12.01.2025
Levítico 1.1-2 (NVT)
1Da tenda do encontro, o SENHOR chamou Moisés e lhe disse: 2“Dê as seguintes instruções ao povo de Israel. Quando você apresentar um animal como oferta para o SENHOR, escolha-o dos rebanhos de gado, ovelhas ou cabras. […]
As pessoas, por instinto, tendem a realizar sacrifícios. Há em nossa natureza algo profundo que nos impulsiona a isso. Na mentalidade contemporânea, sacrificar significa renunciar a algo valioso em benefício de outra pessoa, da família ou até do país. Exemplos incluem pais que abdicam do conforto para custear a educação dos filhos ou soldados que entregam a própria vida em combate. Contudo, durante a maior parte da história, o sacrifício tinha um sentido literal: oferecer algo valioso, geralmente um bem material ou um animal, a uma divindade ou a um rei.
Esse sentido literal ainda persiste até os dias de hoje, sendo o sacrifício de animais, como parte de rituais religiosos, considerado algo natural e dispensando justificativas. Os animais são selecionados conforme o propósito do ritual e o deus a quem a oferenda se destina. Nesses contextos, o sangue é visto como o elemento central da oferta à divindade, enquanto a carne costuma ser preparada e compartilhada em um banquete comunitário, reforçando os laços sociais e espirituais do grupo.
Assim também foi com Israel.
O livro de Levítico apresenta as normas de sacrifício sem introduções ou justificativas, apenas com a ordem clara de que, ao trazer uma oferta, esta deveria ser apresentada de maneira específica.
No entanto, as aparências iniciais podem ser enganosas. A ausência de justificativas explícitas para o sacrifício em Levítico pode ser explicada em parte pelo fato de que o livro não está isolado, mas integra a história em desenvolvimento dos filhos de Israel, conforme narrada no Pentateuco — Gênesis, Levítico, Número e Deuteronômio. Mais especificamente, trata-se de uma continuidade dos eventos descritos em Êxodo, que relata a libertação dos israelitas do Egito, a formação da aliança no Sinai e o planejamento e a construção do tabernáculo, ou tenda do encontro.
Os últimos versículos de Êxodo mostram Moisés parado fora da tenda, tomada pela glória de Deus (Êx 40.34-38). Já no primeiro versículo de Levítico, Moisés ainda está ali, agora recebendo instruções verbais de Deus, que fala de dentro da tenda, onde ele passou a habitar no meio de seu povo.
Leia:
Êxodo 40.34 — Levítico 1.2 (NVT)
Êxodo 40.34Então a nuvem cobriu a tenda do encontro, e a glória do SENHOR encheu o tabernáculo. 35Moisés não podia mais entrar na tenda do encontro, pois a nuvem estava sobre ela, e a glória do SENHOR a enchia.
36Sempre que a nuvem se levantava de cima do tabernáculo, os israelitas seguiam viagem. 37Mas, se a nuvem não se levantava, permaneciam onde estavam até a nuvem se elevar. 38Durante o dia, a nuvem do SENHOR pairava no ar acima do tabernáculo e, à noite, fogo ardia dentro da nuvem, de modo que todo o povo de Israel podia vê-la. E isso ocorreu ao longo de todas as jornadas dos israelitas.
Levítico 1.1Da tenda do encontro, o SENHOR chamou Moisés e lhe disse: 2“Dê as seguintes instruções ao povo de Israel. Quando você apresentar um animal como oferta para o SENHOR, escolha-o dos rebanhos de gado, ovelhas ou cabras.
Os eventos narrados em Êxodo evidenciam a graça salvadora de Deus e sua extraordinária misericórdia ao escolher Israel como seu povo especial e habitar entre eles. Assim, após 1) libertar a nação da opressão, 3) revelar-se em majestade e 3) manifestar sua presença no meio deles, justificar a necessidade de um sacrifício talvez fosse desnecessário. A graça salvadora, a santidade majestosa e a proximidade divina já eram razões mais que suficientes para os rituais. É nesse contexto que Deus declara em Levítico 1.2: “Quando” — e não “se” — você apresentar uma oferta ou sacrifício.
