12.02.2023
[Atos 18.1-3, 18-28] 1Algum tempo depois, Paulo deixou Atenas e foi para Corinto. 2Ali encontrou um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, que havia chegado recentemente da Itália com sua esposa, Priscila, depois que Cláudio César expulsou todos os judeus de Roma. 3Paulo foi morar e trabalhar com eles, pois eram fabricantes de tendas, como ele. […] 18Paulo ainda permaneceu em Corinto por algum tempo. Então se despediu dos irmãos e foi a Cencreia, onde raspou a cabeça, de acordo com o costume judaico para marcar o fim de um voto. Em seguida, partiu de navio para a Síria, levando consigo Priscila e Áquila. 19Chegaram ao porto de Éfeso, onde Paulo os deixou. Enquanto estava ali, foi à sinagoga para debater com os judeus. 20Eles pediram que ficasse mais tempo, mas ele recusou. 21Ao despedir-se, Paulo disse: “Voltarei depois, se Deus quiser”. Então zarpou de Éfeso. 22A parada seguinte foi no porto de Cesareia, de onde subiu a Jerusalém e visitou a igreja. Em seguida, voltou para Antioquia. 23Depois de passar algum tempo ali, voltou pela Galácia e pela Frígia, visitando e fortalecendo todos os discípulos. 24Enquanto isso, chegou a Éfeso vindo de Alexandria, no Egito, um judeu chamado Apolo. Era um orador eloquente que conhecia bem as Escrituras. 25Tinha sido instruído no caminho do Senhor e ensinava a respeito de Jesus com profundo entusiasmo e exatidão, embora só conhecesse o batismo de João. 26Quando o ouviram falar corajosamente na sinagoga, Priscila e Áquila o chamaram de lado e lhe explicaram com mais exatidão o caminho de Deus. 27Apolo queria percorrer a Acaia, e os irmãos de Éfeso o incentivaram. Escreveram uma carta aos discípulos de lá, pedindo que o recebessem bem. Ao chegar, foi de grande ajuda àqueles que, pela graça, haviam crido, 28pois, em debates públicos, refutava os judeus com fortes argumentos. Usando as Escrituras, demonstrava-lhes que Jesus é o Cristo.
Há 21 anos (em 2002) o consultor financeiro Gustavo Cerbasi começou a escrever o que hoje é um best-seller da editora Sextante, com mais de 1,5 milhão de cópias vendidas. Casais inteligentes enriquecem juntos (de 2004) é o nome do livro, e inspirou até filme: Até que a sorte nos separe (2012). Em linhas gerais, Cerbasi visa a ensinar o casal “a administrar o dinheiro para dar uma incrementada no seu relacionamento” – essas são palavras extraídas da página do livro na internet, no site da editora Sextante. Uma das avaliações que foram feitas da obra no site da Amazon trouxe o seguinte: “A união do casal em torno dos objetivos comuns a ambos traz resultados satisfatórios! Benção!” Se é de fato benção, deixo com você a leitura do livro e sua avaliação à luz da cosmovisão bíblica. Mas uma coisa é inquestionável, sem objetivos comuns (os quais devem envolver finanças), não se chega muito longe, sobretudo no casamento, na vida a dois. Aliás, este é um princípio bíblico: Amós 3.3 (ARA) — “Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?” — A resposta a essa pergunta retórica do profeta é “Não!”
Esta é a dificuldade que todo e qualquer ser humano, por causa do pecado, enfrenta: andar de acordo com o(s) outro(s); isto é, construir e cultivar e concluir objetivos comuns com quem quer que seja. Isso é muito difícil, para qualquer pessoa. E se há uma área inflamável para todo mundo (em qualquer casamento ou relacionamento), esta é a financeira. — Por quê? — Ora, como disse Jesus em Mateus 6.21, “onde seu tesouro estiver, ali também estará seu coração.” Isto significa que naquilo em que você gastar (ou deixar de gastar) seu dinheiro, ali também estará exposto, desnudado o seu coração – e, honestamente, quem de nós adora sair por aí contando para todo mundo aquelas coisas mais secretas do íntimo? Ninguém! E nosso dinheiro, nossos objetivos, são incrivelmente capazes de revelar no quê, em quem ou onde está nosso coração. É por isso que essas coisas dão muitos conflitos. É por isso que muita gente (não todos, mas muita gente) prefere andar e viver sozinha: não ter que prestar contas a ninguém; não ter que andar em acordo com quem quer que seja; não ter que se permitir canga sobre os ombros e prosseguir no ritmo de outras pessoas; não ter que se envolver e até sofrer com os problemas de alguém; não ter que rever palavras, posturas e prioridades o tempo todo; não ter que submeter pensamentos, desejos ou vontades a outra pessoa… enfim, é por isso que o casamento é uma realidade inimaginável para alguns (os que estão de fora) e inflamável para outros (os que estão dentro).
