19.05.2024
Atos 21.1-14 (NVT)
1Depois de nos despedirmos, navegamos em direção à ilha de Cós. No dia seguinte, chegamos a Rodes e, então, a Pátara. 2Ali, embarcamos num navio que partia para a Fenícia. 3Avistamos a ilha de Chipre, passamos por ela à nossa esquerda e aportamos em Tiro, na Síria, onde o navio deixaria sua carga.
4No desembarque, encontramos os discípulos que ali viviam e ficamos com eles por uma semana. Pelo Espírito, eles advertiam Paulo de que não fosse a Jerusalém. 5Ao fim de nosso tempo ali, voltamos ao navio, e toda a congregação, incluindo mulheres e crianças, saiu da cidade e nos acompanhou até a praia. Ali nos ajoelhamos, oramos 6e nos despedimos. Então subimos a bordo, e eles voltaram para casa.
7Depois que partimos de Tiro, chegamos a Ptolemaida, onde saudamos os irmãos e passamos um dia. 8No dia seguinte, prosseguimos para Cesareia e nos hospedamos na casa de Filipe, o evangelista, um dos sete que tinham servido na igreja em Jerusalém. 9Ele tinha quatro filhas solteiras que profetizavam.
10Muitos dias depois, chegou da Judeia um profeta chamado Ágabo. 11Ele veio ao nosso encontro, tomou o cinto de Paulo e com ele amarrou os próprios pés e as mãos. Em seguida, disse: “O Espírito Santo declara: ‘Assim o dono deste cinto será amarrado pelos judeus, em Jerusalém, e entregue aos gentios’”. 12Ao ouvir isso, nós e os irmãos dali suplicamos a Paulo que não fosse a Jerusalém.
13Ele, porém, disse: “Por que todo esse choro? Assim vocês me partem o coração! Estou pronto não apenas para ser preso em Jerusalém, mas para morrer pelo Senhor Jesus”. 14Quando ficou evidente que não conseguiríamos fazê-lo mudar de ideia, desistimos e dissemos: “Que seja feita a vontade do Senhor”.
Você já teve a chance de visitar uma casa antiga abandonada ou um castelo lá do século XI ou XII que não é mais habitado? Já pisou os pés em alguma ruína antiga? Já adentrou nalgum templo ou igreja histórica? E sítio arqueológico? Cidade abandonada, já visitou alguma? Qual é a sensação, gente? Quem já teve a oportunidade sabe muito bem, essa experiência evoca imagens de mistério. Faz a gente imaginar histórias. É um momento mágico. — Sabe por que é assim tão fascinante? — Esses locais muito antigos e abandonados são um recorte do tempo, uma cena congelada que permite ao presente invadir, de repente, o passado. Uma vez lá dentro, o local desperta a imaginação e incentiva a especulação da gente sobre as pessoas que as construíram e suas vidas lá dentro. A gente fica tentando decifrar os segredos que essas ruínas antigas trazem guardados ao longo das centenas e centenas, até milhares de anos. É uma experiência maravilhosa!
Atos dos Apóstolos é um desses castelos antigos, edificado (= escrito) ainda no primeiro século depois de Cristo, por volta do ano 62. Os corredores dessa história são de tirar o fôlego. Através deles nós trilhamos o avanço da infante igreja de Cristo, principalmente por meio dos esforços de Pedro e de Paulo (claro, ao lado de outras figuras indispensáveis, por exemplo, Barnabé, João Marcos, Filipe, Estêvão, Lídia, Timóteo, Tito, Lucas, Apolo, Priscila e Áquila, etc.). Lucas, o autor, nos guia e nos mostra o avanço da Grande Comissão de Jesus (Mt 28.18-20), exatamente como o próprio Senhor determinou que fosse (At 1.8), começando em Jerusalém (At 1–8), alastrando-se pela Judeia e Samaria (At 8–12), até chegar aos lugares mais distantes da terra (At 13–28). Os corredores dessa história nos conduzem a locais fascinantes, revelando-nos o poder que o Espírito Santo concedeu à igreja para o cumprimento de sua tarefa.
