01.11.2020
[Jeremias 6.16] Assim diz o SENHOR: “Parem nas encruzilhadas e olhem ao redor, perguntem qual é o caminho antigo, o bom caminho; andem por ele e encontrarão descanso para a alma.
Os rótulos geralmente são confusos, especialmente quando o conteúdo da embalagem muda e ninguém percebe. Vinho ou suco de uva, por exemplo, pode se transformar em vinagre com o passar do tempo na adega ou na prateleira. O problema é que o rótulo não muda junto com as transformações na substância; ou seja, você compra a garrafa pelo rótulo que diz: “suco de uva”, mas quando abre e toma um gole, já era!, virou vinagre. O mesmo vale para o termo “evangélico”, argumentou Michael S. Horton, um renomado teólogo reformado da atualidade.
Está acontecendo no Brasil o mesmo que aconteceu nos Estados Unidos. Desde meados da década 1970, o termo “evangélico” – pelo menos na América do Norte – passou a identificar aqueles que, além de não serem católicos (protestantes, portanto), salientam uma determinada orientação política (geralmente, de direita), uma abordagem moralista e frequentemente legalista da vida. Ademais, para alguns, o termo “evangélico” compreende ao charlatanismo ou ao abuso da boa-fé dos fiéis que eles veem nos programas religiosos de televisão. Para outros, “evangélico” é sinônimo de hipocrisia e de arrogância. Há também as memórias e as impressões que muitos de nós, antigos de igreja, que fomos criados como evangélicos, carregamos: evangélico é um povo excessivamente rígido e conservador; ser evangélico é pertencer a um mesmo lugar ou igreja, com “irmãos” que gostam de conversar das “coisas do Senhor” e de realizar a “obra do Senhor” etc. Geralmente, essa é a ideia que se tem de “evangélico”.
Independentemente do histórico e, principalmente, por causa da ideia que hoje se faz do significado, é preponderante compreender o significado de se ser “evangélico”.
Que é um evangélico?
Ontem, 31 de outubro, celebrou-se 503 anos da Reforma Protestante. Foi pensando nessa ocasião (e em face de tantas distorções e tanto desconhecimento) que decidi buscar um pouco na história o significado de se ser evangélico. Tudo bem que esse não é o assunto preferido da maioria, mas sem esse significado, ninguém encontrará “descanso para a alma” (Jr 6.16).
Há em nossa geração uma antipatia mais ou menos profunda para com o passado e uma obsessão com o presente (soluções para o imediato) e o futuro (garantias para o amanhã). Sempre foi assim, mas na nossa época é ainda pior. Outra coisa: tem havido uma tentativa de se apagar por completo o passado a fim de se “reescrever” a história. Precisamente por causa desse momento de tantos caminhos alternativos, de pluralidades de opiniões a respeito de ser evangélico, ao passo que milhares estão perdidos no meio de tantas vozes, de tantos personagens no palco da internet é que nós, cristãos, precisamos parar, olhar e perguntar “qual é o caminho antigo, o bom caminho” (Jr 6.16). Só assim encontraremos descanso para a alma, como afirmou o profeta Jeremias.
O cristianismo é dedicado ao passado e às memórias (cf. 1Co 10.1-4 – “Irmãos, não quero que vocês se esqueçam do que aconteceu muito tempo atrás”, v. 1). Repetidas vezes na Bíblia, observou o Dr. Horton, especialmente nos Salmos, os crentes são conclamados a se lembrar daquilo em que creem, porque creem, e a transmitir os relatos da história da salvação a seus filhos. Os profetas sempre conclamaram o povo a olhar o futuro com fé e esperança, é verdade, mas assim eles o faziam por chamarem o povo de volta às suas raízes: “Assim diz o SENHOR: “Parem nas encruzilhadas e olhem ao redor, perguntem qual é o caminho antigo, o bom caminho; andem por ele e encontrarão descanso para a alma.” (Jr 6.16).