Afinal, há benefícios em se casar? Casar pra quê?
Quando se espana a poeira de um livro antigo de Salomão, o Eclesiastes, encontra-se uma passagem bíblica crucial sobre o tema, a respeito do companheirismo. — Quer ver? — Leia comigo. Preste atenção nalguns dos benefícios do casamento que são apresentados aqui pelo maior sábio de todos os tempos (Eclesiastes 4.9-12):
Esforço mútuo. Isto é: o trabalhão de ganhar a vida, lidar com pressões ou problemas, sofrer desapontamentos… é mais fácil quando compartilhado a dois. Eclesiastes 4.9 “É melhor serem dois que um, pois um ajuda o outro a alcançar o sucesso. [ARA: Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho.”
Apoio mútuo. Quando o cônjuge está emocionalmente abatido, o outro geralmente pode trazer de volta o sorriso com um abraço afirmativo, um ouvido atento e uma palavra bíblica de encorajamento. Eclesiastes 4.10 “Se um cair, o outro o ajuda a levantar-se. Mas quem cai sem ter quem o ajude está em sérios apuros.”
Encorajamento mútuo. Nada há que seja mais reconfortante quanto o calor do cônjuge ao seu lado em uma noite fria de inverno da alma, garantindo que tudo ficará bem. Eclesiastes 4.11 “Da mesma forma, duas pessoas que se deitam juntas aquecem uma à outra. Mas como fazer para se aquecer sozinho?”
Força mútua. Ah! Como é preciosa a força que vem de Cristo a um pela instrumentalidade de outro (cônjuge) e de outros (filhos). Eclesiastes 4.12 “Sozinha, a pessoa corre o risco de ser atacada e vencida, mas duas pessoas juntas podem se defender melhor. Se houver três, melhor ainda, pois uma corda trançada com três fios não arrebenta facilmente.”
Então, casar pra quê?
Ora, gente, viver sozinho não foi o que Deus idealizou para o ser humano (Gn 2.18). Aliás, reflita sobre o que escreveu Salomão, antes de nos dar os versículos 9-12 que acabamos de ler. Preste atenção:
Eclesiastes 4.7-8 7Observei outra coisa que não faz sentido debaixo do sol. 8É o caso do homem que vive completamente sozinho, sem filho nem irmão, mas que ainda assim se esforça para obter toda riqueza que puder. A certa altura, porém, ele se pergunta: “Para quem trabalho? Por que deixo de aproveitar tantos prazeres?”. Nada faz sentido, e é tudo angustiante.
De fato, criar filhos, sobreviver a contratempos financeiros, suportar doenças ou problemas, tomar decisões difíceis… tudo isso é difícil sozinho. Mas um casal pode orar um pelo outro e suportar juntos as tribulações, enfrentando os desafios da vida com mais força, encorajamento, apoio e esforço compartilhados pelo outro.
Agora o nosso texto: Atos 18.1-3, 18-28. Ao passarmos de Eclesiastes 4 para Atos 18, achamos um casal que está na vitrine que foi montada por Lucas (sob a inspiração do Espírito); contemplamos Áquila e Priscila, os quais, sem dúvida, desfrutaram desses quatro benefícios da vida de casados: esforço, apoio, encorajamento e força mútuos. Mas eles desfrutaram de mais uma coisa: ministério mútuo.
Tudo o que Deus nos dá nesta vida, todos os benefícios que se desfrutam na vida conjugal, servem todos para o mesmo fim: glorificar a Deus fazendo discípulos de todas as nações. De fato, o casamento serve a este fim: ilustrar a união entre Cristo e a Igreja (confira Efésios 1.31-33). É nessa missão – a de ilustrar a união entre Cristo e a Igreja, e tudo o mais que isso envolve na prática – que casais encontram verdadeira realização e felicidade de verdade. Foge-se dessa missão e se acaba por perder a graça. Sabe por que acaba a graça? Porque toda vez que se usa alguma coisa para aquilo que ela não foi projetada, logo se quebrará. A mesma coisa é verdade para o casamento. A razão pela qual o casamento perdeu seu valor nesta sociedade e pela qual já perdeu a graça para muitos que se mantêm casados é que as pessoas abandonaram o propósito do casamento: ilustrar a união entre Cristo e a Igreja, e tudo o mais que isso envolve na prática.
