19.02.2023
[Atos 18.1-3, 18-28] 1Algum tempo depois, Paulo deixou Atenas e foi para Corinto. 2Ali encontrou um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, que havia chegado recentemente da Itália com sua esposa, Priscila, depois que Cláudio César expulsou todos os judeus de Roma. 3Paulo foi morar e trabalhar com eles, pois eram fabricantes de tendas, como ele. […] 18Paulo ainda permaneceu em Corinto por algum tempo. Então se despediu dos irmãos e foi a Cencreia, onde raspou a cabeça, de acordo com o costume judaico para marcar o fim de um voto. Em seguida, partiu de navio para a Síria, levando consigo Priscila e Áquila. 19Chegaram ao porto de Éfeso, onde Paulo os deixou. Enquanto estava ali, foi à sinagoga para debater com os judeus. 20Eles pediram que ficasse mais tempo, mas ele recusou. 21Ao despedir-se, Paulo disse: “Voltarei depois, se Deus quiser”. Então zarpou de Éfeso. 22A parada seguinte foi no porto de Cesareia, de onde subiu a Jerusalém e visitou a igreja. Em seguida, voltou para Antioquia. 23Depois de passar algum tempo ali, voltou pela Galácia e pela Frígia, visitando e fortalecendo todos os discípulos. 24Enquanto isso, chegou a Éfeso vindo de Alexandria, no Egito, um judeu chamado Apolo. Era um orador eloquente que conhecia bem as Escrituras. 25Tinha sido instruído no caminho do Senhor e ensinava a respeito de Jesus com profundo entusiasmo e exatidão, embora só conhecesse o batismo de João. 26Quando o ouviram falar corajosamente na sinagoga, Priscila e Áquila o chamaram de lado e lhe explicaram com mais exatidão o caminho de Deus. 27Apolo queria percorrer a Acaia, e os irmãos de Éfeso o incentivaram. Escreveram uma carta aos discípulos de lá, pedindo que o recebessem bem. Ao chegar, foi de grande ajuda àqueles que, pela graça, haviam crido, 28pois, em debates públicos, refutava os judeus com fortes argumentos. Usando as Escrituras, demonstrava-lhes que Jesus é o Cristo.
Na parte 1 desta mensagem nós estudamos que o objetivo da vida e do casamento – a razão de viver, não importa se solteiro ou casado, solteira ou casada, com filhos ou sem filhos, pequenos e grandes… o objetivo da vida… – é, no poder do Espírito Santo, glorificar a Deus fazendo discípulos de Jesus Cristo. É tanto que a exortação de Paulo em 1Coríntios 7.29-35 foi para que as paixões e as distrações desta vida não nos façam perder de vista essa missão: no poder do Espírito Santo, glorificar a Deus fazendo discípulos de Jesus Cristo.. Vimos isso no domingo passado.
Em que pese as dificuldades do casamento (e o quanto elas poderão nos distrair da Grande Comissão), vimos também, com base em Eclesiastes 4.9-12, que a vida conjugal servirá para que marido e mulher orem um pelo outro e mutuamente se ajudem a suportar as tribulações e a enfrentar os desafios da vida com mais força, encorajamento, apoio e esforço compartilhados no contexto da aliança do casamento.
À luz dessas considerações, nós entramos no nosso texto: Atos 18.1-3, 18-28, onde achamos um casal que está na vitrine que foi montada por Lucas (sob a inspiração do Espírito): Áquila e Priscila. Esse casal, nós dissemos, desfrutou desses quatro benefícios da vida de casados (estampados em Eclesiastes 4.9-12): esforço, apoio, encorajamento e força mútuos. Mas eles desfrutaram de mais uma coisa: ministério mútuo.
Recapitule comigo.
Áquila e Priscila nos são apresentados pela primeira vez quando o casal se juntou a Paulo durante sua segunda viagem missionária. — Você se lembra? — O apóstolo tinha acabado de chegar a Corinto. Ele estivera em Atenas, onde falou aos filósofos do Areópago. No estudo que já fizemos daquelas andanças, em nossa série no livro de Atos, aprendemos que depois de todos os seus esforços na capital intelectual do mundo greco-romano, apenas um punhado de atenienses se tornou cristão.
