24.11.2024
Êxodo 32.1-35 (NVT)
1Quando o povo viu que Moisés demorava a descer do monte, reuniu-se ao redor de Arão e disse: “Tome uma providência! Faça para nós deuses que nos guiem. Não sabemos o que aconteceu com esse Moisés, que nos trouxe da terra do Egito para cá”. […]
Um ídolo pode ter um impacto devastador na vida de uma pessoa. Mas o que é, afinal, um ídolo? Já parou para pensar se você tem ídolos? Ou, pior, se os adora?
David Powlison, em Uma Nova Visão: O Aconselhamento e a Condição Humana Através das Lentes das Escrituras, define idolatria como “qualquer coisa que governa e motiva o coração em lugar de Deus”. Um ídolo é um falso deus. Ele rouba o espaço que pertence somente ao Criador. Por isso, até mesmo ateus têm seus ídolos. Esses não se limitam a estátuas ou deuses pagãos. Podem ser desejos e ambições que, quando colocados acima de Deus, passam a dominar pensamentos, emoções e ações. Eles tomam o lugar que só Deus deveria ocupar no coração humano.
Edward T. Welch, em Hábitos Escravizadores: Encontrando Esperança no Poder do Evangelho, define idolatria de forma semelhante: “É qualquer coisa que seja mais importante do que Deus para o seu coração. É aquilo que controla seus desejos, controla sua vida.” Welch nos lembra que os ídolos prometem muito — satisfação, segurança, significado. Mas essas promessas são vazias. Em vez de libertar, eles escravizam. Ídolos não entregam o que prometem. Só Deus pode satisfazer plenamente o coração humano.
Quem pode negar o rastro de destruição deixado pelos ídolos que escravizam o coração e controlam vidas? Em nossa sociedade moderna, os ídolos não são apenas estátuas visíveis; eles são invisíveis, mas igualmente poderosos. Prometem segurança, propósito e satisfação, mas entregam escravidão, desespero e vazio.
O dinheiro e os bens materiais são exemplos claros. O materialismo sussurra promessas de felicidade e significado, mas se revela um senhor cruel, exigindo sempre mais, sem nunca satisfazer. O status e a carreira, que parecem metas nobres, rapidamente se tornam altares onde se sacrificam saúde, família e paz interior. O prazer e o entretenimento seduzem com promessas de alegria e alívio, mas prendem você em ciclos intermináveis de insatisfação. Até mesmo dádivas preciosas, como relacionamentos amorosos, filhos ou família, podem se tornar ídolos. Quando colocados acima de Deus, geram expectativas impossíveis e frustrações inevitáveis.
Como definiu David Powlison, um ídolo é “qualquer coisa que governa e motiva o coração no lugar de Deus”. Com essas lentes, enxergamos que obsessões modernas também são formas de idolatria. Aparência física, perfeccionismo, tecnologia, redes sociais, comida e bebida, marcas – tudo isso promete preencher um vazio, mas nunca cumpre. São senhores que controlam seus desejos e moldam sua vida.
Considere ainda a obsessão por ordem e limpeza. Quando a organização e o controle pessoal se tornam deuses, exigem sacrifícios incessantes, roubando sua paz e liberdade. Esses ídolos escravizam porque não podem oferecer o que prometem. Somente Deus pode preencher o vazio no coração humano e dar a verdadeira liberdade.
E as ideologias políticas? Sim, elas também se tornam ídolos. Cada uma promete redenção, justiça e um mundo melhor, mas colocam uma visão limitada da realidade no lugar do Deus soberano. No fim, oferecem falsas esperanças e exigem devoção que deveria ser exclusiva do Criador. Considere alguns exemplos.
O nacionalismo idolatra a identidade nacional. Ele trata a pátria como sagrada, esperando dela segurança, significado, identidade e propósito. Como escreveu o almirante britânico Stephen Decatur (1779–1820): “Minha pátria, certa ou errada!” — um grito de lealdade cega que justifica qualquer ato em nome da nação. O resultado? Uma fé equivocada em algo que nunca poderá salvar.
