01.10.2017
A AUTOIMAGEM DO CRISTÃO
João 1.19-34 (ler o v. 27)
O cristianismo não está obsoleto
Por que tantas igrejas cristãs, especialmente as históricas, encontram-se em estado de esvaziamento? Por que as pessoas parecem estar tão desiludidas com a fé apostólica? Por que o cristianismo experimenta um fluxo tão baixo de seguidores, especialmente nos grandes centros urbanos de países desenvolvidos? O senso comum argumenta que
nós vivemos em uma cultura mais sofisticada, numa sociedade mais evoluída e — por causa de tantos avanços, tantas descobertas, tantas informações e tantas realizações — as pessoas estão mais esclarecidas.
Os críticos continuam e dizem que
As pessoas gritaram “Independência!”, libertaram-se das amarras da religião. Os seres humanos de hoje estão fartos do obscurantismo dos dogmas — do estado de escuridão, ignorância e retrocesso em que os fieis são mantidos pelas massas manipuladoras de líderes fanáticos, gananciosos e charlatões. A sociedade se sofisticou. A sociedade se secularizou. As pessoas já não querem ser doutrinadas ou regulamentadas. Elas querem ter a liberdade para explorarem seu potencial e realizarem os seus desejos.
Realmente, o que hoje se crê é que as pessoas, “livres” que são, devem ter o direito de escolherem no que crer. Afinal, na era das playlists de músicas, dos canais de filmes ou de programas on demand, da Netflix com programações tão acessíveis e outras tantas opções, eu tenho o direito de fazer o que quero, quando quiser e onde quiser. Não é de admirar, portanto, que a maioria das igrejas, pelo mundo, estejam se esvaziando.
Mas, será mesmo que o cristianismo teve o seu tempo, mas agora passou? Aquelas eram realmente épocas mais simples, quando as pessoas tinham uma visão mais retrógrada da vida? Elas não entendiam as complexidades das coisas da forma como hoje nós as compreendemos? Será mesmo que aquele período já era, e com ele o vento também levou o cristianismo apostólico? Absolutamente, não!
As cidades do império romano, particularmente Roma, Éfeso, Atenas, Filipos e Corinto, por exemplo, guardadas as proporções, é claro!, eram tão sofisticadas, secularizadas e permissivas quanto qualquer grande centro urbano do mundo contemporâneo. No entanto, as pessoas se convertiam mais rapidamente ao cristianismo do que os romanos eram capazes de jogá-las para os leões.
O cristianismo, no tempo de suas origens, simplesmente varreu o mundo de então numa velocidade impressionante. Por quê? Por que hoje não é assim? Por que a coisa não se propaga com a mesma velocidade nem causa o mesmo impacto?
Parece, infelizmente, que o cristianismo autêntico deixou de ser algo que as pessoas veem com frequência, pois quando a fé cristã é vivida com autenticidade diante dos olhos das pessoas ela se propaga de um a um e assume o controle da sociedade, transformando-a por completo. Portanto, não se pode dizer que o cristianismo foi apenas para antigamente e que agora, para sobreviver, ele precisa ser adaptado às novas demandas. Não, nada disso!
Pense nos primeiros cristãos. Quem eram os primeiros cristãos? Eles eram pessoas de todas as raças, sexos e classes sociais; eram escravos, livres, pecadores, pessoas de família, nobres ricos, negociantes, estudiosos, intelectuais de alcance mundial, etc. Todos, viviam juntos, no mesmo lugar, atraídos pela mesma mensagem. Aquelas não eram pessoas mais crédulas que as de hoje; não eram pessoas menos evoluídas, alheias às complexidades da vida. De jeito nenhum! Esse tipo de argumento é de um preconceito e de um esnobismo assustador.
A diferença entre o lá antigamente e o aqui e agora não está nas discrepâncias culturais ou sociais, nem na mensagem do cristianismo, mas na qualidade do cristianismo vivido pelos cristãos contemporâneos. Afinal, como já dissemos, quando o cristianismo autêntico é encarnado pelos fiéis e visto pelos indivíduos de fora, ele simplesmente varre e transforma pessoas, cidades e sociedades inteiras. O cristianismo, portanto, não está obsoleto. Os cristãos de hoje é que são meia-boca.
