29.03.2020
Joel 1.1-20
1O SENHOR deu esta mensagem a Joel, filho de Petuel. 2Ouçam isto, líderes do povo! Ouçam todos que habitam na terra! Em toda a sua história, já ocorreu algo semelhante? 3Contem a seus filhos o que aconteceu, e que seus filhos contem aos filhos deles; transmitam esta história de geração em geração. 4Depois que os gafanhotos cortadores devoraram as colheitas, os gafanhotos migradores comeram o que restava; então vieram os gafanhotos saltadores e, depois deles, os gafanhotos destruidores! 5Despertem e chorem, bêbados! Lamentem, vocês que tomam vinho! Todas as uvas estão arruinadas, todo o seu vinho doce acabou. 6Uma nação imensa invadiu minha terra, um exército terrível, tão numeroso que não se pode contar. Seus dentes são como os de leões, suas presas, como as da leoa. 7Destruiu minhas videiras e arruinou minhas figueiras. Arrancou sua casca e as destruiu; seus galhos ficaram desfolhados. 8Chorem como a moça vestida de luto, que lamenta a morte do noivo. 9Pois não há cereal nem vinho para oferecer no templo do SENHOR. Por isso os sacerdotes estão de luto; aqueles que servem na casa do SENHOR choram. 10Os campos estão arruinados, a terra está desolada. O trigo está destruído, as uvas secaram e o azeite acabou. 11Desesperem-se, agricultores! Lamentem, vocês que cuidam das videiras! Chorem, pois o trigo e a cevada, todas as colheitas nos campos, estão arruinados. 12As videiras secaram, e as figueiras murcharam. As romãzeiras, as palmeiras e as macieiras, todas as árvores frutíferas secaram, e com elas murchou a alegria do povo. 13Vistam-se de pano de saco e chorem, sacerdotes! Lamentem, vocês que servem diante do altar! Venham, passem a noite vestidos de pano de saco, vocês que servem ao meu Deus. Pois não há cereal nem vinho para oferecer no templo de seu Deus. 14Convoquem um tempo de jejum, juntem o povo para uma reunião solene. Tragam os líderes e todos que habitam na terra para o templo do SENHOR, seu Deus, e ali clamem a ele. 15O dia do SENHOR está próximo, o dia em que virá destruição da parte do Todo-poderoso; que dia terrível será! 16Nosso alimento desaparece diante dos olhos; já não há alegria e exultação na casa de nosso Deus. 17As sementes morrem na terra seca, as colheitas de cereal se perdem. Os celeiros estão vazios, os armazéns, abandonados. 18Como os animais gemem de fome! As manadas de gado vagam confusas, pois não encontram pasto; os rebanhos de ovelhas sofrem. 19Socorro, SENHOR! O fogo devorou os pastos do deserto, e as chamas queimaram as árvores do campo. 20Até os animais selvagens clamam a ti, pois os riachos secaram, e o fogo devorou os pastos do deserto.
JOELHO RALADO E CORAÇÃO QUEBRADO
A vontade de voltar a ser criança, que a maioria dos adultos sente, levou a cantora e compositora Kell Smith a lançar em 2017 a música “Era uma vez”, cuja letra e melodia, de tão gostosinhas, causam nos fans o desejo de ficar ouvindo-a o dia todo. O hit de sucesso instantâneo nasceu de uma conversa entre Kell e equipe de trabalho. A ideia era compor algo que falasse de saudade, mas todos começaram a falar sobre a saudade da infância e de como era bom antes de se ter crescido. De fato, a música ficou bonitinha! Começa assim:
Era uma vez
O dia em que todo dia era bom
Delicioso gosto e o bom gosto das nuvens serem feitas de algodão
Dava pra ser herói no mesmo dia em que escolhia ser vilão
E acabava tudo em lanche
Um banho quente e talvez um arranhão
Dava pra ver, a ingenuidade, a inocência cantando no tom
Milhões de mundos, e universos tão reais quanto a nossa imaginação
Bastava um colo, um carinho
E o remédio era beijo e proteção
Tudo voltava a ser novo no outro dia
Sem muita preocupação
É que a gente quer crescer
E quando cresce quer voltar do início
Porque um joelho ralado dói bem menos que um coração partido
Kell conseguiu dar voz poética e melódica àquela vontade de voltar a ser criança que todos nós adultos, nalgum momento, já sentimos. Aquela época de nossa vida onde tudo era bom, inocente e encantador, quando os problemas, aparentemente, resumiam-se a um joelho ralado ou um briguinha com o coleguinha, mas que no dia seguinte voltava tudo ao normal quando a gente se reencontrava. Então a gente cresce, quebra o coração com os problemas “reais” e existenciais e quer voltar a ser criança, com saudade da dor do joelho ralado atenuada pelo esfregão da bucha com sabão, água fria da torneira, Água Oxigenada e Merthiolate (que naquele tempo ardia!). Como era bom!
