13.10.2019
O PANO DE FUNDO DA FÉ
João 10.22-42
22Era inverno, e Jesus estava em Jerusalém na celebração da Festa da Dedicação. 23Ele caminhava pelo templo, na parte conhecida como Pórtico de Salomão, 24quando os líderes judeus o rodearam e perguntaram: “Quanto tempo vai nos deixar em suspense? Se você é o Cristo, diga-nos claramente”. 25Jesus respondeu: “Eu já lhes disse, e vocês não creram em mim. A prova são as obras que realizo em nome de meu Pai. 26Mas vocês não creem em mim porque não são minhas ovelhas. 27Minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. 28Eu lhes dou a vida eterna, e elas nunca morrerão. Ninguém pode arrancá-las de minha mão, 29pois meu Pai as deu a mim, e ele é mais poderoso que todos. Ninguém pode arrancá-las da mão de meu Pai. 30O Pai e eu somos um”. 31Mais uma vez, os líderes judeus pegaram pedras para atirar nele. 32Jesus disse: “Por orientação de meu Pai, eu fiz muitas boas obras. Por qual delas vocês querem me apedrejar?”. 33Eles responderam: “Não vamos apedrejá-lo por nenhuma boa obra, mas por blasfêmia. Você, um simples homem, afirma que é Deus!”. 34Jesus respondeu: “As próprias Escrituras de vocês afirmam que Deus disse a certos líderes do povo: ‘Eu digo: vocês são deuses!’. 35E vocês sabem que as Escrituras não podem ser alteradas. Portanto, se aqueles que receberam a mensagem de Deus foram chamados de ‘deuses’, 36por que vocês consideram blasfêmia quando eu digo: ‘Eu sou o Filho de Deus’? Afinal, o Pai me consagrou e me enviou ao mundo. 37Não creiam em mim se não realizo as obras de meu Pai. 38Mas, se as realizo, creiam na prova, que são as obras, mesmo que não creiam em mim. Então vocês saberão e entenderão que o Pai está em mim, e que eu estou no Pai”. 39Novamente, tentaram prendê-lo, mas ele escapou e os deixou. 40Foi para o outro lado do rio Jordão, perto do lugar onde João [Batista] batizava no início, e ficou ali por algum tempo. 41Muitos o seguiram, comentando entre si: “João não realizou sinais, mas tudo que ele disse a respeito deste homem se cumpriu”. 42E muitos ali creram em Jesus.
A DIFICULDADE DE CRER
“Por que eu não consigo crer?” Você já se fez esta pergunta? Tá! Tudo bem! Você consegue crer. É fácil para você crer. Afinal, você está aqui, veio à igreja e frequenta os nossos cultos. Agora, se consegue crer, crer sem reservas, então você já deve ter se perguntado: “Por que algumas pessoas conseguem crer e outras não?” Gente, não é verdade? Enquanto muitos têm fé em Jesus, o tipo de fé para a salvação, por que tantas pessoas, próximas de nós inclusive, permanecem céticas, ácidas e, de alguma forma arrogantes ou até agressivas, questionando tudo, combatendo tudo, criticando tudo o que é mais precioso para a nossa salvação? Por que eles não conseguem crer?
Mais difícil de compreender são aqueles que se simpatizam com a fé, mas nunca tomam decisão. Concordam com quase tudo, jamais diriam que a fé não presta, frequentam cultos, alguns até ofertam, mas na hora “H”, no momento de tomarem uma decisão, quando precisam decidir e assumir o compromisso público, pulam fora. Por que eles creem, mas com reservas, sem uma entrega total?
Talvez ainda mais complicado de conceber, mas muito real, são os casos daqueles que se entregaram com fé, assumiram o compromisso público com Jesus, declaram-se crentes, são até membros de igreja, e de alguma forma repartem a fé em Jesus Cristo com as pessoas, mas lá no fundo, muito bem escondidinho, lidam o tempo todo com a dúvida e a incredulidade, acham difícil crer e se entregar… e por causa da vergonha ou do medo de serem julgados, não verbalizam o ceticismo e a acidez que fervilham lá dentro do coração. Por que eles creem, mas se alimentam de dúvidas e da incredulidade?
