24.02.2020
Tiago 3.13-18
13 Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras praticadas com a humildade que provém da sabedoria. 14 Contudo, se vocês abrigam no coração inveja amarga e ambição egoísta, não se gloriem disso, nem neguem a verdade. 15 Esse tipo de “sabedoria” não vem dos céus, mas é terrena; não é espiritual, mas é demoníaca. 16 Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males. 17 Mas a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera. 18 O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores.
O iluminismo
A história é construída a partir de fatos que marcam o cotidiano da gente. Isto é: certos acontecimentos, ocasionalmente, transformam o curso das coisas, para o bem ou para o mal. Por exemplo, a cultura ocidental foi radicalmente transformada em meados do século XVIII pelo que ficou conhecido como iluminismo.
A França foi berço desse movimento cultural da elite intelectual europeia. O que se buscava era mobilizar o poder da razão, a fim de se reformar a sociedade e o conhecimento herdado da tradição medieval. Defendia-se o uso da razão como o melhor caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação. O iluminismo transformou radicalmente a concepção de mundo no ocidente.
A transformação
Reagindo ao absolutismo europeu, que tinha como características principais, dentre outras, a influência cultural da Igreja Católica e a censura das “ideias perigosas”, o iluminismo descartou o princípio da revelação de Deus. A medida de todas as coisas não era mais a Bíblia, mas a razão humana.
As grandes descobertas científicas eram o que motivavam os pensadores franceses. Todos se viam capazes além da conta. Agora, é claro que eles ignoravam que a maioria desses avanços da ciência era resultado do trabalho de cientistas cristãos professos que, após a Reforma Protestante, pensavam da seguinte forma: se nós temos que escutar a Bíblia (o Livro Sagrado) para ouvir o que Deus diz, nós também devemos escutar as obras da criação (o livro da natureza) para ouvir como Deus criou todas as coisas e como essas coisas funcionam.
O iluminismo, porém, desprezou a voz de Deus. Apossou-se de um pressuposto fundamentalmente cristão, sem ao menos dizer obrigado, descartou que a medida de todas as coisas deve ser a revelação de Deus e elevou a razão humana ao nível supremo. Hoje, não existe um cantinho sequer da existência e do pensamento humano que não tenha sido radicalmente afetado pelo iluminismo – do que ensinam nas escolas à forma de nos comportarmos na fila do supermercado, por exemplo. A transformação foi radical.
A emancipação do ser humano
Para ilustrar o que estamos dizendo, permitam-me apresentar dois exemplos do campo das ideias, do mundo das universidades.
A Universidade de Harvard, em Cambridge, estado de Massachusetts, nos EUA, é tida como a melhor universidade do planeta já a mais de 30 anos consecutivos. O lema estampado em seu brasão é “Veritas” (traduzido do latim, “Verdade”). O que quase ninguém sabe é que essa única palavra, nobre que é, diga-se de passagem, é tudo o que restou de seu lema original.
Quando Harvard foi fundada, em 1636 (século XVII), o lema da universidade era: “Veritas Pro Christo et Ecclesia” (traduzido do latim, “Verdade para Cristo e para a Igreja”). Perceberam o que aconteceu? Se um dia Cristo foi a fonte de toda a verdade, hoje a mente “brilhante” dos grandes homens da ciência passou a ser o referencial para todas as coisas; se um dia a glória de Cristo na igreja foi o alvo, hoje é a felicidade do homem que importa.
Outro caso interessante. Uma das universidades mais antigas do mundo — e que ainda estão em pleno funcionamento — é a Universidade de Aberdeen na Escócia (Reino Unido). Ela foi fundada em 1495 (século XV). Atualmente, o seu lema é “Initium Sapientiae” (traduzido do latim, “O Princípio da Sabedoria”), e foi tudo o que sobrou do lema original que dizia “Initium Sapientiae Timor Domini” (tradução do latim, “O Princípio da Sabedoria é o Temor do Senhor”). Sabe o que isso significa? Se alguém deseja adquirir sabedoria, que se matricule na universidade. Esqueça o temor do Senhor. Busque a sabedoria da razão científica.
O cristão iluminado
Vivemos num mundo que fez questão de abandonar a revelação do Senhor para se embebedar da razão do ser humano. Hoje, a pessoa iluminada (sábia, instruída e esclarecida) é a que possui muito conhecimento. Para Tiago, no entanto, a verdade é bem diferente.
