01.12.2024
João 17.17 (NAA)
Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.
Jesus viveu em oração pelo seu povo. Em momentos cruciais, sua intercessão se intensificava, especialmente à medida que a cruz se aproximava. Na última ceia, com seu ministério público encerrado, tendo também concluído suas palavras de despedida aos discípulos e com a cruz à vista, ele dedicou-se inteiramente à oração. João 17.1-26, conhecido como “A oração sacerdotal de Jesus,” revela o coração do Senhor em comunhão íntima com o Pai. Antes de derramar seu sangue, ele derramou sua alma, intercedendo por seu povo.
Charles Spurgeon chamou essa oração de “o Santo dos Santos da Bíblia.” Ele declarou: “Aqui, vemos a comunhão entre o Filho e o Pai em intensidade única. O coração de Jesus se revela, e a verdade brilha em toda sua majestade.” No centro dessa oração está o clamor por santificação: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Esse pedido resume o desejo de Jesus pela santidade de seu povo, mostrando sua profundidade e urgência. Como Spurgeon destacou: “Este é um terreno santo, e o tema exige nosso mais solene pensamento.”
A estrutura da oração de Jesus:
Ao refletirmos sobre João 17.17, podemos destacar quatro aspectos centrais:
A grande ideia de João 17.17: momentos antes da cruz, Jesus derramou seu coração em oração ao Pai, suplicando que santificasse seus discípulos na verdade, pelo poder transformador de sua Palavra — “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.”
João 17.17: “Santifica-os”. Jesus pediu por santidade.
Que bênção inestimável é essa que nosso Salvador pede com tanta paixão ao Pai! Primeiro, ele orou por proteção, em João 17 (NAA): “11[…] Pai santo, guarda-os em teu nome […] 15Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal. 16Eles não são do mundo, como também eu não sou.” Mas orar por proteção não bastaria. Portanto, ele buscou algo maior: uma santidade ativa e positiva, que é a única coisa capaz de verdadeiramente guardar ou protegem seus discípulos do mundo e do mal (= Satanás). Por isso clamou: “Santifica-os.”
O que é santidade?
Na Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, “santificar” significa ser separado do pecado e dedicado inteiramente a Deus. Essa santificação implica uma posição distinta: algo ou alguém é retirado de usos comuns e consagrado para um propósito santo.
Se visitássemos o acampamento de Israel, veríamos isso claramente. Qualquer tenda podia ser comprada ou alugada, menos o tabernáculo, separado para Deus. Qualquer homem poderia ser contratado para o trabalho, mas não os sacerdotes, consagrados à obra divina. Qualquer tigela servia para lavar as mãos, mas a bacia no tabernáculo era exclusiva para o uso sagrado. A santificação, portanto, é um chamado à exclusividade no serviço e devoção a Deus.
Todos os salvos são “santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todos os lugares invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1Co 1.2, NAA). Chamados pela graça de Deus, comprados pelo sangue de Cristo e habitados pelo Espírito Santo, vocês foram separados deste mundo e dedicados — ou seja, consagrados e santificados — a Deus. Seu corpo, agora templo do Espírito Santo (1Co 6.19-20), não está disponível para uso comum. Sobretudo, não está disponível para impureza e maldade, mas deve ser oferecido “à justiça para a santificação” (Rm 6.19, ARA), sendo assim um “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12.1, ARA).
A santificação é, antes de tudo, posicional. Ela não altera a natureza do que é separado, mas o destina a um propósito santo. O tabernáculo era dedicado a Deus, mas seus objetos permaneciam os mesmos em composição: a bacia continuava de bronze, a mesa de madeira, os tecidos e peles não mudavam. Santificação não significa “tornar santo”, transformando a natureza no sentido físico ou moral, mas “separar para Deus.” Prova disso é que Jesus, mesmo sendo perfeito e sem pecado, santificou a si mesmo — mas como? — ao se dedicar ao propósito santo de morrer pelos nossos pecados: João 17.19 (NAA) — “a favor deles eu me santifico, para que eles também sejam santificados na verdade.”
Quando Paulo escreveu aos crentes em Corinto, chamou-os de “santos” e declarou que haviam sido “santificados em Cristo Jesus” (1Co 1.2). Contudo, alguns viviam em desobediência a Deus. Havia divisões em quatro grupos na igreja (1Co 1.12). Membros processavam uns aos outros (1Co 6.1ss.). Outros se embriagavam nas refeições de comunhão que antecediam a ceia do Senhor (1Co 11.21). Um homem vivia em imoralidade aberta com sua madrasta (1Co 5.1ss.)! Ainda assim, Paulo os chamou de “santos”. Como isso é possível? Eles eram realmente “santificados”?