Hoje, no entanto, é comum demais ver até os crentes buscando esse descanso espiritual nalgum frenesi de prazer pelo novo e “melhorado” (ou, se preferir, “atualizado”) em vez de pelo antigo, testado e experimentado, aquele que o próprio profeta chamou de “o bom caminho”. Quando nem ao menos se preocupam com o passado (onde estão fincadas as nossas raízes), como podem ser capazes de dizer que “o futuro é brilhante” ou que estão “vivendo o novo de Deus”! É perturbadora essa arrogância, esse esnobismo espiritual! Não é à toa, portanto, que a nossa cultura (e também a igreja) esteja em vertigem nesse carrossel de confusões.
Precisamos, pois, como já dissemos, olhar para o passado e redescobrir o que significa ser evangélico. Somente assim encontraremos aquele descanso para a nossa alma.
Então, mais uma vez, que é um evangélico?
As pessoas só começaram a usar o rótulo “evangélico” no século XVI, designando aqueles que abraçaram o evangelho que havia – num sentido bem real – sido recuperado pela Reforma Protestante naquele século.
Evangélico vem de evangel, que é o termo grego para evangelho ou boas-novas. Desse modo, os evangélicos eram luteranos, reformados e calvinistas que queriam recuperar o evangel e proclamá-lo aos quatro cantos da Terra. Era uma designação empregada para colocar os Protestantes em contraste agudo com os Católicos Romanos e as seitas místicas emergentes (sim, misticismo evangélico já existia logo após a Reforma!). Mas para entender por que esses Protestantes pensavam que eram realmente aqueles que recuperaram o verdadeiro e bíblico evangelho, temos que entender o que era aquele “evangelho” vigente no Catolicismo Romano. Buscaremos essa compreensão ao longo desses estudos. Precisamos disso, e como precisamos! Mas será mais tarde, nas próximas mensagens.
Os evangélicos são os filhos da Reforma Protestante. É tanto que muitas das principais denominações das quais eles saíram (os evangélicos), em suas origens, eram ricas na herança reformada. Entretanto, com o passar do tempo, apesar das origens firmadas em um sentimento de identidade institucional e confessional – fruto da Reforma –, essas denominações foram deixando de crer na capacidade de sua herança de explicar e ajudá-las a lidar com as mudanças rápidas e imensas da vida moderna. E se pouco sobrou nelas da integridade dos credos e confissões clássicas da Reforma Protestante, já quase nada resta que seus filhos (as novas denominações, movimentos ou ministérios) possam passar aos filhos deles (as igrejas, denominações ou ministérios que surgirão dos rachas porvir). Resultado: o que se vê são igrejas inchando o que hoje se chama movimento evangélico e que dificilmente escapam da secularização – e, portanto, nada têm de evangelho.
O Protestantismo foi perdendo seus membros porque deu as costas a seus próprios recursos preciosos. Agora, não foi simplesmente que os liberais apenas seguiram a cultura enquanto os conservadores seguiram a Bíblia, e sim, que ambos foram mais moldados pela cultura do que por suas confissões de fé. Isso se comprova na prática.
De acordo com o moto infame de alguns: “A igreja segue [ou deve seguir] a agenda do mundo”. George Barna, renomado estatístico do movimento de crescimento de igreja nos Estados Unidos, atestou: “É crítico que conservemos em mente um princípio fundamental da comunicação cristã: o auditório, não a mensagem, é soberano”. Um artigo da revista Newsweek (de setembro de 1984) muito bem descreveu as igrejas das últimas décadas do século XX, especificamente falando dos evangélicos, da seguinte maneira:
Desenvolveram um Cristianismo de múltiplas opções, no qual os indivíduos escolhem o que preferem… e passam por cima daquilo que não se ajusta a seus objetivos espirituais. O que muitos deixam para trás é o sentimento penetrante do pecado.
(Isso em 1984! Imagine hoje como está!)