Ainda assim, nem todo sacrifício seria aceitável. Portanto, como a prática do sacrifício era comum no mundo antigo, o Deus de Israel estabeleceu instruções específicas para o povo aliançado com ele. Israel deveria ser diferente: um povo santo, separado e dedicado exclusivamente a Deus. Era essencial, inclusive, que estivessem livres do veneno espiritual que contaminava os sacrifícios das culturas vizinhas. Por isso, muitas das orientações podem soar estranhas aos nossos ouvidos, pois tinham como propósito deixar claro que Israel não deveria seguir as mesmas práticas.
Ao contrário dos sacrifícios pagãos, que buscavam manipular divindades relutantes, os sacrifícios de Israel eram expressões da graça divina, instituídos para transmitir graça – levando o povo a desfrutar da presença de Deus. Não eram meras imitações das práticas dos povos ao redor. Seus sacrifícios foram prescritos e revelados diretamente por Deus, devendo ser realizados com cuidado, reverência e, principalmente, fé.
Mesmo ao praticarem algo que lhes parecia natural, o povo estava lidando com o fogo da santidade divina. Por isso, precisavam aproximar-se de Deus não de acordo com suas próprias escolhas, mas segundo as exigências estabelecidas pelo próprio Deus.
“O SENHOR chamou Moisés”
Derek Tidball apresenta um argumento relevante: não devemos tratar superficialmente as palavras iniciais de Levítico, como se fossem apenas uma introdução funcional ao tema. Em Levítico 1.1, lemos: “Da tenda do encontro, o SENHOR chamou Moisés e lhe disse…” Essas palavras revelam o chamado de Deus e refletem seu profundo desejo de comunhão com o povo.
PRIMEIRAMENTE, vale destacar a existência da “tenda do encontro”. Esse espaço, como o próprio nome sugere, era o lugar onde Deus vinha ao “encontro” de seu povo, estabelecendo um ambiente de proximidade e relacionamento. É dessa tenda que Deus fala, comunicando-se diretamente com os israelitas por meio de Moisés, em uma interação pessoal e íntima.
EM SEGUNDO LUGAR, observe o “chamado”: “Da tenda do encontro, o SENHOR chamou Moisés e lhe disse” (Lv 1.1). É Deus, em Sua graça soberana, quem toma a iniciativa de se comunicar com o povo, abrindo caminho para que eles experimentem sua gloriosa presença. Esse chamado não é uma simples transmissão de mensagens; ele reflete o anseio divino por um relacionamento pessoal e contínuo. Esse vínculo, no entanto, requer obediência. As instruções e orientações dadas por Deus não são apenas regras, mas o meio pelo qual a comunhão com ele é preservada e vivenciada plenamente.
Aqui em Levítico 1.1, encontramos a terceira vez em que Deus chama Moisés. PRIMEIRO, o SENHOR o chamou da sarça ardente no deserto, comissionando-o a liderar Israel para fora do Egito (Êx 3.4). DEPOIS, chamou-o do topo do monte Sinai para revelar a lei de sua aliança com Israel (Êx 19.3). AGORA, Deus o chama novamente, desta vez para revelar, com detalhes, como Israel deveria viver em cada aspecto de suas vidas diárias, a fim de desfrutar de comunhão contínua com ele.
A MENSAGEM CENTRAL DE LEVÍTICO, resumida em 19.2, é clara: “Sejam santos, pois eu, o SENHOR, seu Deus, sou santo.” A santidade não se restringia à adoração no santuário; ela deveria permear todas as áreas da vida. A santidade englobava o cotidiano: a cozinha, o quarto, o comércio, o convívio, o tribunal e o campo, abrangendo também as questões de vida e morte, tempos e estações. Envolvia três aspectos principais:
No centro desse conceito de santidade estavam as ideias de separação e pureza. O estilo de vida dos israelitas deveria ser distinto do dos povos ao redor, refletindo o caráter de Deus em todos os aspectos: na adoração, na alimentação, nos relacionamentos e na justiça.