A resposta está em entender que a santificação posicional se refere ao status que os crentes têm em Cristo. Apesar de falhas e pecados, nossa posição diante de Deus é de separados para o Senhor. Nossa santificação se baseia na obra redentora de Cristo, e não em nosso comportamento.
Entretanto, muita cautela deve ser exercida aqui. Não estamos falando de “livre graça” ou ensinando uma “graça barata” que permite a todos dizerem que estão em Cristo apenas porque “têm Jesus no coração” e vivem de qualquer maneira. Nada disso! Embora a santificação seja, em sua essência, uma questão de posição, ela também possui um aspecto prático — que demonstrará se você é verdadeiramente santo, consagrado ao Senhor, ou não.
A chamada santificação progressiva significa que o crente busca viver, dia após dia, como alguém que realmente pertence inteiramente a Deus. Paulo orou (1Ts 5.23, NAA): “O mesmo Deus da paz os santifique em tudo. E que o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” E estava certo de que isso seria possível porque “Fiel é aquele que os chama, o qual também o fará.” (1Ts 5.23, NAA). Ou seja: fiel é aquele que os salva pela graça, o qual também os santificará pela graça. João reforçou essa ideia: 1João 3.3 (NAA), “E todo o que tem essa esperança nele purifica a si mesmo, assim como ele é puro.”
Voltemos ao acampamento de Israel. Imagine encontrar um sacerdote assando um porco no altar de bronze, planejando oferecer um banquete aos amigos no tabernáculo. Ficaria perplexo. “Esse altar não é dedicado a Deus? E o tabernáculo, não é santificado para ele? Além disso, porco não é proibido ao povo santo de Deus?” Se o sacerdote respondesse: “Sim, vocês estão certos. Sou separado, assim como o tabernáculo e o altar. Mas isso é apenas uma questão de posição. Continuar com meu banquete não muda nada,” você ficaria indignado, com razão.
“Não muda nada”! Como assim, “não muda nada”?! Viver desse modo é roubar Deus de sua glória. Portanto, que fique claro o seguinte: a santificação posicional deve levar à santificação prática.
Se fomos separados para o uso exclusivo de Deus e para sua glória, então devemos obedecer ao que ele ordena. Os crentes foram santificados de uma vez por todas em Jesus Cristo; mas também estão sendo santificados à medida que obedecem à Palavra, andam no Espírito e servem a Cristo neste mundo. A separação do pecado deve resultar em crescimento na santidade pessoal. 2Coríntios 7.1 (NAA): “Portanto, meus amados, tendo tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus. 1Tessalonicenses 4.7-8 (NAA): “Pois Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação. Portanto, quem rejeita estas coisas não rejeita uma pessoa, mas rejeita Deus, que também dá o seu Espírito Santo a vocês.”
Agora, é possível que um crente alcance um patamar tal de santidade ao Senhor que o torne completamente sem pecado? Não creio que seja, não nesta vida. Entretanto, à medida que crescemos em nossa vida espiritual, somos capacitados a vencer o pecado e a tentação cada vez mais; mas a tendência e a capacidade de pecar permanecem ativas em nós até vermos Cristo e sermos transformados para ser como ele. Sim, o desejo pelo pecado deverá diminuir à medida que aprendemos a desfrutar os frutos da santidade; mas a capacidade de pecar não será erradicada nesta vida. À medida que amadurecemos no Senhor, haverá sim cada vez menos pecado intencional em nossas vidas, aquela desobediência deliberada que caracteriza as pessoas do mundo. Contudo, ainda enfrentamos pecados ocultos, aqueles que nem nós mesmos enxergamos. Não é de admirar que Davi tenha orado (Sl 19.12, NAA): “Quem há que possa discernir as suas próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas.” Foi por isso que João atestou:
1João 1.8-10 (NAA) 8Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos enganamos, e a verdade não está em nós. 9Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. 10Se dissermos que não cometemos pecado, fazemos dele um mentiroso, e a sua palavra não está em nós.