Porém, mesmo na infância o coração também quebra. A gente é que aprendeu dos pais, que aprenderam dos pais deles a minimizar os problemas da infância que são sim reais para as crianças. Realmente, o brinquedo quebrado da criança, no geral, tem menos importância e impacto direto que a empresa que quebra e o pai ou a mãe, que depende do salário para sustentar a família, perde o emprego. O brinquedo quebrado, no entanto, quebra também o coração da criança. É um problema para ela, e o papel do papai e da mamãe é ensinar a criança a lidar com dores, perdas e problemas, em vez de minimizar e dizer que aquilo é bobagem. Todo joelho ralado mareja o sangue de um coração partido.
O joelho ralado, de fato, dói nada se comparado à dor do coração quebrado. Mas e se o joelho ralado foi resultado da rasteira maldosa do amiguinho? Se for o caso, enquanto papai e mamãe fazem a assepsia, a criança banhará o ralado do joelho com lágrimas de um coração partido pela decepção e a raiva. Não é verdade?
Digamos que a criança caiu sozinha, como se costumava dizer, ela “caiu de maduro”. Quem te garante que ela não esteja chorando, sim pela dor do raladinho, mas também por frustração, vergonha e medo? A bem da verdade, já na infância todos nós temos que aprender a lidar com joelho ralado e coração quebrado.
Meu caso, por exemplo.
Quando criança, eu amava ir para a chácara de meus padrinhos, bem ali depois do Setor Garavelo, aqui mesmo em Goiânia. Hoje está quase tudo loteado e já virou bairros inteiros, mas naquele tempo era tudo fazenda. Bem, era maravilho ir para lá nas férias ou em dias de feriados prolongados. Brincava. Corria. Caçava no mato. Deixava solta a imaginação. Mas no entardecer do domingo a gente tinha que voltar para casa. E como eu sofria de angústia no peito, já na infância e no início da adolescência, pois sabia que voltaria para o desajuste do meu lar. Papai era alcoólatra e mãezinha sempre foi uma eterna adolescente. Resultado: agressões, tanto verbais como físicas, eram normais; e queixas e gritarias eram o tom da casa. Quantas vezes eu voltei da chácara ou das viagens para as águas termais de Caldas Novas (GO) com joelho ralado e, sim, com coração também quebrado.
Crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, todos nós temos que lidar com dores de joelho ralado e de coração quebrado. Problemas que nos fazem sangrar, por fora e por dentro, não escolhem idade, classe social, contexto cultural nem se limitam ao recôndito do nosso coração. Os problemas que atingem o coração, assim como um vírus, têm potencial para se espalhar na forma de ações e de palavras, fazendo sofrer os mais próximos, a família e até sociedades inteiras, especialmente nesta era midiática e tão instantânea na qual estamos vivendo.
Como lidar com dor de joelho ralado? Como curar a dor do coração quebrado? A profecia de Joel nos ensina a lidar com as dores de joelho ralado e de coração quebrado, especialmente o capítulo 1 que nós lemos no início.
O MOMENTO ERA DE PARTIR O CORAÇÃO
O momento era de partir o coração. As cenas pintadas no início da profecia, caso fossem transportadas para as telas, partiriam o coração de quem as assistisse. Faltava tudo naquele país: comida, bebida e alegria. Dos sacerdotes no templo aos animais no campo, todos sofriam, gemiam e choravam com enorme desespero.
