29.07.2018
SOBRE OS PAPEIS DE PAIS E FILHOS
Hebreus 13.7, 17 e 24
7Lembrem-se de seus líderes que lhes ensinaram a palavra de Deus. Pensem em todo o bem que resultou da vida deles e sigam seu exemplo de fé.
17Obedeçam a seus líderes e façam o que disserem. O trabalho deles é cuidar de sua alma, e disso prestarão contas. Deem-lhes motivo para trabalhar com alegria, e não com tristeza, pois isso certamente não beneficiaria vocês.
24Transmitam minhas saudações a todos os seus líderes e a todo o povo santo. Os irmãos da Itália também mandam lembranças.
Em busca de saber os papeis
Não se pode negar que, nesta geração (talvez mais que em qualquer outra) há grande confusão ou mesmo inversão de papeis na relação entre pais e filhos. Qual é o papel da mãe? E do pai? Qual é o papel dos filhos? Afinal, quem sabe?
Meu propósito, hoje, no encerramento de nossa Escola Bíblica de Férias para Crianças, é buscar definir um pouco melhor, de forma geral (não particular ou pormenorizada) os papeis de pais e filhos no relacionamento familiar, especialmente no contexto de igreja. Nosso ponto de partida serão os versículos que acabamos de ler.
Há um duplo chamado nesses versículos. Há um chamado explícito para o rebanho e outro implícito para o líder ou pastor das ovelhas. Mas, nesta manhã, aplicaremos esses versos aos filhos e aos pais. Creio ser perfeitamente apropriado. Afinal, como Paulo mesmo instruiu a Timóteo, antes de ser um bom pastor, o homem precisa ser um bom pai — “Deve liderar bem a própria família e ter filhos que o respeitem e lhe obedeçam. Pois, se um homem não é capaz de liderar a própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus?”(1Tm 3.4-5). Sem falar que para ser uma boa ovelha, é imprescindível que se seja um bom filho (ou filha).
Portanto, que lições há nesses textos de Hebreus para nós, filhos e pais? O que podemos aprender aqui sobre papeis? Destacarei o chamado ou papel explícito dos filhos e o chamado ou papel implícito dos pais. Lembre-se de que estamos em busca de saber, em linhas gerais, os papeis de pais e filhos. Então, vejamos.
1. O papel ou chamado dos filhos (explícito no texto)
Papel é algo que se aprende. Reconhece-se o seu lugar, aprende-se o seu papel e vive-se de acordo com eles. Papel não é alguma coisa que simplesmente acontece, instintivamente. Papel se aprende. É assim em tudo, tanto na tela ou no teatro com na vida real. Por exemplo: alguém que ignora o seu papel ou tenta viver o papel do outro estraga todo o enredo; ou ainda, se papeis não fossem aprendidos, a sociedade não estaria se degradando com tanta rapidez na medida em que papeis são ignorados ou invertidos no lar, na igreja e na sociedade. Papel é algo que se aprende; que precisa ser aprendido.
Até mesmo na Trindade divina existem papeis bem definidos (e nada disso diminui cada uma das pessoas em relação a outra; pelo contrário; papeis distintos dão ainda mais beleza ao todo da divindade de Deus): o Pai planejou, o Filho executou e o Espírito aplica a salvação. Esses são os papeis.
Todos têm papeis. Assim é que filhos também têm o seu papel ou chamado muito bem definido no relacionamento entre pais e filhos. Faz parte desse papel o que segue.
Filhos honram a autoridade dos pais
7Lembrem-se de seus líderes…
17Obedeçam a seus líderes e façam o que disserem (sejam submissos).
24Transmitam minhas saudações a todos os seus líderes e a todo o povo santo.
Por que honrar a autoridade dos pais? Com qual propósito? Diz o texto (v. 17): com o fim de ser para eles (os pais) motivo de alegria, e não peso; afinal, eles velampelas vossas almas — lit., não dormem, pois estão os vigiando, cuidando, protegendo.
17Obedeçam a seus líderes e façam o que disserem. O trabalho deles é cuidar de sua alma, e disso prestarão contas. Deem-lhes motivo para trabalhar com alegria, e não com tristeza, pois isso certamente não beneficiaria vocês.
Comentando sobre esse versículo, João Calvino escreveu que
quanto mais pesada [for] a responsabilidade deles [pastores; mas acrescentamos: pais], maior honra merecem, pois quanto mais alguém sofre por nossa causa, e quanto maior for sua dificuldade e maiores os riscos que enfrentam por nós, maiores também nossas obrigações para com eles.