É tão verdade o que estamos dizendo que a razão pela qual Paulo pareceu desencorajar o casamento foi por saber de observar na prática que tanto as dificuldades como as delicias do casamento têm potencial enorme de tirar marido e mulher da missão de Deus para o homem nesta vida: pelo Espírito Santo, glorificar a Deus fazendo discípulos de Jesus em todas as partes e nações. Preste atenção:
1Coríntios 7.29-35 29Irmãos, isto é o que quero dizer: o tempo que resta é muito curto. Portanto, de agora em diante, aqueles que têm esposa devem agir como se não fossem casados. 30Aqueles que choram, que se alegram ou que compram coisas não devem se entregar totalmente à tristeza, à alegria ou aos bens. 31Aqueles que usam as coisas deste mundo não devem se apegar a elas, pois este mundo, como o conhecemos, logo passará.
32Quero que estejam livres das preocupações desta vida. O homem que não é casado tem mais tempo para se dedicar à obra do Senhor e pensar em como agradá-lo. 33Mas o homem casado precisa pensar em suas responsabilidades neste mundo e em como agradar sua esposa. 34Seus interesses estão divididos. Da mesma forma, a mulher que não é casada ou que nunca se casou pode se dedicar ao Senhor e ser santa de corpo e espírito. Mas a mulher casada precisa pensar em suas responsabilidades aqui na terra e em como agradar seu marido. 35Digo isso para seu bem, e não para lhes impor restrições. Quero que façam aquilo que os ajudará a servir melhor ao Senhor, com o mínimo possível de distrações [para os solteiros, as distrações poderão ser desejos sexuais descontrolados, ardentes desejos; cf. 7.8-9].
De fato, os compromissos e as coisas boas desta vida, o casamento e até a solteirice têm amplos poderes de nos distrair da nossa missão nesta vida: pelo Espírito Santo, glorificar a Deus fazendo discípulos de Jesus em todas as partes e nações. Áquila e Priscila, neste quesito, têm muito a ensinar como casal: casais inteligentes servem juntos. Como é bom ter esse casal na vitrine de Deus e poder aprender com eles a respeito de como casais inteligentes servem juntos; como casais cristãos vivem para juntos cumprirem a missão de Deus nesta vida: pelo Espírito Santo, glorificar a Deus fazendo discípulos de Jesus em todas as partes e nações.
Recapitule comigo.
Áquila e Priscila nos são apresentados pela primeira vez quando o casal se juntou a Paulo durante sua segunda viagem missionária. — Você se lembra? — O apóstolo tinha acabado de chegar a Corinto. Ele estivera em Atenas, onde falou aos filósofos do Areópago. No estudo que já fizemos daquelas andanças, em nossa série no livro de Atos, aprendemos que depois de todos os seus esforços na capital intelectual do mundo greco-romano, apenas um punhado de atenienses se tornou cristão.
Abatido, Paulo deixou Atenas e foi para a capital grega do império romano: Corinto. Talvez lá ele obtivesse uma melhor resposta à sua mensagem. Mas quando chegou àquela cidade portuária tão indecente, o apóstolo se deparou com algo sem paralelo: a prostituição e a perversão abertas, a vida decadente em todas as camadas daquela sociedade. Com pouco dinheiro, sem lugar para ficar e sem amigos entre estranhos tão intimidadores, o coração de Paulo se abateu ainda mais profundamente. Anos depois, em sua carta aos coríntios, ele admitiu: 1Coríntios 2.3 — “Fui até vocês em fraqueza, atemorizado e trêmulo.” Foi àquela época, sob aquelas circunstâncias, que Paulo conheceu um nobre casal:
Atos 18.1-3 1Algum tempo depois, Paulo deixou Atenas e foi para Corinto. 2Ali encontrou um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, que havia chegado recentemente da Itália com sua esposa, Priscila, depois que Cláudio César expulsou todos os judeus de Roma. 3Paulo foi morar e trabalhar com eles, pois eram fabricantes de tendas, como ele.
Deus colocou esse casal no caminho de Paulo justamente quando o apóstolo mais precisava de gente. Isso já diz muito sobre o valor de casais e de famílias sólidas no reino de Deus, sobretudo para o cumprimento da Grande Comissão. Casas, casais, famílias estruturadas sempre foram imprescindíveis para a longa marcha da Igreja estabelecendo o reino de Deus. Por exemplo:
Filemom 1-2 1Eu, Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, escrevo esta carta, junto com nosso irmão Timóteo, a Filemom, nosso amado colaborador, 2à irmã Áfia, a Arquipo, nosso companheiro na luta, e à igreja que se reúne em sua casa [em Colosso].
2João 10-11 10Se alguém for a suas reuniões e não ensinar a verdade de Cristo, não o convidem a entrar em sua casa, nem lhe deem nenhum tipo de apoio. 11Quem apoia esse tipo de pessoa torna-se cúmplice de suas obras malignas.
Trocando em miúdos: casais, casas e famílias sempre foram o esteio da obra missionária, nascimento e fortalecimento de igrejas locais que eram e são plantadas em cumprimento à Grande Comissão.
— Continua na parte 2.
S.D.G. L.B.Peixoto
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