Então: Por que eu não consigo crer? Por que é tão difícil crer? Por que eu creio com reservas? Por que eu creio, mas sou consumido por dúvida e até incredulidade?
A MENTALIDADE DO CORAÇÃO QUE CRÊ
O texto que nós temos para hoje no Evangelho de João ajuda a entender o pano de fundo da fé, ou seja: Que tipo de mentalidade deverá ser cultivada para que neste solo, neste coração (usando a linguagem do próprio Cristo na parábola do semeador), a fé em Jesus possa ser plantada, nascer, crescer e frutificar, sem que seja antes arrancada totalmente pelo maligno, ou depois de um tempo de regozijo queimada pelo sol dos problemas e das perseguições, ou logo sufocada pelas preocupações desta vida e pela sedução da riqueza (Mt 13.18-22)? Trocando em miúdos: Qual é a mentalidade do coração que crê? Qual é o pano de fundo da fé que persevera para a salvação? Caminhemos pelo texto e vejamos, aprendamos sobre a mentalidade do coração que crê, o que precisa haver ou ser cultivado no coração para que a fé nasça, cresça e frutifique.
JESUS NÃO ENLOUQUECEU!
Até este ponto em João 10, Jesus esteve desenvolvendo uma figura de linguagem. O versículo 6 diz: “Os que ouviram Jesus usar essa ilustração não entenderam o que ele quis dizer”. Pois bem, nessa ilustração ou parábola, o Senhor diz que há um aprisco, e ele é a porta do aprisco (v. 7); ele é o bom pastor (v. 11) que tem ovelhas que são suas entre os judeus (vs. 1-3); mas há também “outras ovelhas” que são suas e que estão fora do aprisco judeu, os gentios, outras nacionalidades — “não estão neste curral” (v. 16).
Jesus argumenta que sua missão neste mundo, dada por Deus Pai, é sacrificar a vida por suas ovelhas (v. 17), “entregá-la [a própria vida] e também […] tomá-la de volta” (v. 18); ele veio para chamar suas ovelhas pelo nome ao redor do mundo. Essas ovelhas reconhecem sua voz quando ele as chama, e elas o seguem (vs. 16 e 27). E no final, haverá um rebanho de todos os povos do mundo (Jo 10.16; 11.51-52; Ap 5.9), vivendo sob um só pastor (v. 16), em total segurança (vs. 28–29) e plenos de prazer (v. 9) para sempre.
Ainda que seja uma figura de linguagem, Cristo diz tudo isso tão claramente que o o véu que cobria sua divindade foi parcialmente removido, dividindo opiniões: alguns de seus ouvintes concluíram que ele estava louco, outros acharam que ele estava possuído de demônio e alguns poucos saíram em sua defesa (vs. 19-21). Não era para menos! Afinal, que resposta você daria se ouvisse alguém dizendo (Jo 10.17-18):
17“O Pai me ama, pois sacrifico minha vida para tomá-la de volta. 18Ninguém a tira de mim, mas eu mesmo a dou. Tenho autoridade para entregá-la e também para tomá-la de volta, pois foi isso que meu Pai ordenou”.
Como assim? Um morto retomar a própria vida? Pessoas podem até se matar, mas elas não têm o poder de retomara vida de volta. Todo mundo sabe disso. Sabe que se há ressurreição dentre os mortos, Deus é quem ressuscita os mortos, não são os mortos que ressuscitam a si mesmos. E esse é o ponto. Jesus estava dizendo: eu sacrifico a minha vida pelas minhas ovelhas e eu mesmo a tomo de volta, ressuscitando vitorioso sobre a morte e sobre o pecado. Dizendo-se Deus, mesmo que por inferência, Jesus levou aqueles judeus à loucura. Jesus não enlouqueceu. Eles é que ficaram loucos, loucos de raiva, chingando Jesus: “Louco! Endemoninhado!” (vs. 19-20).
