.
Jo 1.12-13 | 12Mas, a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus. 13Estes não nasceram segundo a ordem natural [lit., sangues, nascimento natural, de pai para filho], nem como resultado da paixão [do sangue — da decisão dos pais em terem filhos] ou da vontade humana [nem da vontade da carne — da força de vontade], mas nasceram de Deus.
Ou seja, nós não nos tornamos filhos de Deus porque nascemos numa família religiosa, herdamos a fé dos nossos ascendentes ou por força de vontade ao decidir seguir uma religião. Nada disso! Filhos de Deus são os que “nasceram de Deus” (v. 13).
João deveria estar combatendo o orgulho dos judeus de nascimento e também dos prosélitos judeus (que escolheram seguir a fé judaica) — e que é tão comum à todas as pessoas religiosas. No entanto, a fé dos pais, a fé da tradição familiar ou cultural, a fé ou a filosofia que alguém escolhe seguir, nada disso nos dá o direito de sermos filhos de Deus.
Estando espiritualmente mortos, nós só teremos fé, fé genuína, fé na obra de Cristo em nosso lugar — pagando a nossa dívida, fé que verdadeiramente salva e santifica, se formos nascidos de Deus, i.e., se nós nascermos de novo. Ed Blum (The Bible Knowledge Commentary: New Testament), explica que
o nascimento de um filho de Deus não é um nascimento natural; é uma obra sobrenatural de Deus na regeneração. Uma pessoa recebe Jesus e responde com fé e obediência a ele, mas a obra misteriosa do Espírito Santo é “a causa” da regeneração.
Em outras palavras, assim como não tivemos nada a ver com o nosso nascimento físico, também não temos nada a ver com o nosso nascimento espiritual. Foi tudo iniciativa de Deus. O Senhor é que é autor e consumador da nossa fé (Hb 12.2). Logo, não podemos nos orgulhar de nossa “sábia decisão” de crer em Cristo. Toda glória deve ser dada a Deus que nos regenerou e colocou em nós fé (Ef 2.8; Tt 1.1). Veja Nicodemus:
Jo 3.3-8 | 3Jesus respondeu: “Eu lhe digo a verdade: quem não nascer de novo, não verá o reino de Deus”. 4“Como pode um homem velho nascer de novo?”, perguntou Nicodemos. “Acaso ele pode voltar ao ventre da mãe e nascer uma segunda vez?” 5Jesus respondeu: “Eu lhe digo a verdade: ninguém pode entrar no reino de Deus sem nascer da água e do Espírito. 6Os seres humanos podem gerar apenas vida humana, mas o Espírito dá à luz vida espiritual. 7Portanto, não se surpreenda quando eu digo: ‘É necessário nascer de novo’. 8O vento sopra onde quer. Assim como você ouve o vento, mas não é capaz de dizer de onde ele vem nem para onde vai, também é incapaz de explicar como as pessoas nascem do Espírito”.
Ficamos com um “impasse”: se a nossa salvação depende de fé e do novo nascimento, então o que vem primeiro, a fé ou o novo nascimento? Primeiro nós nascemos de novo e depois nós cremos ou será nós cremos primeiro e depois nós nascemos de novo? Ambos acontecem no mesmo instante, simultaneamente e, portanto, trata-se de uma questão de ordem lógica, não cronológica.
O versículo mais claro para responder a essa pergunta é 1João 5.1, que diz: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus”. Em outras palavras, crer em Cristo é evidência de que Deus concedeu nova vida através do novo nascimento. John Stott comenta esse verso e seus tempos verbais, dizendo assim:
[João] mostra claramente que crer é a consequência, não a causa, do novo nascimento. O ato presente e a atividade contínua de crer é resultado, e, portanto, a evidência, de nossa experiência passada de novo nascimento, pelo qual nos tornamos e permanecemos filhos de Deus.
Há um mistério aqui que não podemos resolver completamente. Basta dizer que a nossa responsabilidade é crer em Cristo para a salvação e suplicar aos outros que também creiam em Cristo para a salvação. Mas os que creem em Cristo não podem receber o crédito pela fé ou “sábia decisão”. Tudo o que podemos fazer é cantar em louvor, fazendo coro com John Newton (Amazing Grace — Preciosa a Graça de Jesus, HCC 314):
Preciosa a graça de Jesus, que um dia me salvou.
Perdido andei, sem ver a luz, mas Cristo me encontrou.
