02.09.2018
EU SOU NA TORMENTA
João 6.16-21
16Ao entardecer, os discípulos de Jesus desceram à praia, 17entraram no barco e atravessaram o mar em direção a Cafarnaum. Quando escureceu, porém, Jesus ainda não tinha vindo se encontrar com eles. 18Logo, um vento forte veio sobre eles, e o mar ficou muito agitado.19Depois de remarem cinco ou seis quilômetros, de repente viram Jesus caminhando sobre o mar, em direção ao barco. Ficaram aterrorizados, 20mas ele lhes disse: “Sou eu! Não tenham medo”. 21Eles o receberam no barco e, logo em seguida, chegaram a seu destino.
Por que nos decepcionamos com Deus?
Muita gente, atormentada, vai a Cristo na esperança de que ele as poupará da tormenta. Querem, a todo custo, ser felizes. Lutaram muito e tentaram de tudo, mas nada funcionou. Restou-lhes apenas Jesus. Então, recorrem a ele com o coração transbordando de boa-fé e de esperança. Mas se decepcionam. Por quê?
Essas pessoas ouviram dizer que Jesus pode ajudá-las em todos os seus problemas pessoais, conflitos familiares, desilusões amorosas, enfermidades físicas, dificuldades financeiras, transtornos emocionais etc. Foi-lhes dito: “Jesus é a solução para os seus problemas!”. Então, desesperadas, correm para os braços dele em busca da paz de espírito tão desejada, da realização pessoal tão almejada, do relacionamento tão invejado, da tranquilidade financeira tão cobiçada e da vida tão esperada. Foi-lhes garantido que se entregassem-se ao Senhor com fé e pagassem um preço de compromisso (geralmente financeiro ou em campanhas diversas de consagração), tudo ficaria bem, na mesma proporção da fé que tivessem e investissem.
O problema surge quando se descobre que a tormenta não passou e Deus não as livrou dos ventos fortes nem da agitação do mar revolto desta vida. Os filhos ainda dão trabalho, o cônjuge não mudou em nada (aliás, parece até que piorou!), o dinheiro continua faltando, o corpo está enfermo, a alma angustiada… Enfim, a promessa de que Cristo pode ajudar em todas as causas impossíveis não se cumpriu e o crente continua infeliz. Só que agora com um agravante: essa pessoa sente como se Deus não se importasse com os seus problemas. Decepciona-se com Deus e desespera-se da vida.
O que deu errado?
O erro foi achar que a vida cristã se trata de um constante litígio, uma queda intensa de braços entre o crente, de um lado, e o diabo do outro (e Deus fica no meio e só vai decidir pelo crente se vir nele fé e força o bastante para conquistar); isto, claro, quando a vontade oposta à do crente não é a vontade do próprio Deus (aí o bicho pega, pois não mais sou euversus o diabo,e que Deus me ajude; mas euversus Deus, e agora?). É uma espiritualidade doentia, cuja origem se arrasta desde a queda do homem no Éden.
Contra-atacando a loucura do erro desse tipo de piedade, D. A. Carson, no excelente livro: Um chamado à reforma espiritual(ed. Cultura Cristã), escreveu que
A piedade [cristã] repousa na submissão à vontade do Todo-poderoso, não em intercessões que procuram modificar essa vontade. Orações petitórias podem, portanto, ser rejeitadas na melhor das hipóteses como impertinência; e na pior, como insulto desesperado ao Deus santo e soberano.
O erro das pessoas (de fato, a loucura delas) é crer ser verdade a frase que li, adesivada na traseira de um carro parado no semáforo à minha frente nesta semana que passou. Dizia assim (Está preparado? Posso falar? Acho que é impróprio, mas, como estava lá no carro, vamos lá…): “Eu sonho, Deus realiza!”. Vou repetir: “Eu sonho, Deus realiza!”. Meu Deus! Quanta impertinência! Quanto insulto ao santo e soberano Deus!
