12.02.2023
[Gênesis 1.1-2] 1No princípio, Deus criou os céus e a terra. 2A terra era sem forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas, e o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas.
Nós partimos para explorar o livro de Gênesis em uma série de mensagens; mas de propósito nós tomamos uma estrada que está sim nos levando por um caminho mais longo. Antes de mergulharmos no livro propriamente dito, optamos por abordar as principais teorias que tratam da origem do universo.
Gênesis é o livro das origens de tudo, inclusive da vida. O problema é que há tempos que a visão bíblica da origem de tudo – o criacionismo: tendo Deus como o Criador e o Sustentador da vida – tem sido intencionalmente invalidada, em detrimento de teorias que se chamam naturalistas ou materialistas, as quais são assim denominadas por descartarem Deus e destacarem a matéria como eterna e os fenômenos naturais autônomos. De fato, como vimos em mensagens anteriores, a teoria evolucionista é o dogma irrefutável apresentado nas escolas, universidades e no mundo acadêmico e cultural como sendo a única verdade absoluta e possível para a origem de tudo, por conseguinte como resposta para a realidade. Paralela à teoria de Darwin, há também a teoria da evolução teísta, que não ignora a existência de Deus, mas que nem por isso abandona pressupostos darwinianos. Bem, em mensagens anteriores nós já apresentamos essas teorias e destacamos as dificuldades bíblicas, teológicas e até científicas de ambas.
Desta vez nós abordaremos uma teoria que não se amolda às concepções seculares, nem à teoria da evolução teísta. De fato, a teoria que abordaremos – a teoria do intervalo – descarta tanto a teoria evolucionista de Darwin quanto a teoria evolucionista teísta por julgar serem elas nitidamente incompatíveis com os ensinamentos bíblicos. Em que pese seus argumentos serem baseados em textos bíblicos, as interpretações dos textos bíblicos que são feitas pelos teólogos da teoria do intervalo são, como buscaremos apresentar, improváveis.
Ora, para fazermos coro com Wayne Grudem, não estamos sugerindo, de jeito nenhum!, longe disso!, que aqueles que defendem a teoria do intervalo sejam descrentes, ou que são como muitos adeptos da evolução teísta que pensam que a Bíblia nada pode nos ensinar a respeito de ciência. Pelo contrário, os adeptos da teoria do intervalo sempre creram de maneira uniforme na plena confiabilidade da Bíblia em qualquer assunto que ela aborde. O problema, ao nosso ver, é que a interpretação deles (neste ponto) está equivocada. Para começo de conversa, esta – a teoria do intervalo – é uma teoria bastante popular entre os que se chamam fundamentalistas ou as igrejas conservadoras, tanto nos Estados Unidos como no Brasil. Popular, portanto, entre aqueles que consideram em altíssima estima a autoridade da Bíblia. Mas nem por isso, infelizmente, isentos de erros.
PARÊNTESES. Para aqueles que estão se perguntando: “Quando mesmo que o pastor vai parar de falar dessas teorias e entrar na Bíblia, e estudar Gênesis, o texto bíblico mesmo? Não aguento mais essas teorias, meu Deus do céu!” — Calma! Estamos quase lá. Depois da teoria do intervalo, estudaremos apenas mais duas teorias: a teoria criacionista dos seis dias literais e a teoria do criacionismo progressivo (que é a que eu, particularmente, adoto). Depois desses, hoje e mais dois ou três domingos, a gente mergulha no texto de Gênesis. — Combinado?! — O estudo dessas teorias são muito importantes.
Afinal, o que diz esta teoria, o que diz a teoria do intervalo?
[Valemo-nos aqui da descrição de Wayne Grudem.] A teoria do intervalo propõe, como está no próprio nome, que há um intervalo de milhões de anos entre Gênesis 1.1 (“No princípio, Deus criou os céus e a terra”) e Gênesis 1.2 (“A terra era sem forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas”). Segundo essa teoria, Deus teria feito uma criação anterior, mas acabou havendo uma rebelião contra ele (provavelmente ligada à rebelião de Satanás), e Deus julgou a terra, de modo que “a terra ficou sem forma e vazia” (uma tradução alternativa, mas questionável, proposta para Gênesis 1.2). Portanto, o que se lê em Gênesis 1.3—2.3 na verdade é a segunda criação de Deus, em seis dias de 24 horas, que ocorreu só recentemente (talvez há dez mil ou vinte mil anos). Desse modo, os fósseis antigos encontrados na terra, muitos deles datados de milhões de anos, são da primeira criação (há 4,5 bilhões de anos), mencionada somente em Gênesis 1.1.