É precisamente porque o evangelicalismo moderno não possui uma herança confessional, de fé em um credo histórico e ortodoxo – “a fé que, de uma vez por todas, foi confiada ao povo santo” (cf. Jd 3), que ele (o evangelicalismo) é capaz de dar vazão ao individualismo, o romanticismo, o moralismo e ao pragmatismo da nossa cultura orientada e dirigida para ganhar pontos em audiência, influência, curtidas ou likes nas redes sociais.
H. Richard Niebuhr desmascarou o vazio desse tipo de evangélico, quando descreveu inteligentemente a mensagem essencial dele: “Um Deus sem ira levou homens sem pecado a um reino sem julgamento pelo ministério de um Cristo sem cruz”.
Se a Reforma Protestante foi a maior recuperação do evangelho desde o tempo dos apóstolos e nos deixou com um tesouro no qual há riquezas para serem redescobertas por cada nova geração, então certamente uma nova reforma representará um alvo para nós. Não que queiramos simplesmente fazer uma reprise da Reforma, mas que queremos recuperar e confessar a fé como os Reformadores fizeram na sua época. É a mesma mensagem, mas agora somos nós que precisamos entrar em campo. Não somos só confessionais (isto é, constrangidos a crer, pregar e ensinar aquilo que nossas confissões ou declarações de fé, historicamente, colocam), mas confessantes. Não é um mero compromisso com a fidelidade ao passado, embora seja isso, mas é também nossa confissão ou declaração de fé nesta época e lugar. Nosso mundo, cercado de novos temores e falsas esperanças, requer uma nova confissão – não nova na mensagem, mas vigorosa na apresentação; de fato, o que se requer de nós é uma reafirmação do antigo evangelho da glória e da graça de Deus, que é o maior tesouro da igreja, como dizia o reformador Martinho Lutero.
J. I. Packer, em seu livreto O Antigo Evangelho (ed. Fiel, p. 4-9), foi profético:
Não há dúvida de que o mundo evangélico de nossos dias se encontra em um estado de perplexidade e flutuação. Em questões como na prática da evangelização, no ensino sobre a santidade, na edificação da vida das igrejas locais, na maneira dos pastores tratarem com as almas e exercerem a disciplina há evidências de uma insatisfação generalizada com as coisas conforme elas estão, bem como de uma insatisfação geral acerca do caminho à frente. Esse é um fenômeno complexo, para o qual muitos fatores têm contribuído. Porém, se descermos até à raiz da questão, descobriremos que essas perplexidades, em última análise, devem-se ao fato de que temos perdido de vista o evangelho bíblico.
Sem o percebermos, durante os últimos cem anos, temos trocado o evangelho por um substitutivo que, embora lhe seja semelhante quanto a determinados pormenores, trata-se de um produto inteiramente diferente. Daí surgem as nossas dificuldades; pois o produto substitutivo não corresponde às finalidades para os quais o evangelho autêntico do passado mostrou-se tão poderoso. O novo evangelho fracassa notavelmente em produzir reverência profunda, arrependimento profundo, humildade profunda, espírito de adoração e preocupação pela situação da Igreja. Por quê? Cumpre-nos sugerir que a razão jaz em seu próprio caráter e conteúdo. Não leva os homens a terem pensamentos centrados em Deus, temendo-o em seu coração, mesmo porque, primariamente, não é isso que o novo evangelho procura fazer. Uma das maneiras de declararmos a diferença entre o novo e o antigo evangelho é afirmar que o novo se preocupa por demais em “ajudar” o homem – criando nele paz, consolo, felicidade e satisfação – e pouco demais em glorificar a Deus.
O antigo evangelho também prestava “ajuda” – mais do que o novo, na realidade. Mas fazia-o apenas incidentalmente – visto que sua preocupação primária sempre foi a de glorificar a Deus. Era sempre e essencialmente uma proclamação da soberania divina em misericórdia e juízo, uma convocação para os homens prostrarem-se e adorarem ao todo-poderoso Senhor de quem os homens dependem quanto a todo bem, tanto no âmbito da natureza quanto no âmbito da graça. Seu centro de referência era Deus, sem a mínima ambiguidade. Porém, no novo evangelho o centro de referência é o homem. Isso é a mesma coisa que dizer que o antigo evangelho era religioso de uma maneira que o novo evangelho não o é.