ESSE CHAMADO PARA SER UM POVO SANTO era, sem dúvida, exigente. Contudo, em sua graça, Deus não deixou o povo sem direção, mas forneceu orientações claras e detalhadas sobre como alcançar essa santidade. Ao longo do livro de Levítico, quase quarenta vezes encontramos a expressão: “O SENHOR disse a Moisés.” Isso deixa evidente que as instruções sobre rituais, ofertas e sacrifícios não eram fruto da imaginação de Moisés, nem invenções posteriores ou imitações das práticas dos povos vizinhos. Elas eram revelações divinas mesmo, e, por isso, deveriam ser recebidas com reverência, estudadas com seriedade, interpretadas com sabedoria e obedecidas com fé e alegria.
Ao ler Levítico, fica claro que, por trás desse chamado, está o desejo de Deus de habitar no centro da vida do seu povo e cultivar um relacionamento contínuo com eles. O livro não é apenas um conjunto de regulamentações; trata essencialmente de relacionamento. Ele instrui sobre como o povo pode permanecer próximo a Deus e sobre como manter uma convivência harmoniosa, tanto com ele quanto uns com os outros.
É importante recordar que Deus libertou Israel da escravidão no Egito por meio de dez pragas. Depois, abriu o mar Vermelho, livrando-os do exército de Faraó. Mais tarde, no monte Sinai, Deus encontrou-se com o seu povo, falou com Moisés e declarou que estava estabelecendo uma aliança com a nação que ele havia redimido, afirmando:
Êxodo 19.4-6 (NVT)
4‘Vocês viram o que fiz aos egípcios. Sabem como carreguei vocês sobre asas de águias e os trouxe para mim. 5Agora, se me obedecerem e cumprirem minha aliança, serão meu tesouro especial dentre todos os povos da terra, pois toda a terra me pertence. 6Serão meu reino de sacerdotes, minha nação santa’. Essa é a mensagem que você deve transmitir ao povo de Israel”.
No entanto, o povo de Israel inevitavelmente falhou em viver plenamente segundo a visão de santidade proposta por Deus. Incredulidade, impaciência, ingratidão, impurezas, pecados e fraquezas passaram a marcar sua convivência, ameaçando interromper a presença de Deus em seu meio. Por essa razão, tornou-se indispensável um meio de perdão e restauração — uma forma de reparar a harmonia quebrada com Deus e dentro da comunidade.
Além disso, era essencial reverter a desordem introduzida pelo pecado, uma desordem que ameaçava não apenas a relação com Deus, mas também a criação como um todo, podendo reconduzi-la ao caos primordial. As palavras iniciais de Levítico mostram que o bem-estar contínuo de Israel, assim como ocorreu quando da libertação do Egito, dependia inteiramente da iniciativa de um Deus gracioso. Ele, então, rompe o silêncio para oferecer instruções claras sobre como cultivar o convívio com ele e restaurar a comunhão quando as inevitáveis falhas humanas surgissem. Levítico 1.1-2 (NVT):
1Da tenda do encontro, o SENHOR chamou Moisés e lhe disse: 2“Dê as seguintes instruções ao povo de Israel. Quando você apresentar um animal como oferta para o SENHOR, escolha-o dos rebanhos de gado, ovelhas ou cabras. […]
“Quando você apresentar uma oferta”
Os primeiros sete capítulos de Levítico tratam dos sacrifícios que Israel deveria oferecer a Deus, detalhando cinco tipos principais de ofertas.
As três primeiras ofertas
Essas três primeiras ofertas eram voluntárias, muitas vezes apresentadas espontaneamente como expressão de gratidão. Ao serem queimadas no altar, produziam um aroma agradável ao Senhor (1.9, 13, 17; 2.2, 9, 12; 3.5, 16). Elas não eram obrigatórias; surgiam de corações gratos que desejavam honrar a Deus.
As duas últimas ofertas
Diferentemente das três primeiras, essas duas últimas ofertas eram obrigatórias em determinadas circunstâncias. Elas tratavam do pecado e da culpa, oferecendo um meio de restauração e reconciliação com Deus.