Essa gente, e grande parte dela se diz cristã e evangélica, realmente crêque precisa de Jesus, mas dele ela acredita precisar para realizarseus sonhos, resolverseus problemas, multiplicarseus recursos, proporcionar-lhes bem-estar e saúde para viverem bem a vida boa de meu Deus. Pensam assim: “Que Deus me ajude! E se não quiser me ajudar, que não me atrapalhe e que amarre o diabo.”É uma loucura e, por causa desse tipo de pensamento, muitas pessoas estão decepcionadas com Deus.
Como vimos na semana passada, Cristo, para essa gente, não é pão, mas padeiro. E quando esse padeiro atrasa a entrega, elas reclamam; ou quando ele entrega um pão um pouquinho mais queimado, elas também reclamam: “Esse não! Eu gosto de pão mais branquinho.”, e se o pão está mais branquinho, elas rechaçam: “Prefiro o mais queimadinho!”.
O deus de causas impossíveis que é pregado, cantado e crido por aí não é nem de longe o Deus da Bíblia, i.e., o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. O deus de impossíveis ou de causas impossíveis que está sendo oferecido no box de produtos religiosos do mercado gospel, na verdade, não passa de um criador de ídolos, de um Ali Babá (cercado de ladrões de esperança, para dizermos pouco!) com palavras mágicas de poder — “Abre-te, Sésamo” — destrancando tesouros escondidos para os fiéis (na verdade, ídolos para o coração das massas).
Esse deus é como o gênio mágico que sempre atende aos nossos desejos se esfregarmos direitinho a lâmpada de Aladim. Os ídolos que o deus gospel “entrega” aos que o buscam com fé e sacrifício são as bênçãos, as curas, as libertações, enfim, os bens e produtos que vergonhosa, desonesta e dissimuladamente os pregadores de ilusões prometem (2Co 4.1-2). Tudo para ser gasto em prazeres sem Deus no mundo. São adúlteros (eles e os fieis que os seguem), como desmascarou Tiago (Tg 4.3-4).
Por tudo isso é que esses “fiéis” acabam se decepcionando com Deus. Afinal, prazeres sem Deus (por mais que sejam legítimos e que se os obtenha) não se sustentam nem bancam a vida.
Quem é o Deus da Bíblia?
Quem é o Deus da Bíblia? O texto de hoje tem como propósito apresentá-lo pelo que ele realmente é e de fato almeja ser e fazer na vida de seus filhos. Temos aqui uma fração da soberania e do poder, mas principalmente do amor e do cuidado de Deus pelos seus discípulos. Deus jamais pensou em decepcionar seus filhos, pois ele nunca prometeu o que não cumpre. O problema está sempre na forma errada como enxergamos esse Deus e suas promessas para o seu povo. Veja o texto de hoje: João 6.16-21.
João escreveu este Evangelho, selecionando a dedo cada um dos sete milagres aqui relatados, para produzir nos seus leitores fé, fé que salva e que sustenta o crente com o coração satisfeito emCristo (Jo 20.30-31) — ao se contemplar o Cristo glorioso que ele nos apresenta, o Cristo cheio de graça e de verdade (Jo 1.14) sobre quem nós lemos da primeira à última linha deste livro sagrado. O que temos aqui, então?
A história de hoje (Jesus andando sobre o mar para encontrar os discípulos no meio de uma tempestade — Jo 6.16-21) vem logo depois de um milagre maravilhoso: a multiplicação de cinco pães de cevada e dois peixes que alimentaram mais de cinco mil pessoas (Jo 6.1-15). Após o milagre da multiplicação e a travessia milagrosa do mar revolto (Jo 6.16-21), Jesus volta a conversar com a multidão que, literalmente, o perseguia em busca de pães, peixes, sinais e maravilhas (Jo 6.22-25). Então, buscando fazer as pessoas entenderem a natureza do milagre, o Senhor se engaja com elas em um diálogo (Jo 6.22-71) que até os seus discípulos mais chegados acharam duro de engolir (Jo 6.60).