Enquanto o alvo principal do antigo era ensinar os homens a adorarem a Deus, a preocupação do novo parece limitar-se a fazer os homens sentirem-se melhores. O assunto abordado pelo antigo evangelho era Deus e os seus caminhos com os homens; e o assunto abordado pelo novo é o homem e a ajuda que Deus lhe dá. Nisso há uma grande diferença. A perspectiva e a ênfase inteiras da pregação do evangelho se alteraram.
Dessa mudança de interesses originaram-se a mudanças de conteúdo, pois o novo evangelho na realidade reformulou a mensagem bíblica no suposto interesse da prestação de “ajuda” ao homem. De acordo com isso, não são mais pregadas verdades bíblicas tais como a incapacidade natural do homem em crer, a eleição divina e gratuita como a causa final da salvação, e a morte de Cristo especificamente pelas suas ovelhas. Essas doutrinas, segundo o novo evangelho, não “ajudam” o homem; mas antes, contribuem pra levar os pecadores ao desespero, sugerindo-lhes que eles não podem salvar-se, através de Cristo, pela sua própria capacidade. (Nem é considerada a possibilidade de esse desespero ser salutar; antes, é aceito como ponto pacífico que o mesmo não é saudável, visto que destroçaria a nossa autoestima.) Sem importar exatamente como seja a questão […], o resultado dessas omissões é que apenas uma parcela do evangelho bíblico está sendo pregada como se fosse a totalidade do mesmo; e, uma meia-verdade que se mascara como se fosse a verdade inteira torna-se uma mentira completa. Assim, apelamos aos homens como se eles tivessem a capacidade de receber a Cristo a qualquer momento. Falamos sobre a sua obra remidora como se ele nada mais tivesse feito do que morrer para nos capacitar a nos salvarmos, mediante o nosso crer. Falamos sobre o amor de Deus como se isso não fosse mais do que a disposição geral de receber qualquer um que queira voltar-se para Deus e confiar nele. E retratarmos o Pai e o Filho não como soberanamente ativos em atrair a eles os pecadores, mas como se eles se mantivessem em quieta impotência, “à porta do nosso coração”, esperando nossa permissão para entrar. É inegável que é dessa maneira que andamos pregando; e talvez seja assim que cremos. Porém, cumpre-nos dizer decisivamente que esse conjunto de meias-verdades distorcidas é algo totalmente diverso do evangelho bíblico.
A Bíblia é contra nós, quando pregamos dessa maneira; e o fato que tal pregação se tornou prática quase padronizada entre nós serve apenas para demonstrar quão urgente se tornou que revisássemos toda a questão. Redescobrir o antigo, autêntico e bíblico evangelho, e fazer nossa pregação e nossa prática ajustarem-se ao mesmo, talvez seja a nossa mais premente necessidade atual.
Com esse propósito, afirmamos os solas (palavra latina para somente) da Reforma: “somente a Escritura”, “somente Cristo”, “somente a graça”, “somente a fé” e “glória somente a Deus”. Cada uma dessas declarações está ameaçada mesmo dentro do movimento que se acha na linhagem espiritual direta, descendente, da Reforma. Portanto nós, como nossos antepassados, precisamos fazer a nossa confissão diante da igreja e do mundo.
No que se segue, focalizaremos nossa atenção nesses pontos-chave da Reforma e tiraremos algumas conclusões sobre onde estamos em cada um desses solas em nosso contexto.
A Reforma Protestante foi um movimento que abrangeu os séculos XVI e XVII na Europa. O seu capitão foi Martinho Lutero (postou 95 teses em 31 de outubro de 1517 na Alemanha), apesar de ter havido alguns precursores antes dele; por exemplo, John Wycliffe (século XIV na Inglaterra, traduziu ineditamente a Bíblia para o inglês) e John Huss (século XIV e XV no reino da Boêmia, Praga, República Checa).