James Montgomery Boice (em seu comentário de Gênesis; o qual tem muito me servido como fonte para as apresentações dessas teorias) escreveu que a teoria do intervalo também é chamada de teoria da restituição ou teoria da recriação. Arthur C. Custance, que em 1970 publicou uma extensa defesa da teoria, atribuiu sua origem a alguns dos primeiros escritores judeus, também a alguns dos pais ou teólogos da igreja e até mesmo a alguns antigos documentos sumérios e babilônicos. A teoria apareceu também na Idade Média. Só que foi apenas na Escócia, final do século XVIII e início do século XIX, através de Thomas Chalmers – autor de um famosíssimo sermão (digno de sua leitura), publicado recentemente no Brasil pela Monergismo: O poder expulsivo de um novo afeto, que a ideia da teoria do intervalo ganhou corpo e visibilidade.
Diz-se que Thomas Chalmers estava ávido para demonstrar que os dados emergentes relativos às eras geológicas – os quais estavam pipocando entre os acadêmicos àquela época – não eram incompatíveis com a sólida exposição bíblica das origens. Então, de acordo com Chalmers, Gênesis 1.1 fala da boa criação de Deus lá em um mundo original, e no qual todas as coisas eram de fato boas, posto que Deus não pode criar o que é mau. Lúcifer (veja bem, Lúcifer antes de pecar e cair) governava este mundo perfeito para Deus. Só que Lúcifer pecou e caiu. Então, Deus julgou e condenou Lúcifer e o mundo; e como resultado, a terra se tornou uma massa sem forma e desolada – sobre a qual, segundo Chalmers, nós lemos em Gênesis 1.2 (“Agora a terra era sem forma e vazia, as trevas cobriam a superfície do abismo”). O argumento de Chalmers prossegue, e ele sustenta que a terra continuou nesse estado – sem forma e vazia – por longas e indeterminadas eras, durante as quais se desenvolveram os vários estratos rochosos estudados hoje pela geologia, inclusive os fósseis. Ao final dessas longas e indeterminadas eras, diz Chalmers, Deus interveio para trazer nova ordem ao caos reinante, que é o que então se lê na descrição de Gênesis 1.3–31. De acordo com essa teoria, portanto, os seis dias da criação em Gênesis 1, começando no versículo 3, na verdade descrevem uma recriação de Deus, a segunda criação de Deus.
Chalmers escreveu no início dos anos de 1800, e seus pontos de vista prosperaram ao longo daquele século (passando pelo século XX, chegando à nossa época). Sua teoria ganhou adeptos, principalmente, entre vários dos escritores do fundamentalismo evangélico lá do início do século XIX – os quais desejavam garantir a autoridade da Bíblia em face dos achados arqueológicos. O mais conhecido dos fundamentalistas que adotou a teoria de Chalmers foi George H. Pember, cujo livro sobre esse ponto de vista, As Eras Mais Primitivas da Terra (lançado em 1876), passou por cerca de vinte edições em inglês. No Brasil ele está publicado pela Editora dos Clássicos. Essa obra, dentre outras do mesmo autor (que era dispensacionalista), teve enorme influência sobre a teologia de Watchman Nee (1903—1972), o qual ainda hoje faz a cabeça de muitos evangélicos.
Pember escreveu (pág. 55):
Fica claro, então, que o segundo versículo de Gênesis descreve a terra como uma ruína, mas não existe indicação com respeito ao tempo passado entre a criação e esta ruína. Eras após eras podem ter passado, e foi provavelmente no decorrer delas que a camada da crosta terrestre foi gradativamente desenvolvendo-se. Constatamos, então, que os ataques geológicos contra as Escrituras estão totalmente longe do alvo; são meros golpes no ar. Existe espaço para qualquer período de tempo entre o primeiro e o segundo versículo da Bíblia. E mais uma vez: visto não dispormos de nenhum registro inspirado das formações geológicas, temos liberdade para crer que elas se desenvolveram exatamente na ordem em que as encontramos. O processo todo aconteceu nos tempos pré-adâmicos, em relação, talvez, com outra raça de seres, o que não nos interessa no momento.
Nas páginas subsequentes, Pember desenvolveu sua teoria da queda de Satanás, a influência dos demônios no mundo anterior a Noé, e a relevância disso para o ressurgimento do espiritismo que ele observou em sua época.