O impacto cultural
Quando os cristãos são cristãos de verdade o cristianismo se torna atrativo; atrativo, porém, de uma forma que não se ajusta, não se amolda ou não se conforma com os padrões deste mudo (Rm 12.1-2). Por exemplo: os romanos se impressionavam com a diferença de caráter entre cristãos e não-cristãos em, principalmente, dois quesitos:
Resumindo: amor e pureza sempre fizeram do cristianismo um estilo de vida impressionantemente impactante em qualquer sociedade e em qualquer época da história. Cristianismo nunca foi de direita nem de esquerda nem de centro, muito pelo contrário. Seu compromisso sempre foi com a verdade posta em prática — verdade dita e vivida com amor e pureza. Esse cristianismo sim, o cristianismo cheio de graça e de verdade, sempre impactou e continuará impactando qualquer sociedade.
Lógico que não são todos que o admiraram ou o admirarão, principalmente quando o cristianismo confrontou(a) pecados pessoais e sociais (Pergunte João Batista a respeito!). Mas quando o cristianismo é autenticamente vivido diante dos olhos das pessoas, não tem jeito, ele se espalha como fermento, fazendo avançar o Reino de Deus.
Cristianismo autêntico
Então é isso: não é que o cristianismo esteja obsoleto, mas que os cristãos não estejam vivendo um cristianismo autêntico o bastante para conseguir impactar. Quando as pessoas são atraídas pelo amor e pela pureza, encarnados na vida dos cristãos, elas correm para a verdade; chegando à fé cristã, elas descobrem que não se trata de um monte de credos ou de dogmas, nem de programas sociais ou de códigos morais, nem mesmo de um estilo de vida; elas descobrem que o cristianismo autêntico é sobre Jesus Cristo.
João Batista é um estudo de caso perfeito sobre tudo o que estamos afirmando. Ele tinha atratividade moral; exalava e transpirava amor e verdade. As pessoas da sua região corriam para ouví-lo pregar e por ele serem batizadas (Mc 1.4-5). Tudo muito impressionante, pois até o rei Herodes se sentia atraído por ele e pela sua mensagem:
Mc 6.19-20 | 19Por isso Herodias guardava rancor de João e queria matá-lo, mas não podia fazê-lo, 20pois Herodes o respeitava e o protegia, sabendo que ele era um homem justo e santo. Herodes ficava muito perturbado sempre que falava com João, mas mesmo assim gostava de ouvi-lo.
Ao mesmo tempo que João Batista atraía, ele repelia, pois é isso que graça e verdade fazem: alguns são por elas atraídos, a maioria, no entanto, as rejeita com ódio. Daqueles que são atraídos, uns abraçam com fé a graça e a verdade, enquanto outros se tornam apenas simpatizantes. Seja como for, é o cristianismo autêntico, o mesmo vivido por João Batista, a fé por ele praticada, que nós hoje precisamos encarnar e espalhar para o mundo em trevas.
A autoimagem do cristão
Agora, o cristianismo autêntico, esse que impacta e transforma, depende de duas coisas fundamentais: primeiro, da imagem que fazemos de nós mesmos e, segundo, da imagem que fazemos do Senhor Jesus Cristo. Quando nós olhamos bem de perto para a vida de João Batista, por exemplo, nós descobrimos que o segredo dele estava nessas visões. A forma como ele enxergava a si mesmo e a pessoa de Jesus Cristo o transformou no tipo de cristão autêntico que ele foi e que tanto impactou a todos que cruzaram seu caminho.
Vejamos, pois, como João Batista construiu sua identidade e no que ele se tornou. Daremos três passos nessa investigação: primeiro nós veremos a opinião que ele tinha sobre si mesmo; depois nós veremos a imagem que ele fazia de Jesus; e, por fim, nós veremos o tipo de pessoa que ele se tornou.
1. A opinião do cristão sobre si mesmo
Saúde emocional começa com a opinião correta que devemos ter sobre nós mesmos. A pessoa autêntica é aquela que, de um lado, sabe quem ela não é e, de outro, sabe quem ela realmente é. Assim era João Batista; ele tinha uma opinião correta sobre si mesmo, sabia quem ele era e quem ele não era; ele pensava corretamente acerca de si mesmo, conforme Paulo declarou:
Rm 12.3 | Com base na graça que recebi, dou a cada um de vocês a seguinte advertência: não se considerem melhores do que realmente são. Antes, sejam honestos em sua autoavaliação, medindo-se de acordo com a fé que Deus nos deu.
