02.05.2018
CASTELO FORTE É NOSSO DEUS
Salmo 46
[Ao regente do coral: cântico dos descendentes de Corá, para ser cantado com vozes de soprano (Cântico de Alamote).]1Deus é nosso refúgio e nossa força, sempre pronto a nos socorrer em tempos de aflição. 2Portanto, não temeremos quando vierem terremotos e montes desabarem no mar. 3Que o oceano estrondeie e espumeje! Que os montes estremeçam enquanto as águas se elevam! Interlúdio4Um rio e seus canais alegram a cidade de nosso Deus, o santo lugar do Altíssimo. 5Deus habita nessa cidade, e ela não será destruída; desde o amanhecer, Deus a protegerá. 6As nações estão em confusão, e seus reinos desmoronam. A voz de Deus troveja, e a terra se dissolve. 7O SENHOR dos Exércitos está entre nós; o Deus de Jacó é nossa fortaleza. Interlúdio8Venham, contemplem as gloriosas obras do SENHOR! Vejam como ele traz destruição sobre o mundo! 9Acaba com as guerras em toda a terra, quebra o arco e parte ao meio a lança, e destrói os escudos com fogo. 10“Aquietem-se e saibam que eu sou Deus! Serei honrado entre todas as nações; serei honrado no mundo inteiro.” 11O SENHOR dos Exércitos está entre nós; o Deus de Jacó é nossa fortaleza. Interlúdio
O fracasso humano
Pode não ser estimulante para alguns, mas a dose de realidade administrada por Charles Swindoll na introdução de seu comentário neste salmo é de tirar o fôlego. Ouça:
Nós a negamos. Nós a disfarçamos. Nós a mascaramos. Nós tentamos ignorá-la. Mas a verdade persiste teimosamente: somos criaturas fracas. Pecadores que somos, fracassamos. Propensos que somos a doenças, adoecemos. Fracos que somos, somos machucados. Mortais que somos, acabamos morrendo. Pressão nos desgasta. Ansiedade nos causa úlceras. Pessoas nos intimidam. Críticas nos ofendem. Doença nos assusta. A morte nos assombra. […] Como podemos continuar crescendo neste saco de ossos coberto com fraquezas demais para mencionar? Precisamos de uma dose grande de Salmo 46. Que esperança essas palavras trazem para aqueles que estão sofrendo com a opressão da fraqueza pessoal!
Já se sentiu fraco diante de alguma situação? Descobriu-se impotente face a algum problema? Todo mundo já passou ou está passando por alguma dificuldade. O sentimento é familiar para todos nós: medo; medo por saber que somos impotentes, incapazes e inadequados para enfrentar o que temos pela frente. O Salmo 46, portanto, é para todos nós que nos sentimos fracos ou humanamente fracassados (seja por que motivo for).
O salmo de Lutero
O Salmo 46 ficou conhecido como o salmo de Lutero.
Quase todos associam Martinho Lutero à carta de Paulo aos Romanos, particularmente a Romanos 1.17: “O justo viverá da fé”. Poucos, porém, sabem que Lutero foi convertido não apenas por seu estudo de Romanos, mas também por sua dedicação ao estudo e ao ensino do livro de Salmos. Ele ensinou os Salmos por anos e os amava muito, do começo ao fim de sua vida. Seu favorito era o Salmo 46.
Historiadores e biógrafos nos dão conta de que, enquanto a Reforma Protestante estava em curso, houve diversos momentos negros e perigosos; durante os quais, não foram poucas as vezes em que Lutero se sentiu terrivelmente desanimado e deprimido. Em muitas dessas ocasiões, ele procurava seu amigo e colega de trabalho, Philipp Melanchthon, e lhe dizia: “Vinde, Philipp, vamos cantar o quadragésimo sexto Salmo!”. Então, juntos, eles entoavam os versos do salmista na versão alemã traduzida pelo próprio Lutero (mas que aqui nós lemos na NVT):
1Deus é nosso refúgio e nossa força, sempre pronto a nos socorrer em tempos de aflição. 2Portanto, não temeremos […]
Foi inspirado por este salmo que Lutero compôs seu hino mais famoso: “Castelo Forte” — hino 323 do Cantor Cristão (daí que demos a esta exposição bíblica o título: Castelo Forte é nosso Deus). Sobre o salmo que virou hino, Lutero dizia assim:
Cantamos este salmo para o louvor de Deus, porque Deus está conosco e milagrosamente preserva e defende sua Igreja e sua Palavra contra todos os espíritos fanáticos, contra as portas do inferno, contra o ódio implacável do diabo, e contra todos os assaltos do mundo, da carne e do pecado.