Muitos dos santos mais escolhidos de Deus, em ocasiões especiais, atingem um estágio de devoção mais profunda ao Senhor e uma plenitude do Espírito. Paulo, por exemplo, experimentou momentos extraordinários com Deus, como relata em 2Coríntios 12. Ainda assim, declarou ser “o menor de todos os santos” (Ef 3.8, NAA) e “o principal dos pecadores” (1 Tm 1.15, NAA). Quanto mais nos aproximamos da luz, mais nitidamente enxergamos nossos pecados. Já os “santos” que perambulam nas trevas são os que se vangloriam de sua perfeição e, muitas vezes, se orgulham de uma falsa liberdade, entregando-se ao caos do pecado.
Quando Jesus orou: “Santifica-os” (Jo 17.17), ele estava pedindo que os discípulos fossem separados do pecado e dedicados inteiramente a Deus. Essa santificação implica uma posição distinta: o discípulo é retirado de usos comuns e consagrado para um propósito santo, e nessa nova posição ele vai progressivamente se santificando. Na prática, cada vez mais ele se purifica do pecado e se prontifica a servir como vaso novo, dedicado a Deus.
Jesus pediu — em João 17.17 — “Santifica-os”. Ele clamou pela santidade. E por quem ele pediu santidade? Pelos seus discípulos, aqueles que o Pai lhe havia dado, e por todos os que viriam a crer nele (Jo 17.20). Jesus intercedeu para que seus discípulos fossem separados do mundo e consagrados, dedicados inteiramente a Deus.
Charles Spurgeon, pegando à sua igreja o texto de João 17.17, anunciou:
Devemos desejar o ápice de uma vida santa, nunca nos contentando com os progressos atuais. Mesmo os mais puros e honrados ainda têm falhas e erros pelos quais lamentar. Quando o Senhor lança uma luz forte sobre nós, percebemos as manchas em nossas vestes. É justamente ao andar na luz, como Deus está na luz, que reconhecemos mais claramente nossa necessidade do sangue purificador de Jesus. Se fizemos o bem, a Deus seja a glória; mas poderíamos ter feito melhor. Se amamos muito, seja à graça divina o louvor; mas deveríamos ter amado mais. Se cremos firmemente, deveríamos ter confiado ainda mais no nosso Amigo Todo-Poderoso. Ainda estamos aquém de nossas capacidades; sempre há algo além que precisamos alcançar. Ó vocês, que já são santificados, é por vocês que Jesus ora, para que o Pai os santifique ainda mais.
Isto é, para você, um comissionamento: “Seja santo.” Mas é também um consolo: há um intercessor que pleiteia pela sua santificação diante do Pai — Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote perfeito e incansável.
Sua santificação é imprescindível! Ouça o que Spurgeon ainda pregou:
Amados, esta oração de nosso Senhor é absolutamente necessária. Sem santificação, como podemos ser salvos, se está escrito: “Sem santidade ninguém verá o Senhor”? Como podemos ser libertos do pecado, se ele ainda reina sobre nós? Se nossas vidas não são santas, piedosas e espirituais, como podemos dizer que fomos redimidos do poder do mal?
Sem santificação, seremos inúteis para o serviço. Nosso Senhor deseja enviar cada um de nós ao mundo, assim como o Pai o enviou. Mas como Ele confiaria uma missão a homens e mulheres não santificados? Não devem os vasos do Senhor estar limpos?
Sem santificação, não podemos provar as mais profundas alegrias de nossa fé. Os não santificados vivem atormentados por dúvidas e medos; e como poderia ser diferente? Muitas vezes, exclamam sobre os deveres religiosos: “Que canseira é esta!” E isso não surpreende, pois não conhecem as delícias internas que vêm de Deus. Nunca aprenderam a se deleitar no Senhor. Se não andam na luz de Seu rosto, como poderiam experimentar o céu antecipado que brota da verdadeira piedade?
Oh, como esta é uma oração urgente, necessária para mim, para você, para esta igreja e para toda a igreja de Deus! “Pai, santifica-os na verdade.”