Abatido, Paulo deixou Atenas e foi para a capital grega do império romano: Corinto. Talvez lá ele obtivesse uma melhor resposta à sua mensagem. Mas quando chegou àquela cidade portuária tão indecente, o apóstolo se deparou com algo sem paralelo: a prostituição e a perversão abertas, a vida decadente em todas as camadas daquela sociedade. Com pouco dinheiro, sem lugar para ficar e sem amigos entre estranhos tão intimidadores, o coração de Paulo se abateu ainda mais profundamente. Anos depois, em sua carta aos coríntios, ele admitiu: 1Coríntios 2.3 — “Fui até vocês em fraqueza, atemorizado e trêmulo.” Foi àquela época, sob aquelas circunstâncias, que Paulo conheceu um nobre casal:
Atos 18.1-3 1Algum tempo depois, Paulo deixou Atenas e foi para Corinto. 2Ali encontrou um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, que havia chegado recentemente da Itália com sua esposa, Priscila, depois que Cláudio César expulsou todos os judeus de Roma. 3Paulo foi morar e trabalhar com eles, pois eram fabricantes de tendas, como ele.
Deus colocou esse casal no caminho de Paulo justamente quando o apóstolo mais precisava de gente. Isso já diz muito sobre o valor de casais e de famílias sólidas no reino de Deus, sobretudo para o cumprimento da Grande Comissão. Casas, casais, famílias estruturadas sempre foram imprescindíveis para a longa marcha da Igreja estabelecendo o reino de Deus. Por exemplo:
Filemom 1-2 1Eu, Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, escrevo esta carta, junto com nosso irmão Timóteo, a Filemom, nosso amado colaborador, 2à irmã Áfia, a Arquipo, nosso companheiro na luta, e à igreja que se reúne em sua casa [em Colosso].
2João 10-11 10Se alguém for a suas reuniões e não ensinar a verdade de Cristo, não o convidem a entrar em sua casa, nem lhe deem nenhum tipo de apoio. 11Quem apoia esse tipo de pessoa torna-se cúmplice de suas obras malignas.
Trocando em miúdos: casais, casas e famílias sempre foram o esteio da obra missionária, nascimento e fortalecimento de igrejas locais que eram e são plantadas em cumprimento à Grande Comissão.
De volta a Paulo, Áquila e Priscila. — Teria sido mera coincidência o encontro entre o apóstolo e aquele casal em Corinto? Dificilmente. Aquilo foi uma “deusicidência”, “cristocidência”; foi a mão soberana de Deus que já estava movendo as peças do tabuleiro para fazer cruzar os caminhos de Áquila e Priscila com os caminhos do apóstolo Paulo. — Você percebeu a dica de Lucas para nos fazer ver a providência de Deus em ação através da geopolítica da época? — Atos 18.2 “Áquila, natural do Ponto, que havia chegado recentemente da Itália com sua esposa, Priscila, depois que Cláudio César expulsou todos os judeus de Roma.”
Áquila e Priscila foram parar em Corinto! E devem ter se perguntado (como qualquer um perguntaria): “Por que com a gente, Senhor? Por que agora? Estamos tão bem aqui em Roma!” Eles, a princípio, não tinham respostas para essas perguntas, mas Deus sabia exatamente o que estava fazendo. A quilômetros de distância, na cidade de Corinto, haveria um missionário, um plantador de igrejas, um apóstolo que precisaria de acolhida, suporte, refúgio e refrigério. E a casa de Áquila e Priscila era o plano de Deus.
Como Paulo os conheceu? Novamente, por “cristocidência”, foi “deusicidência. Os três compartilhavam as mesmas habilidades comerciais: fabricação de tendas. Podemos até imaginar o apóstolo perambulando pelo mercado ou bazar, querendo comprar alguns suprimentos. Talvez Áquila e Priscila também estivessem lá, pechinchando com um comerciante local o preço do tecido. Aproximando-se deles, Paulo pode ter iniciado uma conversa:
Paulo: As coisas são tão caras assim por aqui? De onde eu venho é mais barato.
Áquila e Priscila: Verdade! É tudo muito caro nesta cidade.
Paulo: Na minha cidade, o mesmo material custa metade do preço.
Áquila e Priscila: De onde você é? Nós somos de Roma.
Desse ponto a conversa deve ter fluido, em instantes eles já eram amigos, e o casal gentilmente convidou Paulo para a casa deles. Atos 18.3: “Paulo foi morar e trabalhar com eles, pois eram fabricantes de tendas, como ele.”
Claro, eles poderiam muito bem ter dito a Paulo: “Bem, prazer em conhecê-lo. Esperamos que você encontre um lugar para ficar. Deus abençoe seu ministério. A gente se vê por aí. Vamos ver se combinamos alguma coisa lá em casa. Tchau.” Afinal, Áquila e Priscila precisavam trabalhar muito para ganhar a vida nessa cidade. Além do que, como eles poderiam acolher um estranho (mesmo que esse se dissesse cristão)? Ainda por cima, esse casal tinha sido expulso de sua terra natal, e já tinham problemas pessoais o bastante para resolver. Portanto, claro que um caminho mais seguro e confortável seria fechar as persianas, trancar as portas e cada um cuidar da própria vida. Por que estender a mão para alguém como Paulo, especialmente naquela situação?!