Se houvesse mídia nos dias de Joel, as manchetes certamente teriam sido do tipo:
NUVEM DE GAFANHOTOS INVADE A TERRA!
NAÇÃO ENFRENTA CRISE SEM PRECEDENTE!
GOVERNO NÃO TEM PREVISÃO PARA CRIAR AGROTÓXICO PARA COMBATER GAFANHOTOS!
POPULAÇÃO CRITICA INÉRCIA DO GOVERNO DIANTE DO CAOS!
NÃO HÁ PREVISÃO DE CHUVA PARA OS PRÓXIMOS MESES!
PRATELEIRAS ESTÃO VAZIAS NAS GÔNDOLAS DOS SUPERMERCADOS DE TODO O PAÍS!
TRABALHADORES DO CAMPO NÃO SABEM COMO DRIBLAR A CRISE!
O DESESPERO TOMOU CONTA DE TODO MUNDO!
E por aí afora… O momento era, de fato, de partir o coração.
A coisa mais impressionante, no entanto, não é a forma tão dramática e toda detalhada, carregada de paralelismos poéticos e de figuras de linguagem para descrever com precisão a praga de gafanhotos. Longe de ser a devastação provocada pela nuvem de insetos, sobre a qual se toma conhecimento na leitura simples do texto, o que chama a atenção é a forma como Joel lida com aquela marcha de morte.
O povo de Judá em massa não só estava falando sobre a crise econômica causada pela seca e agravada pela praga de gafanhotos, como também estava sofrendo na pele com todos aqueles males. Observe a severidade do problema que aquele gente atravessava.
Ficamos sabendo que a geração então presente nunca antes tinha visto praga de tamanha magnitude, incluindo os homens mais velhos daquela geração; nenhum dentre os vivos jamais tinha avistado estragos daquela proporção. Nem mesmo os pais dos mais antigos havia experimentando ou mesmo enxergado tal desespero. A coisa era tão séria que gerações futuras falariam por muitos anos daquele período desesperador. Versos 2-3:
2Ouçam isto, líderes [velhos, anciãos] do povo! Ouçam todos [do mais velho ao mais novo] que habitam na terra! Em toda a sua história, já ocorreu algo semelhante? [ARA: Aconteceu isto em vossos dias? Ou nos dias de vossos pais?] 3Contem [narrem] a seus filhos o que aconteceu, e que seus filhos contem [narrem] aos filhos deles; transmitam esta história de geração em geração.
O que tinha acontecido? Verso 4:
Depois que os gafanhotos cortadores devoraram as colheitas, os gafanhotos migradores comeram o que restava; então vieram os gafanhotos saltadores e, depois deles, os gafanhotos destruidores!
Gafanhotos são pragas comuns naquela região. O que estava sendo incomum era a proporção do ataque sucessivo, massivo e completo de destruição. Na memória dos judeus, algo daquele tamanho, guardadas as proporções, só havia sido experimentado pelos egípcios na época das dez pragas (Êx 10.4-6). Certamente que, ao serem chamados a puxar na memória algo parecido com o que estava acontecendo em Israel, os hebreus se lembrariam de Êxodo 10.14-15, onde se lê:
14Eles [gafanhotos] invadiram todo o Egito e desceram em nuvens densas sobre seu território, de uma extremidade à outra. Foi a pior praga de gafanhotos em toda a história do Egito e jamais houve outra igual, 15pois os gafanhotos cobriram toda a superfície e escureceram a terra. Devoraram todas as plantas nos campos e todas as frutas nas árvores que tinham sobrevivido à tempestade de granizo. Não restou uma só folha nas árvores nem nas plantas em toda a terra do Egito.
A tradição dos hebreus atestava que os gafanhotos eram uma das maldições, resultantes da desobediência, prescritas pelo SENHOR no livro da Lei de Moisés (Dt 28.38). As visões de Amós a respeito do julgamento de Deus sobre Israel também incluíam gafanhotos (Am 7.1-3), bem como a seca e as queimadas (Am 7.4-6) que Joel 1 também retrata (1.10,12,19-20). Não eram, portanto, os gafanhotos e a seca em si (essas coisas eram corriqueiras), mas o grau de destruição atingido pelas pragas que fez do ataque de gafanhotos e da estiagem no tempo de Joel uma crise tão extraordinário.