O anarquismo idolatra a liberdade. Ele exalta a ausência de autoridade como o bem supremo, ignorando a necessidade de ordem moral e a soberania divina. Seu lema, “Nem Deus, nem mestre!”, resume a rejeição de qualquer autoridade — até mesmo a de Deus. Mas a liberdade sem verdade é uma prisão disfarçada.
O socialismo, por sua vez, idolatra a igualdade e o bem-estar coletivo. Ele propõe metas redentoras, como a famosa frase de Marx: “De cada um, segundo sua capacidade; a cada um, segundo sua necessidade.” Mas ignora a realidade do pecado humano. A utopia prometida esbarra na incapacidade do coração humano de viver em perfeita justiça sem a intervenção do Deus justo e soberano.
Essas ideologias, como quaisquer ídolos ou falsos deuses, prometem mais do que podem cumprir. Somente Deus é capaz de trazer redenção verdadeira, justiça plena e o mundo restaurado que tanto ansiamos.
O sociólogo cultural e crítico social cristão Os Guinness, em seu livro No God but God: Breaking with the Idols of Our Age (Nenhum Deus além de Deus: Rompendo com os Ídolos de Nosso Tempo), faz um alerta profundo: a idolatria — que é o pecado mais amplamente combatido nas Escrituras — não está limitada a objetos visíveis ou ideias seculares. Ela permeia até mesmo sistemas religiosos e econômicos, infiltrando-se na sociedade e nos corações humanos.
O teocracismo islâmico exemplifica essa idolatria, misturando espiritualidade e política de forma a substituir a vontade de Deus por interpretações humanas. Líderes religiosos ou instituições tornam-se objetos de adoração, usurpando o lugar de Deus. No extremo oposto, o capitalismo radical idolatra o lucro e o mercado, ignorando questões éticas e o valor intrínseco da pessoa humana. E o fascismo, com sua exaltação de líderes políticos como salvadores absolutos, transforma o Estado em uma entidade divina.
Até mesmo práticas religiosas podem cair na armadilha da idolatria. O legalismo idolatra regras e rituais, sufocando as pessoas com cargas que Deus nunca colocou sobre elas e descartando a graça que ele oferece. O ecumenismo absoluto, por sua vez, idolatra a unidade a qualquer custo, comprometendo a verdade da fé para alcançar uma paz ilusória. Ah! No extremo oposto do legalismo está uma idolatria igualmente perigosa: o antinomianismo. Trata-se da rejeição da lei de Deus sob a falsa premissa de que a graça permite viver sem limites. Nesse contexto, a “livre graça” é distorcida, deixando de ser a expressão da bondade de Deus para se tornar um pretexto egoísta, usado para justificar desejos pessoais e uma vida sem compromisso com a santidade.
Essa visão não apenas empobrece a profundidade do evangelho, mas também trai seu propósito essencial: reconciliar-nos com Deus e nos transformar à imagem de Cristo. A verdadeira graça não liberta para o pecado; ela nos liberta do pecado, capacitando-nos a viver de forma que honre a Deus. Quando colocamos uma ideia distorcida de graça no lugar do Deus verdadeiro, tornamo-la um ídolo, esquecendo que a graça jamais está separada da verdade e da santidade divina.
Esses ídolos — sejam religiosos, econômicos ou políticos — são máscaras de falsas promessas. Usurpam o lugar que pertence somente a Deus, mas nunca cumprem o que oferecem. Somente o Deus verdadeiro pode dar liberdade, graça e justiça perfeitas.
Não faltam ídolos em nossa vida. João Calvino cunhou a célebre frase: “A imaginação do homem é, por assim dizer, uma perpétua forja de ídolos” (Institutas 1.11.8.2). Ele explica que o ser humano tenta representar Deus com aquilo que imagina. Primeiro, a mente cria o ídolo; depois, as mãos o produzem, seja como estátuas, comportamentos ou sistemas políticos e sociais. Assim surge a idolatria: as pessoas não conseguem crer que Deus está presente sem algo visível ou que esteja acontecendo diante de nossos olhos carnais.
É essa inquietação humana que leva à criação de representações que refletem mais as características humanas do que as divinas. Esses ídolos, concebidos para consolar ou trazer segurança, são enganos. Isso não é de hoje. Ao longo da história, em quase todas as culturas, as pessoas fabricaram ídolos e imagens, acreditando que aproximavam Deus de si, mas isso não passa de uma ilusão.