Apesar de possíveis desculpas (e até legítimas), Áquila e Priscila abriram sua casa e coração para o apóstolo. E se ainda não fossem cristãos, teria sido naquele momento que abriram a vida para receber Cristo através da mensagem de Paulo, tornando-se discípulos de Jesus. Mas a história desse casal não se encerra em Corinto. Nós lemos em Atos 18.18 o seguinte: “Paulo ainda permaneceu em Corinto por algum tempo [pouco mais de um ano e meio]. Então se despediu dos irmãos e foi a Cencreia, […] Em seguida, partiu de navio para a Síria, levando consigo Priscila e Áquila.” Que atitude tão louvável a deste casal! Você não acha? Seu desejo era que Deus os usasse onde quisesse, mesmo que isso significasse mais uma vez desenraizar a vida e se lançar no desconhecido.
Quando chegaram a Éfeso, o apóstolo partiu inesperadamente para a sua terceira viagem, deixando lá na Ásia Menor o casal romano já tão especial para ele:
Atos 18.19-23 19Chegaram ao porto de Éfeso, onde Paulo os deixou. Enquanto estava ali, foi à sinagoga para debater com os judeus. 20Eles pediram que ficasse mais tempo, mas ele recusou. 21Ao despedir-se, Paulo disse: “Voltarei depois, se Deus quiser”. Então zarpou de Éfeso. 22A parada seguinte foi no porto de Cesareia, de onde subiu a Jerusalém e visitou a igreja. Em seguida, voltou para Antioquia. 23Depois de passar algum tempo ali, voltou pela Galácia e pela Frígia, visitando e fortalecendo todos os discípulos.
Durante meses, Áquila e Priscila absorveram a mensagem e os métodos de Paulo, e agora, com Paulo ausente, era hora de aplicar todo o seu conhecimento como casal no avanço do reino de Deus, por meio da igreja local.
À medida que a igreja em Éfeso crescia sob sua liderança, Áquila e Priscila tiveram muitas oportunidades de usar seus dons espirituais. Além de pelo menos cinco dons já terem sido exercitados na vida de Paulo – estamos falando dos dons de encorajamento, socorro, fé, hospitalidade e misericórdia – , agora veremos os dons de exortação e de ensino utilizados pelo casal na vida da igreja de Éfeso e na de Apolo (o qual virá a ser um grande obreiro a serviço da igreja cristã):
Atos 18.24-25 24Enquanto isso [enquanto Paulo esteve ausente e Áquila e Priscila estavam atuando na igreja em Éfeso], chegou a Éfeso vindo de Alexandria, no Egito, um judeu chamado Apolo. Era um orador eloquente que conhecia bem as Escrituras. 25Tinha sido instruído no caminho do Senhor e ensinava a respeito de Jesus com profundo entusiasmo e exatidão, embora só conhecesse o batismo de João.
Do centro intelectual de renome mundial em Alexandria, no Egito, veio Apolo para Éfeso; e chegou tão forte, ousado e poderoso quanto seu próprio nome sugere [nome de um deus dos gregos, o segundo em importância, atrás apenas de Zeus, seu pai, na mitologia]. Em Alexandria havia uma grande comunidade judaica, foi lá que se realizaram a tradução do Antigo Testamento para o grego (a Septuaginta), lá também havia cristãos que se dispersaram após o martírio de Estevão (cf. At 8.1-3), lá era a terra do filósofo Filo (contemporâneo de Jesus, o mesmo que se debruçou sobre o relacionamento entre a fé hebraica e a filosofia grega)… pois bem, de lá era Apolo e foi lá que Apolo aprendeu tudo o que sabia – do conhecimento das professais messiânicas à arte da oratória.
Entretanto, quando Apolo começou a pregar em Éfeso, ele revelou um conhecimento incompleto de Cristo. Faltava-lhe a conexão entre a promessa messiânica do Antigo Testamento e a pessoa histórica de Jesus de Nazaré; faltava-lhe assimilar a crucificação e a ressurreição de Jesus Cristo; faltava-lhe saber que a promessa de derramamento do Espírito se cumpriu em Pentecostes. Ora, Áquila e Priscilla imediatamente perceberam essas inconsistências nos ensinos de Apolo, especialmente quando contrastados com tudo o que aprenderam de Paulo. — O que fizeram? — Em vez de se distanciarem e fazerem cara feia para Apolo, confrontá-lo publicamente ou espalharem críticas pelas costas daquele egípcio, Áquila e Priscila fizeram o que se deve fazer: versículo 26 — “Quando o ouviram falar corajosamente na sinagoga, Priscila e Áquila o chamaram de lado e lhe explicaram com mais exatidão o caminho de Deus.”