Hoje em dia, ensina-se que a vida feliz é a vida sem problemas. Portanto, busque ser feliz, não leve a vida muito a sério, viva o momento como se fosse o seu último instante. Tiago, no entanto, diz que devemos considerar motivo de grande alegria o fato de passarmos por diversas provações, afinal, nós estamos sendo preparados para nos encontrarmos com o Senhor (Tg 1.2-12).
Em nossos dias, aprendemos que devemos ouvir a razão e o coração. Portanto, o que importa é a imagem que você constrói de você mesmo. Tiago, no entanto, ensina que devemos ser prontos para ouvir a Palavra de Deus (Tg 1.19).
A nossa geração aprendeu que as opiniões pessoais devem prevalecer sobre as demais. Portanto, quando não se enquadram ao meu modo de pensar, nós devemos contestar as pessoas. Tiago, no entanto, diz que nós não devemos ser mestres nem juízes sobre os outros (Tg 3.1).
Tiago diz que nós devemos sim ser pessoas iluminadas, mas não da forma como o iluminismo ensinou. O cristão iluminado segue a revelação de Deus. A pessoa iluminada (sábia, instruída e esclarecida) não é, necessariamente, aquela de conhecimento enciclopédico, mas o ser humano de coração ensinado por Deus. O princípio da sabedoria é o temor do Senhor.
Sobre o cristão iluminado, Tiago nos apresenta três características. Ele descreve a conduta, aponta a diferença e fala da ambição do cristão iluminado. A conduta, a diferença e a ambição do cristão iluminado.
Quando nós gostamos de uma pessoa, quando os conselhos dela nos edificam, quando a presença dela nos abençoa e quando a sua companhia nos faz crescer, geralmente nós a descrevemos da seguinte maneira: “Fulano (a) é iluminado (a)”.
O que nós estamos dizendo com isso? Que a pessoa é sábia, madura, inteligente, mas, principalmente, que a pessoa é abençoada e abençoadora. Estamos descrevendo conduta de vida.
Tiago agora se propõe a apresentar a conduta do cristão iluminado.
Tg 3.13 | Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras praticadas com a humildade que provém da sabedoria.
Você deve se lembrar que no início desse capítulo, Tiago estava combatendo o orgulho do coração das pessoas que explodiam falando dos outros. Querendo ser mestres e juízes sobre os outros, elas desciam a língua quando as coisas ou os outros não seguiam a sua cartilha.
Tais “mestres” (Tg 3.1) se julgavam iluminados, ou seja, sábios e cheios de entendimento (Tg 3.13). Para eles, tudo que diziam era lei. Eles se julgavam donos da verdade, as pessoas mais abençoadas da terra e, portanto, dignos de serem ouvidos e obedecidos.
Conhece gente assim?
Pois bem, para eles, Tiago diz o seguinte: você se julga iluminado? Então, avalie-se pela sua conduta e não pelo seu conhecimento. O princípio da sabedoria é o temor do Senhor. O princípio da sabedoria é viver e praticar aquilo que Deus revelou em sua Palavra. O princípio da sabedoria é permitir que o ensino bíblico transforme a mente, molde as emoções e seja aplicado no dia a dia da existência. Tem a ver com conduta.
Sobre a conduta do cristão iluminado, Tiago destaca três marcas indispensáveis, sem as quais, por mais que se tenha conhecimento, não se poderá dizer que é iluminado (sábio aos olhos de Deus). O apóstolo destaca amor, humildade e elegância.
Conduta amorosa
Tg 3.13 | Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre (…) mediante obras praticadas (…)
O sábio e entendido, o cristão iluminado, demonstra a sua sabedoria através de “obras praticadas”, de atos de amor. Suas palavras e seu procedimento são fruto de amor com fé.
Conduta humilde
Tg 3.13 | Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre (…) com a humildade que provém da sabedoria.
O sábio e entendido, o cristão iluminado, demonstra sabedoria mediante um viver humilde. Agora, humildade não é fraqueza. Humildade é força. É poder sob controle. Moisés e Jesus, por exemplo, foram humildes e nem por isso deixaram de ser fortes e vigorosos. Lendo Filipenses 2, nós podemos concluir, por exemplo, o seguinte:
A humildade nos faz considerar o outro superior a nós mesmos.
A humildade nos impede de usar de prerrogativas em benefício pessoal.
A humildade nos leva a esvaziarmo-nos de nós mesmos para nos enchermos do Espírito.
A pessoa humilde será fonte de alívio para as pessoas sobrecarregadas à sua volta. Ouça o que disse Jesus:
Mt 11.28-30 | 28 “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. 29 Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. 30 Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
Conduta elegante
Tg 3.13 | Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, (…)
O sábio e entendido, o cristão iluminado, demonstra a sua sabedoria por seu “bom procedimento”. O adjetivo “bom” vem do grego “kalēs”. Kalēs mais graphya formam a nossa palavra “caligrafia” e significa “escrita cuidada, de morfologia uniforme e elegante”.