Arthur W. Pink abraçou e defendeu a opinião de Thomas Chalmers e, sem dúvida, também absorveu muito de Pember (no livro As Eras Mais Primitivas da Terra). Pink, em seu comentário no livro de Gênesis [Gleanings in Genesis ou Compilações em Gênesis], sustentou que “o intervalo desconhecido entre os dois primeiros versículos de Gênesis 1 é amplo o suficiente para abranger todas as eras pré-históricas que podem ter decorrido; mas tudo o que aconteceu de Gênesis 1.3 em diante aconteceu há menos de seis mil anos.” Mais tarde em sua vida, Pink abandonou o dispensacionalismo, mas não se sabe se também abandonou a visão desta teoria.
Harry Rimmer foi outro escritor influente. Em 1941, ele escreveu um livro intitulado Modern Science and the Genesis Record [Ciência Moderna e o Registro de Gênesis]. Nessa publicação ele afirmou:
A criação original do céu e da terra, então, é abordada no primeiro versículo do Gênesis. Só Deus sabe quantas eras se passaram antes que a ruína forjada por Lúcifer caísse sobre a terra, mas pode ter sido um período de tempo incalculável. Nenhum estudante pode dizer quanto tempo durou o período de caos; não há sequer uma dica dada. Mas reconheçamos claramente nesses estudos que Moisés, no registro da primeira semana da criação, está contando a história da reconstrução de Deus; ao invés da história de uma criação original.
O divulgador mais eficaz dessa visão foi Cyrus Ingerson Scofield (1843—1921). Ele incluiu a teoria do intervalo em suas notas sobre Gênesis 1.1-2 e Isaías 45.18 na popularíssima Bíblia de Estudo Scofield. A partir de C. I. Scofield, a teoria do intervalo se tornou a visão quase inquestionável do fundamentalismo evangélico, embora, como já dito em mensagem anterior, o próprio livro Os Fundamentos contenha um artigo de James Orr que quase abraça a teoria da evolução. Note você o perigo dos extremos.
Em tempos mais recentes, várias formas da teoria do intervalo foram defendidas por homens renomados, por exemplo: Donald Gray Barnhouse (antigo pastor da famosa Décima Igreja Presbiteriana na Filadélfia, Pensilvânia, nos Estados Unidos, de 1927 até sua morte em 1960). Outro exemplo significativo: influenciada pela teoria do intervalo, a trilogia cósmica de C. S. Lewis traz em dois desses livros de ficção científica – i.e., Além do planeta silencioso e Perelandra – a ideia de que Satanás governou a Terra antes de os humanos a habitá-la. Após a revolta de Satanás, a Terra se tornou um “planeta silencioso”. Veja você: até Francis Schaeffer derrapou um pouquinho nesta curva. Falando sobre a teoria do intervalo, ele escreveu (no capítulo 3 de seu livro No Final Conflict):
A fraqueza dessa ideia – da teoria da lacuna –, uma vez que ela é apresentada como um dogma, é que não há versículos de apoio a ela no restante da Bíblia. Parece-me que os versículos frequentemente citados realmente não se referem a isso. Portanto, ela deve ser vista como sendo apenas uma hipótese. No entanto, continua sendo uma possibilidade teórica, e isso é tudo o que estou apresentando neste argumento.
Afinal, em quais argumentos bíblicos ou exegéticos ou teológicos os proponentes da teoria da lacuna se agarram? Uma vez que seus defensores eram (e são) tão comprometidos com a autoridade das Escrituras, no que eles se escoraram para defender a teoria da lacuna? E por que, ao nosso ver, estariam equivocados em sua interpretação bíblica? — A seguir, os principais argumentos desta teoria, sintetizados por James M. Boice:
O principal argumento daqueles que sustentam a teoria da lacuna é o bíblico-exegético; e esse argumento segue as seguintes quatro partes:
Além desses argumentos bíblicos-exegéticos, há o argumento bíblico-teológico que se usam para sustentar a teoria do intervalo entre Gênesis 1.1 e 1.2, qual seja: a queda de Satanás. Este argumento parte de que em Gênesis 3 o mau já existia; portanto, o mau já existia na época da criação de Adão e Eva, pois Satanás estava lá no Éden para tentar Eva. Além disso, dizem, há textos que sugerem que houve a queda de Satanás anteriormente, seguida de um julgamento que foi despejado sobre ele e a terça parte dos anjos (agora demônios) que o acompanharam na rebelião contra Deus.