Jesus, de fato, estava esclarecendo que todos os sinais que ele realizava tinham dois objetivos principais: 1 – autenticar seu ministério com o selo da aprovação divina demonstrado pelos milagres que ele realizava (Jo 6.27) e 2 – revelar que ele, Cristo, é o verdadeiro pão de Deus que desceu do céu e que dá vida ao mundo (Jo 6.33-35). Só que a multidão não entendeu assim. Ela queria Jesus, mas o queria para continuar provendo-a com pães, peixes, curas e sinais maravilhosos.
O Senhor, porém, insistia com a multidão, dizendo:
Vocês não entenderam nada! Meus milagres revelam que Eu Sou, que Eu Sou Deus. Meus milagres apontam para uma realidade sobrenatural, espiritual: eu vim morrer no lugar do pecador; eu vim curar a doença do pecado; eu vim matar a fome e a sede do coração de vocês com a revelação de quem Eu Sou, e não com a provisão de algum substituto como pães e peixes e saúde ou bem-estar; eu vim para vencer a morte e prover-lhes vida plena. Vocês não entenderam?
Parece que não. E nem os discípulos pareciam, àquela altura, ter entendido assim. Quer ver? O texto de Marcos, correlato a este de João (6.16-21), escreve assim (preste atenção aos detalhes) Marcos 6.45-52:
45Logo em seguida, Jesus insistiu com seus discípulos que voltassem ao barco e atravessassem o mar até Betsaida, enquanto ele mandava o povo para casa. 46Depois de se despedir de todos, subiu sozinho ao monte para orar. 47Durante a noite, os discípulos estavam no barco, no meio do mar, e Jesus, sozinho em terra. 48Ele viu que estavam em apuros, remando com força e lutando contra o vento e as ondas. Por volta das três da madrugada, Jesus foi até eles caminhando sobre o mar. Sua intenção era passar por eles [para revelar-lhes glória ao caminhar sobre as águas — cf. Êx 33.19 e 22; Êx 34.6], 49mas, quando o avistaram caminhando sobre as águas, gritaram de pavor, pensando que fosse um fantasma. 50Ficaram todos aterrorizados ao vê-lo. Imediatamente, porém, Jesus lhes disse: “Não tenham medo! Coragem, sou eu!”. 51Em seguida, subiu no barco e o vento parou. Os discípulos ficaram admirados, 52pois ainda não tinham entendido o milagre dos pães. O coração deles estava endurecido.
Os Doze, a exemplo da multidão, tinham olhos para ver, mas não viam; tinham ouvidos para ouvir, mas não ouviam; afinal, viram todos aqueles milagres, especialmente o último (a multiplicação de pães e peixes) e não haviam ainda compreendido (Mc 8.18-21) que Jesus é o grande Eu Sou, é Deus cheio de graça e de verdade gloriosa estampada para eles, capaz de salvá-los do pecado e satisfazê-los ou saciá-los com a beleza gloriosa do ser e do caráter do Deus encarnado bem ali, diante dos olhos de todos.
A didática da tormenta
Os Doze não tinham ainda entendido que Jesus veio para ser Salvador e Saciador da vida deles; Salvador e Sabor da vida deles. Como a multidão, eles ainda estavam apegados nas coisas que Deus dáe não em quem Deus éem Cristo. Daí que Jesus, não querendo deixá-los se enganar a seu respeito, encaminha-os para o outro lado do mar.
Algo precioso aqueles discípulos aprenderiam, mas, para isto, Jesus precisaria, literalmente, colocá-los numa tormenta, enviá-los para o meio de uma tempestade (Mc 6.45). É o severo amor de Deus, que tantas vezes precisa arrancar de nós tudo o que temos para nos ensinar que ele é a única coisa que de fato precisamos. Outra coisa.
