04.02.2024
[Atos 20.16-21] 16Paulo havia decidido não aportar em Éfeso, pois não queria passar mais tempo na província da Ásia. Tinha pressa de chegar a Jerusalém, se possível, para a Festa de Pentecostes. 17Por isso, em Mileto, mandou chamar os presbíteros da igreja de Éfeso. 18Quando chegaram, ele lhes disse: “Vocês sabem que, desde o dia em que pisei na província da Ásia até agora, 19fiz o trabalho do Senhor humildemente e com muitas lágrimas. Suportei as provações decorrentes das intrigas dos judeus 20e jamais deixei de dizer a vocês o que precisavam ouvir, seja publicamente, seja em seus lares. 21Anunciei uma única mensagem tanto para judeus como para gregos: é necessário que se arrependam, se voltem para Deus e tenham fé em nosso Senhor Jesus.
O QUE SIGNIFICA TRABALHAR PARA DEUS? Na MasterClass de Paulo sobre liderança nós estamos aprendendo a respeito deste nobre chamado: SERVIR A DEUS. Preste atenção na primeira parte do versículo 19: “fiz o trabalho do Senhor”. Na Nova Almeida Atualizada (ARA) está assim: “servindo ao Senhor”. VEJA: a primeira coisa que Paulo quis destacar sobre o seu trabalho foi que ele estava servindo ao Senhor.
Na mensagem anterior, nós vimos que “servir ao Senhor” significa, primeiramente, entregar o coração a ele; isto é, [1.] agir com humildade, [2.] envolver-se com sensibilidade: lágrimas e [3.] estar vulnerável a muitas provações. — Testemunhou o apóstolo Paulo, versículos 18-19: “Vocês [presbítero da igreja em Éfeso] sabem que, desde o dia em que pisei na província da Ásia até agora, fiz o trabalho do Senhor humildemente e com muitas lágrimas. Suportei as provações decorrentes das intrigas dos judeus”. — Pois bem, além de humildade, lágrimas e provações, servir ao Senhor envolve outras coisas, segundo o próprio apóstolo Paulo. Veja.
4. Coragem
Servir ao Senhor envolve também coragem. Note que, tendo dito, em Atos 20.19, “fiz o trabalho do Senhor humildemente e com muitas lágrimas. Suportei as provações decorrentes das intrigas dos judeus”, Paulo complementa, no versículo 20, “e jamais deixei de dizer a vocês”. A expressão (υποστελλω), traduzida aqui como “jamais deixei”, significa encolher, retroceder, omitir ou acovardar. Paulo, portanto, está dizendo, literalmente, “jamais encolhi”, “jamais retrocedi”, significando: jamais me omiti, jamais me acovardei – jamais deixei de dizer a vocês. Note, a mesma expressão nestes outros versículos:
Atos 20.27 pois [eu, Paulo,] não deixei de anunciar tudo que Deus quer que vocês saibam [(ARA) jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio/plano de Deus].
Gálatas 2.12 No começo, quando [Pedro] chegou, ele comia com os gentios. Mais tarde, porém, quando vieram alguns amigos de Tiago, começou a se afastar [encolher, retroceder], com medo daqueles que insistiam na necessidade de circuncisão.
Hebreus 10.38 Meu justo viverá pela fé; se ele se afastar [encolher, retroceder], porém, não me agradarei dele.”
Portanto, quando você coloca Atos 20.20 junto com Atos 20.27, você descobre que há partes da palavra de Deus que são proveitosas, mas, evidentemente, não são fáceis de ensinar, tampouco de engolir. Da mesma forma que alguns remédios são bons para você, mas podem não ser fáceis de tomar, são amargos demais ou dolorosos. Veja (ARA), Atos 20.20: “jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa” e Atos 20.27 “porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus.” Ou seja: algumas doutrinas ou passagens bíblicas são proveitosas e devem ser anunciadas, mas elas não deixam de ser duras de dizer e difíceis de engolir.
O que isto significa?
Ora, um bom pastor ou presbítero, um pai, jamais decidirá sobre o que ensinar com base no que é popular ou facilmente aceito. Se faz parte do “desígnio” de Deus [se é o que Deus quer que o povo dele saiba], deve ser ensinado com graça e verdade – porque será “proveitoso”. Isso requer coragem. Também exige estudo e reflexão.