A verdade é que ídolos são senhores tiranos. Prometem satisfação, mas entregam escravidão. Usurpam o trono de Deus no coração humano, mas não podem preenchê-lo. Somente Deus pode saciar o vazio da alma. Ele não compartilha sua glória com ídolos, porque apenas ele oferece redenção, liberdade e amor inabalável. A verdadeira libertação ocorre quando abandonamos esses deuses falsos e nos voltamos ao único Deus verdadeiro, cuja graça redime, verdade liberta e amor nunca falha.
Essa reflexão é crucial, pois, ao nos considerarmos modernos e distantes do paganismo que se prostra diante de um bezerro de ouro, frequentemente ignoramos a profunda verdade de Êxodo 32. E, se há uma lição clara nesta passagem, é que Deus é iconoclasta: Ele rejeita qualquer tentativa de reduzir sua glória infinita a representações humanas, sejam elas físicas, religiosas, psicológicas ou ideológicas.
Aliás, você sabe o que significa o termo iconoclasta? Ele vem do grego: eikón (imagem) + klastós (quebrar), e pode ser traduzido assim, literalmente, como “quebrador de imagens”. Mas por que Deus seria um quebrador de imagens? Porque ele odeia a mentira, rejeita a ilusão e destrói tudo o que não reflete a verdade. Deus é, em sua essência, a própria Verdade. Por isso, ele não tolera que sua glória seja distorcida ou substituída por qualquer representação criada. Isso nos traz ao texto bíblico de hoje à noite.
Esta passagem nos leva a refletir sobre o rigor com que Deus trata a idolatria. Estamos em Êxodo, um livro que narra a redenção de Israel e continua a história iniciada em Gênesis. Nela, vemos como Deus, em Sua santidade e justiça, confronta tudo o que desvia o coração humano de Sua glória e verdade. E Ele faz isso para o bem do Seu povo, protegendo-o da escravidão espiritual que os ídolos sempre trazem.
Panorama do Livro de Êxodo
Nos capítulos iniciais de Êxodo (1–2), vemos a preparação de Moisés como o mediador escolhido por Deus. Enquanto o povo de Israel sofria em escravidão, clamando em sua aflição, vivendo entre os deuses, atolado na idolatria do Egito, Deus ouviu suas súplicas e, em sua providência, preparou Moisés para conduzir o plano de libertação.
Nos capítulos 3 e 4, encontramos o chamado de Moisés. Enquanto cuidava das ovelhas de seu sogro no deserto, ele teve um encontro extraordinário com Deus na sarça ardente. Ali, Deus o comissionou a voltar ao Egito para libertar seu povo da escravidão. Apesar das dúvidas e objeções de Moisés, Deus assegurou que estaria com ele e o capacitava para a missão. Com isso, Moisés partiu em obediência.
Nos capítulos 5 a 7, Moisés confrontou o faraó, exigindo a libertação de Israel. No entanto, enfrentou a teimosia e resistência de um governante arrogante, que desafiou tanto Moisés quanto Deus. Em meio à frustração, Moisés começou a questionar sua eficácia e até mesmo o plano divino. Mas Deus reafirmou suas promessas, demonstrando que é fiel e cumpriria sua palavra, independentemente da oposição humana.
Do capítulo 8 ao 11 de Êxodo, vemos a humilhação de Faraó e do Egito por meio de uma série de pragas que confrontaram diretamente os deuses egípcios e revelaram o poder soberano do Deus de Israel. Ele poderia ter libertado Israel de imediato, mas optou por demonstrar ao mundo que ele é o único Deus verdadeiro, mesmo diante da obstinação de faraó.