No entanto, o fato mais impressionante, como já destacamos, é o que o profeta fez com aquela desolação. Joel não pediu ao povo que repassasse às gerações futuras relatórios e estatísticas de uma infestação de gafanhotos. O que deveria ser proclamado e levado de geração a geração era o que a praga de gafanhotos expunha sobre Deus e o relacionamento daquelas pessoas com Deus. Eles se afastaram do SENHOR e estavam mal preparados para enfrentar a crise. O significado desse fato extraordinário será desenvolvido no restante da mensagem do SENHOR para Joel.
A situação era de partir o coração, mas o que Deus esperava do povo não era que eles se remoessem em autopiedade ou se entregassem ao pântano do desespero. O desejo do SENHOR, expresso pelas palavras do profeta que leremos a seguir, era que todos retomassem o caminho de volta para Deus.
A OPORTUNIDADE ERA DE RESTAURAÇÃO
O SENHOR levou o profeta a usar aquela crise como pano de fundo para a sua mensagem. Deus sempre prescreveu arrependimento e fé como forma de se receber cura do céu, especialmente em tempos de gafanhotos e de estiagem (Am 4.9; 1Rs 8.37-39; 2Cr 7.13-14). Crises, caos e carestias — do joelho ralado ao coração quebrado, todas as coisas servem para nos levar a Deus. O povo, no entanto, não percebia. Estavam todos assistindo ao prenúncio do dia do SENHOR, o dia da vingança do nosso Deus se desenrolando diante dos olhos deles, mas eram incapazes de enxergar. Foi então que o profeta, inspirado pelo Espírito de Deus, levantou-se e lançou luz ao coração quebrado pelo sofrimento daquela gente.
Como ele o faz?
Quando se está em crise, ouve-se todo tipo de voz interpretando o que está acontecendo e dizendo o que fazer. Os pais corrigirão: “Pare com isso, menino, isso é bobagem!” Os otimistas pregarão: “Esta crise não vai durar! Seja forte!” Os pessimistas gorarão: “Vai piorar e não há escapatória! Será o fim!” Os alarmistas verão inimigos atrás de cada árvore e em cada esquina, atuando em cada gesto, e alardearão: “Tá vendo! Eu não te falei?”. Os céticos questionarão tudo e dirão: “Que diferença isso faz?”
Joel, no entanto, era um realista que encarava a vida do ponto de vista da mensagem do SENHOR. Assim foi que ele se dirigiu a cinco grupos distintos de cidadãos e fez a eles advertências em nome do SENHOR. Se o momento era de partir o coração — e era!, a oportunidade era de restauração. É assim que o povo de Deus, mesmo com coração quebrado, encara e enfrenta seus problemas: são oportunidades para restauração.
Restauração, no entanto, requer que se enxergue os fatos pelo que eles são da perspectiva de Deus. Foi o que Joel fez. O profeta se dirigiu a diferentes grupos da sociedade, buscando fazê-los enxergar o problema de partir o coração da perspectiva de Deus. Observe.
Aos velhos e a todos os habitantes da terra: Ouçam e Contem (vs. 2-4)
2Ouçam isto, líderes [velhos] do povo! Ouçam todos que habitam na terra! Em toda a sua história, já ocorreu algo semelhante? 3Contem a seus filhos o que aconteceu, e que seus filhos contem aos filhos deles; transmitam esta história de geração em geração. 4Depois que os gafanhotos cortadores devoraram as colheitas, os gafanhotos migradores comeram o que restava; então vieram os gafanhotos saltadores e, depois deles, os gafanhotos destruidores!
Você notou o que Joel os orientou a fazer?
Os velhos e os habitantes da terra deveriam ouvir e falar, ouvir e contar, ouvir e narrar ou transmitir. Ouvir e falar o quê? E por que se dirigir primeiro ao velhos?