Perspectivas complementares
Levítico 1.1–6.7 apresenta os sacrifícios sob a perspectiva do povo. Contudo, nos capítulos 6.8–7.38, Moisés revisita os mesmos sacrifícios, agora com detalhes adicionais voltados para os sacerdotes — manter o fogo aceso no altar (6.8-13), manter o aroma agradável (6.14-23), manter seguras as coisas sagradas (6.24-30), manter os sacerdotes supridos (7.1-10, 28-36) e manter a comunhão pura (7.11-27). Apesar de esses capítulos cobrirem a maior parte dos sacrifícios de Israel, outros tipos aparecem mais adiante, como:
Elementos gerais dos rituais
Embora houvesse diferenças nos propósitos e materiais das ofertas, os rituais seguiam um formato básico:
Cada etapa carregava um significado profundo, e as variações possuíam implicações espirituais específicas.
Significados espirituais e aplicação
Levítico está repleto de significados. Deus usava esses atos simbólicos para transmitir verdades espirituais a Israel. Como bem afirmado: “Os leitores de Levítico encontrarão Deus nos detalhes.” Contudo, ao estudar o livro, é fundamental evitar alegorias ou interpretações criativas. Em vez de subjetividade, procure compreender como os autores do Novo Testamento abordaram os simbolismos e as tipologias de Levítico, revelando seu cumprimento em Cristo e na nova aliança. Cristo é o verdadeiro sacrifício que substitui e transcende todos os rituais descritos em Levítico.
Para aprofundar-se nesse tema, recomenda-se o uso de boas Bíblias de estudo. Algumas excelentes opções incluem:
Esses recursos oferecem notas e comentários que ajudam a conectar os detalhes de Levítico à revelação completa de Cristo no Novo Testamento.
O que faremos a seguir é esboçar a mensagem central de cada um dos cinco sacrifícios apresentados em Levítico 1–7 e, ao final, extrair algumas aplicações práticas. Este é o limite do que podemos abordar em uma exposição panorâmica do livro. Ademais, como já mencionei, recomendo que você se aprofunde no tema por conta própria, dedicando-se a explorar os detalhes com mais atenção.
Eis o esboço de Levítico 1–7:
Avancemos.
1. Consagração a Deus: A Oferta de Holocaustos
Levítico 1
As instruções sobre a oferta do holocausto, conforme descritas no livro de Levítico (1.3-17; 6.8-13), revelam aspectos profundos da adoração e da consagração a Deus.
O propósito principal desse sacrifício era a expiação do pecado em geral, como indicado em Levítico 1.4: “Coloque a mão sobre a cabeça do animal, para que seja aceito em seu lugar como expiação.” Além disso, o holocausto simbolizava uma entrega total e uma consagração completa a Deus, razão pela qual é chamado de “holocausto completo” — Levítico 1.8-9: “Arrumarão também os pedaços da oferta, incluindo a cabeça e a gordura, sobre a lenha acesa no altar, mas os órgãos internos e as pernas serão lavados primeiro com água. Então o sacerdote queimará tudo no altar como holocausto. É uma oferta especial, um aroma agradável ao SENHOR.”
A composição do sacrifício variava conforme as condições econômicas do ofertante, permitindo a participação de todos. Três opções principais eram previstas: 1) Um touro sem defeito, destinado àqueles que possuíam maior riqueza (1.3-9). 2) Um cordeiro ou cabrito macho, também sem defeito, como alternativa intermediária (1.10-13). 3) Uma rolinha ou um pombinho, para aqueles com recursos mais limitados (1.14-17).
Quanto à divisão do sacrifício, todo o animal, exceto a pele, era queimado no altar do holocausto como oferta a Deus (1.9; 7.8). A pele era destinada ao sacerdote, constituindo sua única porção no ritual (7.8). O ofertante, por sua vez, não recebia nenhuma parte do animal sacrificado, simbolizando a totalidade de sua entrega.
Os sacerdotes apresentavam holocaustos todas as manhãs e noites em favor de toda a nação. Esses sacrifícios funcionavam como uma confissão diária de pecados, de modo semelhante à oração ensinada por Jesus: “perdoa as nossas dívidas” (Mt 6.9-13).