A narrativa avança em Êxodo 12–13 com a instituição da Páscoa, um marco decisivo no livro. Após nove pragas, faraó permanecia com o coração endurecido, e Deus anuncia a décima: a morte dos primogênitos egípcios. Contudo, Deus protegeu seu povo, todos os que se colocaram sob o sangue dos cordeiros imolados por cada família. O sangue, aspergido nos umbrais das portas, tornou-se o sinal de livramento, enquanto o anjo da morte passava sobre as casas. Assim, a Páscoa foi estabelecida como um símbolo eterno da salvação providenciada pelo SENHOR, apontando para a redenção definitiva pelo sangue de Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
No clímax da redenção, Êxodo 14–15 relata a travessia do mar Vermelho. Encurralados pelo exército de Faraó, os israelitas testemunharam Deus abrir o mar, permitindo sua passagem e destruindo os inimigos. O povo celebrou essa vitória no primeiro cântico de louvor registrado na Bíblia, mas a narrativa logo aponta para novas dificuldades, como as águas amargas no deserto.
Nos capítulos 16–18, o povo começou a murmurar em meio às adversidades da jornada. A falta de água, pão e carne revelou sua fragilidade espiritual e necessidade de total dependência de Deus. Moisés, como líder e intercessor, enfrentou constantes desafios, incluindo a batalha contra os amalequitas. Nesse contexto, ele aprendeu a importância de delegar responsabilidades por meio do conselho sábio de seu sogro, Jetro, fortalecendo a liderança no meio do povo.
Ao chegar ao Sinai (Êxodo 19–20), Deus entregou os Dez Mandamentos em meio a uma manifestação extraordinária, com relâmpagos, trovões e fumaça no monte. Apenas três meses após o Êxodo, Moisés recebeu a lei moral diretamente do SENHOR, gravada em tábuas de pedra, como guia para o povo de Israel.
Nos capítulos 21–24, Deus apresentou a lei civil, fornecendo instruções detalhadas sobre responsabilidades sociais, justiça e questões práticas, enquanto reafirmava suas promessas de conduzir Israel à terra de Canaã, a terra que mana leite e mel.
Do capítulo 25 ao 28, Deus instruiu Moisés sobre a construção do tabernáculo, o centro de adoração no deserto — o lugar para tipificar a presença de Deus entre o povo. Cada detalhe do tabernáculo apontava para a redenção futura em Cristo, pois, como está escrito: “Sem derramamento de sangue não há remissão de pecados” (Hb 9.22).
Em Êxodo 29–31, somos apresentados ao sacerdócio. As vestes sacerdotais, a unção e os sacrifícios eram elementos essenciais para mediar a relação entre Deus e seu povo, prefigurando a obra de Cristo como o Sumo Sacerdote perfeito (Hb 2.17).
Qual é o propósito de tudo isso? O próprio Deus responde em Êxodo 9.16: Ele agiu para demonstrar seu poder e proclamar seu nome em toda a terra. Deus não divide sua glória com ninguém. Ele é o grande Iconoclasta, quebrando tudo que tenta usurpar seu lugar. E ele faz isso para a sua glória, e para o nosso bem, pois somente em Deus encontramos verdadeira vida, liberdade e redenção.
Êxodo 32 marca um interlúdio crucial entre os planos para o tabernáculo (25–31) e sua construção (33–40). Nesse episódio, Arão, irmão de Moisés, cede à pressão do povo e ordena a confecção de um bezerro de ouro, uma representação de um antigo deus pagão do Egito. Este ato é uma flagrante violação dos mandamentos divinos, um choque frontal com o desdobramento do livro até este ponto da narrativa, demonstrando a fragilidade espiritual do povo de Israel.
Ao tomar conhecimento disso, Moisés desce do monte Sinai e, em uma demonstração de indignação santa, quebra as tábuas contendo os Dez Mandamentos e destrói o ídolo, queimando-o e reduzindo-o a pó. Nesse momento, Moisés assume um papel ampliado: além de ser a voz de Deus para o povo, torna-se também a voz do povo diante de Deus. Ele não é apenas um resgatador ou um profeta, mas agora também um mediador, intercedendo em favor de Israel e implorando pela misericórdia divina. Este episódio ressalta tanto a seriedade da idolatria quanto a necessidade de um mediador entre Deus e o homem, apontando para a obra de Cristo, o mediador perfeito.