Esse milagre foi só para os Doze. A multidão não o viu. Ninguém mais o viu. Apenas os Doze o viram e o deixaram registrados para nós nos Evangelhos (i.e., Mateus, Marcos e João). Por quê?
Jesus quer ensinar aos seus filhos — ele não quer que os seus discípulos de verdade fiquem enganados à respeito de questões eternas — ou seja: a presençadele é o sustentoe a salvaçãoque nós de fato precisamos para esta e para a vida por vir.
Que Cristo é o sustento, estava claro pelo fato de que cada um dos Doze carregava consigo no barco um cesto cheio de pão (Jo 6.12-13). Que Cristo é a salvação, ficou claro, pois ao ter Cristo entrado no barco, os Doze logo chegaram ao destino final (Jo 6.21). Qual é a lição?
Quem se agarra com fé no que Cristo promete serpara nós (pão, água, caminho, verdade, vida, ressurreição, salvação etc.), fruto do que ele conquistou por nós na cruz e na ressurreição, encontra livramento para o nosso principal problema: o pecado. É o que veremos a seguir, mergulhando um pouco na história do milagre. Há pelo menos duas coisas que precisamos investigar nesta história: 1 – quem sou eu na tormenta e 2 – o Eu Souna tormenta. Vejamos, uma de cada vez.
Quem sou eu na tormenta?
Semana passada, quando estudamos o milagre da multiplicação dos pães e peixes (Jo 6.1-15), nós dissemos que o Senhor nos coloca em situações humanamente impossíveis para provar o nosso coração e, em seguida, revelar que ele, a pessoa dele nos basta, pois a graça dele, manifesta na presença dele, é melhor que a vida (Sl 63.3). No milagre de hoje a lição é a mesma: sua presença nos basta; sua presença nos sustenta.
Fartos de pães e peixes, com coisa de sobra dentro do barco (um cesto cheio de pães e peixes para cada um dos Doze), o Senhor revelará que se ele, Cristo, não estiver presente no barco, nada daquilo valerá; jamais conseguiremos chegar a algum lugar e de nada desfrutaremos. Então, veja quem de fato nós somos na tormenta da vida sem Deus.
Olhe para os discípulos. Quem são eles? Como eles estão?
Estão fartos de pão e peixe. São pescadores acumulados de experiência. São homens que deixaram para trás uma história e se tornaram discípulos. Estão seguros do destino e sabidos de onde queriam chegar. No entanto, são frágeis, impotentes, duros de coração, com mente dividida e inconstantes em tudo que faziam. E naquela noite foram surpreendidos pela tempestade.
Observe a história de quem somos na tormenta, analisando a história deles, um passo de cada vez.
Fartos de pão e peixe, mas frágeis
Estavam fartos. Barriga cheia. Havia pães e peixes de sobra para todos. Na verdade, um cesto cheio para cada um dos Doze. Estavam materialmente abastados. No entanto, frágeis quando a tempestade os abateu. Sem Cristo no barco, sem a presença dele conosco, nada do que temos, por pouco ou muito que seja, não nos bancará. Não é assim na vida real? Quem poderá dizer que o que se tem é o bastante para viver?
Pescadores acumulados de experiência, mas impotentes
Outra coisa que Jesus desmascara sobre nós é que sabedoria, inteligência, habilidade ou experiência humana também não nos bancam na vida. Aqueles eram homens experiente no mar. Conheciam tão bem o mar e estavam tão confiantes de si mesmos que embarcam na viagem para o outro lado, para Cafarnaum, “ao entardecer”(Jo 6.16). O problema foi que a tempestade chegou e eles descobriram, da pior maneira possível, sua impotência, não obstante a toda experiência que tinham com o mar (Jo 6).