Veja Tito 1.9, onde se lê que os presbíteros devem “estar plenamente convicto[s] da mensagem fiel que lhe[s] foi ensinada, de modo que possa[m] encorajar outros [a igreja] com o verdadeiro ensino e mostrar aos que se opõem onde estão errados.”. — Se o tema for controverso e achar quem os contradizem, pastores/presbíteros (pais, inclusive) devem fazer o dever de casa e ser capazes de dar respostas bíblicas. Mas há um jeito certo de fazer isto:
2Timóteo 2.23-26 23Digo mais uma vez: não se envolva em discussões tolas e ignorantes que só servem para gerar brigas. 24O servo do Senhor não deve viver brigando, mas ser amável com todos, apto a ensinar e paciente. 25Instrua com mansidão aqueles que se opõem, na esperança de que Deus os leve ao arrependimento e, assim, conheçam a verdade. 26Então voltarão ao perfeito juízo e escaparão da armadilha do diabo, que os prendeu para fazerem o que ele quer.
Jamais recuar, jamais deixar de dizer o que precisa ser dito (At 20.20) não implica ser briguento, bruto, impaciente ou destemperado; implica ser MANSO, AMÁVEL e CORAJOSO para dizer, pregar e ensinar até mesmo o que não é popular na palavra de Deus, confiando que estudo e conhecimento suficientes – regados de oração – fornecerão respostas apropriadas àqueles que estão sendo instruídos ou confrontados com a verdade.
5. Proclamar
Servir ao Senhor significa ainda PROCLAMAR. Atos 20.20: “jamais deixei de dizer [proclamar] a vocês o que precisavam ouvir, [infelizmente, a NVT omite: ensinando] seja publicamente, seja em seus lares.” Ou seja, Paulo dizia, ele proclamava o que os efésios precisavam ouvir, e isto ele fazia também ensinando, publicamente e nos lares.
A palavra grega para “dizer” ou “anunciar” é αναγγελλω, e significa algo diferente da palavra “ensinar” que está aqui no mesmo versículo: διδάσκω. Ou seja: αναγγελλω é o que você faz quando anuncia, proclama, relata ou diz alguma coisa. Neste caso, a ênfase não recai sobre a explicação do significado ou das implicações de uma passagem das Escrituras (isto seria διδάσκω ou ensinar); a ênfase de αναγγελλω – a ênfase de quando você está anunciando, proclamando, relatando ou dizendo alguma coisa – recai na notícia ou no anúncio de um acontecimento em si, recai na notícia ou no anúncio de algum evento próximo ou da vitória que foi conquistada.
VEJA BEM: há uma diferença enorme entre explicar a alguém como jogar futebol (isto seria διδάσκω) e trazer a notícia de que o Atlético-GO venceu o Vila Nova ou o Goiás (ou vice-versa). Há uma diferença enorme entre o que o narrador ou o locutor faz durante o jogo (anunciando, proclamando, dizendo, relatando a partida; isto é αναγγελλω) e o que acontece no intervalo, quando os analistas da partida chegam com dados, estatísticas e diagramas (explicando, instruindo, esclarecendo a partida; isto é διδάσκω).
ISTO SIGNIFICA QUE há lugar e grande necessidade na igreja tanto para a proclamação como para o ensino, porque a verdade cristã não é apenas conhecimento a ser analisado e compreendido; é também uma visão da realidade que está aí para ser saboreada e desfrutada. PORTANTO, precisamos aprender as verdades bíblicas e teológicas (precisamos que as ensinem para nós, isto é διδάσκω), mas também precisamos ouvir uma espécie de anúncio da verdade das Escrituras que corresponda ao peso emocional da verdade (precisamos que digam a nós, proclamem a nós a verdade com toda a paixão, isto é αναγγελλω).
Portanto, esta é a diferença entre pregar e ensinar: [1.] quem prega diz, anuncia, proclama com exultação as implicações da palavra de Deus – é “lógica pegando fogo; é a teologia em chamas; é o raciocínio eloquente”, como dizia Martyn Lloyd-Jones; [2.] quem ensina explica com precisão e conhecimento. AGORA: nós precisamos dos dois, de preferência juntos; e isto tanto publicamente como de casa em casa. Nem todos os presbíteros precisam ser bons proclamadores ou pregadores, mas todos devem ser aptos para ensinar com paixão a palavra de Deus. Falaremos mais adiante.
6. Fazer o que é preciso ou proveitoso para a igreja
Servir a Deus significa FAZER O QUE É PROVEITOSO PARA A IGREJA. Atos 20.20: “e jamais deixei de dizer a vocês o que precisavam ouvir” ou (ARA) “jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa”.