A fórmula da idolatria
Note, em nosso texto, que a idolatria é fruto de um conjunto de fatores interligados. Ela surge não necessariamente nesta ordem cronológica, mas ela surge assim:
Esses fatores demonstram que a idolatria não é apenas uma questão de construir imagens, mas de um coração afastado de Deus, buscando segurança, identidade e propósito fora d’Ele, com as próprias mãos. É um pecado que começa na mente e no coração, manifestando-se em ações de desobediência flagrante à palavra de Deus — Êxodo 20.4-5 (NVT): “Não faça para si espécie alguma de ídolo ou imagem de qualquer coisa no céu, na terra ou no mar. Não se curve diante deles nem os adore, pois eu, o SENHOR, seu Deus, sou um Deus zeloso.”
Agora, leia o texto e observe o que esse povo incrédulo e impaciente (v. 1) foi capaz de fazer: esqueceram-se da graça de Deus (v. 2), usaram seus dons e bens para o pecado (vs. 3-4), distorceram a adoração (vs. 5-6) e desprezaram a redenção recebida, trocando-a, em flagrante desobediência, por substitutos inferiores (vs. 7-8).
Êxodo 32.1-8 (NVT)
1Quando o povo viu que Moisés demorava a descer do monte, reuniu-se ao redor de Arão e disse: “Tome uma providência! Faça para nós deuses que nos guiem. Não sabemos o que aconteceu com esse Moisés, que nos trouxe da terra do Egito para cá”.
2Arão respondeu: “Tirem as argolas de ouro das orelhas de suas mulheres e de seus filhos e filhas e tragam-nas para mim”.
3Todos tiraram as argolas de ouro e as levaram a Arão. 4Ele recebeu o ouro, derreteu-o e trabalhou nele, dando-lhe a forma de um bezerro. Quando o povo viu o bezerro, começou a exclamar: “Ó Israel, estes são os seus deuses que o tiraram da terra do Egito!”.
5Percebendo o entusiasmo do povo, Arão construiu um altar diante do bezerro e anunciou: “Amanhã haverá uma festa para o Senhor!”.
6Na manhã seguinte, o povo se levantou cedo para apresentar holocaustos e ofertas de paz. Depois, todos comeram e beberam e se entregaram à farra.
7O Senhor disse a Moisés: “Rápido! Desça do monte! Seu povo, que você tirou da terra do Egito, se corrompeu. 8Como se desviaram depressa do caminho que eu lhes havia ordenado! Derreteram ouro e fizeram um bezerro, curvaram-se diante dele e lhe ofereceram sacrifícios. Dizem: ‘Ó Israel, estes são os seus deuses que o tiraram da terra do Egito!’ ”.
A necessidade de um mediador
A justa ira do SENHOR contra a nação idólatra, que violou a aliança ao se desviar para a idolatria, será desviada pela mediação de Moisés. Esse ato de intercessão não se baseia nos méritos do povo, mas na fidelidade imutável de Deus à aliança que ele próprio, por iniciativa dele mesmo, estabeleceu com Israel.
Essa narrativa oferece lições preciosas para a vida de oração do povo de Deus:
A intercessão de Moisés ensina que a oração não apenas nos alinha à vontade de Deus, mas também é um instrumento poderoso na manifestação de sua misericórdia e propósito. Leia e medite sobre essa verdade profunda.
Êxodo 32.9-14 (NVT)
9Então o Senhor declarou: “Vi como este povo é teimoso e rebelde. 10Agora fique de lado, e eu lançarei contra eles minha ira ardente e os destruirei. Depois, farei de você, Moisés, uma grande nação”.
11Moisés, porém, tentou apaziguar o Senhor, seu Deus. “Ó Senhor!”, exclamou ele. “Por que estás tão irado com teu próprio povo, que tiraste do Egito com tão grande poder e mão forte? 12Por que deixar os egípcios dizerem: ‘O Deus deles os resgatou com a má intenção de exterminá-los nos montes e apagá-los da face da terra’? Deixa de lado tua ira ardente! Arrepende-te quanto a esta calamidade terrível que ameaçaste enviar sobre teu povo! 13Lembra-te dos teus servos Abraão, Isaque e Jacó. Assumiste um compromisso com eles por meio de juramento, dizendo: ‘Tornarei seus descendentes tão numerosos quanto as estrelas do céu. Eu lhes darei toda esta terra que lhes prometi, e eles a possuirão para sempre’.”