O propósito inicial desses homens era “reformar” a Igreja Católica Apostólica Romana, corrigindo aquilo que se percebia de corrupção doutrinária e moral que minava a eficácia do evangelho. A tentativa fracassou e o resultado não foi a tal “reforma” almejada, mas a exclusão, quando não a morte, dos tais “reformadores” que se tornaram intoleráveis “protestantes” no seio da igreja. Hoje, dentro do cristianismo, estima-se que Católicos Romanos e Protestantes juntos somem 2.2 bilhões de fiéis.
A síntese da Reforma Protestante está nos cinco solas que hoje concebemos: “somente a Escritura”, “somente Cristo”, “somente a graça”, “somente a fé” e “glória somente a Deus”. Coletivamente, essas frases compõem os princípios fundantes da Reforma; elas resumem as convicções teológicas dos Protestantes sobre o que é essencial no cristianismo, uma vez que clareiam a doutrina da salvação.
Os cinco solas da Reforma Protestante nada mais são do que a redescoberta do antigo evangelho, do evangelho de Cristo e dos apóstolos – e ele é crucial. 1Coríntios 15.1-2:
1Agora, irmãos, quero lembrá-los das boas-novas [evangelho] que lhes anunciei anteriormente. Vocês as receberam e nelas permanecem firmes. 2São essas boas-novas que os salvam, se continuarem a crer na mensagem como lhes anunciei; do contrário, sua fé é inútil.
Por que o evangelho, tal como os apóstolos a nós o entregaram, é assim tão importante? Eis o que está em jogo, Romanos 3.9-10, 23:
9Pois bem, devemos concluir que nós, judeus, somos melhores que os outros? Não, de maneira nenhuma, pois já mostramos que todos, judeus ou gentios, estão sob o poder do pecado. 10Como afirmam as Escrituras: “Ninguém é justo, nem um sequer. […] 23Pois todos pecaram e não alcançam o padrão da glória de Deus,
A humanidade como um todo está “sob o poder do pecado”. Não há justos. Todos pecaram, ficando aquém do “padrão da glória de Deus”. Consequentemente, experimentamos a morte, Romanos 6.23:
Pois o salário do pecado é a morte, mas a dádiva de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Tendo o pecado como nosso senhor ou empregador, o que recebemos como salário é a morte (eterna), condenação. No entanto, a livre dádiva de Deus é a vida eterna em Cristo. A essência dessa condenação eterna, o que a torna tão horrorosa, é o que temos escrito em Romanos 5.9:
E, uma vez que fomos declarados justos por seu sangue, certamente seremos salvos da ira de Deus por meio dele.
A morte eterna significa que se nós não formos salvos por Cristo, se não formos justificados pelo sangue de Cristo, se alguma coisa não acontecer para mudar essa condição, estaremos para sempre sob a “ira de Deus”. Eis a forma como Paulo coloca a mesma questão em 1Tessalonicenses 1.9-10:
9pois as pessoas têm comentado sobre como vocês nos acolheram e como deixaram os ídolos a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro. 10Também comentam como vocês esperam do céu a vinda de Jesus, o Filho de Deus, a quem ele ressuscitou dos mortos e que nos livrará da ira que está para vir.
O ponto em questão para os reformadores era o seguinte: como pecadores poderão se livrar da ira de Deus que está para vir? Como se pode escapar da condenação eterna que já pesa sobre os pecadores? O escape está em Jesus Cristo. João 3.36:
E quem crê no Filho de Deus tem a vida eterna. Quem não obedece ao Filho não tem a vida eterna, mas a ira de Deus permanece sobre ele.