16Ao entardecer, os discípulos de Jesus desceram à praia, 17entraram no barco e atravessaram o mar em direção a Cafarnaum. Quando escureceu, porém, Jesus ainda não tinha vindo se encontrar com eles. 18Logo, um vento forte veio sobre eles, e o mar ficou muito agitado.19Depois de remarem cinco ou seis quilômetros,… [Marcos 6.48 acrescenta que eles“estavam em apuros, remando com força e lutando contra o vento e as ondas”].
Pescadores acumulados de experiência, mas impotentes: em apuros, remando com força e lutando contra o vento e as ondas. Remaram, remaram, remaram… remaram cinco ou seis quilômetros e não chegaram a lugar nenhum. Assim é a vida sem Cristo no barco. Assim somos você e eu na tormenta sem Deus: experientes, mas impotentes.
Homens que deixaram para trás uma história e se tornaram discípulos, mas ainda eram duros de coração
Apesar de toda experiência religiosa que já haviam tido com Jesus Cristo, aqueles homens ainda não conheciam Deus. Impressiona-me que os gritos de terror não vieram por causa do vento ou das ondas, mas quando Eu Sou, quando Cristo se aproximou.
João 6 |18Logo, um vento forte veio sobre eles, e o mar ficou muito agitado. 19Depois de remarem cinco ou seis quilômetros, de repente viram Jesus caminhando sobre o mar, em direção ao barco. Ficaram aterrorizados, 20mas ele lhes disse: “Sou eu! Não tenham medo”.
Mc 6 | 49mas, quando o avistaram caminhando sobre as águas, gritaram de pavor, pensando que fosse um fantasma. 50Ficaram todos aterrorizados ao vê-lo. Imediatamente, porém, Jesus lhes disse: “Não tenham medo! Coragem, sou eu!”.
Duros de coração. Não conheciam Deus. Ainda eram cegos para o Senhor da glória. Não é por acaso que o milagre seguinte no Evangelho de João será a cura de um cego de nascença (Jo 9), revelando-nos que já nascemos cegos para a glória de Deus.
Seguros do destino e sabidos de onde queriam chegar, mas foram surpreendidos pela tempestade naquela noite
Resolveram obedecer a Jesus. Entraram no barco e partiram para Cafarnaum. O que poderia dar errado? Afinal, estavam obedecendo a vontade de Deus(Cristo mesmo insistiu que eles fossem), sabiam aonde deveriam ir(Cafarnaum), estavam abastecidos de pães e peixes(supridos materialmente) e eram experientes no mar. O que poderia dar errado? Aparentemente, nada. No entanto, foram surpreendidos pela tempestade.
Assim é a vida. Ela é cheia de surpresas tormentosas. E a vida é assim por causa do pecado. Então, quem sou eu na tormenta? Sou frágil, impotente, duro de coração e vulnerável à tormenta do pecado. Preciso de Cristo. Preciso do grande Eu Sou. Preciso de Cristo para me salvar(através do que ele fez) e me saciar(pelo que ele revela ser).
Eu Souna tormenta
Jesus andando sobre as águas revoltas do mar, indo ao encontro dos discípulos em apuros na tormenta, ensina-nos sobre o que de fato mais precisamos na vida. Precisamos de Cristo e não das coisas que Cristo dá. Afinal, do que adiantaria um barco cheio de pão e peixe se todos naufragassem na tempestade sem Cristo? O que seria deles se morressem sem Cristo, estando todos ainda duros de coração?
Toda essa história foi milimetricamente calculada por Jesus para nos ensinar que precisamos de fatodele, da presença dele. Ele não é Deus que tira da tormenta, ele é Deus natormenta. Ele não é Deus que tira da cova dos leões, ele é Deus nacova dos leões. Ele não é Deus que tira da fornalha de fogo, ele é Deus nafornalha de fogo. Deus não é Deus para as nossas causas impossíveis; para preservar os nossos maiores tesouros, mantendo-nos entretidos com eles. Deus é Deus. Ele é o grande Eu Sou. Deus não é Deus para dar bênçãos, mas para serabênção — para serpão e peixe, para serpresente conosco como o Tudo que de fato precisamos na vida. Veja como João coloca tudo isso (Jo 6.19-21).