Filhos, portanto, honram a autoridade dos pais. Como? Lembrando-sedeles (recorrendo-se a eles) — Hb 13.7; obedecendo-osno temor do Senhor, fazendo o que eles ensinam segundo a palavra de Deus — Hb 13.17; e transmitindoo conhecimento e a sabedoria que adquiriram deles — Hb 13.24.
7Lembrem-se de seus líderes que lhes ensinaram a palavra de Deus. Pensem em todo o bem que resultou da vida deles e sigam seu exemplo de fé.
17Obedeçam a seus líderes e façam o que disserem. O trabalho deles é cuidar de sua alma, e disso prestarão contas. Deem-lhes motivo para trabalhar com alegria, e não com tristeza, pois isso certamente não beneficiaria vocês.
24Transmitam minhas saudações a todos os seus líderes e a todo o povo santo. Os irmãos da Itália também mandam lembranças.
Filhos honram a autoridade dos pais. Mas, tem mais.
Filhos recorrem à sabedoria dos pais para aprender, inspirar-se e imitar
7[Recorram aos pais]Lembrem-se de seus líderes que lhes [Aprendam com os pais]ensinaram a palavra de Deus. [Inspirem-se nos pais]Pensem em todo o bem que resultou da vida deles e [Imitem seus pais]sigam seu exemplo de fé.
O autor de Hebreus nos ensina que o papel do filho, principalmente em seus anos de formação, é recorrer à sabedoria bíblica dos pais para aprender, inspirar-se e imitar. Assim é que os filhos (também as ovelhas, com relação ao pastor) são chamados a trazer sempre à memória aquilo que sabem sobre os pais, olhando repetidas vezes para e observando criteriosamente o exemplo de fé deles.
Poderíamos aqui citar diversos versículos de Provérbios que dão sustentação a tudo isso, mas o tempo não nos permite. Sugiro, então, aos filhos que façam uma busca no livro de sabedoria de Salomão para ver os principais ensinos dos pais aos filhos. Leia Provérbios, uma capítulo por dia, todos os dias, o ano todo. Veja como os filhos são instruídos sobre os perigos da imoralidade sexual, do amor ao dinheiro, do temor da opinião das pessoas (temor de homens), das amizades, do uso indevido da língua, da preguiça e da procrastinação, etc.
Filhos são chamados a honrar a autoridade dos pais e a recorrer à sabedoria bíblica deles para aprender, inspirar-se e imitar. Daí indagamos: filhos, a quem vocês honram; a quem vocês recorrer; aonde vocês se voltam em busca de instrução, inspiração e imitação? O YouTube não tem todas as respostas, nem o Google. Instagram e Facebook podem ser escravizadores. Seus amigos estão no mesmo barco que vocês. Então, honrem seus pais. Recorram a eles em busca de sabedoria bíblica para aprender, inspirar-se e imitar.
Alguém poderá dizer: Não tenho pai nem mãe. Meus pais não são crentes ou não têm maturidade espiritual o bastante. Então: recorra a um pai ou uma mãe espiritual, lembrando-se de que os pais biológicos, por mais que não tenham o temor do Senhor, possuem a lei de Deus gravada em seu coração e sabedoria de vida para compartilhar. Porém, cheque tudo com o evangelho. Esse é o papel ou chamado dos filhos.
2. O papel ou chamado dos pais (implícito no texto)
Qual é o papel dos pais? Modelara palavra de Deus (Hb 13.7), ensinara palavra de Deus (Hb 13.17) e comissionaros filhos segundo a palavra de Deus (Hb 13.24).
7Lembrem-sede seus líderes que lhes ensinaram a palavra de Deus. Pensem em todo o bem que resultou da vida deles e sigam seu exemplo de fé.
17Obedeçama seus líderes e façam o que disserem. O trabalho deles é cuidar de sua alma, e disso prestarão contas. Deem-lhes motivo para trabalhar com alegria, e não com tristeza, pois isso certamente não beneficiaria vocês.
24Transmitam minhas saudações a todos os seus líderes e a todo o povo santo. Os irmãos da Itália também mandam lembranças.
Mas, como os pais poderão modelar, ensinare comissionaros filhos com a palavra de Deus? Exercendo autoridade. Permitam-me, pois, uma palavra sobre autoridade.
Autoridade é para a edificação, não para a autoafirmação nem explosão
2Co 10.8 | Pode parecer que estou me orgulhando além do que deveria da autoridade que o Senhor nos deu, mas nossa autoridade visa edificar vocês, e não destruí-los. Portanto, não me envergonharei de usá-la.