Um grande estudioso luterano, H. C. Leupold, comentou: “Poucos salmos inspiram o espírito de firme confiança no Senhor, em meio a perigos tão reais da vida, quanto o Salmo 46”. Tanto é assim que Spurgeon, destacando o tema deste salmo, anotou:
Aconteça o que acontecer, o povo do Senhor está feliz e seguro; esta é a doutrina deste salmo; para ajudar a memória, poderia ser chamado de A CANÇÃO DA SANTA CONFIANÇA — não fosse, claro, pelo tão grande amor do reformador por este hino que, de fato, mexe com a alma, o quadragésimo sexto salmo, provavelmente, será mais lembrado como O SALMO DE LUTERO.
O Salmo 46
De acordo com o título (na versão ARC), o salmo é um “Cântico sobre Alamote”. A palavra alamotederiva do substantivo hebraico almah, um termo que significa “donzela, moça”. É possível que isso signifique que a canção tenha sido composta para vozes de soprano (cf. 1Cr 15.20, que fala de harpas emtons agudosou de acordo com Alamote; mulheres também participavam da música em Israel: Sl 68.25); daí que as versões ARA, NVT, NTLH, dentre outras versões bíblicas, trazem como tradução as expressões: para voz de sopranoou em voz de sopranoe a NVI traz: para vozes agudas em vez de Alamote.
Por quê em voz de soprano? Charles Swindoll sugere que
talvez essa instrução tivesse o objetivo de tornar o salmo único e fácil de ser lembrado, assim como, por exemplo, certos tipos de melodias cadenciadas da obra de Handel, intitulada: ‘O Messias’ — ‘Porque um menino nos nasceu’ ou ‘Ó Tu que anuncias boas-novas a Sião’. Este foi um salmo projetado para ser lembrado perpetuamente.
O pano de fundo histórico, João Calvino nos informa, parece ser o livramento que Deus deu a Jerusalém, arrancando a nação das mãos dos assírios no tempo do rei Ezequias. Será, portanto, útil e inspirador para o leitor do Salmo 46 a leitura em paralelo dos relatos contidos nos livros dos Reis, Crônicas e Isaías (2Reis 18-19; 2Cr 32; Is 36-37).
O momento era de crise. Senaqueribe, rei da Assíria, não só havia cercado a cidade santa, como também humilhava o povo de Deus, zombando e desdenhado do Senhor. Ezequias, rei de Judá, apavorado, foi ao profeta Isaías em busca de conselho. A resposta divina foi clara: Jerusalém não será tocada (Is 37.33-35).
Realmente, Deus agiu pelo seu povo e destruiu o poder inimigo. O Salmo 46, portanto, é a celebração daquela vitória, e mostra para o povo de Deus, em todos os tempos e lugares, que nos piores momentos da vida sempre haverá socorro em Deus. Veremos porquê. Antes, porém, vejamos como o salmo está estruturado.
O salmo pode ser dividido em três partes distintas, muito bem delimitadas pelas pausas(interlúdioou selá) no final dos versos 3, 7 e 11. Na primeira parte (vv. 1-3), aprendemos que Deus é refúgioquando a natureza está em desordem; na segunda (vv. 4-7), vemos que Deus é rioquando Jerusalém está sitiada; e, na parte final (vv. 8-11), Deus é reinos campos de batalha de seu povo. Deus é refúgio, rioe rei.
1. Deus é refúgio para o seu povo (vv. 1-3).
Deus sempre socorre os seus filhos em tempos de aflição (v. 1):
1Deus é nosso refúgio e nossa força, sempre pronto a nos socorrer em tempos de aflição. 2Portanto, não temeremos quando vierem terremotos e montes desabarem no mar. 3Que o oceano estrondeie e espumeje! Que os montes estremeçam enquanto as águas se elevam! Interlúdio
Está claro que o salmista descreve catástrofes naturais, ou seja: o que de pior poderia acontecer na topografia de uma nação (vv. 2-3):
Quem precisa de refúgio e fortaleza? Todos quantos estão aflitos, pois faltam-lhes o chão, faltam-lhes apoio, faltam-lhes esperança; estão inseguros, sentem-se instáveis e vivem assombrados pelo medo opressor.