Geralmente, os comentaristas bíblicos argumentam que Joel se dirigiu primeiro aos velhos por provavelmente duas razões: [1.] eles tinham uma longa experiência de vida e podiam autenticar o que o profeta estava dizendo (nada daquela magnitude já tinha sido visto anteriormente); [2.] eles eram cidadãos respeitados na terra e com o apoio dos velhos (anciãos, líderes), Joel não seria apenas uma voz sozinha clamando no deserto. Concordando com o profeta que a nação enfrentava uma catástrofe de proporção monumental e sem precedentes, facilitaria a adesão dos demais e, consequentemente, a transmissão da mensagem para as gerações futuras.
Mas penso que tem algo mais contundente.
Joel queria que todos na nação chegassem a uma conclusão humilhante, porém necessária para toda e qualquer restauração: nem sempre a sabedoria dos anos, o conhecimento empírico adquirido dos fatos, ciência e probabilidades darão conta dos problemas que atravessam o nosso caminho. O profeta queria que todos, dos mais velhos aos mais novos, dissessem à gerações futuras: Nós não sabíamos o que fazer. A sabedoria acumulada dos anos não nos ajudou. Os cérebros mais bem preparados do país não conseguiram ajudar. Não tínhamos em nós mesmos os recursos.
Aos bêbados e degustadores de vinho: Despertem, Chorem e Lamentem (vs. 5-9)
5Despertem e chorem, bêbados! Lamentem, vocês que tomam vinho! Todas as uvas estão arruinadas, todo o seu vinho doce acabou. 6Uma nação imensa invadiu minha terra, um exército terrível, tão numeroso que não se pode contar. Seus dentes são como os de leões, suas presas, como as da leoa. 7Destruiu minhas videiras e arruinou minhas figueiras. Arrancou sua casca e as destruiu; seus galhos ficaram desfolhados.
Se por um lado Joel desejava que os sábios e mais vividos reconhecessem a falta de recursos humanos para solução daquele problema e todos dissessem à próxima geração que foi o SENHOR quem fez tudo aquilo e também restaurou todas as coisas, do outro lado o profeta almejava que ninguém se inebriasse, procurando fugir da realidade por meio do entorpecimento ou do entretenimento fugaz.
Apenas dois tipos de pecados explícitos são condenados por Joel nesta profecia: a embriaguês (1.5) e o culto sem coração (2.12-13). O que, juntando os fatores, permite-nos concluir que aquele povo, abandonando o SENHOR, encheu o coração de outros prazeres entorpecentes. Deus, no entanto, os desmascara dizendo: Desperte! Chorem! Lamentem! A situação de vocês é crítica. Os ídolos do coração de vocês não se sustentam. Vejam vocês: o vinho acabou, não tem mais uva para a produção, as videiras foram destruídas e até as figueiras foram devoradas pela praga de gafanhoto.
Lembre-se que vinho e figo não eram coisas só para bêbados. Estamos falando aqui do arroz e feijão da mesa dos judeus daquele tempo. O que Joel almejava, portanto, era que todos acordassem e enxergassem que tanto os ídolos (vinho para os bêbados, v. 5) como os suprimentos mais básicos para a vida (vinho e figo para quem simplesmente come e bebe, v. 5,7) não se sustentam.
Havia aqui nesta profecia um chamado para que eles acordassem e enxergassem a gravidade da situação, em vez de viverem entorpecidos, entretidos, saciados e achando que tudo estava bem e que ficaria muito bem no final. Não era para viverem correndo atras do riso e do alívio, mas momento de acordar, chorar e lamentar pela situação desesperadora. Longe deles a alegria artificial, fabricada, era momento de se entristecer de verdade. Em vez de se intoxicarem com confusão, provocada pelo vinho, o momento era para que se chegasse a amargas conclusões sobre a verdade que havia sido despejada sobre a nação. No lugar de se orgulhar com o luxo dos figos e dos vinhos, o povo deveria se humilhar pelo pecado. Em vez de se agarrarem com segurança aos básicos da vida (uva, vinho e figo), deveriam se voltar com fé para o SENHOR. Versos 8-9:
8Chorem como a moça vestida de luto, que lamenta a morte do noivo. 9Pois não há cereal nem vinho para oferecer no templo do SENHOR. Por isso os sacerdotes estão de luto; aqueles que servem na casa do SENHOR choram.