2Co 13.10 | Escrevo-lhes essas coisas antes de visitá-los, na esperança de que, ao chegar, não precise tratá-los severamente. Meu desejo é usar a autoridade que o Senhor me deu para fortalecê-los, e não para destruí-los.
No contexto dessa carta aos coríntios (especialmente os capítulos 10 a 13), Paulo revelou que sua autoridade para edificação e fortalecimento, não para a destruição, foi exercida com fortes argumentosbíblicos e teológicos, mesmo quando eles desprezavam a aparência do apóstolo; a autoridade foi exercida com energiae alguma exigência, mesmo eles achando Paulo muito duro. No entanto, note que Paulo nunca extrapolou seus limites; sua medida nunca foi a si mesmo ou qualquer outra coisa, mas a palavra de Deus:
2Co 10.12-14 | 12Não nos atreveríamos a nos classificar como esses indivíduos nem a nos comparar com eles, que se julgam tão importantes. Ao se compararem apenas uns com os outros, usando a si mesmos como medida, só mostram como são ignorantes. 13Não nos orgulharemos do que se fez fora de nosso campo de autoridade. Antes, nos orgulharemos apenas do que aconteceu dentro dos limites da obra que Deus nos confiou, que inclui nosso trabalho com vocês. 14Quando afirmamos ter autoridade sobre vocês, não ultrapassamos esses limites, pois fomos os primeiros a chegar até vocês com as boas-novas de Cristo.
Autoridade é para a edificação, não para a autoafirmação nem explosão.
Autoridade é para a santificação, não para a subjugação
Ef 6.4 |Pais, não tratem seus filhos de modo a irritá-los; antes, eduquem-nos com a disciplina e a instrução que vêm do Senhor.
Algumas formas de se provocar a ira dos filhos (ou desanimá-los): 1excesso de proteção (especialmente na medida em que eles vão crescendo) — deixe-os ir assumindo responsabilidades e arcando com suas consequências (evite superproteção); 2favoritismo; 3legalismo; 4desestímulo (falta de incentivo e elogio); 5negligência, omissão, desinteresse (por eles ou pelas coisas deles); 6insensibilidade, violência, intempestividade, algum tipo de abuso;7incoerência, mentiras, manipulações; 8descumprimento de promessas; 9desprestígio pelo cônjuge, descuido na relação conjugal; etc.
Autoridade é para a santificação, não para a subjugação.
Autoridade é para ser exercida em amor, não em coerção ou repressão
Rm 2.1-4 |1Talvez você pense que pode condenar esses indivíduos [gentios], mas é igual a eles e não tem desculpa! Quando diz que eles deveriam ser castigados, condena a si mesmo, porque você, que julga os outros, pratica as mesmas coisas. 2E sabemos que Deus, em sua justiça, castigará todos que praticam tais coisas. 3Uma vez que você julga outros por fazerem essas coisas, o que o leva a pensar que evitará o julgamento de Deus ao agir da mesma forma? 4Não percebe quanto ele [Deus] é bondoso, tolerante e paciente com você? Não vê que essas manifestações da bondade de Deus visam levá-lo ao arrependimento?
Outros conselhos:
Algo que tenho aprendido sobre a paternidade (olhando para a Bíblia, repensando a minha relação com meus pais já falecidos — eles não eram cristãos praticantes, assistindo o meu relacionamento com os meus filhos à medida que eles crescem, ouvindo pessoas que aconselhei ao longo de 20 anos de pastorado): filhos não querem super-pais, filhos querem pais que aberta e declaradamente reconhecem seus pecados, confessam seus pecados e procuram crescer coerentemente em graça e santificação. Nada irrita mais um filho, nada endurece mais o coração de um filho, do que um pai ou uma mãe que não cresce na vida cristã, não cresce em sabedoria, sem demonstrações práticas e concretas de quebrantamento e mudança. Pais não precisam nem conseguirão ser super-crentes, basta que sejam coerentes com a palavra de Deus.