O TEXTO EM PAISAGEM
Não sabemos exatamente quanto tempo se passou entre João 10.21 e João 10.22, pode ter sido tudo no mesmo dia, até na mesma hora. Não importa! O que sabemos com certeza é que a interação de Jesus com os judeus em João 10.22 retomou o ponto onde parou com a figura de linguagem do discurso em João 10.1-21. Por quê?
Por que João faz questão de retomar esse assunto? Ele quer nos mostrar o pano de fundo da fé: as ovelhas de Jesus ouvem a sua voz e o seguem, elas creem nele para a salvação (Jo 10.42); e dessa forma, o apóstolo nos desvenda o pano de fundo do coração que tem fé, em contraste com o pano de fundo do coração incrédulo e resistente.
Permitam-me agora colocar o nosso texto em paisagem, dando-lhes uma visão geral do que parece estar acontecendo em João 10.22-42. Isto facilitará a nossa compreensão.
Pois bem, veja que Jesus está andando no templo e, de acordo com o versículo 24,
os líderes judeus o rodearam e perguntaram: “Quanto tempo vai nos deixar em suspense? Se você é o Cristo, diga-nos claramente”.
Em outras palavras: “A figura de linguagem que você está usando, com toda essa conversa sobre ovelhas, pastor, aprisco e porta, não está suficientemente clara. Queremos papo reto, um discurso mais claro. Afinal, você é o Messias?”
A seguir, Jesus lhes responde de uma forma que vai muito além do que eles esperavam. Eles ficam à beira de matá-lo por blasfêmia e, para neutralizar a crise toda (já que ainda não havia chegado a sua hora), Jesus desvia a raiva deles com uma manobra bíblica bastante peculiar.
Então, graciosamente, lançando mão do pouco tempo que a esquiva defensiva lhe comprou, o Senhor tenta arrebanhá-los, oferecendo-lhes mais um convite para, pelo menos, começarem a entender e aceitar quem ele é: o Messias salvador. Resultado? Versículo 39: “Novamente, tentaram prendê-lo, mas ele escapou e os deixou.”
Por fim, João nos transporta para o outro lado do rio Jordão, numa cena triunfante, permitindo-nos definitivamente enxergar, em contraste com tudo o que os lideres judeus revelaram, o pano de fundo da fé, o tipo de mentalidade que permite à fé nascer, crescer, florescer e frutificar para a salvação.
Pois bem, seguiremos o texto através de suas cinco partes: 1) A resposta de Jesus à indagação dos judeus (vs. 25-30); 2) A reação dos judeus à revelação de Jesus (vs. 31-33); 3) A sabedoria de Jesus para escapar dos judeus (v. 34-36); 4) O convite final da graça de Deus (vs. 37-39); e 5) O pano de fundo da fé (vs. 40-42).
1 A resposta de Jesus à indagação dos judeus (vs. 25-30)
Os judeus indagaram o Senhor no final do versículo 24: “Quanto tempo vai nos deixar em suspense? Se você é o Cristo, diga-nos claramente.” Jesus respondeu (versículo 25): “Eu já lhes disse, e vocês não creram em mim.” Em outras palavras:
É disso que se trata a figura de linguagem. A porta. O aprisco. As ovelhas. O bom pastor. Aquele que (como Isaías 53) sacrifica sua vida. Aquele que tem autoridade sobrenatural e invencível para recuperar a própria vida das mandíbulas (não, dos intestinos, das entranhas!) da morte. Sim, eu sou aquele que está reunindo um povo para viver para sempre, em segurança e saciados de alegria na presença do Pai. Se eu sou o Messias? Eu já lhes disse disse. Essa é a minha resposta.
Então o Senhor acrescenta, no versículo 25: “A prova [de que eu sou o Messias] são as obras que realizo em nome de meu Pai.” Ou seja: “Eu não apenas lhes disse. Eu lhes demonstrei.”