À partir de Atos 13 nós somos conduzidos através dos corredores das três viagens missionárias de Paulo, as quais contribuíram para que o evangelho de Cristo chegasse, dentre outras localidades, à Ásia Menor, Galácia e Macedônia (que está localizada na Europa) – ou seja, do Oriente ao Ocidente. O último salão que nós visitamos neste belíssimo castelo, dele nós saímos na semana passada, quando encerramos os estudos no discurso de despedida de Paulo aos presbíteros de Éfeso (na Ásia Menor), em Mileto. Em Atos 21 nós entramos no último corredor, para seguirmos a última jornada de Paulo que está registrada no Novo Testamento.
Com efeito, estamos iniciando os últimos dez anos de vida do grande apóstolo Paulo. Ele, com mais ou menos 55 anos, será preso aqui em Atos 21 (c. 55 d.C.), será levado sob custódia para Roma (a viagem durará, ao todo, aproximadamente três anos, c. 55-58 d.C.) e lá ficará preso por dois anos (At 28.30; c. 58-60 d.C.). Será solto em 60 d.C. Depois disso, segundo a tradição cristã e alguns relatos históricos, após sua libertação, Paulo pode ter continuado seu trabalho missionário. Há sugestões de que ele tenha feito viagens missionárias posteriores, possivelmente para lugares como Espanha ou outras regiões (o que alguns chamam de 4ª viagem missionária; será nesse período – entre 60-66 d.C. que Paulo escreverá 1Timóteo e Tito). No entanto, essas informações – a respeito das viagens de Paulo – não são mencionadas no Novo Testamento.
Roma será incendiada em 64 d.C. e Nero ficará furioso com os cristãos. Isso contribuirá bastante para que Paulo seja preso pela segunda vez, em Roma (de onde ele escreverá 2Timóteo, em c. De 66 d.C.). Dessa vez, o apóstolo não escapará da prisão. Será morto entre 66-67 d.C. (com 66-67 anos de idade). Portanto, o que temos aqui – a partir de Atos 21 – é com toda certeza o início do capítulo final da longa e influente vida de Paulo. Paulo terá apenas dez anos a mais para viver para Cristo.
Como você viveria os dez anos finais de sua vida? Você tem mais dez anos para viver? Mais de dez? Quantos anos mais você tem pela frente? 80? Não importa. O cristão deve viver cada dia como se fosse o último. Afinal, como escreveu o apóstolo,
Tiago 4.14-17 (NVT)
14Como sabem o que será de sua vida amanhã? A vida é como a névoa ao amanhecer: aparece por um pouco e logo se dissipa. 15O que devem dizer é: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isso ou aquilo”. 16Caso contrário, estarão se orgulhando de seus planos pretensiosos, e toda presunção como essa é maligna.
17Lembrem-se de que é pecado saber o que devem fazer e não fazê-lo.
Tiago está dizendo que é pecado viver como quem pensa ter controle do amanhã. Isso é orgulho. Pretenção. Presunção. E isso é do diabo. Mas também é pecado viver sem fazer aquilo que se deve fazer. É pecado fazer o que não se deve fazer (= pecado de comissão ou pecado de cometimento) e é pecado não fazer o que se deve fazer (= pecado de omissão). No contexto da carta de Tiago, é pecado fazer de sua vida algo que é seu, só seu; viver apenas para você mesmo e como se você não dependesse de Deus; viver como quem presume ter todo o controle da vida e de tudo. Mas é também pecado não fazer de sua vida o que você deve fazer, é pecado não praticar o amor cristão, é pecado confessar Cristo sem praticar obras de amor, principalmente: é pecado se omitir de compartilhar o evangelho e de fazer discípulos de Cristo.
Portanto, o que passaremos a estudar – de Atos 21 até o final do livro, isto é, as cenas inspiradas por Deus da última jornada do grande apóstolo Paulo – é para servir tanto de parâmetro como de fonte de poder para você viver cada dia de sua vida, até seu último suspiro. Minha oração é que o Espírito Santo use os sermões nestes oito últimos capítulos de Atos dos Apóstolos para calibrar as ambições do seu coração – focando-o na grande e mais importante tarefa que todos nós temos, que é a de fazer discípulos e edificar a igreja de Cristo – não importa qual seja a sua vocação, se pastor ou porteiro, missionário ou médico, todos nós temos o chamado para cumprir a Grande Comissão.