Veja que Paulo está combatendo o “complexo de superioridade”.
Complexo de superioridade ou pensar sobre si mesmo além do que realmente convém não é a solução para ninguém. Porém, tal atitude — complexo de superioridade — é muito mais comum do que gostaríamos de admitir.
Pense, por exemplo, em como as pessoas aconselham umas às outras. O que, geralmente elas dizem? “Seja você mesmo; não dê ouvidos para o que os outros dizem de você; não se importe com o que os outros pensam de você; você precisa se valorizar; você tem que se amar e investir em você; faça isso por você mesmo…” e por aí vai.
No fundo, o que as pessoas estão dizendo? Elas estão tentando curar um “complexo de inferioridade” com um “complexo de superioridade”, considerando-se ou forçando os outros a se considerarem, segundo as palavras de Paulo (Rm 12.3) “melhores do que realmente são”.
João Batista, no texto que lemos no início, estava sendo pressionado a dizer quem ele era. E como teria sido conveniente para ele pensar e falar de si mesmo, considerando-se melhor do que ele realmente era, achando-se e declarando-se superior! Mas não foi assim, de forma orgulhosa, que ele agiu.
Os líderes religiosos estavam se sentindo incomodados com toda aquela atenção que as multidões estavam dando para ele; a forma como ele atraía para si as pessoas incomodava os fariseus e seus seguidores (a popularidade dos piedosos sempre incomodará a opinião pública!). Mesmo assim, no meio daquela pressão, João Batista se recusou a recorrer ao complexo de superioridade.
Primeiro, ele se determinou a dizer quem ele não era:
Jo 1.19-22 | 19Este foi o testemunho de João quando os líderes judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe perguntar: “Quem é você?”. 20Ele respondeu com toda franqueza: “Eu não sou o Cristo”. 21“Então quem é você?”, perguntaram eles. “É Elias?” “Não”, respondeu ele. “É o Profeta por quem temos esperado?” “Não.” 22“Afinal, quem é você? Precisamos de uma resposta para aqueles que nos enviaram. O que você tem a dizer de si mesmo?”
Quem João Batista não era? Ele não era o Cristo nem o Elias nem o Profeta. Que significado há para nós nestas respostas negativas de João Batista? Ele estava dizendo que, para ser feliz, não precisava receber o tipo de glória que só pertence a Deus (Não sou o Cristo!); nem se passar por quem ele não era (Não sou o Elias!); e muito menos se gabar de algo que ele não tinha ou que não lhe pertencia (Não sou o Profeta!).
Ao fazer todas essas negações, João Batista está nos ensinando que a autoimagem de uma pessoa sadia, de um cristão autêntico que impactará pessoas e sociedades, não deve ser construída com glórias ou elogios que não lhes pertencem, nem com afirmações de algo que elas não são ou não possuem.
Depois de dizer quem ele não é, João Batista se dispõe a dizer quem ele realmente era:
Jo 1.23-28 | 23João respondeu com as palavras do profeta Isaías: “Eu sou uma voz que clama no deserto: ‘Preparem o caminho para a vinda do Senhor!’”. 24Então os fariseus que tinham sido enviados 25lhe perguntaram: “Se você não é o Cristo, nem Elias, nem o Profeta, que direito tem de batizar?”. 26João lhes disse: “Eu batizo com água, mas em seu meio há alguém que vocês não reconhecem. 27Embora ele venha depois de mim, não sou digno de desamarrar as correias de sua sandália”. 28Esse encontro aconteceu em Betânia, um povoado a leste do rio Jordão, onde João estava batizando.
Então, quem era João Batista?
João era 1alguém que não precisava aparecer (Eu sou uma voz!); 2alguém que não dependia dos aplausos dos outros (holofotes) para construir a sua autoimagem (Eu sou uma voz no deserto!); 3alguém que vivia para servir os outros (Preparem-se para a vinda do Senhor!) — note que a forma dele servir era 1chamando pecadores ao arrependimento (Eu batizo com água!) e 2à fé em Jesus (Virá quem batizará com o Espírito!, v. 33).