E é sempre assim na vida e obra de Jesus: não é um ou outro, mas ambos. Suas palavras e suas obras tornam claro que ele é o Messias. Somente as obras não esclareceriam sua missão. E apenas palavras não o revelariam poderoso. Mas juntas, o testemunho de suas palavras e o testemunho de suas obras numa só posso — o Verbo, tornam decisivas sua identidade: Cristo é o Messias.
Cristo não é apenas o Messias. Ele é Deus (v. 30). E o problema não está na sua mensagem ou na sua identidade, mas no coração daqueles que insistem em permanecer na incredulidade e se rebelar contra o Ungido de Deus, o Messias, o Salvador (vs. 26-30):
26Mas vocês não creem em mim porque não são minhas ovelhas. 27Minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. 28Eu lhes dou a vida eterna, e elas nunca morrerão. Ninguém pode arrancá-las de minha mão, 29pois meu Pai as deu a mim, e ele é mais poderoso que todos. Ninguém pode arrancá-las da mão de meu Pai. 30O Pai e eu somos um”. 31Mais uma vez, os líderes judeus pegaram pedras para atirar nele.
Pondere sobre o peso dessas palavras do Senhor.
Jesus está dizendo que o problema não é falta de clareza ou coerência em seus argumentos, nem mesmo a falta de obras poderosas para autenticar as suas palavras, o problema é falta de luz, de regeneração no coração daqueles que insistem em não ouvir a voz do Senhor e segui-lo. Afinal, as suas ovelhas, aquelas que o Pai deu ao Filho (v. 29) e pelas quais o Filho sacrificou a vida (v. 29), ouvem a sua voz (são regeneradas) e o seguem (arrependem-se e creem) em segurança para a vida eterna (v. 27-29).
Os demais, aqueles entregues a si mesmos, os quais não pertencem ao aprisco do Senhor (v. 26), aqueles que amam mais a glória dos homens do que a glória de Deus (Jo 12.43), não ouvem a voz de Jesus e não o seguem. Com efeito, eles rejeitam com ódio a divindade, a vida e a obra de Cristo (vs. 30-31).
Nestas palavras (vs. 26-30), Jesus está, de alguma forma, ora direta ora indiretamente, tratando dos pontos fundamentais da fé protestante: (1.) o problema fundamental do homem — a depravação total do coração que, entregue a si mesmo, recusa-se a reconhecer o Senhorio de Cristo e se submeter à sua voz de comando (vocês não creem em mim); (2.) a escolha graciosa e incondicional do pecador para a salvação (o Pai dá as suas ovelhas ao Filho); (3.) a expiação definida de Cristo (ele dá a sua vida pelas suas ovelhas); (4.) a graça irresistível ou chamado eficaz para a salvação (as suas ovelhas ouvem a sua voz e o seguem); e (5.) a perseverança dos santos para a vida eterna (ninguém pode arrancar as ovelhas das mãos do Filho e do Pai).
Tanta teologia não é para servir de pauta para debate ou ponto de discórdia. É para afirmar simplesmente o óbvio: o ser humano, por natureza, não crê em Cristo da forma devida para a salvação; ou Deus age decisivamente para regenerar, salvar, chamar e preservar o pecador ou o pecador permanecerá resistindo ao seu Criador e Redentor com todas as suas forças.
O que cabe aos cristãos, portanto, é anunciar o evangelho, abrir a boca e ser a voz de Jesus, chamando o pecador ao arrependimento e à fé, dizendo que em Cristo, mediante arrependimento do pecado e fé na vida e na obra de Cristo, nós somos reconciliados com Deus e desfrutamos de segurança e satisfação eternas.