Tiago está dizendo que o cristão iluminado demonstra a sabedoria de Deus em sua vida através de procedimentos belos, elegantes. A sua vida se destaca pelas virtudes vividas.
A conduta do cristão iluminado é marcada pelo amor, pela humildade e pela elegância.
Tendo descrito a conduta do cristão iluminado, Tiago apresenta a diferença que ele faz no mundo em que vive. Ele não é como os demais.
Tg 3.14-16 | 14 Contudo, se vocês abrigam no coração inveja amarga e ambição egoísta, não se gloriem disso, nem neguem a verdade. 15 Esse tipo de “sabedoria” não vem dos céus, mas é terrena; não é espiritual, mas é demoníaca. 16 Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males.
O cristão iluminado faz diferença porque a sua sabedoria é celestial, não é terrena, animal ou demoníaca. O que isso significa?
1 Sabedoria “terrena” porque está em contraste com o que Deus cria no céu, além de se contrastar também com a obediência dos anjos. Tal como a besta que emerge da terra (Ap 13.11-18), a sabedoria terrena se levanta contra tudo que é sagrado e divino. Além de desobediente, ela é transitória, fraca e imperfeita.
2 Sabedoria “não é espiritual” (ou animal) porque tem a ver com a sabedoria do homem sem o Espírito. Ela é guiada pelos impulsos carnais (Jd 19).
3 Sabedoria “demoníaca” porque é enganosa, é mentirosa, é pervertida. Ela desvia o homem das veredas da justiça, afasta o homem de Deus. Guia-o pelo caminho largo da perdição eterna.
Vemos no verso 14 que a sabedoria terrena se manifesta através de pelo menos quatro atitudes pecaminosas alojadas no coração:
1) Inveja amarga – Não se contenta com o que tem. Quer o que é do outro. Entristece-se por não ter o que é do outro.
2) Ambição egoísta (sentimento faccioso) – Quer só para si mesmo. Não se contenta com o que tem. Fere o outro. Racha as relações.
3) Vanglória (orgulho) – Vaidade de toda espécie. Cheio de si. Tudo gira em torno de si. Único dono da verdade.
4) Mentira – Mente para manter-se apresentável. Manipula para manter o poder e a supremacia.
O produto de vida desse tipo de coração não poderia ser mais devastador:
Tg 3.16 | Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão (revolta, intriga, desordem e instabilidade) e toda espécie de males (projetos ou postura imorais, sem ética).
Em contraste, o cristão iluminado faz a diferença. A sua sabedoria vem do céu. As suas práticas são de justiça. O seu viver é abençoador.
Vimos a conduta e a diferença do cristão iluminado. Tiago, agora, revelará o que vai no coração desses homens e mulheres de Deus. Ele falará das suas ambições.
Tg 3.17-18 | 17 Mas a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera. 18 O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores.
Em contraste com a sabedoria terrena, a sabedoria que vem do alto abriga no coração determinadas características, tais como: pureza, paz, amabilidade, compreensão, misericórdia, atitudes generosas, justiça e sinceridade.
Ao apresentar as características da “sabedoria” terrena (Tg 3.14-16) em contraste com a sabedoria que vem do alto (Tg 3.17-18), não estaria Tiago apresentando a sua versão inspirada das obras da carne e do fruto do Espírito? Parece-me que sim. Compare com a de Paulo.
Gl 5.19-26 | 19 Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; 20 idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções 21 e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti: Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus. 22 Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, 23 mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei. 24 Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. 25 Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito. 26 Não sejamos presunçosos, provocando uns aos outros e tendo inveja uns dos outros.
A ambição do cristão iluminado é podar as obras da carne para produzir o fruto do Espírito. O resultado, diz Tiago, será paz.
Tg 3.18 | O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores.
Paz com Deus, paz de Deus e paz com o próximo.
O cristão iluminado
Precisamos de cristãos iluminados perambulando pela vida. Gente de conduta, que faz a diferença e que nutre no coração ambições espirituais.
Precisamos de pacificadores. Pacificadores no lar, na sociedade e também na igreja.
Seja você um pacificador. Seja você um cristão iluminado.
Receba a Jesus.
Faça as pazes com Deus.
Desfrute da paz de Deus.
Leve a paz entre as pessoas.
Tg 3.18 | O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores.
S.D.G. L.B.Peixoto
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