Aos agricultores: Desesperem, Lamentem (vs. 10-12; 18-20)
Joel citou as principais culturas agrícolas que foram arruinadas pelos gafanhotos:
10Os campos estão arruinados, a terra está desolada. O trigo está destruído, as uvas secaram e o azeite acabou. 11Desesperem-se, agricultores! Lamentem, vocês que cuidam das videiras! Chorem, pois o trigo e a cevada, todas as colheitas nos campos, estão arruinados. 12As videiras secaram, e as figueiras murcharam. As romãzeiras, as palmeiras e as macieiras, todas as árvores frutíferas secaram, e com elas murchou a alegria do povo.
Depois, nos versículos 18-20, o profeta citou os rebanhos e seus pastos:
18Como os animais gemem de fome! As manadas de gado vagam confusas, pois não encontram pasto; os rebanhos de ovelhas sofrem. 19Socorro, SENHOR! O fogo devorou os pastos do deserto, e as chamas queimaram as árvores do campo. 20Até os animais selvagens clamam a ti, pois os riachos secaram, e o fogo devorou os pastos do deserto.
Tudo o que os agricultores podiam fazer era despertar da comodidade do lucro e das riquezas produzidas pela terra fértil da Palestina e expressar sua tristeza, lamentando como uma noiva chora ao perder todo o arrimo de sua vida, o noivo (v. 8). Eles não poderiam viver confiando na eternidade das riquezas, na certeza de que as estações seguiriam o curso normal sem interrupção e que a terra permaneceria dando fruto, produzindo leite e mel. A confiança deles teria que ser o SENHOR.
Aos sacerdotes: Convoquem um tempo de jejum (vs. 9, 13-17)
A situação era de fato de partir o coração. Todo mundo tinha que se dar conta disso: velhos, bêbados, cidadãos comuns e até os mais ricos da terra, os agricultores. Nem os sacerdotes podiam deixar de chorar, clamar e lamentar. Os líderes espirituais deveriam convocar um tempo de jejum. Ouça:
9Pois não há cereal nem vinho para oferecer no templo do SENHOR. Por isso os sacerdotes estão de luto; aqueles que servem na casa do SENHOR choram. […] 13Vistam-se de pano de saco e chorem, sacerdotes! Lamentem, vocês que servem diante do altar! Venham, passem a noite vestidos de pano de saco, vocês que servem ao meu Deus. Pois não há cereal nem vinho para oferecer no templo de seu Deus. 14Convoquem um tempo de jejum, juntem o povo para uma reunião solene. Tragam os líderes e todos que habitam na terra para o templo do SENHOR, seu Deus, e ali clamem a ele. 15O dia do SENHOR está próximo, o dia em que virá destruição da parte do Todo-poderoso; que dia terrível será! 16Nosso alimento desaparece diante dos olhos; já não há alegria e exultação na casa de nosso Deus. 17As sementes morrem na terra seca, as colheitas de cereal se perdem. Os celeiros estão vazios, os armazéns, abandonados.
Nem a casa de Deus, lugar de celebração e alegria, desfrutava, naquele período, de prazer. Não havia mais ofertas, cultos ou celebrações. Cabia aos sacerdotes convocar o povo para jejuar, clamar, orar e esperar no SENHOR. Outra coisa: os sacerdotes teriam que fazer todo mundo se dar conta de que algo pior do que aquela praga se levantava sobre o horizonte: o dia do SENHOR, “o dia em que virá destruição da parte do Todo-poderoso; que dia terrível será!” (v. 15).
A nação, portanto, precisava de restauração; ela era necessária para todos, do mais velho ao mais novo, do homem do campo aos sacerdotes… todos deveriam ouvir e obedecer os imperativos de Deus: acordem, abram os olhos, chorem, lamentem, jejuem, busquem ao SENHOR; não haverá solução ou salvação na sabedoria dos sábios, na força dos jovens, na garrafa de vinho, nas riquezas dos campos, na fartura da mesa, na religião sem coração voltado para Deus. A solução virá do SENHOR.