O papel do sacerdote no ritual era o de auxiliar o adorador, e não o de um intermediário divino indispensável ou de um agente mágico. Na verdade, o sacerdote comunicava ao adorador aquilo que Deus havia revelado por meio de Moisés. Assim, ele “mediava” a presença de Deus. O sacerdote conduzia o povo ao encontro com o SENHOR de acordo com as instruções prescritas pelo próprio Deus, resultando em dois benefícios: evitar a justa ira divina e assegurar o perdão.
2. Ações de Graças a Deus: A Oferta de Cereais
Levítico 2
As instruções sobre a oferta de cereal, registradas em Levítico 2.1-16 e 6.14-23, destacam um aspecto significativo dos rituais de adoração israelita, frequentemente associado aos sacrifícios de holocausto. Essa oferta tinha como propósito expressar homenagem e ações de graças a Deus, simbolizando a gratidão e a dependência do povo em relação ao Criador da vida e Redentor dos pecadores.
A oferta de cereal era apresentada em três formas principais, adaptadas às circunstâncias do ofertante: 1) Farinha da melhor qualidade, misturada com azeite e incenso (2.1-3). 2) Bolos feitos de farinha misturada com azeite, preparados de diferentes maneiras: assados no forno (2.4), em uma assadeira (2.5) ou em uma panela (2.7). 3) Cereal dos primeiros frutos da colheita, assado e misturado com azeite e incenso, dedicando a Deus os primeiros frutos da colheita (2.14-15).
No ritual, uma porção memorial da oferta de cereal era queimada no altar do holocausto como símbolo de consagração a Deus, produzindo “um aroma agradável ao SENHOR” (2.2, 9, 16). Contudo, a maior parte da oferta era destinada ao sacerdote, que a consumia no pátio do tabernáculo (2.3, 10; 6.16-18). Assim como no holocausto, o ofertante não recebia nenhuma parte da oferta, destacando o caráter de entrega total e generosa a Deus.
Por outro lado, o fato de o sacerdote se alimentar dessa oferta reforça a natureza comunitária da adoração em Israel. Sacerdotes e suplicantes compartilhavam juntos das bênçãos do perdão, e, como os sacerdotes representavam o SENHOR, o povo, por extensão, experimentava comunhão com Deus.
3. Comunhão com Deus: A Oferta de Paz
Levítico 3
O sacrifício de comunhão, descrito em Levítico 3.1-17 e 7.11-36, enfatizava a paz e a harmonia entre o ofertante e Deus, simbolizando um relacionamento pacífico que culminava em uma refeição comunitária. Esse sacrifício podia ser realizado em três formas principais, de acordo com a intenção do ofertante: 1) Oferta de gratidão (7.12) — expressava agradecimento por uma bênção ou libertação inesperada. 2) Oferta como cumprimento de voto (7.16) — demonstrava gratidão por uma bênção ou livramento recebido após a realização de um voto. 3) Oferta voluntária (7.16) — realizada espontaneamente, sem estar vinculada a bênçãos ou libertações específicas.
A composição do sacrifício variava conforme os recursos do ofertante e incluía: 1) Gado, macho ou fêmea, sem defeito (3.1-5). 2) Ovelhas ou cabras, macho ou fêmea, sem defeito (3.6-11). 3) Cabritos (3.12-17). Quando se tratava de uma oferta voluntária de um boi ou cordeiro, pequenas imperfeições no animal eram permitidas, exceto no caso de um sacrifício como cumprimento de voto (22.23).
A oferta era dividida em partes específicas: 1) A porção de Deus consistia nas partes gordurosas do animal, que eram queimadas no altar do holocausto (3.3-5). 2) A porção do sacerdote incluía o peito e a coxa direita, entregues ao sacerdote como sua parte (7.30-34). 3) A porção do ofertante era o restante do animal, que deveria ser consumido pelo ofertante e sua família no pátio.
As regras para o consumo variavam conforme o tipo de sacrifício: 1) Na oferta de gratidão, a carne deveria ser consumida no mesmo dia (7.15). 2) Na oferta como cumprimento de voto e na oferta voluntária, o consumo era permitido no primeiro e no segundo dia (7.16-18).