O problema nunca estará na mensagem do evangelho que devemos anunciar, nunca será falta de clareza ou coerência em nosso argumento centrado na cruz, mas no coração do pecador. E como a regeneração é obra da graça de Deus, o que nos cabe fazer não é tornar a mensagem de alguma forma mais palatável, mas torná-la audível e orar, pregar e interceder. Deus mesmo, pelo Espírito Santo, cuidará de chamar as ovelhas que ele deu ao Filho; elas ouvirão sua voz, na nossa voz, e seguirão o Senhor para a vida eterna.
2 A reação dos judeus à revelação de Jesus (vs. 31-33)
Diante da revelação de Jesus: “O Pai e eu somos um” (v. 30), os líderes judeus partiram para a ignorância (vs. 31-33):
31Mais uma vez, os líderes judeus pegaram pedras para atirar nele. 32Jesus disse: “Por orientação de meu Pai, eu fiz muitas boas obras. Por qual delas vocês querem me apedrejar?”. 33Eles responderam: “Não vamos apedrejá-lo por nenhuma boa obra, mas por blasfêmia. Você, um simples homem, afirma que é Deus!”.
Obviamente que os judeus entenderam a afirmação de Jesus no versículo 30. “Sim, eu e o Pai somos um só. Eu sou Deus!” Eles tomaram como blasfêmia (v. 33): “Não vamos apedrejá-lo por nenhuma boa obra, mas por blasfêmia. Você, um simples homem, afirma que é Deus!”. Mas eles já haviam acusado Jesus de falar dessa maneira antes (Jo 5.18):
Líderes judeus se empenharam ainda mais em encontrar um modo de matá-lo, pois ele não apenas violava o sábado, mas afirmava que Deus era seu Pai e, portanto, se igualava a Deus.
Nós sabemos, deste e de tantos outros versículos em João (p.ex., 1.1,14; 5.19; 8.58; 10.18; 12.41; 20.28), que a acusação de blasfêmia levantada contra o Senhor em João 10.33 se baseia em algo que os adversários de Jesus estavam concluindo corretamente. Sim, Jesus estava reivindicando ser igual a Deus. Ele estava dizendo ser um em essência e natureza com Deus. Por isso eles estavam prontos para matá-lo. O versículo 31 diz que eles chegaram a pegar pedras para atirar nele, matando-o. Nós concordamos com o entendimento dos judeus: Jesus estava dizendo ser Deus. Nós só não concordamos com eles que era blasfêmia. Jesus é Deus. Mas eles o rejeitaram.
Tudo aqui reforça o que já dissemos no ponto anterior: quando as coisas sobre Deus e sobre Cristo não se enquadram em nossos sistemas ou visões de mundo, nós somos capazes de ir às últimas consequências. O pecado nos cegou e só a graça de Jesus poderá nos fazer ver de novo.
O que Jesus fará para neutralizar esse momento explosivo dos judeus? Não era chegada sua hora de morrer, e não seria por apedrejamento que o Pai havia planejado a morte do Filho no lugar de suas ovelhas pecadoras. O Senhor Jesus, então, sabiamente, irá se esquivar com uma manobra de interpretação bíblica. A intenção era ganhar tempo e continuar arrebanhando suas ovelhas. Veja.
3 A sabedoria de Jesus para escapar dos judeus (vs. 34-36)
O texto diz que:
34Jesus respondeu: “As próprias Escrituras de vocês afirmam que Deus disse a certos líderes do povo: ‘Eu digo: vocês são deuses!’. 35E vocês sabem que as Escrituras não podem ser alteradas. Portanto, se aqueles que receberam a mensagem de Deus foram chamados de ‘deuses’, 36por que vocês consideram blasfêmia quando eu digo: ‘Eu sou o Filho de Deus’? Afinal, o Pai me consagrou e me enviou ao mundo.
Jesus, nas palavras de John Piper sobre este texto, usa de uma “manobra exegética” que não os levaria a qualquer solução para o problema levantado pelos judeus. Observe.