A ira de Deus sobre pecadores, portanto, era o problema – fora de nós – que os reformadores estavam buscando resolver: como se livrar da culpa diante de Deus e como escapar da ira de Deus? Havia ainda outro problema – agora, dentro de nós – que os reformadores também buscavam resolver: a morte espiritual. Efésios 2.1-5:
1Vocês estavam mortos por causa de sua desobediência e de seus muitos pecados, […] 3Todos nós vivíamos desse modo, seguindo os desejos ardentes e as inclinações de nossa natureza humana. Éramos, por natureza, merecedores da ira, como os demais. 4Mas Deus é tão rico em misericórdia e nos amou tanto 5que, embora estivéssemos mortos por causa de nossos pecados, ele nos deu vida juntamente com Cristo. É pela graça que vocês são salvos!
Por natureza, somos tão rebeldes e contrários a Deus, tão intrinsicamente corrompidos que nós, naturalmente, vivemos em um estado de merecimento “da ira”; e para agravar, estamos todos espiritualmente mortos e, portanto, incapazes de resolver nosso problema.
Adiante, em 1Coríntios 2.14, Paulo coloca da seguinte maneira:
Mas o homem natural [espiritualmente morto, sob a ira de Deus] não aceita [incapaz por si só de aceitar] as verdades do Espírito de Deus. Elas lhe parecem loucura, e ele não consegue [por si mesmo] entendê-las, pois apenas quem é espiritual [nascido de Deus, revivido pelo Espírito Santo] consegue avaliar corretamente o que diz o Espírito.
Outro texto de Paulo, Romanos 8.7-8:
7Pois a mentalidade da natureza humana é sempre inimiga de Deus. Nunca obedeceu às leis de Deus, e nunca obedecerá. 8Por isso aqueles que ainda estão sob o domínio de sua natureza humana [carnais] não podem agradar a Deus.
Esses, portanto, são os principais problemas dos pecadores: por dentro, espiritualmente mortos e incapazes de obedecer a lei de Deus; consequentemente, por fora, pesa sobre eles a ira de Deus, são merecedores da ira de Deus, já estão condenados. Eram esses os problemas para os quais os reformadores saíram em busca de solução: a morte espiritual do pecador e a ira de Deus sobre ele, merecidamente.
Eles se perguntavam: Há esperança de que possamos reviver e de que Deus possa se voltar 100% a nós para sempre?
A resposta é sim! Há, sim, boas-novas no cristianismo. E a resposta que a Reforma Protestante encontrou na Bíblia foi a seguinte: nascermos de novo, revivermos em Cristo e Deus se voltar 100% a nós para sempre se dá…
Os cinco solas da Reforma Protestante são importantes porque eles compõem o único caminho capaz de nos arrancar da morte eterna (e nos colocar na vida eterna); e de nos retirar de debaixo da ira de Deus (e nos colocar 100% sob as bênçãos eternas de Deus).
Povo de Deus, precisamos encarar o fato de que estes são tempos de grande infidelidade bíblica e teológica dentro da Igreja de Cristo (e até em nome de Cristo). Essa semana, por exemplo, um pastor batista famoso nas redes sociais, parte da Convenção Batista Brasileira, afirmou ser a Bíblia insuficiente para os problemas morais atuais; que ela precisa de uma atualização, posto que é um documento milhares de anos datado; que precisamos aprender a ler não as letras ou as linhas, mas as entrelinhas… Meu Deus, nossa é uma época tenebrosa!
Foi-nos entregue, de uma vez por todas, uma fé rica, com Cristo no centro. Porém, muitos têm trocado nossa rica dieta por um saco de pipocas e um algodão doce. Resultado: o que se vê é um povo malnutrido. Se os evangélicos terão a mesma saúde espiritual que tiveram em épocas passadas, eles terão que voltar para as verdades que fazem de “evangélicos” “evangélicos” de verdade. A Bíblia – nosso único fundamento; Cristo – nossa única esperança; graça – nosso único evangelho; fé – nosso único instrumento; a glória de Deus – nosso único alvo; o sacerdócio de todos os santos – nosso único ministério. Esse evangelicalismo original ainda é suficiente para fazer, mesmo de nossas menores vitórias, algo muito grande para abalar e transformar o mundo.
S.D.G. L.B.Peixoto
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