Ainda argumentam: claro que a queda de Satanás e o julgamento de Deus sobre ele podem ter ocorrido sem qualquer relação com a Terra. Mas Satanás é chamado de “o príncipe deste mundo” e, por isso, parece ter uma relação especial entre ele e esta Terra. Portanto, indagam, não seria possível, até mesmo razoável, que Satanás tenha governado o mundo para Deus em um período anterior à história da Terra [na tal da era mas primitiva da Terra]? E se é assim, não poderia uma queda e um julgamento de Satanás caber entre Gênesis 1.1 e 1.2? Se não existe esta possibilidade, perguntam, onde entraria a queda? A única outra opção seria antes da própria criação (a segunda criação), o que – eles vão argumentar – colocaria a criação de Satanás antes de qualquer outra coisa que hoje conhecemos.
A teoria do intervalo também procura lidar com o problema das primeiras aparições da morte. Sustentam assim: se os fósseis indicam alguma coisa é que houve um período de luta, doença e morte anterior ao aparecimento do homem na Terra. Mas se a morte veio somente através do pecado de Adão, como a morte pode ser evidenciada no registro fóssil? Ora, vão dizer, a morte testemunhada nos fósseis é o produto do julgamento de Deus sobre o pecado de um mundo e raça anteriores, lá nas eras mais primitivas da Terra.
Então, o que se deve pensar desta teoria? Homens sérios de Deus, buscando a mais completa fidelidade bíblica, tomando a Escritura Sagrada na mais alta estima, abraçaram esta posição, e aí? Além do quê, a teoria do intervalo entre Gênesis 1.1 e 1.2 parece resolver o problema das longas eras geológicas e dos achados fósseis. Devemos, pois, adotá-la? Penso que não, pelas seguintes razões:
1. FALTA DE SUSTENTAÇÃO BÍBLICA. Esta é uma interpretação não-natural e até peculiar de Gênesis 1.1-2. Bernard Ramm escreveu algo bastante importante a este respeito, e vale a pena sua atenção:
Desde o início da interpretação da Bíblia, esta passagem [Gênesis 1.1-2] foi tida – por judeus, católicos e protestantes – como a criação original [e única] do universo. Em seis dias majestosos, o universo e toda a vida são trazidos à existência. Mas, de acordo com a visão de Rimmer [e dos demais proponentes da teoria do intervalo], o grande primeiro capítulo de Gênesis, salvo o primeiro verso, não é sobre criação original, mas sobre reconstrução. A origem primária do universo é declarada em apenas um verso. [Não pode ser!]
Esse argumento de Bernard Ramm, contra a teoria do intervalo, está bem resumido nesta contundente passagem bíblica: Êxodo 20.11 — “O SENHOR fez os céus, a terra, o mar e tudo que neles há em seis dias; no sétimo dia, porém, descansou.” Ora, ainda que alguém saliente que o verbo usado por Moisés aqui é “fez” (do hebraico asah’), não o poderoso verbo hebraico “criou” (bara’), e que, portanto, isso permite ler-se que Deus recriou ou reformou a criação anterior, Êxodo 20.11 continuará soando como deve realmente soar: a descrição de uma criação original. De fato, nada aqui indica segunda criação ou recriação ou reforma de algo anterior, mas criação do nada, do zero, e isto em seis dias.
A este argumento, Wayne Grudem acrescenta o seguinte:
Não há versículo algum nas Escrituras que fale explicitamente a respeito de uma criação anterior. Por conseguinte, essa teoria não tem nem sequer um versículo bíblico que lhe dê sustentação explícita.
2. EXEGESE EQUIVOCADA. Além da falta de sustentação bíblica, pode-se contra-argumentar a teoria do intervalo entre Gênesis 1.1 e 1.2 apontando o equívoco na interpretação mesma do texto bíblico. Ora, ainda que os dados exegéticos desta teoria sejam impressionantes, eles estão longe de serem corretos. E devem ser corretos se alguém decidir adotar uma teoria tão incomum. Por exemplo: o verbo hebraico hayah pode realmente significar “tornou-se” ou “ficou”, mas não há dúvida de que também é corretamente traduzido como “era” ou “estava”. Aliás, é deste modo – “era” ou “estava” – que o verbo hebraico é mais frequentemente utilizado. Outra coisa: a conjunção vav do início do versículo 2 pode até significar “mas”, embora mais comumente signifique “e”. E quanto a “sem forma e vazia”, isso pode significar simplesmente que a terra em questão ainda era ou estava inabitável, ainda precisava ser preparada. Se o estado “sem forma e vazia” foi o resultado do julgamento de Deus sobre a terra ou se se deveu a qualquer outro fator, deve ser determinado pelo contexto e não pelas próprias palavras do texto. Exemplo:
Isaías 24.1 Vejam, o SENHOR está prestes a destruir a terra e transformá-la num enorme deserto! Ele devasta sua superfície e dispersa seus habitantes.