Um bom pastor/presbítero não toma decisões a respeito do que ensinar e do que proclamar com base apenas no que ele acha mais fácil ou familiar ou popular; o bom pastor/presbítero não se pautará no que gera medo ou cobiça ou alivia a coceira dos ouvidos das pessoas (para que assim obtenha engajamento, likes, seguidores, inscritos, adeptos ou coisa do tipo; o bom pastor/presbítero pregará e ensinará o que a igreja precisa ouvir, ele anunciará e ensinará o que é proveitoso para a igreja, para que assim ele gere discípulos de Cristo.
PARA TANTO, o pastor/presbítero terá de saber o que significa o adjetivo “proveitoso” (que foi utilizado por Paulo), terá de saber discernir o que, de fato, à luz da Bíblia, as pessoas precisam ouvir. É sobre autoestima? É sobre autorrealização? É sobre autoafirmação? É sobre dinheiro? É sobre como aliviar consciências atribuladas? Enfim, sobre o que as pessoas precisam ouvir? O que é mais proveitoso para elas, À LUZ DA BÍBLIA?
Jeremias falou contra profetas e sacerdotes, denunciando que eles “Oferecem curativos superficiais para a ferida mortal do [povo de Deus]. Dão garantias de paz, quando não há paz alguma.” (Jr 6.14; 8.11). Sabe o que é pior? Além de não examinarem as necessidades das pessoas à luz da Bíblia, falsos profetas estão cauterizados. Jeremias os denunciou com estas palavras: “Acaso se envergonham de sua conduta detestável? De maneira nenhuma! Nem sabem o que é vergonha! Portanto, estarão entre os que caírem no massacre; ficarão arruinados quando eu os castigar, diz o SENHOR.” (Jr 6.15; 8.12).
Em 1908, G. K. Chesterton publicou uma coletânea de vários pequenos artigos seus, publicados em jornais; o título do livro é Todas as coisas consideradas. Um desses artigos em especial me chamaram muito a atenção: “A falácia do sucesso”. Trata-se de, veja bem você!, uma crítica aos livros de autoajuda, nas palavras de Chesterton: “São livros que mostram aos homens como ter sucesso em tudo; eles são escritos por homens que não conseguem nem mesmo ter sucesso em escrever livros.” O artigo é fenomenal, vale cada minuto de seu tempo; mas deixe-me mostrar-lhes a conclusão de Chesterton sobre esse tipo de literatura, e eu acrescentaria: de pregação também. Ouça:
Em nossa época apareceu uma classe particular de livros e artigos que, sinceramente e solenemente, acho que pode ser chamada de a mais estúpida já conhecida entre os homens. […] São livros que mostram aos homens como ter sucesso em tudo; eles são escritos por homens que não conseguem nem mesmo ter sucesso em escrever livros. […]
Esperemos, pelo menos, que todos vivamos para ver esses livros absurdos sobre o Sucesso cobertos com o devido escárnio e abandono. Eles não ensinam as pessoas a ter sucesso, mas ensinam as pessoas a serem esnobes; eles espalham uma espécie de poesia maligna do mundanismo. Os puritanos estão sempre denunciando livros que inflamam a luxúria; o que diremos dos livros que inflamam as paixões vis da avareza e do orgulho? Cem anos atrás, tínhamos o ideal do Aprendiz Industrioso; os meninos foram informados de que, com a economia e o trabalho, todos se tornariam Lord Mayors [importante CEO]. Isso era falacioso, mas era viril e tinha um mínimo de verdade moral. Em nossa sociedade, a temperança não ajuda o pobre a enriquecer, mas pode ajudá-lo a respeitar a si mesmo. O bom trabalho não o tornará um homem rico, mas o bom trabalho pode torná-lo um bom trabalhador. O Aprendiz Industrioso cresceu por virtudes poucas e estreitas, de fato, mas ainda virtudes. Mas o que diremos do evangelho pregado ao novo Aprendiz diligente; o Aprendiz que se eleva não por suas virtudes, mas declaradamente por seus vícios?
Sim, meu povo, eu sei!, os objetivos são a paz e o lucro, mas a paz e o lucro eternos, não a paz e o lucro temporários. Esta, pois, é a pergunta constante dos pastores/presbíteros (e pais) que são fiéis à Bíblia: “O que fará bem eterno ao povo?” É com esse foco que nós buscamos fazer o que é preciso ou proveitoso para a igreja.
Continua na próxima mensagem…
S.D.G. L.B.Peixoto
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