Essa é uma grande e maravilhosa salvação para pecadores como você e eu. Essa salvação é cheia de graça, do começo ao fim, pois, além de pagar o preço pelo nosso pecado, morrendo em nosso lugar, Cristo enviou-nos o Espírito que nos faz reviver, colocando em nós fé — assim é que nós recebemos o direito de ser filho de Deus. Cante, cristão, cante com louvor (193 HCC — Maravilhosa graça):
Maravilhosa graça! Graça de Deus, sem par! // Como poder cantá-la? Como hei de começar? // Ela me dá certeza, e vivo com firmeza, // pela maravilhosa graça de Jesus. [Refrão]
Maravilhosa graça! Traz vida perenal [perpétua]. // Por Cristo perdoado, vou à mansão real. // Hoje eu sou liberto; vivo de Deus bem perto, // pela maravilhosa graça de Jesus. [Refrão]
Maravilhosa graça! Que ricas bênçãos traz! // Por ela Deus transforma, dá vida eterna e paz. // Sendo por Cristo salvo, faço do céu meu alvo, // pela maravilhosa graça de Jesus. [Refrão]
Recapitulando: o direito de ser filho de Deus 1é apresentado pela palavra de Cristo e 2é possibilitado pela obra de Cristo, mas também 3é obtido pela fé em Cristo.
3. O direito de ser filho de Deus é obtido pela fé em Cristo
A palavra pregada nos revela o Cristo, o Espírito aplica a nós a obra de Cristo, fazendo-nos reviver, colocando em nós fé no que Cristo sofreu em nosso lugar; e nós, para obtermos o direito de nos tornarmos filhos de Deus, precisamos aceitar, receber ou crer — precisamos ter fé. É isso o que está dito por João. Reveja comigo:
Jo 1.6-13 | 6Deus enviou um homem chamado João 7para falar a respeito da luz, a fim de que, por meio de seu testemunho, todos cressem. 8Ele não era a luz, mas veio para falar da luz. 9Aquele que é a verdadeira luz, que ilumina a todos, estava chegando ao mundo. 10Veio ao mundo que ele criou, mas o mundo não o reconheceu. 11Veio a seu próprio povo, e eles o rejeitaram. 12Mas, a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus. 13Estes não nasceram segundo a ordem natural, nem como resultado da paixão [do sangue] ou da vontade humana [nem da vontade da carne], mas nasceram de Deus.
A verdadeira luz [Cristo], que lança luz reveladora sobre todos, que a todos se revela, veio ao mundo — ao mundo que ele mesmo criou e que sem ele nada teria vindo à existência (Jo 1.3). Como diz o versículo 10, fazendo eco com versículo 3: “Veio ao mundo que ele criou”. O bairro de Campinas, a cidade de Goiânia, o estado de Goiás, o nosso Brasil e o mundo, tudo e todos — incluindo você e eu — foram criados por meio de Cristo.
Logo, quando ele veio ao mundo, ele veio para o que era seu (v. 11); ele veio para o que lhe pertence pelo direito de criação. Ele veio para aquilo que ele possui, seu próprio domínio, a casa da humanidade, o mundo, que ele havia construído para uma habitação.
Porém, como diz o versículo 11, o que era seu por direito de criação o rejeitou e não o recebeu. Ele chegou a Goiânia, à Goiás, ao Brasil e ao mundo, chegou até nós, mas nós não o recebemos. Basta olharmos, por exemplo, para os natais.
O que se vê nos natais? O que nós somos e fazemos nos natais apenas reflete o que fizemos de Cristo em todas as épocas do ano. Enxerga-se de tudo, menos Cristo; nada de Cristo vindo ao mundo para salvar o que é seu por direito de criação. Cristo foi substituído pelo Papai Noel e outros personagens; pelas árvores de Natal e outros símbolos diversos; pelos presentes, amigos-secretos, comidas, correria das festividades, barulho dos shopping-centers… enfim, “veio para o que era seu, e eles o rejeitaram” (Jo 1.11).
Lá adiante, nesse mesmo evangelho, João diz assim (Jo 3.19-20):
19E a condenação se baseia nisto: a luz de Deus veio ao mundo, mas as pessoas amaram mais a escuridão que a luz, porque seus atos eram maus. 20Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima dela, pois teme que seus pecados sejam expostos.
Ou seja: a luz veio para o que era seu, mas o que ele criou havia se apaixonado pela escuridão do pecado. “Mas,” nos revela João, “a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1.12).
Note que João 1.12 estabelece duas condições para se obter o direito de ser filho de Deus: receber ou aceitar Jesus e crer em Jesus: “a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1.12). Há, porém, tanta confusão sobre isso hoje em dia que faremos muito bem em refletir sobre esses termos (crer e receber)!
Receber ou aceitar Jesus
Receber ou aceitar Jesus significa que quando ele se oferece a você, você o recebe em sua vida pelo que ele é: se ele vier a você como Salvador, você recebe sua salvação; se ele vier a você como Líder, você recebe sua liderança; se ele vier a você como Provedor, você recebe sua provisão; se ele vier a você como Conselheiro, você recebe seu conselho; se ele vier a você como Protetor, você recebe sua proteção; se ele vier a você como Autoridade, você recebe sua autoridade; se ele vier a você como Rei, você recebe sua realeza.