Quando Paulo estava preso em Roma, durante os dois anos que ele passou na primeira prisão (que está relatado em Atos 28.30), ele escreveu as que ficaram conhecidas como “Epístolas da Prisão”, são elas: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom. Se você as ler, tendo em mente todo o itinerário e os acontecimentos da vida de Paulo, narrados em Atos, você achará nessas cartas da prisão as reflexões do apóstolo mesmo a respeito de como ele viveu e para o que ele viveu – qual foi o fim para o qual Paulo viveu – tanto os seus anos como missionário, durante as três viagens missionárias (Atos 13–20) como a jornada sob custódia dos romanos, de Jerusalém até Roma (Atos 21–28).
Para mim, dois trechos em particular resumirão que a missão de Paulo foi [1.] fazer discípulos (o trecho extraído de Filipenses) e [2.] edificar a igreja de Cristo (o trecho extraído de Efésios), custasse o que custasse. E sabemos que lhe custou a própria vida.
Filipenses 1.21-25 (NVT) [Paulo viveu para Cristo, fazendo discípulos]
21Pois, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. 22Mas, se continuar vivo, posso trabalhar e produzir fruto para Cristo. Na verdade, não sei o que escolher. 23Estou dividido entre os dois desejos: quero partir e estar com Cristo, o que me seria muitíssimo melhor. 24Contudo, por causa de vocês, é mais importante que eu continue a viver.
25Ciente disso, estou certo de que continuarei vivo para ajudar todos vocês a crescer na fé e experimentar a alegria que ela traz.
Efésios 3.6-7 (NVT) [Paulo viveu para Cristo, edificando a igreja de Cristo]
6E este é o segredo revelado: tanto os gentios como os judeus que creem nas boas-novas participam igualmente das riquezas herdadas pelos filhos de Deus. Ambos são membros do mesmo corpo e desfrutam a promessa em Cristo Jesus. 7Pela graça e pelo grande poder de Deus, recebi o privilégio de servir anunciando essas boas-novas.
Então, do que você precisa para viver a vida cristã tal como ela deve ser vivida? Do que você precisa para fazer discípulos e edificar a igreja de Cristo?
Voltemos nossa atenção para o nosso texto: Atos 21.1-14. Aprenderemos nesta manhã que a primeira coisa indispensável para se fazer discípulos e se edificar a igreja de Cristo é esta: CORAGEM, coragem para sustentar sua convicção.
O primeiro grande obstáculo do apóstolo Paulo – durante a sua última jornada – não foi algo de que nós não tenhamos conhecimento, por experiência própria. Estamos falando de “conflito de narrativas”. — Bem, mas o que é o conflito de narrativas? É quando diferentes versões ou interpretações de uma atitude, fala, verdade, evento, história ou questão entram em confronto. Isso pode acontecer em diversos contextos, incluindo religião, política, história, relações interpessoais, mídia e cultura.
O conflito de narrativas surge quando as partes envolvidas têm perspectivas divergentes – fazem interpretações diferentes – sobre os fatos, causas, motivações ou significados de determinada afirmação, revelação, evento ou situação. Cada parte pode ter sua própria narrativa, moldada por medos, crenças, valores, interesses e experiências pessoais. Por exemplo: a mídia solta uma notícia, ainda que notícia verdadeira, apenas narrando os fatos sem qualquer partido ideológico ou jogo de interesse; na sequência, pessoas diferentes entram em contato com a revelação que foi feita, e cada uma tira sua própria conclusão, conflitando umas com as outras. Isso é conflito de narrativas.
1. A Convicção do apóstolo Paulo
No caso do apóstolo Paulo, o conflito de narrativas não veio por causa de notícia da mídia nem partiu de inimigos ou algozes, o que tornou o caso ainda mais difícil. As diferentes opiniões a respeito do futuro de Paulo partiram dele mesmo, de discípulos de Cristo que o amavam, de um profeta que também o queria bem, do próprio Lucas, de outros do time missionário que o acompanhavam e de alguns outros cristãos.
Já fazia tempo que Paulo tinha discernido a necessidade de ele mesmo se envolver com a situação dos crentes em Jerusalém. Ágabo, um profeta que aparece de novo aqui em Atos 21.10, havia profetizado a respeito de uma grande fome que viria sobre todo o mundo romano. Ora, então os discípulos de Antioquia decidiram enviar uma ajuda aos irmãos na Judeia, cada um de acordo com as suas possibilidades. Foi o que fizeram, enviando as doações aos presbíteros de Jerusalém por meio de Barnabé e Saulo. Lemos sobre esse fato lá em Atos 11.28-30. Desde então, o apóstolo Paulo se viu comovido pelo estado carente daqueles discípulos de Cristo. Como se não bastasse a fome generalizada e a crise que pairava sobre todos, indistintamente, o estado dos judeus convertidos ao cristianismo era ainda mais grave que o dos demais, posto que, por professarem a fé em Cristo, eles perdiam o poder de compra e venda na sociedade.