Jesus orou por você, ele pediu pela sua santificação, mas a quem ele orou? O Filho orou ao Pai (Jo 17.1, 5, 11, 21, 24, 25): “Santifica-os” (Jo 17.17). E por que o Filho fez este pedido ao Pai? Mais uma vez, Spurgeon foi irretocável, quando pregou com estas palavras:
Ninguém pode santificar uma alma, exceto o Deus Todo-Poderoso, o grande Pai dos espíritos. Aquele que nos criou deve também nos tornar santos, pois jamais alcançaríamos esse caráter sozinhos. Nosso amado Salvador chama Deus de “Pai santo” [Jo 17.11] nesta oração, destacando que santidade é obra do Deus santo, porque um Pai santo só pode gerar filhos santos — o semelhante gera o semelhante. […]
Amados, a santificação é obra de Deus desde o seu início. Por nós mesmos, nos desviamos; mas jamais retornamos ao bom Pastor sem o Seu chamado. A regeneração, que marca o início da santificação, é inteiramente obra do Espírito Santo. Nosso primeiro sentimento de arrependimento, a mínima percepção do erro, todo desejo de pureza e qualquer pensamento de santidade vêm exclusivamente de Deus. Por natureza, somos inclinados à iniquidade. Assim, a vitória sobre o pecado em nós e o tornar-nos semelhantes a Cristo são obras completas do Senhor, que faz novas todas as coisas. Por nós mesmos, não temos poder para realizar tal transformação.
Santificação é criação; podemos criar? Santificação é ressurreição; podemos ressuscitar os mortos? Nossa natureza decaída só tende a piorar. Jamais retornará à pureza ou alcançará perfeição sem a ação divina. Isso é obra de Deus, e somente Dele. Santificação é tão grandiosa quanto a criação dos céus e da terra. Quem é suficiente para isso? Não damos sequer um passo na santificação por nossas próprias forças. Qualquer progresso que imaginemos alcançar sozinhos não passa de ilusão, destinada a terminar em amarga decepção.
A santificação real é inteiramente, do início ao fim, obra do Espírito Santo, enviado pelo Pai para santificar os Seus escolhidos. Somente Deus pode realizar essa obra.
E Spurgeon concluiu este tópico com estas palavras de encorajamento:
Assim, lembrei-lhes que a oração pela santificação é dirigida ao Pai divino. Isso nos ensina a olhar para além de nós mesmos e a depender inteiramente de Deus. Não tentem realizar a obra da santificação por conta própria, como se pudessem executá-la sozinhos. Não imaginem que a santidade será alcançada automaticamente ao ouvir um pregador fervoroso ou participar de um culto sagrado.
Meus irmãos, é o próprio Deus quem deve operar dentro de vocês. O Espírito Santo precisa habitar em seus corações; e isso só acontece por meio da fé no Senhor Jesus. Creiam nele para sua santificação, assim como creram para o perdão e justificação. Somente Ele pode conceder-lhes a verdadeira santificação, pois esta é um dom de Deus por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Foi por isso que Jesus orou ao Pai por você, pedindo pela sua santificação: “Santifica-os” (Jo 17.17).
João 17.17 nos mostra que Jesus orou ao Pai pela santificação dos discípulos. Mas como isso seria possível? Qual seria o meio pelo qual o pedido de Jesus seria atendido? A resposta está no próprio texto: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.”
A santificação dos discípulos acontece por meio da verdade de Deus, revelada em sua Palavra. É a Palavra viva, poderosa e transformadora que salva, purifica, instrui e molda os filhos de Deus à imagem de Cristo.
Porque a verdade é um atributo de Deus, ele usa a verdade revelada nas Escrituras para nos santificar e nos separar para uma vida santa. Enquanto Satanás trabalha por meio de mentiras (Jo 8.44), Deus age em nós através da verdade. O poder de Deus nos alcança por meio da Palavra da verdade — e permanece agindo na força do Espírito Santo, em corações que nutrem fé na verdade revelada. 1Tessalonicenses 2.13 (NAA) “Temos mais uma razão para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, ao receberem a palavra que de nós ouviram, que é de Deus, vocês a acolheram não como palavra humana, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual está atuando eficazmente em vocês, os que creem.”
Quando conhecemos, cremos e agimos com base na verdade de Deus, o Espírito de Deus opera em nossas vidas. Assim como o fio conduz eletricidade à lâmpada, a verdade de Deus conduz o seu poder às nossas vidas. É na verdade e por meio dela que somos santificados.
Spurgeon, atual como jamais deixou de ser, pregou o seguinte — era 7 de março de 1886:
“Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” Amados, vejam como Deus uniu a santidade à verdade. Hoje em dia, há uma tendência perigosa de separar a verdade doutrinária da verdade prática. Alguns afirmam que o cristianismo é apenas uma vida, e não um credo. Essa declaração contém uma meia-verdade — e, portanto, aproxima-se de uma mentira. O cristianismo é, sim, uma vida, mas é uma vida que nasce da verdade.
Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida, e só é verdadeiramente recebido quando o aceitamos nesses três aspectos.
Nenhuma vida santa pode brotar da crença no erro. A santidade visível em nosso caráter deve nascer de uma fé verdadeira, edificada no coração; do contrário, será apenas uma fachada vazia. Boas obras são fruto de uma fé genuína, e uma fé genuína vem de uma crença sincera na verdade. Toda verdade conduz à santidade, enquanto todo erro doutrinário, cedo ou tarde, leva ao pecado. Um desvio na crença resulta, inevitavelmente, em uma distorção na prática.
A linha reta da verdade, gravada no coração, cria um caminho de graça e retidão na vida. Não se iluda: você não pode se alimentar de “alimento impróprio” espiritual e esperar ter boa saúde moral. Não pode ingerir o veneno do erro e ainda se apresentar puro diante de Deus.
Até Deus nos santifica apenas por meio da verdade. Apenas o ensino que vem da Palavra de Deus tem o poder de santificar. Qualquer ensino que não seja verdadeiro — que não seja a própria verdade de Deus — jamais poderá nos tornar santos.
Como você precisa conhecer a Bíblia! Ler a Bíblia. Estudar a Bíblia. Memorizá-la. Sentar-se sob a pregação fiel das Escrituras. Participar de pequenos grupos onde a Palavra de Deus é compartilhada, discutida e digerida em comunhão, buscando a atuação do Espírito Santo. Mas, ao fazer tudo isso, jamais se esqueça do que Spurgeon pregou à sua igreja:
A verdade, por si só, não santifica um homem. Podemos abraçar um credo ortodoxo — e é de suma importância que o façamos — mas, se esse credo não tocar o coração nem moldar o caráter, de que vale a nossa ortodoxia? Não é a doutrina, em si mesma, que santifica; é o Pai quem santifica por meio da doutrina.
A verdade é o ambiente no qual somos chamados a caminhar rumo à santidade. A falsidade conduz ao pecado; a verdade, à santidade. Contudo, há o espírito de mentira e também o Espírito da verdade. Por meio deles, o erro e a verdade são usados como instrumentos para alcançar fins diferentes. A verdade precisa ser aplicada com poder espiritual à mente, à consciência e ao coração. Sem isso, um homem pode até receber a verdade, mas retê-la em injustiça.
Creio que esta seja a obra suprema de Deus no homem: libertar completamente o seu povo do mal. Ele os elegeu para serem um povo peculiar, zeloso de boas obras. Ele os resgatou para redimi-los de toda iniquidade e purificá-los para si mesmo. Ele os chama eficazmente a uma vocação elevada e santa, à virtude e à verdadeira santidade.
“Mas o que é a verdade?”, indagou Spurgeon; e ele respondeu:
Eis a questão: a verdade é aquilo que imagino ser revelado a mim por alguma comunicação privada? Devo basear minha vida em vozes, sonhos ou impressões? Irmãos, não caiam nessa ilusão tão comum. A Palavra de Deus para nós está na Escritura Sagrada. Toda a verdade que santifica os homens está na Palavra de Deus. Não deem ouvidos aos que dizem: “Eis aqui!” ou “Eis ali!”
Quase todos os dias sou abordado por pessoas confusas e pretensiosas que afirmam ter recebido revelações. Um homem diz que Deus me enviou uma mensagem por meio dele. Respondo: “Não, senhor, o Senhor sabe onde moro e está tão perto de mim que não precisaria enviar ninguém.” Outro aparece com um dogma que é claramente uma mentira contra o Espírito Santo, afirmando que Deus lhe falou isso ou aquilo. Mas sabemos que o Espírito Santo nunca se contradiz.
Se sua suposta revelação não está de acordo com a Palavra, ela não tem peso algum para nós. E, se está de acordo com a Palavra, não é nova. Irmãos, esta Bíblia é suficiente, desde que o Senhor a use e a vivifique pelo Seu Espírito em nossos corações. A verdade não é minha opinião nem a sua; não é a minha mensagem nem a sua. Jesus declara: “A tua palavra é a verdade.”
Aquilo que santifica os homens não é qualquer verdade, mas a verdade específica revelada na Palavra de Deus: “A tua palavra é a verdade.” Que bênção saber que toda a verdade necessária para nossa santificação já está revelada! Não precisamos gastar nossas energias descobrindo a verdade, mas usá-la para os propósitos divinos para os quais foi dada.