João Batista viveu para apontar as pessoas para Jesus Cristo (Jo 1.31-35):
31Eu não o conhecia, mas vim batizando com água para que ele fosse revelado a Israel”. 32Então João deu o seguinte testemunho: “Vi o Espírito Santo descer do céu na forma de uma pomba e permanecer sobre ele. 33Eu não sabia quem ele era, mas, quando Deus me enviou para batizar com água, disse-me: ‘Aquele sobre o qual você vir “o Espírito descer e permanecer, esse é o que batizará com o Espírito Santo’. 34Eu vi isso acontecer e, portanto, dou testemunho de que ele é o Filho de Deus”.
O batismo de João Batista era algo singular. Era comum que os prosélitos gentios (ou não-judeus convertidos ao judaísmo) fossem batizados como rito de entrada. Algumas comunidades judaicas (judeus piedosos) até praticaram o auto-batismo como simbolismo de purificação. Só que João Batista, ele mesmo, estava batizando os outros; ele estava batizando judeus! Aliás, ele mesmo chamava os líderes religiosos judeus ao arrependimento, e os convocava a demonstrar esse arrependimento pelo batismo (Mt 3.7-12). Certamente que essa atitude ofendia profundamente os judeus racialmente e religiosamente orgulhosos.
João Batista, no entanto, sabia quem ele era e a quê ele havia sido chamado: ele era uma voz no deserto, chamando pecadores ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo. Complexo de superioridade não era algo a que ele se agarrava para lidar com seus temores. Complexo de inferioridade também não, pois observe o que ele declarou:
Jo 1.27-30 | 27Embora ele venha depois de mim, não sou digno de desamarrar as correias de sua sandália”. 28Esse encontro aconteceu em Betânia, um povoado a leste do rio Jordão, onde João estava batizando. 29No dia seguinte, João viu Jesus caminhando em sua direção e disse: “Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! 30Era a ele que eu me referia quando disse: ‘Um homem virá depois de mim, muito mais poderoso que eu, pois existia muito antes de mim’.
Ao ouvirem João Batista dizer: “Não sou digno!”, alguns poderão dizer: “Tá vendo? Veja como ele se inferiorizava!” Nada disso. João Batista não diz apenas “Não sou digno”. Ele diz “Não sou digno” em relação ao Cordeiro de Deus — “Diante dele eu sou indigno!”
Uma coisa é você dizer que não é digno num sentido depreciativo, inferiorizando-em relação a outras pessoas como você ou aos seus próprios critérios (buscando, assim, aprovação ou atenção de homens). Outra coisa é você dizer que não é digno, assumindo o pecador que você realmente é diante de Deus, livrando-se da escravidão do temor dos homens (livrando-se do que os outros pensam ou dizem sobre você, entregando-se a à graça de Deus em Jesus Cristo).
Todo sentimento de inferioridade, toda autodepreciação, tem na sua raiz o mesmo pecado do sentimento de superioridade — qual seja: o orgulho. Geralmente, quem se autodeprecia se mede por padrões que ela mesma estabeleceu para ela (e para os outros, pois essa pessoa dificilmente gostará de quem não passa pelos padrões que ela criou); ou ela se mede pelos padrões que os outros estabeleceram (e para ser aceita pelos outros, por não querer ser desprezada ou rejeitada, a pessoa se guia por tais padrões).
Gente, tanto é verdade o que estamos dizendo que as pessoas, para curarem “complexo de inferioridade”, entregam-se a outro “complexo”: o de superioridade (pensam sobre si mesmas além do que realmente são). O que é isso, senão orgulho?
O complexo de inferioridade diz: pobre de mim, ninguém olha pra mim, nem eu gosto de mim, pois não sou o que eu gostaria de ser (sejam lá quais forem os padrões de aferição adotados), ninguém me elogia, ninguém me admira, ninguém me procura, ninguém se preocupa comigo, não sou o que eu queria ser, eu, eu, eu…
O complexo de superioridade diz: não importa o que dizem de mim, o que pensam de mim, se me notam ou se não me notam, pois eu sou tal e qual, eu me amo, eu me admiro, eu invisto em mim, eu, eu, eu…
Veja, portanto, que a raiz de ambos os “complexos” é uma só: orgulho, pois o que está no centro e no foco sou eu mesmo.