CORAÇÃO QUEBRADO: O DIA DO GAFANHOTO
É impressionante como o nosso tempo se assemelha ao de Joel: a praga do novo coronavírus, pessoas buscando respostas na sabedoria dos sábios deste mundo, atrás de alegria em entorpecentes, entretenimento e espalhando mensagens de todo tipo pelas mídias sociais. Um povo com o coração quebrado, com medo — medo de adoecer, morrer, perder o emprego, passar necessidade, perder o controle e o poder — , ao mesmo tempo que busca calar o medo com estatísticas, probabilidades ou dando nomes ao que se julga ser o inimigo maior. Como esse profeta é relevante para o nosso tempo!
Joel também é relevante para quem rala o joelho ou quebra o coração, seja em uma paixão adolescente ou ao enterrar alguém que se ama. Joel descreve o dia do gafanhoto, o dia das dificuldades, o dia quando coisas más nos acontecem, do ralado no joelho à uma pandemia apocalíptica. Como faria bem se de fato acreditássemos nas palavras de Joel!
Sim, situações de partir o coração atravessam a vida de todo mundo, da criança ao velho, do homem do campo ou empresário aos ministros religiosos todas essas crises ou dificuldades, os dias dos gafanhotos, têm um único alvo comum: fazer-nos lembrar que o dia do SENHOR se aproxima. Verso 15: “O dia do SENHOR está próximo, o dia em que virá destruição da parte do Todo-poderoso; que dia terrível será!” E o que nos cabe fazer em tempos de pandemia ou qualquer outra dor, do joelho ralado ao coração quebrado? Ouça o que disse Joel no versículo 19:
(ARA) A ti, ó SENHOR, clamo, […]
(NVT) Socorro, SENHOR!
A cena do capítulo 1 termina com Joel e os animais do campo, em terra desolada, clamando ao SENHOR. Versos 19-20:
19Socorro, SENHOR! O fogo devorou os pastos do deserto, e as chamas queimaram as árvores do campo. 20Até os animais selvagens clamam a ti, pois os riachos secaram, e o fogo devorou os pastos do deserto.
A única solução, a solução definitiva para todo e qualquer coração quebrado será sempre clamar ao SENHOR: “Socorro, SENHOR!” A resposta final e a cura definitiva para todos os nossos problemas será Jesus Cristo, o socorro a nós já prestado da parte de Deus: a vida e a obra do Cristo ressurreto.
Não desperdice seu joelho ralado. Não desperdice seu coração quebrado. Não desperdice o novo coronavírus. Não desperdice seu desemprego. Não desperdice sua dor. Não desperdice o dia do gafanhoto. Corra para os braços de Deus em Jesus Cristo. Clame pelo socorro divino. Espere nele. Confie nele.
Pratique o que você aprende e ouve do SENHOR. Joel ouviu e também praticou. Ele ouviu e contou às gerações o que tinha ouvido: ele profetizou e escreveu esse livro. Ele também ouviu e pregou que todos deveriam clamar ao SENHOR (vs. 1-3-14), e ele também buscou e clamou ao SENHOR (v. 19). O dia do gafanhoto, do joelho ralado e do coração quebrado é a oportunidade de Deus para nos voltarmos a ele com arrependimento e fé, buscando restauração, praticando o que ouvimos e aprendemos da palavra de Deus.
Coração quebrado tem como propósito nos levar a Deus em busca de restauração. Desejo, pois, concluir essa mensagem destacando duas coisas sobre Deus que não podem passar desapercebida pelo povo de Deus.
Os problemas vêm das mãos de Deus.
Preste atenção no verso 15, veja como Joel interpretou todo aquele mal de seus dias: “O dia do SENHOR está próximo, o dia em que virá destruição da parte do Todo-poderoso; que dia terrível será!” Em outras palavras: toda aquela destruição provocada pelos gafanhotos e pela estiagem era apenas uma sombra do grande e terrível dia que virá, quando Deus, finalmente, justamente, trará julgamento a todos diante de seu trono.