Esse era o único tipo de sacrifício em que o ofertante recebia uma parte do animal, destacando a ideia de celebração e comunhão, tanto com Deus quanto com os membros da comunidade. Assim, o sacrifício de comunhão ressaltava a gratidão como elemento essencial da adoração, promovendo um senso de unidade entre Deus e o ofertante, e entre o ofertante e o restante do povo.
4. Perdão de Deus: A Oferta por Pecados
Levítico 4.1–5.13
O sacrifício pelo pecado, descrito em Levítico 4.1–5.13 e 6.24-30, foi instituído para expiar pecados cometidos de forma inconsciente, especialmente em situações em que não havia possibilidade de restituição. Contudo, ele não se aplicava a atos de rebeldia declarada contra Deus, como esclarecido em Números 15.30-31, onde pecados cometidos de forma consciente e deliberada não eram cobertos por esse ritual.
Os elementos do sacrifício variavam de acordo com a posição do ofertante e suas condições econômicas: 1) Para o sumo sacerdote, era exigido um boi sem defeito (4.3-12). 2) Para a congregação como um todo, também era necessário um boi sem defeito (4.13-21). 3) Para um líder, o sacrifício consistia em um bode sem defeito (4.22-26). 4) Para uma pessoa comum, deveria ser oferecida uma cabra ou ovelha fêmea sem defeito (4.27-35). 5) Em caso de pobreza, duas rolinhas ou dois pombinhos poderiam ser apresentados: um para o sacrifício pelo pecado e o outro para o holocausto (5.7-10). 6) Em situações de pobreza extrema, farinha da melhor qualidade era aceita como substituto (5.11-13).
A oferta era dividida em três partes: 1) A porção de Deus incluía as partes gordurosas do animal, queimadas no altar do holocausto (4.8-10, 19, 26, 31, 35). Quando o sacrifício era pelo pecado do sumo sacerdote ou da congregação, o restante do boi era queimado fora do acampamento, simbolizando a remoção completa do pecado (4.11-12, 20-21). 2) A porção do sacerdote consistia no restante da cabra ou ovelha, quando o sacrifício era feito por um líder ou uma pessoa comum. Essa carne era consumida no pátio do tabernáculo, conforme as instruções de Levítico 6.26. 3) A porção do ofertante não existia, destacando a natureza expiatória e de total entrega desse sacrifício.
Esse ritual sublinhava a gravidade do pecado, mesmo quando cometido inconscientemente, e a necessidade de purificação e reconciliação com Deus. Ao mesmo tempo, as provisões para os pobres revelavam a misericórdia divina, assegurando que todos, independentemente de sua condição econômica, pudessem buscar expiação.
5. Reparação Diante de Deus: A Oferta pela Culpa
Levítico 5.14–6.7
A oferta pela culpa, descrita em Levítico 5.14–6.7 e 7.1-7, foi instituída para expiar pecados cometidos de forma inconsciente, especialmente em situações onde era possível realizar a devida restituição. Esse sacrifício visava não apenas restaurar o relacionamento com Deus, mas também assegurar justiça nas relações humanas.
Os requisitos da oferta variavam de acordo com a natureza da transgressão. 1) Ofensas contra o Senhor: Em casos relacionados a dízimos, ofertas ou compromissos sagrados, o ofertante deveria apresentar um carneiro sem defeito. Além disso, era necessário restituir o dano, cujo valor era calculado pelo sacerdote, acrescido de 20% (um quinto) do total (5.15-16). 2) Ofensas contra outra pessoa: Quando a transgressão afetava terceiros, o procedimento era semelhante: o ofertante oferecia um carneiro sem defeito e restituía à vítima o valor correspondente ao dano, também acrescido de 20% (um quinto) (6.4-6).