14Então o Senhor se arrependeu da calamidade terrível que havia ameaçado enviar sobre seu povo.
A ira justa do servo de Deus
O texto prossegue e abordará a justa ira do líder Moisés, em resposta à idolatria de Israel. Essa atitude é uma expressão de zelo pela santidade de Deus e pela aliança que o povo havia violado. Moisés, ao descer do monte Sinai e encontrar o povo adorando o bezerro de ouro, reagiu de forma enérgica, destruindo tanto o ídolo quanto as tábuas da aliança. Essa ação possui um simbolismo profundo: 1) a destruição das tábuas da aliança, 2) a destruição do ídolo e 3) a denúncia do pecado.
1) Destruição das tábuas da aliança. As tábuas, escritas pelo próprio dedo de Deus, representavam o pacto entre Deus e Israel (eram o que as alianças de ouro são para o casamento). Ao destruí-las, Moisés demonstrava que o pacto já havia sido rompido pela infidelidade do povo. Foi um gesto que reforçou a gravidade do pecado de idolatria, sinalizando que a aliança não era apenas um acordo formal, mas uma relação de obediência e fidelidade que fora traída.
Êxodo 32.15-19 (NVT)
15Em seguida, Moisés se virou e desceu o monte. Trazia nas mãos as duas tábuas da aliança, que estavam escritas dos dois lados, frente e verso. 16As tábuas eram obra de Deus; cada palavra tinha sido gravada pelo próprio Deus.
17Quando Josué ouviu o alvoroço do povo que gritava lá embaixo, disse a Moisés: “Parece que há guerra no acampamento!”.
18Moisés respondeu: “Não são gritos de vitória nem lamentos de derrota. Ouço barulho de festa”.
19Quando se aproximaram do acampamento, Moisés viu o bezerro e as danças e ficou furioso. Jogou as tábuas de pedra no chão e as despedaçou ao pé do monte.
2) Destruição do ídolo. Moisés não apenas destruiu as tábuas sagradas. Ele destruirá também o bezerro de ouro, reduzindo-o a pó, misturando-o com água e obrigando o povo a beber. Esse ato é um símbolo de que a idolatria é algo amargo e degradante, que traz consequências severas. Também demonstra o zelo pela pureza do culto a Deus, eliminando qualquer vestígio do objeto de adoração indevida.
Êxodo 32.20 (NVT)
Tomou o bezerro que haviam feito e o queimou. Moeu-o até virar pó, jogou-o na água e obrigou os israelitas a bebê-la.
3) Denúncia do pecado. Ato contínuo, Moisés confrontou Arão, o responsável direto pela construção do bezerro, e chamou o povo ao arrependimento. Sua ira não era descontrolada ou motivada por razões pessoais, mas alinhada à justiça de Deus.
Êxodo 32.21-24 (NVT)
21Por fim, dirigiu-se a Arão e perguntou: “O que este povo lhe fez para que você os levasse a cometer tamanho pecado?”.
22“Não fique tão furioso comigo, meu senhor”, respondeu Arão. “Você sabe como este povo é mau. 23Eles me disseram: ‘Faça para nós deuses que nos guiem. Não sabemos o que aconteceu com esse Moisés, que nos trouxe da terra do Egito para cá’. 24Então eu lhes disse: ‘Quem tiver joias de ouro, tire-as’. Quando eles as trouxeram para mim, simplesmente as joguei no fogo e saiu este bezerro!”
As consequências da idolatria
O episódio prossegue, demonstrando a gravidade do pecado da idolatria e as consequências da violação da aliança com Deus. A disciplina divina — extremamente controversa nos dias de hoje, afinal, temos domesticado Deus —, ainda assim, expressará, de maneira severa e justa, a santidade de Deus.
Veja os principais aspectos desse julgamento:
1) A perda de vidas. Os levitas serão os instrumentos de zelo santo de Deus na eliminação de três mil pessoas, líderes, que estiveram diretamente envolvidos no pecado:
Êxodo 32.25-29 (NVT)
25Moisés viu que Arão havia permitido que o povo se descontrolasse completamente, dando motivo de zombaria a seus inimigos. 26Portanto, colocou-se à entrada do acampamento e gritou: “Todos que estiverem do lado do Senhor, venham até aqui e juntem-se a mim!”. E todos os levitas se reuniram ao redor dele.