Poxa, quem não se sente assim? Quem nunca se sentiu assim? Más notícias tiram o chão dos nossos pés! Portos-seguros são arrancados da gente. Sonhos são inundados pelas tragédias ou pelas doenças. O que parecia intocável de repente é submerso nos mares dos problemas e das dificuldades. A vida que parecia inabalável cai, desmorona, vai ao chão. Nessas horas, aonde correr? A quem recorrer? O que fazer nessas horas trágicas?
Devemos nos voltar para o lugar de onde nunca deveríamos ter saído: a presença de Deus, “nosso refúgio e nossa força, sempre pronto a nos socorrer em tempos de aflição” (v. 1).
O termo traduzido como angústiaou afliçãose origina de um verbo hebraico que significa “estar confinado; amarrado; ficar estreito; sentir-se apertado”; descreve aquela sensação de peito apertado, de respiração difícil, palpitação no peito, quase o mesmo sentimento de ataque de pânico, fruto de intensa crise de ansiedade.
O que fazer nessas horas? Voltarmo-nos para Deus com fé e esperança. Ele é refúgio. Ele é fortaleza. Ele está sempre pronto a nos socorrer em tempos de angústia ou aflição. Deus é refúgio(heb.: um lugar de confiança) para o seu povo. Não temeremos, pois Deus é poderoso: Castelo Forte é nosso Deus…
Espada e bom escudo,
Com seu poder defende os seus,
Em todo transe agudo.
[…]
A nossa força nada faz,
Estamos, sim, perdidos;
Mas nosso Deus socorro traz,
E somos protegidos.
Deus é refúgio para o seu povo. Ele é poderoso, por isso não temeremos.
2. Deus é rio para a nossa seca (vv. 4-7).
A reação do salmista aos sentimentos de fraqueza e medo continua no Salmo 46. O cenário muda da natureza ao redor para o centro de Jerusalém. Os problemas, porém, continuam, pois a cidade santa estava cercada pelos poderosos assírios.
4Um rio e seus canais alegram a cidade de nosso Deus, o santo lugar do Altíssimo. 5Deus habita nessa cidade, e ela não será destruída; desde o amanhecer, Deus a protegerá. 6As nações estão em confusão, e seus reinos desmoronam. A voz de Deus troveja, e a terra se dissolve. 7O SENHOR dos Exércitos está entre nós; o Deus de Jacó é nossa fortaleza. Interlúdio
Percebeu a cena? A cidade de Jerusalém estava confinada por causa do exército assírio acampado ao seu redor. A água era um bem precioso na Palestina, especialmente em Jerusalém, uma das poucas cidades antigas não construídas às margens de um rio. Assim foi que, sabiamente, Ezequias construiu um sistema de água subterrânea que ligava a fonte de Giom com o tanque de Siloé dentro da cidade, abastecendo o povo com água (2Rs 20.20; 2Cr 32.30). O salmista, porém, sabia que Deus era o rio deles e quem realmente lhes fornecia água (Sl 36.8; 65.9; 87.7).
Os inimigos bradavam lá fora, mas Deus permanecia no meio de seu povo, como um rio tranquilo que não para de correr, como água que não para de jorrar para refrescar, saciar e alegrar os sedentos. O Senhor habitava com eles; não os deixaria hora nenhuma; protegeria e saciaria a todos. As nações estavam confusas e seriam destruídas, Judá e o povo de Deus, por sua vez, tinham Deus entre eles, desfrutavam da força de seu poder.
O povo de Deus sempre dependeu dos recursos espirituais ocultos que vêm de Deus somente. Sempre que Israel se voltava para uma nação pagã em busca de ajuda, eles acabavam em sérios problemas. Voltando-se para Deus, eles eram socorridos e saciados.
O cristão tem algo que o mundo não tem. Mais que água. Tem Jesus. “Há um rio”. Trata-se de poesia hebraica, símbolo da graça de Deus. Havia no Éden. Haverá na Nova Jerusalém. Jesus: água da vida. O mundo pode estar seco. O discípulo de Jesus, jamais. Em Cristo, Deus é rio para a nossa seca. O Senhor sempre derrama graça sobre graça.
Na primeira parte do salmo a ideia é: não temer, pois Deus tem poder. Aqui, na segunda parte, a ideia é a mesma: não temer, pois Deus está conosco, no meio do conflito; ele nunca, jamais nos abandonará. Deus é rio para a nossa seca, ele alegra o seu povo. Não nos abalaremos, pois Deus é conosco: Castelo Forte é nosso Deus.