A oferta era dividida em três partes. 1) A porção de Deus incluía as partes gordurosas do carneiro, que eram queimadas no altar do holocausto como oferta ao SENHOR (7.3-5). 2) A porção do sacerdote consistia no restante da carne, destinada ao sustento daqueles que ministravam diante de Deus, devendo ser consumida em um lugar santo (7.6-7). 3) A porção do ofertante não existia, reforçando o caráter expiatório do sacrifício e a renúncia envolvida no processo de reconciliação.
Essa oferta destacava tanto a seriedade do pecado quanto o compromisso com a reparação. Além de restaurar o relacionamento com Deus, ela sublinhava a necessidade de corrigir os danos causados a outros, promovendo justiça e reconciliação dentro da comunidade.
Amarrando as Pontas
Ao colocarmos os sacrifícios descritos em Levítico 1–7 em perspectiva, sem nos deter nas minúcias ou buscar interpretações alegóricas ou criativas, conseguimos enxergar sua mensagem central.
EM PRIMEIRO LUGAR, vemos que somos pecadores diante de um Deus santo, que busca santificar um povo para si, capacitando-o a viver em comunhão pessoal com ele e em convivência harmoniosa com outros que também andam com ele. Deus é justo, pois não tolera o pecado, mas também é justificador, removendo a culpa do pecador por meio de sacrifício de sangue. Ele é um Deus santo e compassivo, justo e amoroso, que abre caminho para que tanto ricos quanto pobres possam se aproximar de sua presença.
EM SEGUNDO LUGAR, aprendemos a reconhecer nossa capacidade de pecar contra Deus e contra o próximo, seja de forma voluntária e consciente, seja de forma involuntária, sem plena percepção de culpa. Essa compreensão nos tira da defensiva, elimina nossa justiça própria e nos ensina a necessidade de confessar nossas culpas e pecados. Devemos fazê-lo tanto diante de Deus quanto diante do próximo que ofendemos ou prejudicamos, buscando sempre, quando possível, a devida restituição.
EM TERCEIRO LUGAR, trata-se de aprendermos a amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a nós mesmos, vivendo para a glória de Deus.
EM QUARTO LUGAR, observamos que as instruções dos sacrifícios apresentam um caminho ordenado a seguir. Primeiramente, a reconciliação com Deus é estabelecida por meio do holocausto (Lv 1). Em seguida, a ação de graças é expressa pela oferta de cereais (Lv 2). Isso nos posiciona para desfrutar de comunhão com Deus e com o próximo, simbolizada pela oferta de paz (Lv 3). No entanto, como continuamos a pecar, seja por ação ou omissão, torna-se necessário buscar perdão e reparação — daí as ofertas pelo pecado (Lv 4.1–5.13) e pela culpa (Lv 5.14–6.7).
Ao longo desses sete capítulos, A PALAVRA-CHAVE É OFERTA. No hebraico, o termo traduzido como “oferta” deriva de um verbo que significa “trazer para perto”. Literalmente, pode ser entendida como “aquilo que trazemos para perto de Deus”. O fato de os israelitas poderem aproximar-se para apresentar seus presentes a Deus demonstra a misericórdia divina. Apesar da natureza pecaminosa e rebelde do povo, Deus instituiu um sistema de sacrifícios que tornava possível a reconciliação com ele e uns com os outros.
Esses sacrifícios apontavam para a morte de Jesus na cruz, o sacrifício definitivo, que eliminou a necessidade de qualquer outro sacrifício. Representavam apenas “uma sombra, um vislumbre das coisas boas por vir, mas não as coisas boas em si mesmas” (Hb 10.1). A realidade última dessas coisas boas é Cristo. Por meio de sua morte sacrificial, e fé nesse sacrifício, os cristãos foram definitivamente reconciliados com Deus.
Hebreus 10.8-14 (NVT)
8Primeiro Cristo disse: “Não quiseste sacrifícios nem ofertas, nem holocaustos, nem outras ofertas, nem te agradaste delas” (embora sejam exigidas pela lei). 9Então acrescentou: “Aqui estou para fazer tua vontade”. Ele cancela a primeira aliança a fim de estabelecer a segunda. 10Pois a vontade de Deus era que fôssemos santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo, de uma vez por todas.