Além da miséria financeira, havia outro problema gravíssimo. O risco de cisma entre a igreja cristã de judeus, em Jerusalém, e as igrejas cristãs de gentios, lá nos lugares mais distantes da terra. Sim, o problema havia, em teoria, sido resolvido com o Concílio de Jerusalém, em Atos 15. Oficialmente, não se exigiria dos cristãos gentios convertidos que eles acrescentassem à fé somente em Cristo os pré-requisitos da lei cerimonial dos judeus como necessários para a salvação. De jeito nenhum! A salvação, tanto para judeus como para gentios, se dá somente pela graça e somente pela fé em Cristo. Portanto, gentios convertidos a Cristo não precisariam ser circuncidados nem praticar outras coisas mais, relativo às leis cerimoniais de Moisés.
Por outro lado, nunca se disse que os judeus cristãos não poderiam mais circuncidar seus filhos nem praticar qualquer dieta nem participar de qualquer cerimônia que fossem características da nacionalidade judaica, a qual, você deve se lembrar, emergiu da lei de Moisés. Portanto, judeus convertidos poderiam continuar circuncidando seus filhos, abstendo-se de comidas tidas como impuras para eles e até participando de cerimônias judaicas, SALVO QUE esses costumes, rituais ou cerimônias, jejuns, essas práticas, abstinências, festividades e outros NÃO FOSSEM TOMADOS COMO ESSENCIAIS para a salvação. Afinal, tanto judeus como gentios são salvos do mesmo jeito: somente pela graça e somente pela fé em Jesus Cristo. Ponto final.
Pois bem, ocorre que os judeus, mesmo alguns judeus crentes (e principalmente esses, chamados de judaizantes), nunca engoliram essa história de que gentios convertidos a Cristo não precisavam passar pelos mesmos ritos e realizar as mesmas práticas dos judeus. Na cabeça deles, o maior inimigo desse cristianismo deles (judaizado, farisaico) era o apóstolo Paulo, que, conforme eles julgavam, ficava espalhando essa doutrina contrária à lei de Moisés. Ora, era tudo mentira! PAULO NUNCA pregou contra as práticas judaicas em si, desde que representassem apenas costumes nacionais (para os judeus apenas; é tão verdade que ele circuncidou Timóteo, de avó e mãe judias, At 16.3). O QUE PAULO FEZ realmente, e isto ele fez com a devida veemência, foi pregar contra a necessidade de se observar a lei de Moisés como condição – ao lado da fé em Cristo – para a salvação de judeus e de gentios (foi por isso que ele não circuncidou Tito, que não tinha ascendência judaica, Gl 2.1-4, e que alguns sustentam ser irmão de Lucas).
Essa coisas todas fervilhavam em Jerusalém. Lá também havia um enorme grande conflito de narrativas. E muitas fake new (como se verá à partir de Atos 21.15ss.). Uns liam a carta aos Gálatas, por exemplo, e diziam: “Tá vendo! Paulo está acabando com a lei de Moisés!”; por outro lado, outros diziam: “Não é nada disso!”. Enfim, Paulo sabia que o fogo estava muito alto e que essa panela de pressão poderia estourar, jogando pedaços da igreja de Cristo para todo lado, logo no berço do cristianismo: Jerusalém.
O que ele fez?
Uniu o útil ao agradável.
Paulo planejou colher ofertas entre as igrejas dos gentios, para abençoar os crentes judeus que estavam em grande necessidade financeira; e levaria consigo representantes de algumas das principais regiões e igrejas dos gentios (At 20.4), demonstrando aos crentes judeus – e também entregando a eles – os frutos colhidos entre os gentios. Paulo queria sanar o cisma, antes de prosseguir para os confins da terra (Rm 15.25-29).
Para o apóstolo, de que adiantaria seguir com a missão aos gentios sem tentar, no que dependesse dele (Rm 12.18), manter a paz com todos e, principalmente, entre os crentes judeus e os crentes gentios no corpo de Cristo?
Continua na próxima mensagem: CONVICÇÃO.
S.D.G. L.B.Peixoto
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