3. Deus é rei sobre tudo e sobre todos (vv. 8-11).
Vimos que a cena mudou da topografia da terra ao redor (vv. 1-3) para dentro da cidade de Jerusalém (vv. 4-7). Deus é Deus de longe e de perto (Jr 23.23). Ele cuida das nossas circunstâncias e do nosso coração. Em tudo nós vemos que Deus é poderoso e está presente com seu povo, saciando-o e alegrando-o.
A terceira cena do salmo se passa nos campos ao redor de Jerusalém, onde os soldados assírios jaziam mortos, e suas armas e equipamentos estavam todos espalhados e quebrados. Não houve batalha, mas o anjo do Senhor deixou essa evidência para trás para encorajar a fé do povo de Deus: Deus é poderoso, presentee pelejapelo seu povo:
8Venham, contemplem as gloriosas obras do SENHOR! Vejam como ele traz destruição sobre o mundo! 9Acaba com as guerras em toda a terra, quebra o arco e parte ao meio a lança, e destrói os escudos com fogo. 10“Aquietem-se e saibam que eu sou Deus! Serei honrado entre todas as nações; serei honrado no mundo inteiro.”11O SENHOR dos Exércitos está entre nós; o Deus de Jacó é nossa fortaleza. Interlúdio
“Aquietem-se”significa, literalmente, “Tirem as mãos! Relaxem!”. Gostamos de colocar as mãos, de segurar, controlar e administrar nossas próprias vidas, mas Deus é Deus e nós somos apenas seus servos. O Senhor chama a si mesmo de “o Deus de Jacó”em dois versículos diferentes (vv. 7 e 11), lembrando-nos das tantas vezes Jacó se meteu em problemas porque colocou as mãos nas circunstâncias e tentou brincar de Deus.
Sim, há um tempo para obedecer a Deus e agir, mas até então, até que ele nos coloque para marchar, é melhor tirarmos nossas mãos e permitir que ele trabalhe em seu próprio tempo e do seu próprio jeito. Nessas horas, cabe a nós apenas agarrarmos suas promessas pela fé, com as duas mãos, para sermos capazes de prosseguir e prevalecer.
Mas, como nós podemos agarrar as promessas de Deus? Os imperativos do verso 8 nos ensinam preciosa lição:
8Venham, contemplem as gloriosas obras do SENHOR! Vejam como ele traz destruição sobre o mundo!
Nós ficamos inquietos quando vemos os problemas. O coração se abala quando contemplamos desgraças. A alma se perturba quando vamos de novo e de novo para as dificuldades. Mas nós aprendemos que há segurança quando vemos os atos de Deus. Portanto, ponha nele sua atenção. Pedro olhou para Jesus, depois para as águas. Afundou (Mt 14.22-32). Olhe para a direção certa, olhe para Jesus. Pare de contender, aquiete-se, Deus é Deus forte, presente com seu povo e peleja por você: Castelo Forte é nosso Deus.
Castelo Forte é nosso Deus
Conta-se que no dia em que morreu, John Wesley (o grande evangelista e compositor de cerca de 34 hinos) já havia quase perdido a voz e só podia ser compreendido com muita dificuldade. Mas no final, com toda a força que conseguiu juntar, Wesley de repente gritou: “O melhor de tudo é que Deus está conosco”. Então, levantando ligeiramente a mão e acenando em triunfo, ele exclamou novamente com efeito ainda mais emocionante: “O melhor de tudo é que Deus está conosco”. Assim ele morreu.
O Senhor Todo-Poderoso está com você? O Deus de Jacó é o seu refúgio, como ele foi para Martinho Lutero e João Wesley até o fim da vida? Certifique-se de que ele seja. As tempestades da vida virão (e elas poderão te destruir); mas a maior tempestade de todas ainda está por vir: a morte e o julgamento final. Todos nós atravessaremos esse mar revolto. Faça, portanto, de Cristo o seu refúgio agora mesmo, enquanto ainda há tempo.
Romanos 8.31-34 (NVT) |31Que podemos dizer diante de coisas tão maravilhosas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32Se ele não poupou nem mesmo seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, acaso não nos dará todas as outras coisas? 33Quem se atreve a acusar os escolhidos de Deus? Ninguém, pois o próprio Deus nos declara justos diante dele. 34Quem nos condenará, então? Ninguém, pois Cristo Jesus morreu e ressuscitou e está sentado no lugar de honra, à direita de Deus, intercedendo por nós.
Arrependa-se e creia no Senhor Jesus. Faça dele o seu Castelo Forte.
S.D.G. L.B.Peixoto
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