11O sacerdote se apresenta todos os dias para realizar os serviços sagrados e oferece repetidamente os mesmos sacrifícios que nunca podem remover os pecados. 12Nosso Sumo Sacerdote, porém, ofereceu a si mesmo como único sacrifício pelos pecados, válido para sempre. Então, sentou-se no lugar de honra à direita de Deus 13e ali aguarda até que todos os seus inimigos sejam humilhados e postos debaixo de seus pés. 14Porque, mediante essa única oferta, ele tornou perfeitos para sempre os que estão sendo santificados.
A resposta adequada a esse sacrifício supremo é oferecer a vida a Deus:
Romanos 12.1-2 (NVT)
1Portanto, irmãos, suplico-lhes que entreguem seu corpo a Deus, por causa de tudo que ele fez por vocês. Que seja um sacrifício vivo e santo, do tipo que Deus considera agradável. Essa é a verdadeira forma de adorá-lo. 2Não imitem o comportamento e os costumes deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma mudança em seu modo de pensar, a fim de que experimentem a boa, agradável e perfeita vontade de Deus para vocês.
Essa reconciliação do homem com Deus também o reconcilia, em humildade, com os demais irmãos. Ela o conduz a buscar servir ao próximo e a se dedicar em serviço ao outro, promovendo a edificação mútua e o amadurecimento em Cristo. Como Paulo prossegue:
Romanos 12.3-10 (NVT)
3Com base na graça que recebi, dou a cada um de vocês a seguinte advertência: não se considerem melhores do que realmente são. Antes, sejam honestos em sua autoavaliação, medindo-se de acordo com a fé que Deus nos deu. 4Da mesma forma que nosso corpo tem vários membros e cada membro, uma função específica, 5assim é também com o corpo de Cristo. Somos membros diferentes do mesmo corpo, e todos pertencemos uns aos outros.
6Deus, em sua graça, nos concedeu diferentes dons. Portanto, se você tiver a capacidade de profetizar, faça-o de acordo com a proporção de fé que recebeu. 7Se tiver o dom de servir, sirva com dedicação. Se for mestre, ensine bem. 8Se seu dom consistir em encorajar pessoas, encoraje-as. Se for o dom de contribuir, dê com generosidade. Se for o de exercer liderança, lidere de forma responsável. E, se for o de demonstrar misericórdia, pratique-o com alegria.
9Amem as pessoas sem fingimento. Odeiem tudo que é mau. Apeguem-se firmemente ao que é bom. 10Amem-se com amor fraternal e tenham prazer em honrar uns aos outros.
Essa reconciliação com Deus e com os outros, alcançada pelo sangue de Cristo e que nos torna um só corpo que ministra mutuamente, é algo que Paulo também aprendeu de Levítico. Prova disso é o livro de Hebreus, amplamente reconhecido como o comentário mais claro de Levítico no Novo Testamento, que estabelece a mesma conexão: eu e Deus pelo sangue de Cristo; eu e o próximo no sangue de Cristo. Observe:
Hebreus 10.19-25 (NVT)
15Portanto, irmãos, por causa do sangue de Jesus, podemos entrar com toda confiança no lugar santíssimo, 20Por sua morte, Jesus abriu um caminho novo e vivo através da cortina que leva ao lugar santíssimo. 21E, uma vez que temos um Sumo Sacerdote que governa sobre a casa de Deus, 22entremos com coração sincero e plena confiança, pois nossa consciência culpada foi purificada, e nosso corpo, lavado com água pura.
23Apeguemo-nos firmemente, sem vacilar, à esperança que professamos, porque Deus é fiel para cumprir sua promessa. 24Pensemos em como motivar uns aos outros na prática do amor e das boas obras. 25E não deixemos de nos reunir, como fazem alguns, mas encorajemo-nos mutuamente, sobretudo agora que o dia está próximo.
O Manual de Sacrifícios de Levítico (1–7) aponta para Cristo, o único que nos reconcilia com Deus e nos capacita a viver como a nova humanidade diante de um mundo em constantes guerras. Venha a Cristo. Aproxime-se de Deus. Viva em amor.
S.D.G. L.B.Peixoto
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