27Moisés lhes disse: “Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: ‘Cada um de vocês pegue sua espada e vão e voltem de uma extremidade à outra do acampamento. Matem todos, até mesmo seus irmãos, amigos e vizinhos’ ”. 28Os levitas obedeceram à ordem de Moisés, e cerca de três mil pessoas morreram naquele dia.
29Então Moisés disse aos levitas: “Hoje vocês se consagraram para o serviço do Senhor, pois lhe obedeceram mesmo quando tiveram de matar seus próprios filhos e irmãos. Hoje vocês receberam dele uma bênção”.
Essa cena certamente provoca reações intensas em nós, pessoas modernas. Temos dificuldade em encontrar justificativas para tal ação, sobretudo porque, nos Dez Mandamentos, encontramos o imperativo claro: “Não matarás” — o sexto mandamento.
Por que, então, Moisés precisou agir dessa forma?
A razão parece ser a seguinte: o momento era crítico. Permitir que líderes idólatras permanecessem no arraial representava uma ameaça à preservação da verdade e à salvação das gerações futuras. A continuidade da idolatria em Israel poderia impedir muitos de alcançar a vida eterna por meio de Jesus. Tanto judeus quanto gentios seriam afetados de forma eterna pela permissão de uma idolatria tão abertamente praticada.
Contudo, é importante destacar que essa ação não deve ser imitada. Sob a nova aliança, não temos permissão para tirar vidas como meio de preservar a ortodoxia. O evangelho nos chama a confrontar o pecado por meio da graça, da verdade e do arrependimento, e não pela violência. 1Pedro 2.23 (NVT): “[Cristo] Não revidou quando foi insultado, nem ameaçou se vingar quando sofreu, mas deixou seu caso nas mãos de Deus, que sempre julga com justiça.”
Ademais, o texto demonstra que houve uma oportunidade de arrependimento antes da execução do julgamento. No versículo 26, Moisés faz um convite que, à primeira vista, pode ser desprezado pelos céticos: “Todos os que estiverem do lado do Senhor, venham até aqui e juntem-se a mim!” Quem escolheu o Senhor? Os levitas. É significativo notar que, como Arão era levita e liderou o movimento em direção à idolatria, outros levitas também podem ter se envolvido com aquela idolatria tão crassa. Contudo, naquele momento de redenção, todos tiveram a chance de abandonar o pecado e restabelecer sua lealdade ao Senhor.
Essa deve ser a nossa resposta quando confrontados com o pecado: arrepender-se e escolher o Senhor. Os levitas fizeram essa escolha, abandonando a idolatria e colocando-se ao lado de Deus.
Lemos ainda que, nos versículos 27 a 29, os levitas cumpriram a ordem de Deus para o julgamento, sendo instruídos a não demonstrar parcialidade (v. 27). Parece que eles cuidadosamente observaram quem havia retornado ao Senhor. Aqueles que permaneceram na idolatria foram mortos. Cerca de três mil homens perderam a vida, o que representava aproximadamente 0,05% da população masculina (cf. Êx 12.37).
Esse episódio nos apresenta três realidades fundamentais:
2) A intercessão de Moisés. Moisés, pela segunda vez, intercederá pelo povo junto ao SENHOR. Entretanto, a graça de Deus não eliminará as consequências pelo pecado da idolatria:
Êxodo 32.30-35 (NVT)
30No dia seguinte, Moisés disse ao povo: “Vocês cometeram um pecado terrível, mas eu subirei ao monte e me encontrarei com o Senhor outra vez. Talvez eu consiga fazer expiação por este pecado!”.
31Moisés voltou ao Senhor e disse: “Que pecado terrível este povo cometeu! Fizeram para si deuses de ouro. 32Agora, porém, eu te suplico que lhes perdoes o pecado; do contrário, apaga meu nome do registro que escreveste!”.