Além da nobreza estampada na atitude deste casal, o que também impressiona é que, embora Apolo tivesse todas as credenciais acadêmicas e uma eloquência invejável, ele aceitou humildemente as exortações particulares e os ensinamentos de Áquila e Priscila. O resultado foi que logo, com o total endosso de Áquila e Priscila, Apolo se sentiu pronto para se lançar na obra missionária:
Atos 18.27-28 27Apolo queria percorrer a Acaia, e os irmãos de Éfeso o incentivaram. Escreveram uma carta aos discípulos de lá, pedindo que o recebessem bem. Ao chegar, foi de grande ajuda àqueles que, pela graça, haviam crido, 28pois, em debates públicos, refutava os judeus com fortes argumentos. Usando as Escrituras, demonstrava-lhes que Jesus é o Cristo.
Mais tarde, Paulo destacou a eficácia do ministério de Apolo em Corinto, dizendo que embora ele próprio (o apóstolo) tivesse plantado a igreja, Apolo foi quem a regou:
1Coríntios 3.5-9 5Afinal, quem é Paulo? Quem é Apolo? Somos apenas servos de Deus por meio dos quais vocês vieram a crer. Cada um de nós fez o trabalho do qual o Senhor nos encarregou. 6Eu plantei e Apolo regou, mas quem fez crescer foi Deus. 7Não importa quem planta ou quem rega, mas sim Deus, que faz crescer. 8Quem planta e quem rega trabalham para o mesmo fim, e ambos serão recompensados por seu árduo trabalho. 9Pois nós somos colaboradores de Deus, e vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus.
Ora, quem diria! Apolo, lá em Corinto, foi colocado no mesmo patamar do apóstolo Paulo (e para alguns partidários mal-intencionados, até superior ao apóstolo). E o que se não pode deixar de lembrar é de que Áquila e Priscila, esse casal modelo, tiveram papel-chave na vida de Apolo.
Lucas, em Atos dos Apóstolos, deixa Áquila e Priscila em Éfeso, onde a igreja se reunia na casa deles (1Co 16.19). Mas em algum momento, mais tarde, sabemos por meio de Paulo, o casal retornou para Roma e lá foram servir na igreja local:
Romanos 16.3-5 3Deem minhas saudações a Priscila e Áquila, meus colaboradores no serviço de Cristo Jesus. 4Certa vez, eles arriscaram a vida por mim. Sou grato a eles, e também o são todas as igrejas dos gentios. 5Saúdem a igreja que se reúne na casa deles. […]
Mas Áquila e Priscila não pararam em Roma.
Perto do fim da vida de Paulo, Áquila e Priscila estavam de novo servindo em Éfeso (certamente que estavam servindo de suporte para Timóteo). Tanto que o apóstolo escreveu da cela de seu segundo e último encarceramento, lá na cidade de Roma, ao jovem pastor Timóteo, solicitando dele o seguinte: “Envie minhas saudações a Priscila e a Áquila” (2Tm 4.19a). Impressionante! Paulo carregou no coração, até o fim da vida, esse casal modelo, com o qual ele fizera amizade ainda lá nas ruas solitárias de Corinto.
Em vez de dizer que casais inteligentes enriquecem juntos, eu vim aqui nesta manhã para dizer que CASAIS INTELIGENTES SERVEM JUNTOS – no poder do Espírito Santo, casais inteligentes, juntos, buscam glorificar a Deus fazendo discípulos de Jesus Cristo. É do cumprimento dessa missão que se colherá as alegrias da vida e do casamento, tal como Cristo mesmo os idealizou.
Veja o exemplo de Áquila e Priscila, esse casal modelo: ao abrirem sua vida para o próximo, Áquila e Priscila sacrificaram a privacidade e a segurança que outros casais podem de fato ter desfrutado. Mas, em troca, eles colheram frutos de recompensas que não têm preço: ricas lembranças, amizades duradouras e benefícios eternos – os frutos de quem, juntos, servem a Deus.
Permitam-me algumas palavras de exortação para a nossa conclusão:
S.D.G. L.B.Peixoto
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Pr. Leandro B. Peixoto