O pastor Esdras e sua igreja reunida
Quero terminar com o pastor Esdras e sua igreja reunida. Abra em Neemias 8.1-13.Leremos e observaremos alguns conselhos práticos aos pais à partir do exemplo da Igreja dos dias de Neemias. Ao lermos, peço que busquem observar três coisas em particular:
Neemias 8.1-13 |1Em outubro (sétimo mês), quando os israelitas já haviam se estabelecido em suas cidades, todo o povo se reuniu com um só propósito na praça em frente da porta das Águas. Pediram ao escriba Esdras que trouxesse o Livro da Lei de Moisés, que o SENHOR tinha dado a Israel. 2Assim, no dia 8 de outubro (primeiro dia do sétimo mês), o sacerdote Esdras trouxe o Livro da Lei perante a comunidade constituída de homens e mulheres e de todas as crianças com idade suficiente para entender. 3Ficou de frente para a praça, junto à porta das Águas, desde o amanhecer até o meio-dia, e leu em voz alta para todos que podiam entender. Todo o povo ouviu com atenção a leitura do Livro da Lei. 4O escriba Esdras estava em pé sobre uma plataforma de madeira feita para a ocasião. À sua direita estavam [líderes] Matitias, Sema, Anaías, Urias, Hilquias e Maaseias; à sua esquerda, Pedaías, Misael, Malquias, Hasum, Hasbadana, Zacarias e Mesulão. 5Esdras estava sobre a plataforma, à vista de todo o povo. Quando o viram abrir o Livro da Lei, todos se levantaram. 6Esdras louvou o SENHOR, o grande Deus, e todo o povo disse: “Amém! Amém!”, com as mãos erguidas. Depois, prostraram-se com o rosto no chão e adoraram o SENHOR. 7Em seguida, os levitas Jesua, Bani, Serebias, Jamim, Acube, Sabetai, Hodias, Maaseias, Quelita, Azarias, Jozabade, Hanã e Pelaías instruíram o povo acerca da Lei, e todos permaneceram em seus lugares. 8Liam o Livro da Lei de Deus, explicavam com clareza o significado do que era lido e ajudavam o povo a entender cada passagem. 9Então o governador Neemias, o sacerdote e escriba Esdras e os levitas que instruíam o povo disseram: “Não se lamentem nem chorem num dia como este! Hoje é um dia consagrado ao SENHOR, seu Deus!”. Pois todo o povo chorava enquanto ouvia as palavras da Lei. 10E Neemias prosseguiu: “Vão e comemorem com um banquete de comidas saborosas e bebidas doces e repartam o alimento com aqueles do povo que não prepararam nada. Este é um dia consagrado ao nosso Senhor. Não fiquem tristes, pois a alegria do SENHOR é sua força!”. 11Os levitas também acalmaram o povo, dizendo: “Aquietem-se! Não fiquem tristes! Hoje é um dia santo!”. 12Então o povo saiu para comer e beber numa refeição festiva, para repartir o alimento e celebrar com grande alegria, pois tinham ouvido e entendido as palavras de Deus. 13No dia 9 de outubro, os chefes de todas as famílias do povo, junto com os sacerdotes e os levitas, reuniram-se com o escriba Esdras para examinar a Lei mais atentamente.
Ajude-nos o Senhor sobre os papeis de pais e filhos (também da igreja) no processo de formação, crescimento e amadurecimento das famílias desta igreja.
Dicas bibliográficas
Ted Tripp (editora Fiel) — pais de crianças
Pastoreando o Coração da Criança é uma obra sobre como falar ao coração de nossos filhos. As coisas que seu filho diz e faz brotam do coração. Lucas 6.45 afirma isso com as seguintes palavras: “A boca fala do que está cheio o coração”. Escrito para pais que têm filhos de qualquer idade, este livro esclarecedor fornece perspectivas e procedimentos para o pastoreio do coração da criança nos caminhos da vida.
Desde a sua interação com outras crianças até a instrução e correção que recebem em casa, as crianças interpretam suas experiências a partir de uma cosmovisão que busca responder às suas perguntas fundamentais: Quem sou eu? Para que existo? Onde posso encontrar alegria? Por essa razão, precisamos providenciar para nossas crianças uma estrutura bíblica, persuasiva e consistente, para que compreendam o mundo que Deus criou, bem como o seu papel nele.
Instruir o coração da criança é essencial para pastorear o coração da criança. A instrução que você lhes dá não apenas informa sua mente, mas também é direcionada a persuadir seu coração a respeito da sabedoria e da veracidade dos caminhos de Deus. Grave a verdade no coração de seus filhos, não para controlá-los ou dominá-los, e sim para direciona-los ao maior gozo e alegria que podem experimentar — deleitarem-se em Deus e na excelência de Seus caminhos.
Paul David Tripp(editora Batista Regular) — pais de adolescentes e jovens
Paul Tripp desvenda as questões do coração que afetam os pais e os seus filhos adolescentes durante os anos muitas vezes caóticos da adolescência. Com sagacidade, sabedoria, humildade e compaixão, ele mostra aos pais como aproveitar as inúmeras oportunidades de aprofundar a comunicação, aprender e crescer com seus adolescentes.
S.D.G. L.B.Peixoto
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