O Salmo 82.6 diz que Deus usa o termo “deuses” (e “filhos do Altíssimo”). Ou seja, se seres inferiores e mensageiros da palavra de Deus, homens da linhagem de Davi, são pelo salmista chamados de “deuses” (ver Salmo 8.5; 82.1; Jó 1.6; 38.7), não seria mesmo possível que ele usasse o termo “Filho de Deus” (Jo 10.36) para aquele a quem ele mesmo “consagrou e enviou ao mundo” (Jo 10.36)?
De fato, não é um argumento conclusivo. É um desvio, uma manobra exegética. Não resolve o problema, apesar de ser uma verdade. O que Jesus realmente desejava com essa manobra, não era, necessariamente, esclarecer ainda mais seu argumento. Nem confundir. Antes, Jesus almejava segurar por um momento a ira daqueles homens, impedindo que as pedras voassem em sua direção. O Senhor estava, com sabedoria, ganhando tempo (antes de tentarem agarrá-lo novamente, sem sucesso mais uma vez, no versículo 39). Ele queria mais tempo para continuar arrebanhando suas ovelhas.
A manobra exegética de Jesus, portanto, é fruto de sua graça.
4 O convite final da graça de Deus (vs. 37-39)
Os judeus estão mais perto de agarrá-lo do que nunca (verso 39), mas Jesus faz mais um apelo. Agora, ouça: se ainda havia alguma chance para aqueles homens (com pedras na mão para matar Jesus!), há uma chance para você. Ele diz nos versículos 37-39:
37Não creiam em mim se não realizo as obras de meu Pai. 38Mas, se as realizo, creiam na prova, que são as obras, mesmo que não creiam em mim. Então vocês saberão e entenderão que o Pai está em mim, e que eu estou no Pai”. 39Novamente, tentaram prendê-lo, mas ele escapou e os deixou.
Essas palavras do Senhor soam incrivelmente misericordiosas aos meus ouvidos. Espero que você as ouça dessa maneira também, pois, com efeito, Jesus está dizendo assim: “Se vocês não conseguem discernir as minhas palavras nem se simpatizar com a minha pessoa, pelo menos tentem se agarrar às minhas obras para conseguir me entender. Olhem para o que eu fiz, pelo menos olhem para o que eu já realizei: água virou vinho, a tempestade do mar foi acalmada, paralítico andou, pães e peixes foram multiplicados para alimentar milhares e cego passou a enxergar. Meus sinais apontam para mim. Olhem para as minhas obras e façam delas uma porta de entrada para uma maior compreensão de quem eu sou.”
Nesta noite o Senhor lança a você o mesmo convite: Minhas palavras são duras, são difíceis? Não consegue crer em mim? Então olhe para as minhas obras. Veja meus milagres. Veja quanta gente eu já salvei e transformei. Estude a história, veja-a antes e depois de mim, observe o impacto da minha vinda ao mundo: dignidade da vida humana, valorização de mulheres e de crianças, auxílio aos pobres, educação, liberdades e direitos civis, a ciência, a economia, o sexo e a família, a saúde e a medicina, a moralidade, as artes e a música, enfim, olhe para a história e responda: se Jesus não tivesse nascido, como seria nosso mundo? Sim, é bem verdade que a minha igreja cometeu alguns pecados ao longo da história, mas pense, pesquise e responda: se Jesus não tivesse nascido, como seria nosso mundo? (cf., E se Jesus não tivesse nascido? D. James Kennedy. Editora Vida.)
Olhe para as obras de Cristo e faça delas uma porta de entrada para você crer e crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. As obras de Cristo apontam para Cristo, para que vejam e “creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo nele, tenham vida pelo poder do seu nome”(Jo 20.30-31).
5 O pano de fundo da fé (vs. 40-42)
Mesmo diante de tanta evidência, tanto em obras como em palavras, os judeus, conforme já lemos, “novamente, tentaram prendê-lo, mas ele escapou e os deixou” (v. 39). E a história poderia ter acabado assim, com incredulidade, oposição e ira. João poderia ter simplesmente parado aqui no versículo 39 e se voltado imediatamente para a história de Lázaro no capítulo seguinte, o capítulo 11. Mas ele não o fez.