Isaías 45.18 Pois o SENHOR é Deus; criou os céus e a terra e pôs todas as coisas no devido lugar. Fez o mundo para ser habitado, e não para ser um lugar de vazio e caos. Ele diz: “Eu sou o SENHOR, e não há outro.”
Portanto, longe de Gênesis 1.2 estar inferindo que a terra tornara-se caótica e inabitável por causa de algum julgamento divino pré-adâmico, à luz de Isaías 45.18, por exemplo, verificamos que ainda no estágio inicial da criação original, a terra ainda não estava apropriada para ser habitada por humanos, a Terra ainda não lhes era boa; longe de apontar o juízo de Deus, Gênesis 1.2ss. está ampliando para nós o cuidado maravilhoso de Deus com o ser humano que haveria de habitar a Terra.
3. A ESCURIDÃO DAS NOITES. Trevas ou escuridão em Gênesis 1.2 não estão de modo algum descrevendo algum juízo divino (como no caso, por exemplo, da nona praga no Egito: a da escuridão). Pense um pouco: se Deus primeiramente cria a terra (Gn 1.1) e depois cria a luz (Gn 1.3), necessariamente haveria trevas sobre a terra no versículo 2 – isso indica que a criação está em curso, não que algum mal esteja presente. Além disso, em cada dia há uma “tarde” (e noite), e isso significa que há “trevas” presentes durante os seis dias da Criação (Gn 1.5, 8, 13, 18, 19), sem indicação, obviamente, de qualquer mal e, consequentemente, de reprovação divina. De fato, eis o que se lê: Salmo 104.20 — “Envias a escuridão e se faz noite, quando vagueiam os animais do bosque.”
4. O PROBLEMA GEOLÓGICO NÃO É RESOLVIDO. Você se recordará de que uma das razões para a teoria do intervalo foi a tentativa de se dar resposta ao problema dos achados fósseis; ou seja, buscava-se reconciliá-los com o texto bíblico. O problema é que a teoria do intervalo não resolve o problema colocado pela geologia. A geologia nos mostra estratos sucessivos da crosta terrestre contendo fósseis de formas de vida anteriores. Os defensores da teoria do intervalo desejam explicá-los pelo suposto intervalo entre Gênesis 1.1 e 1.2. — Mas eis a questão: em que ponto desse intervalo entrou o julgamento de Deus? — Se o julgamento veio após o estabelecimento da evidência fóssil, então a morte estava no mundo antes do julgamento divino (o que eles não sustentam; para eles, a morte e, portanto, o fósseis somente seriam possíveis como consequência do julgamento de Deus). Se o julgamento veio primeiro, então as condições decorrentes desse julgamento não poderiam ser como o segundo versículo de Gênesis 1 as descreve (um mundo caótico submerso na escuridão), pois em tal mundo nenhuma planta ou vida animal poderia sobreviver para formar os estratos fósseis. — Percebeu? — É tão problemático que alguns teóricos do intervalo enxergaram esse dilema e apelaram para o dilúvio para produzir a evidência geológica. Rimmer, por exemplo, apela tanto para as eras anteriores (ao intervalo entre Gênesis 1.1 e 1.2) quanto para o dilúvio (Gênesis 6—9). Mas se for esse o caso, não se precisa da teoria da lacuna.
A impressão que fica é a de que essa teoria realmente não foi testada o bastante para ser capaz de fornecer um modelo claramente viável. Precisaremos de outra possibilidade. Qual será? Será a teoria criacionista dos seis dias literais ou a teoria do criacionismo progressivo? Você decidirá. Só que nós precisaremos das duas próximas mensagens. Mas eu não quero terminar com esta nota — nota apologética seca, nota de argumento pela teoria do intervalo e seus contra-argumentos. Deixe-me, portanto, tentar ser um pouco mais pastoral e devocional, levando em conta três dos temas que esta teoria levanta.
2Pedro 2.9-10 9Vemos, portanto, que o Senhor sabe resgatar das provações os que lhe são devotos e, ao mesmo tempo, manter os perversos sob castigo até o dia do julgamento. 10Ele é particularmente severo com aqueles que seguem desejos e instintos distorcidos e desprezam a autoridade.
O único modo de se escapar do juízo vindouro é conhecendo o Senhor e Salvador Jesus Cristo, e nele – pela graça, por meio da fé, sustentados pelo Espírito – perseverar até o final e para a vida eterna (2Pe 2.20).
S.D.G. L.B.Peixoto
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