19Depois de remarem cinco ou seis quilômetros, de repente viram Jesus caminhando sobre o mar, em direção ao barco. Ficaram aterrorizados, 20mas ele lhes disse: “Sou eu! Não tenham medo”. 21Eles o receberam no barco e, logo em seguida, chegaram a seu destino.
Percebeu que João não diz que a tempestade passou? Sim, Marcos disse que a tempestade passou; sabemos por Marcos que “o vento parou” (Mc 6.51). João, porém, não diz nada sobre o vento parar. Para João o vento parar não é o mais importante. João simplesmente diz que o barco chegou ao destino. Sim, de novo, nós sabemos que o ventou se acalmou com a chegada de Jesus. Marcos (6.51) nos conta que o ventou parou. Mas João não diz um “a” sobre o vento. Diz apenas (Jo 6.20-21):
20[…] “Sou eu! Não tenham medo”. 21Eles o receberam no barco e, logo em seguida, chegaram a seu destino.
Por que João escreve assim? Cadê a história do “e vento parou”(Mc 6.51)? O vento parou, é verdade, mas para João isso não é importante. O vento parar não é o mais importante! O mais importante é (Jo 6.20-21):
20[…] “Sou eu! Não tenham medo”. 21Eles o receberam no barco e, logo em seguida, chegaram a seu destino.
O mais importante não é que Deus acalma tempestades. O mais importante é Deus se revelar a nós nahora da tormenta (“Eu sou!”). O mais importante é Deus dizer uma Palavraque acalme o coração (“Não tenham medo.”). O mais importante é recebê-lo no coração, desfrutando da pessoa e da presençadele (“Eles o receberam no barco…”). O mais importante é chegar ao destino, ao céu, à presença gloriosa do Senhor na eternidade de delícias e prazeres em Deus (“e, logo em seguida, chegaram a seu destino.”).
Percebeu, gente? João não quer nos revelar um Cristo que dá pão, mas que épão. Não se trata de um Cristo que acalma a tempestade, mas que éDeus conosco na tempestade; um Deus que está com seu povo na tempestade para levá-los ao destino final: Deus (1Pe 3.18):
Pois Cristo também sofreu por nossos pecados, de uma vez por todas. Embora nunca tenha pecado, morreu pelos pecadores a fim de conduzi-los a Deus.
Deus não prometeu acalmar tempestades nem nos livrar de tormentas (passaremos por aflições neste mundo, Jo 16.33). Deus prometeu serDeus na tempestade e estarconosco na tormenta, levando-nos salvos e seguros ao destino: Deus mesmo como delícia e prazer na glória do céu. E enquanto lá nós não chegamos, ele prometeu nos dar vislumbres de glória na revelação de quem Cristo é para nós nesta vida e na vida por vir.
Quem Cristo ée o que ele promete serpara nós? Olhe, por exemplo, para os milagres narrados por João neste evangelho. Neles, aprendemos que: 1 – Cristo é vinho novo e melhorpara a vida que perde a graça (Bodas de Caná, Jo 2); 2 – ele é Palavra da vidapara o coração cheio de desesperança e desespero (Cura do filho de um oficial, Jo 4); 3 – ele é a única esperança de vidanum mundo cheio de mortes (Cura do paralítico no tanque de Betesda, Jo 5); 4 – ele é a única satisfação para a almanum mundo cheio de opções que não satisfazem (Multiplicação de pães e peixes, Jo 6); 5 – ele é presença consoladora constante, vindo sempre ao nosso encontro (Jesus anda sobre o mar, Jo 6); 6 – ele é a luz gloriosa para a cegueira do coração (Cura do cego de nascença, Jo 9); e 7 – é a ressurreição e a vidapara pecadores mortos no pecado (Ressurreição de Lázaro, Jo 11).