Por alguma razão, João nos dá uma foto instantânea, um Snapshat de Jesus do outro lado do Jordão, onde muitos, finalmente, creram em Cristo. Por quê? O que se extrai daqui? Ouça (vs. 40-41):
40Foi para o outro lado do rio Jordão, perto do lugar onde João [Batista] batizava no início, e ficou ali por algum tempo. 41Muitos o seguiram, comentando entre si: “João [Batista] não realizou sinais, mas tudo que ele disse a respeito deste homem se cumpriu”. 42E muitos ali creram em Jesus.
Nesses dois versículo, João, o Evangelista, está nos mostrando o pano de fundo da fé — o tipo de solo em que a fé, plantada por Deus, nasce, cresce e frutifica para a vida eterna. Mas como? Veja que ele diz que esse lugar era onde João Batista havia pregado e batizado no início. Em outras palavras: no mesmo local em que a mensagem de João Batista foi abraçada e reverenciada, a fé em Jesus Cristo floresceu.
Note agora o que se diz sobre o ministério de João Batista. No que o escritor do Evangelho se concentrou para descrer o que o Batista fez? O autor do Evangelho relatou o que as pessoas disseram (versículo 41): “João [Batista] não realizou sinais, mas tudo que ele disse a respeito deste homem [Jesus Cristo] se cumpriu”. E daí? O que isso tem a ver com o pano de fundo da fé?
Ocorre que o ministério de João Batista tinha sido totalmente despretensioso. Ele não correu atrás da fama ou da glória dos homens. Ele virou os holofotes totalmente na direção de Jesus. E onde quer que essa mentalidade seja admirada e adotada (a humildade), a fé em Jesus nasce, cresce, floresce e frutifica.
Não floresceu em Jerusalém. Por quê? Lá eles rejeitaram João Batista e sua mensagem (Mateus 21.23-27). No entanto, do outro lado do rio Jordão, onde a atitude humilde e modesta de João Batista foi adotada, as pessoas reconheceram Jesus, ouviram sua voz e o seguiram. Eles eram suas ovelhas.
Permitam-me terminar este ponto com as palavras do próprio João Batista. Enquanto as leio, ore para que você ame e abrace essa mentalidade humilde do precursor do nosso Senhor. Queira que seja a sua mentalidade também. Queira que seu coração seja o solo bom, onde a fé em Jesus brota e continua crescendo. João 3.28-30:
28Vocês sabem que eu lhes disse claramente: ‘Eu não sou o Cristo. Estou aqui apenas para preparar o caminho para ele’. 29É o noivo que se casa com a noiva; o amigo do noivo simplesmente se alegra de estar ao lado dele e ouvir seus votos. Portanto, muito me alegro com o destaque dele. 30Ele deve se tornar cada vez maior, e eu, cada vez menor”.
Essa mentalidade de João Batista — a humildade — é a chave para a fé salvadora. É a sua? Tem que ser, pois a humildade é o pano de fundo da fé. O Reino dos Céus é dos humildes, porque eles, com efeito, choram arrependidos de seus pecados e se agarram com fé à vida e à obra de Jesus Cristo. Os humildes recebem Jesus com arrependimento e fé. Os orgulhosos pegam pedras para atirar nele e matá-lo.
A humildade é o pano de fundo da fé.
A DIFICULDADE DE CRER
Agora, de volta às perguntas do início: Por que eu não consigo crer? Por que é tão difícil crer? Por que eu creio com reservas? Por que eu creio, mas sou consumido por dúvidas e incredulidade? Não seria o orgulho o grande obstáculo à sua fé?
O orgulho é que torna difícil crer. O orgulho é que ofusca e sufoca a fé. E o pano de fundo da fé, o solo bom onde nasce, cresce e frutifica a fé é a humildade. Peça a Deus e cultive um coração humilde, disposto a obedecer e cumprir todo o querer do Senhor.
S.D.G. L.B.Peixoto
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