21.01.2025
Levítico 8.1-3 (NVT)
1Então o SENHOR disse a Moisés: 2“Traga Arão e seus filhos, as roupas sagradas, o óleo da unção, o novilho para a oferta pelo pecado, os dois carneiros e o cesto de pães sem fermento, 3e reúna toda a comunidade à entrada da tenda do encontro”. […]
Agostinho de Hipona (354–430) ergueu o olhar para a congregação reunida no aniversário de sua consagração como bispo e, com a voz marcada pela gravidade de suas palavras, ponderou sobre a imensidão da responsabilidade que recaía sobre seus ombros como pastor do rebanho de Cristo confiado aos seus cuidados:
Repreender os que promovem contendas, confortar os de pouca coragem, apoiar os fracos, refutar os opositores, manter-se em guarda contra armadilhas, instruir os ignorantes, despertar os indolentes, desencorajar os que desejam comprar e vender [Parece aludir à necessidade de criticar a mercantilização da fé, bem como a avareza, o materialismo e os interesses mesquinhos das ovelhas.], colocar os presunçosos em seu devido lugar, apaziguar os contenciosos, ajudar os pobres, libertar os oprimidos, encorajar os bons, suportar os maus e amar a todos.
Pregar, defender, reprovar, edificar e estar disponível para todos — esse é o grande fardo que pesa sobre mim.
Os deveres pastorais de Agostinho, embora árduos, eram diminutos diante da imensa responsabilidade que Arão deveria assumir como sumo sacerdote de Israel (Lv 21.10). Ele e sua família foram escolhidos como guardiões da santidade, mestres do povo e intermediários entre a nação e Deus. Por essa razão, o ofício sacerdotal não poderia ser exercido de forma leviana, nem inspirado nas práticas dos sacerdotes pagãos ou fundamentado em iniciativas humanas. Pelo contrário, deveria ser desempenhado com plena consciência de sua sublimidade, conforme a revelação divina, e com o reconhecimento do povo de Deus.
Essa exigência de reverência e obediência encontra sua raiz no propósito maior de Levítico, que destaca a purificação e a santidade como condições indispensáveis para se aproximar de Deus e desfrutar de sua presença. O povo da aliança, estabelecido em Gênesis e redimido da escravidão no Egito, conforme narrado em Êxodo, agora era convocado a viver em comunhão com Deus. Contudo, sem santidade, ninguém verá o SENHOR (Hb 12.14); e apenas os limpos de coração terão o extasiante privilégio de ver a Deus (Mt 5.8).
Esse é, portanto, o propósito central de Levítico: traçar o caminho para a santificação, capacitando o povo a experimentar uma vida de íntima comunhão com o Deus santo. Nesse cenário, o papel do sumo sacerdote era fundamental, servindo como mediador entre Deus e o povo. Ele simbolizava a necessidade de intercessão e pureza, elementos essenciais para que a aliança pudesse ser plenamente vivida e o relacionamento com Deus fosse preservado em sua plenitude.
O Manual de Sacrifícios
Nos capítulos 1 a 7 de Levítico, que já estudamos, está o chamado Manual de Sacrifícios, que revela como experimentar a presença de Deus. Esse bloco aborda uma questão central: como pessoas pecaminosas e impuras podem oferecer adoração ao Deus santo e manter comunhão com ele? A resposta está nos rituais de sacrifício, instituídos pelo próprio Deus como meio de purificação, expiação e restauração da comunhão quebrada pelo pecado. Esses sacrifícios não apenas simbolizam a reconciliação entre o ser humano e o Criador, mas também destacam a santidade divina e a necessidade de aproximar-se de Deus segundo os termos estabelecidos por ele próprio para os sacrifícios e ofertas.
O sistema sacrificial de ofertas no Antigo Testamento está profundamente enraizado na história da redenção e na relação entre Deus e o povo da aliança.
A história das ofertas tem origem nos primórdios da narrativa bíblica. O primeiro sacrifício foi realizado por Deus mesmo, que matou animais para vestir Adão e Eva como parte de sua aliança redentora (Gn 3.15-21). Abel, posteriormente, ofereceu um sacrifício de sangue, aceito por Deus “pela fé” do ofertante (Gn 4.4; Hb 11.4). Após o dilúvio, Noé adorou a Deus com a oferta de animais limpos, marcando uma nova etapa na história da redenção (Gn 8.20). Abraão, Isaque e Jacó também mantiveram essa prática, erguendo altares e apresentando ofertas ao Senhor (Gn 12.7; 26.25).