Como se curar? Veja João Batista. Observe a opinião que ele tinha de si mesmo. Ele sabia quem ele não era e sabia também quem ele era; ele sabia para o quê viera e para o quê ele existia. Como ele sabia disso? Através da revelação de Deus. A Palavra de Deus corrigia o foco de João Batista sobre si mesmo (Jo 1.31-34).
31Eu não o conhecia, mas vim batizando com água para que ele fosse revelado a Israel”. 32Então João deu o seguinte testemunho: “Vi o Espírito Santo descer do céu na forma de uma pomba e permanecer sobre ele. 33Eu não sabia quem ele era, mas, quando Deus me enviou para batizar com água, disse-me: ‘Aquele sobre o qual você vir “o Espírito descer e permanecer, esse é o que batizará com o Espírito Santo’. 34Eu vi isso acontecer e, portanto, dou testemunho de que ele é o Filho de Deus”.
A Palavra de Deus, apontando-nos para Cristo, corrige o nosso foco e nos faz ter a opinião correta sobre nós mesmos (pecadores perdoados e sendo transformados pela graça). Paulo também atesta esta verdade, revelando-nos que a solução para o problema de autoimagem não é complexo de superioridade nem complexo de inferioridade. Observem:
1Co 4.1-4 | 4[…] devemos ser considerados simples servos de Cristo, encarregados de explicar os mistérios de Deus. 2De um encarregado espera-se que seja fiel. 3Quanto a mim, pouco importa como sou avaliado por vocês ou por qualquer autoridade humana. Na verdade, nem minha própria avaliação é importante. 4Minha consciência está limpa, mas isso não prova que estou certo. O Senhor é quem me avaliará e decidirá.
A opinião que o cristão tem de si mesmo não pode ser construída à partir da avaliação dos outros nem da dele mesmo, mas da que Deus revela sobre ele na Palavra. Afinal, todos os parâmetros (pessoais ou culturais) foram corrompidos pelo pecado e apenas a santa revelação de Deus sobre quem nós somos em Jesus é que nos trará saúde e equilíbrio.
A solução para o nosso problema de autoimagem não se resolve com a supervalorização de si mesmo nem tampouco com a desvalorização de si mesmo, não se resolve com autoestima, mas com fé e confiança na graça de Deus em Jesus Cristo, com a construção da nossa identidade em Jesus Cristo. Isso nos leva ao passo seguinte.
2. A visão do cristão sobre Jesus Cristo
João Batista ensina que a visão que alguém tem de Jesus corrige o seu problema com a autoimagem. A primeira coisa a se observar é que o que há para se aprender sobre Jesus precisa vir a nós como revelação de Deus através da Palavra iluminada pelo Espírito — Palavra e Espírito; ou seja, essa revelação não pode, em hipótese nenhuma, ser resultado do que nós achamos, preferimos, imaginamos ou idealizamos, mas do que a Palavra de Deus, mediante o testemunho do Espírito Santo, revela sobre Jesus (Jo 1.33):
Eu não sabia quem ele era, mas, quando Deus me enviou para batizar com água, disse-me: ‘Aquele sobre o qual você vir “o Espírito descer e permanecer, esse é o que batizará com o Espírito Santo’.
Cristianismo sem a revelação de Deus nas Escrituras e testificação do Espírito à partir das coisas escritas na Bíblia, além de distorcido, torna-se desastroso. Paulo, por exemplo, nunca dissociou a espiritualidade cristã da Palavra e do Espírito, ou seja: da revelação que o Espírito faz de Cristo através da Palavra. Observe:
Gl 3.5 | Volto a perguntar: acaso aquele que lhes deu o Espírito e realizou milagres entre vocês agiu assim porque vocês obedeceram à lei ou porque creram na mensagem que ouviram?”
Isto é: fé na Palavra, como fruto da iluminação do Espírito, é o que promove a ação de Deus em nós e através de nós. A Palavra, iluminada pelo Espírito, revelando-nos Jesus Cristo é o que nos define como pessoas.
Mas o que especificamente João Batista aprendeu sobre Jesus e sobre si mesmo em relação a Jesus e de que forma isso nos define, ou nos ajuda a definir a nossa autoimagem? Jesus é santo (v. 27), gracioso (v. 29), substituto, perdoador e salvador (v. 29), poderoso ou soberano (v. 30), eterno (v. 30) e transformador de vidas (v. 33).