Nossos problemas são enviados pelo próprio Deus como mensageiros misericordiosos para nos lembrar do grande problema que está por vir: o dia do SENHOR, quando todos prestaremos contas a Deus. João Calvino, pregando em Joel, disse com sobriedade e sábia aplicação que o profeta intencionava
despertar os judeus para que compreendessem que Deus estendera do céu sua mão, e que era impossível atribuir o que tinham visto por si mesmos ao acaso ou a causas terrenas, mas que era um milagre. E o objetivo dele era fazer os judeus, por fim, envergonharem-se da loucura deles em não terem atentado até então às punições de Deus e em haverem sempre se enaltecendo, como se Deus dormisse no céu, quando, todavia, tão violentamente trovejava contra eles, pretendendo, com um extraordinário modo de agir, que eles finalmente percebessem que eram citados para o juízo.
Nossos problemas, em última instância, não vêm das mãos de homens maus, do acaso ou de qualquer causa terrena. A natureza não é soberana. Vírus e bactérias não são soberanos. Satanás não é soberano. O homem mau e pecador não é soberano. Governantes não são soberanos. Deus governa tudo e todos eles (Lc 8.25; Jó 1.12; 2.6; At 4.27-28). Assim, o cristão confessa juntamente com Jó (42.2): “Sei que podes fazer todas as coisas, e ninguém pode frustrar teus planos.”
Este tempo, como em qualquer outro de crise ou de dor, não é propício para visões sentimentais de Deus. Os dias são maus. Deus mesmo os enviou. Sabemos disso porque ele “faz que tudo ocorra de acordo com sua vontade” (Ef 1.11). Todas as coisas. Nenhum pardal cai no chão sem o consentimento de nosso Pai celestial (Mt 10.29).
Em última instância, portanto, não interessa a causa do novo coronavírus, do joelho ralado ou do coração quebrado. Deus não apenas compreende o COVID-19 e os nossos problemas; ele tem propósitos para todos eles. Deus não faz coisa alguma e não permite coisa alguma sem propósitos sábios. Nada simplesmente acontece. Tudo flui dos conselhos eternos de Deus (Ef 1.11). Em tudo há a mão da providência, ação de sabedoria divina e propósitos eternos. Para aqueles que confiam em Jesus Cristo, tudo é bondade. Para o demais, é um chamado misericordioso para se acordar (Ap 22.17):
O Espírito e a noiva dizem: “Vem!”. Que todo aquele que ouve diga: “Vem!”. Quem tiver sede, venha. Quem quiser, beba de graça da água da vida.
Povo de Deus,
Problemas vêm das mãos de Deus, e servem como mensageiros misericordiosos que não nos deixam esquecer do grande dia do SENHOR que se aproxima.
A palavra de esperança vem dos lábios do SENHOR
Louvado seja Deus, pois não são apenas os problemas que vêm das mãos de Deus, dos lábios do SENHOR também vem a palavra de esperança. Verso 1:
O SENHOR deu esta mensagem a Joel […]
Em todo aquele problema Deus tinha como propósito chamar atenção do povo para si mesmo. Então ele fala. Deus dá a palavra a Joel. A mensagem era de instrução e de esperança em meio ao caos. Deus é o SENHOR. A palavra de Deus revelava esta verdade e até o nome Joel dizia a este respeito: “O SENHOR é Deus”.
Deus não estava castigando seu povo. Estava amorosamente os fazendo recordar que ele, Deus é o SENHOR e não há nenhum outro. Como ele fez isto? Mandando problemas e mandando também a sua palavra, a palavra eterna de Deus.
Nossos problemas sempre vêm acompanhados com a palavra de Deus. O mesmo Deus manda os dois. O propósito de Deus ao ralar nosso joelho ou quebrar nosso coração é um só: fazer-nos ouvir e crer que ele é o SENHOR.
Seu coração está quebrado pelos problemas? Volte-se para Deus. Volte-se para a palavra de Deus. Clame a Deus. Aprenda de Deus. Confiem somente em Deus, o Senhor e Salvador Jesus Cristo. Cristo é a Palavra eterna de Deus!
S.D.G. L.B.Peixoto
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