Não haverá novas revelações; elas não são necessárias. O cânon das Escrituras está completo, e quem tentar acrescentar algo a ele terá acrescentadas sobre si as pragas descritas neste Livro. Por que desejar mais, se temos aqui o suficiente para todos os fins práticos? “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.”
A verdade que precisamos receber é fixa e imutável. A Escritura Sagrada não pode ser alterada. Podemos buscar maior precisão nos textos originais, mas, para fins práticos, o texto que temos é suficientemente confiável. “A Escritura não pode ser quebrada.” Não podemos retirar nada dela, nem acrescentar-lhe nada. O Senhor nunca reescreveu nem revisou sua Palavra, e nunca o fará.
Enquanto nossos ensinamentos podem conter erros, o Espírito Santo nunca erra. Podemos lembrar das Retratações de Agostinho, mas com os profetas e apóstolos não há retratações. A fé foi entregue de uma vez por todas aos santos e permanece firme para sempre.
“A tua palavra é a verdade.” Somente a Escritura é absoluta, essencial, decisiva, autoritativa, pura, eterna e imutável. É esta a verdade que santificará todos os crentes até o fim dos tempos, porque Deus continuará a usá-la para este glorioso propósito.
Encerro com estas palavra de Spurgeon, com as quais ele concluiu seu sermão em 1886:
Ó irmãos, oro para que nós todos amemos a doutrina de Deus, nosso Salvador, em todas as coisas. Infelizmente, alguns não fazem isso. Digo isso com vergonha e com grande pesar no coração. A falha mais lamentável seria em nossa santidade. Se vivemos como o mundo vive, que testemunho estamos dando? Se nossas famílias não são guiadas pela graça, se nossos negócios não são conduzidos com integridade, se nossas palavras não são puras ou verdadeiras, se nossas vidas dão lugar a repreensões — como Deus pode nos aceitar ou abençoar a igreja à qual pertencemos? É pura hipocrisia dizer que somos o povo de Deus enquanto até os homens do mundo nos condenam .
Nossa fé no Senhor Jesus deve moldar nossas vidas de forma visível e real. Ela deve refrear-nos de certas coisas, animar-nos em outras, guiar nossos pensamentos, palavras e ações. Se isso não acontece, não compreendemos o poder salvador de Cristo. Como posso dizer isso mais claramente? Não venham a mim com histórias de experiências ou convicções, a menos que santifiquem o nome de Deus em suas vidas. Ó irmãos, seria melhor abandonar nossas profissões de fé do que viver abaixo delas.
Em nome daquele que orou esta súplica pouco antes de seu rosto ser banhado em suor de sangue, clamemos fervorosamente ao Pai: “Santifica-nos na verdade; a tua palavra é a verdade.” Temos nos apegado à Palavra do Senhor, mas será que estamos obedecendo a ela na prática? Como igreja, decidimos permanecer nos caminhos antigos, e eu, como ministro, me comprometi com a fé que não muda. Mas, oh, que possamos recomendá-la ao mundo pela nossa santidade! Este Livro é a única verdade para mim, a Palavra infalivelmente inspirada pelo Espírito de Deus. É nosso dever mostrar seu poder transformador em nossas vidas.
Os votos de Deus estão sobre nós. Por vidas piedosas, devemos proclamar os louvores daquele que nos tirou das trevas para sua maravilhosa luz. A Bíblia é nosso tesouro. Valorizamos cada página dela. Que a encadernemos no couro mais nobre de uma fé viva e inteligente; que coloquemos nela um fecho de ouro e enfeitemos as suas bordas com o brilho de uma vida de amor, pureza, verdade e zelo. Assim, recomendaremos este Livro até mesmo aos que nunca abriram suas páginas.
O rolo sagrado, com seus sete selos, não pode ser segurado por mãos impuras. Devemos sustentá-lo com mãos limpas e corações puros, proclamando sua mensagem entre os homens. Que Deus nos ajude a fazer isso, por amor de Jesus! Amém.
Pai, santifica-nos na verdade; a tua palavra é a verdade.
S.D.G. L.B.Peixoto
Mais episódios da série
Mensagens Avulsas
Mais episódios da série Mensagens Avulsas
Mais Sermões
6 de outubro, 2024
26 de março, 2017
5 de maio, 2024
23 de janeiro, 2022
Mais Séries
Santifica-os na Verdade
Pr. Leandro B. Peixoto