Receber Jesus significa aceitá-lo em sua vida pelo que ele é; não significa uma espécie de coexistência pacífica com um Cristo que não faz reivindicações — como se ele pudesse ficar na casa, usufruindo de tudo, desde que não se intrometa na sua vida ou te incomode no bem bom do seu conforto.
Por exemplo: quando Jesus pregou em Nazaré, em Lucas 4.16ss., o povo o recebeu com prazer. Diz em Lucas 4.22 que “todos falavam bem dele e estavam admirados com as palavras de graça que saíam de seus lábios. Contudo, perguntavam: ‘Não é esse o filho de José?’”. Ou seja: muito bom, mas não pode ser, ele é filho de José! Depois, alguns versículos adiante, nós lemos que ao ouví-lo eles ficaram furiosos, cheios de ira, empurraram-no para fora e tentaram jogá-lo precipício abaixo (Lc 4.28-29). Por um tempo eles ficaram felizes em recebê-lo; mas somente enquanto suas palavras eram agradáveis. Porém, quando o orgulho deles foi tocado, eles o rejeitaram.
Receber Jesus não significa uma espécie de coexistência pacífica com um Cristo que não faz reivindicações e nos deixa viver a vida como nós queremos. Nada disso! Receber Jesus significa aceitá-lo em nossa vida (nosso coração, casa, escola, trabalho, casamento, sonhos, etc.) por quem ele realmente é — Senhor de tudo.
Crer em Jesus
Além de receber Jesus, de aceitar Jesus por quem ele realmente é — Senhor de tudo, nós precisamos crer em Jesus (crer é aceitar, aceitar é crer). É isso o que está dito por João: “a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1.12). Mas, o que significa crer? Um rápido passeio pelo Evangelho de João nos ajudará compreender o que significa crer e receber Jesus, o que significa aceitar Jesus.
18Não há condenação alguma para quem crê nele. Mas quem não crê nele já está condenado por não crer no Filho único de Deus. 19E a condenação se baseia nisto: a luz de Deus veio ao mundo, mas as pessoas amaram mais a escuridão que a luz, porque seus atos eram maus.
Crer é amar, é fazer de Jesus um tesouro, é desejá-lo por perto.
43Eu vim em nome de meu Pai, e vocês me rejeitaram. Se outro vier em seu próprio nome, vocês o receberão. 44Não é de admirar que não possam crer, pois vocês honram uns aos outros, mas não se importam com a honra que vem do único Deus!
Crer é buscar honra e glória somente de Deus; é lançar fora o orgulho e a auto-exaltação do coração humano.
Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome. Quem crê em mim nunca mais terá sede.
Crer é matar a fome e a sede da alma em Jesus.
46Eu vim como luz para brilhar neste mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça na escuridão. 47Não julgarei aqueles que me ouvem mas não me obedecem, pois vim para salvar o mundo, e não para julgá-lo [o mundo já está condenado — 3.18]. 48Mas todos que me rejeitam e desprezam minha mensagem serão julgados no dia do julgamento pela verdade que tenho falado. 49Não falo com minha própria autoridade. O Pai, que me enviou, me ordenou o que dizer.
Crer é ouvir e obedecer as palavras de Jesus.
Todos esses textos, e tantos outros em João, mostram que crer é algo que acontece no profundo do nosso coração, não é um mero aceitar de dados ou de fatos doutrinários. Significa, acima de tudo, amá-lo de coração, fazer dele o meu tesouro, desapegar-me do desejo pelo louvor dos homens (definir-me pelo amor de Deus e não pelo louvor dos homens) e buscar satisfação em Jesus como o pão e a água da vida.
O direito de ser filho de Deus
Filhos de Deus são os que recebem ou aceitam Jesus por quem ele é (Salvador substituto e Senhor soberano).
Filhos de Deus são os que creem no nome de Jesus, são aqueles que buscam amá-lo, fazem dele um tesouro, dedicam-se a conhecê-lo e obedecê-lo, e recorrem a ele para satisfazer a fome e a sede do coração vazio.
É impossível ser filho de Deus sem que se tenha fé em Jesus Cristo. No entanto, jamais teremos fé se Deus não nos fizer nascer de novo. Portanto, suplique: peça a Deus um novo coração, peça a Deus fé; e tendo fé, mesmo que tão pequenina quanto um grão de mostarda, deposite sua fé em Jesus.
Receba-o, aceite-o por quem ele é (Salvador substituto e Senhor soberano).
Creia nele. Tenha fé em Jesus.
Somente assim você terá o direito de ser filho de Deus.
S.D.G. L.B.Peixoto
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