Jo 1.27-33 | 27Embora ele venha depois de mim, não sou digno de desamarrar as correias de sua sandália”. 28Esse encontro aconteceu em Betânia, um povoado a leste do rio Jordão, onde João estava batizando. 29No dia seguinte, João viu Jesus caminhando em sua direção e disse: “Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! 30Era a ele que eu me referia quando disse: ‘Um homem virá depois de mim, muito mais poderoso que eu, pois existia muito antes de mim’. 31Eu não o conhecia, mas vim batizando com água para que ele fosse revelado a Israel”. 32Então João deu o seguinte testemunho: “Vi o Espírito Santo descer do céu na forma de uma pomba e permanecer sobre ele. 33Eu não sabia quem ele era, mas, quando Deus me enviou para batizar com água, disse-me: ‘Aquele sobre o qual você vir “o Espírito descer e permanecer, esse é o que batizará com o Espírito Santo’. 34Eu vi isso acontecer e, portanto, dou testemunho de que ele é o Filho de Deus”.
Pense nas implicações que essa visão sobre Jesus traz para as nossas vidas. Por exemplo: somos indignos pecadores, precisamos que Deus nos ame primeiro e que venha ao nosso encontro; carecemos do Espírito que nos regenera; necessitamos de justificação diante do Deus justo; também de santificação diante de um Deus santo; precisamos de perdão e de transformação… tudo isso, e muito mais, Deus, em Cristo, pelo poder do Espírito Santo, nos proporciona. Essa visão transforma radicalmente a nossa vida — a forma como nos vemos (pecadores em transformação) e como devemos ver os outros (pecadores que também precisam de transformação).
Passamos a viver para exaltar a Cristo em nosso viver; ele, Cristo, vai crescendo em nós a cada dia, e nós vamos nos tornando pequenos e menores até que só se ache em nós a glória de Jesus Cristo. Isso nos leva ao último passo que precisamos dar nessa busca por definição da autoimagem do cristão.
3. A transformação do cristão diante dos outros
João Batista, com a visão sadia que tinha de si mesmo (em relação não à si mesmo nem aos outros, mas à Cristo) e com a imagem correta que fazia de Jesus Cristo, tornou-se uma pessoa que existiu para Cristo e para o próximo. Ele era um homem simples, humilde e corajoso. Tudo o que ele era e fazia visava a glória de Deus e a salvação das pessoas. O diálogo dele com seus discípulos é comovente:
Jo 3.26-30 | 26Os discípulos de João foram falar com ele e lhe disseram: “Rabi, o homem que o senhor encontrou no outro lado do rio Jordão, aquele de quem o senhor deu testemunho, também está batizando. Todos vão até ele”. 27João respondeu: “Ninguém pode receber coisa alguma, a menos que lhe seja concedida do céu. 28Vocês sabem que eu lhes disse claramente: ‘Eu não sou o Cristo. Estou aqui apenas para preparar o caminho para ele’. 29É o noivo que se casa com a noiva; o amigo do noivo simplesmente se alegra de estar ao lado dele e ouvir seus votos. Portanto, muito me alegro com o destaque dele. 30Ele deve se tornar cada vez maior, e eu, cada vez menor”.
Deus é o centro, Jesus é que é digno de glória, e João Batista não passa de um tubo de PVC (vazo de barro), através do qual jorra (carrega-se) a graça de Deus aos outros.
A autoimagem do cristão
Ô meu povo!
Chega disso! Crentes assim causam enormes estragos ao cristianismo e à fé.
Receba, agora mesmo, Jesus em sua vida, creia nele e deixe ele refazer a sua vida, reconstruir a sua autoimagem, ensinando-o a viver pela fé e não da autoimagem, e depois remeter você a esse mundo tão carente de gente como João Batista.
Creia em Jesus e viva para a glória de Deus. Importa que ele cresça e você se torne cada vez menor. Só assim você será salvo, feliz e conseguirá abençoar outras pessoas, inclusive as que estão mais próximas de você e tanto precisam de nova vida Cristo.
Creia em Jesus. Creia agora mesmo.
S.D.G. L.B.Peixoto
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