33O Senhor, porém, respondeu a Moisés: “Apagarei o nome de todos que pecaram contra mim. 34Agora vá e leve o povo ao lugar do qual eu lhe falei. Veja, meu anjo irá à sua frente. E, no dia do acerto de contas, certamente eu castigarei este povo pelo pecado que cometeram”.
35Então o Senhor castigou severamente o povo, por causa do que fizeram com o bezerro que Arão lhes tinha construído.
A idolatria do povo de Israel não resultou em destruição total. A punição mencionada no texto pode apontar para um julgamento futuro, e não necessariamente para a praga descrita no versículo 35. A praga foi um aviso em pequena escala, uma amostra da ira de Deus. O texto não nos informa quantas pessoas morreram — ou se de fato alguém morreu. É possível que essa praga tenha causado apenas enfermidades, servindo como um lembrete do juízo divino.
Aqui termina Êxodo 32, a história do “bezerro de ouro”.
O que devemos levar conosco?
Esse episódio deixa claro que precisamos de um Salvador. A narrativa parece se encaminhar para um desfecho dramático, onde o mediador daria sua vida pelo povo. No entanto, isso não aconteceu. Por quê? Porque Moisés não podia morrer pelo povo, já que ele próprio era pecador.
Todo esse capítulo aponta para uma grande realidade: precisamos de um substituto perfeito. E nós temos Um! Esse Substituto veio desse mesmo povo. Ele subiria à cruz e suportaria o castigo que nós, idólatras, merecemos. Ele tomou o castigo em nosso lugar para que nossos pecados fossem cobertos. Jesus disse: “Dou a minha vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). Ele, de fato, entregou-se para que tivéssemos vida — e fossemos capazes de fugir da idolatria. Foi por isso que o apóstolo João encerrou sua primeira carta com estas palavras tão encorajadoras:
1João 5.18-21 (NVT)
18Sabemos que os nascidos de Deus não vivem no pecado, pois o Filho de Deus os protege e o maligno não os toca. 19Sabemos que somos filhos de Deus e que o mundo inteiro está sob o controle do maligno. [MAS NÓS NÃO!]
20E sabemos que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento para que conheçamos ao Deus verdadeiro. Agora, vivemos em comunhão com o Deus verdadeiro, porque vivemos em comunhão com seu Filho, Jesus Cristo. Ele é o Deus verdadeiro e é a vida eterna.
21Filhinhos, afastem-se dos ídolos.
PARA VOCÊ QUE AINDA NÃO É CRISTÃO: Você precisa enxergar Jesus Cristo como o seu substituto, aquele que morreu em seu lugar por sua idolatria, para que você pudesse ser reconciliado com Deus e se afastasse dos ídolos. A vocês eu apelo: abandonem seus ídolos e voltem-se para o Deus vivo — com fé, esperança e amor. Foi isso o que aconteceu com os tessalonicenses, os quais acolheram Cristo no coração e deixaram “deixaram os ídolos a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro.” Como resultado, eles passaram a esperar “do céu a vinda de Jesus, o Filho de Deus, a quem ele ressuscitou dos mortos e que nos livrará da ira que está por vir.” (1Ts 1.8-10).
Sem Jesus, sem o poder do evangelho de Cristo, você viverá como descrito em Romanos 1: satisfazendo seus desejos egoístas e trocando Deus por coisas criadas. Por conta própria, somos idólatras por natureza. Você precisa de uma nova vida, você precisa abandonar os ídolos e fugir da idolatria, que só será possível por meio de Jesus.
PARA VOCÊ QUE JÁ É CRISTÃO: Reconheça seus ídolos pelo que realmente são: ídolos inúteis. Dê nomes a eles e os confesse ao SENHOR. Avalie corretamente as coisas criadas. Aproveite-as, seja grato por elas e administre-as com sabedoria, mas somente adore, sirva e confie no Deus Criador (Rm 1.21-25). Mortifique seus desejos carnais diariamente (Cl 3.5). Como fazer isso?
Enxergue toda a vida como uma oportunidade de adorar a Cristo. Creia que ele é o melhor Senhor, o amigo mais íntimo e a fonte mais completa de satisfação. Ele é o Substituto perfeito, e nele — somente nele — encontramos salvação, vida e verdadeira alegria.
S.D.G. L.B.Peixoto
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