E você, já provou do Eu Sou? Já o recebeu no seu barco?
Cristo não promete livrar da tempestade, ao contrário, muitas vezes ele nos leva à tempestade(Mc 6.45); e isto ele faz para curar nosso coração na tempestade (destruindo nossos ídolos), e assim não perecermos na sombra e água fresca do pecado ou dos embaraços que nos impedem de correr a corrida da fé (Hb 12.1-4).
Cristo não promete livrar da tempestade, mas caminha sobre ela; sobre as ondas agitadas das tormentas, ele faz o seu caminho para chegar até nós; ele tem a tempestade sob seus pés, sob seu soberano controle e nela ele vem ao nosso encontro. Além de dosada e de domada pelo próprio Deus, a tempestade é a porta de entrada para o nosso coração.
Cristo não promete livrar da tempestade, mas estará conosco na tempestade(consolando, confortando, encorajando), todos os dias da nossa vida, até o dia em que nos entregará a salvo nos braços do Pai.
Pode parecer que não, mas o Senhor nos vêna tormenta, caminhasobre a tormenta em nossa direção e a nós se revelaglorioso na tormenta. O problema não é Deus, mas o nosso coração cego pelo pecado que insiste em não ver o grande Eu Sou na tormenta. Veja de novo as palavras de Marcos (6.47-50):
47Durante a noite, os discípulos estavam no barco, no meio do mar, e Jesus, sozinho em terra. 48Ele viuque estavam em apuros, remando com força e lutando contra o vento e as ondas. Por volta das três da madrugada, Jesus foiaté eles caminhando sobre o mar. Sua intenção era passar por eles[para revelar-lhes glória ao caminhar sobre as águas — cf. Êx 33.19 e 22; 34.6], 49mas, quando o avistaram caminhando sobre as águas, gritaram de pavor, pensando que fosse um fantasma. 50Ficaram todos aterrorizados ao vê-lo. Imediatamente, porém, Jesus lhes disse: “Não tenham medo! Coragem, sou eu!”.
Eu Souna tormenta
Você está na tormenta? Como está seu coração? Como você está orando? Pelo quê você está orando? João nos ensina que o Senhor vem a nós na tormenta. Não se assuste com ele, com a forma dele ser, com o jeito dele fazer!Receba-o com fé. Acalme-se. Confie. Deixe-o se revelar a você na face de Jesus Cristo.
Esqueça da tempestade. Tire os olhos dela. Nessa mesma tempestade, narrada lá em Mateus (14.22-33), Pedro foi ao encontro de Jesus sobre as águas, mas começou a olhar para as ondas e para a tempestade, e quase se afogou. Foi o Senhor que o sustentou, reerguendo-o sobre as águas (Mt 14.28-31).
Não olhe para a tempestade. Olhe para Jesus. Não queira acalmar a tempestade. Receba Jesus. Ouça Jesus. Aprenda de Jesus. O que ele quer revelar a você sobre ele e sobre o seu coração à luz de quem ele é e de como ele se revela a você nesta tempestade? Olhe para Jesus. Não olhe para pão e peixe. Não olhe para a tormenta. Olhe para Jesus.
Quem olha para a tormenta, para a enfermidade, para as dificuldades, para as ondas agitadas da vida corre o risco de se afundar; decepciona-se; amargura-se; perece. Jesus não promete acalmar e ele nem sempre acalma tempestades. Mas ele promete estar conosco na tempestade, garantindo nossa chegada no céu.
Jesus é o grande Eu Souna tormenta.Receba-o pela fé. Creia nele para a sua salvação. Olhe para ele em busca de satisfação e sossego para o seu coração.
Para reflexão em PGMs
Cantar: Nos Braços do Pai(Diante do Trono).
S.D.G. L.B.Peixoto
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