Fazer ofertas tornou-se uma prática quase universal entre os povos antigos, com raízes no sacrifício realizado por Deus no Éden. Contudo, após Babel, sua transmissão oral levou à distorção da prática, que foi misturada a crenças pagãs e rituais idólatras, comprometendo seu propósito original. Essa deturpação introduziu elementos alheios à verdadeira adoração, perceptíveis até hoje em diversas religiões e culturas.
Deus, ao fundamentar sua aliança com Israel no Sinai, restaurou e formalizou o sistema sacrificial, tornando-o parte central da relação do povo com ele. Esse sistema apontava para a expiação verdadeira, ensinando santidade, arrependimento e reconciliação. Mais que um resgate da prática original, ele antecipava a oferta perfeita de Cristo, que consumaria definitivamente o propósito do sacrifício.
Para elucidar aquilo que, à primeira vista, pode parecer complexo, apresento de forma concisa e organizada o sistema sacrificial de ofertas descrito em Êxodo e Levítico. Trata-se de um conjunto rico em significados espirituais e no todo profético.
Em Êxodo 12, encontramos a oferta redentora: o Cordeiro da Páscoa, sacrificado para a redenção do pecado e proteção contra a morte por meio de seu sangue derramado. Esse evento, carregado de simbolismo, aponta profeticamente para Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29).
Nos capítulos 1 a 7 de Levítico, distinguem-se dois tipos principais de ofertas: as de adoração (1–3) e as de restauração (4–7).
As ofertas de adoração (1–3) expressavam consagração e comunhão com Deus:
1. Levítico 1. Ofertas queimadas (holocaustos): Simbolizavam a entrega total da vida inteira a Deus (das entranhas ao corpo), apontando para Cristo, que se ofereceu integralmente ao Pai em favor do pecador (Hb 10.5-7).
2. Levítico 2. Ofertas de cereais: Representavam a consagração dos frutos do trabalho humano a Deus, prefigurando o corpo de Cristo, que foi apresentado como uma vida perfeita e agradável ao Pai (Hb 10.5).
3. Levítico 3. Ofertas de paz: Manifestavam gratidão pela comunhão com Deus e com os outros, antecipando Cristo, cuja entrega promove a verdadeira paz com Deus e com o próximo (Ef 2.14-16).
As ofertas de restauração (4–7) eram voltadas à reconciliação e ao restabelecimento da comunhão com Deus e com o próximo:
4. Levítico 4.1–5.13. Oferta pelo pecado: Objetivava restaurar o relacionamento com Deus por meio do sangue de um substituto, reconciliando tanto o pecador com Deus quanto os membros da comunidade da aliança entre si. Essa oferta aponta para Cristo, cuja obra redentora garante perdão contínuo mediante confissão de pecado e fé na obra de Cristo (Hb 9.12, 26; 1Jo 1.9).
5. Levítico 5.14–6.7. Oferta pela culpa: Destinava-se à reparação dos danos causados pelo pecado, tanto contra Deus quanto contra o próximo. Aponta para Cristo, que satisfaz plenamente as exigências divinas e reconcilia todas as coisas (2Co 5.19).
Esse sistema sacrificial não apenas regulava o culto e a comunhão de Israel com Deus — destacando a nação como santa entre os povos e nações —, mas também prefigurava, de forma clara e inequívoca, a obra redentora e definitiva de Cristo, o sacrifício perfeito, em quem todas essas ofertas encontram seu pleno cumprimento.
Manual do Sacerdócio
No texto para hoje à noite, nos capítulos 8 a 10 de Levítico, encontramos o que pode ser chamado de “Manual do Sacerdócio”, que descreve o ingresso no serviço a Deus. A narrativa aborda uma questão central: como os sacrifícios feitos pelo povo (descritos em Levítico 1–7) serão apresentados a Deus na adoração, e de que maneira o SENHOR os receberá? A resposta está no papel crucial dos sacerdotes consagrados, que atuam como mediadores entre o povo e o Senhor (descrito em Levítico 8–10).
Nosso Sumo Sacerdote
Esses dois temas — sacrifícios (1–7) e sacerdócio (8–10) — estão profundamente interligados, pois o pecador necessita tanto de um sacrifício quanto de um sacerdote diante de Deus. Em Cristo, encontramos ambos: ele, que ofereceu a si mesmo a Deus como sacrifício sem mácula, entrou no santuário celestial para desempenhar seu ministério sacerdotal e interceder por cada um de seus filhos (Hb 5.1-5; 7.23–8.6; 9.11-14, 24).
ASSIM COMO ARÃO, Jesus foi “escolhido por Deus” (Hb 5.1) e preparado para o ministério (Hb 5.7-9). Nesse contexto, o autor de Hebreus compara o sacerdócio de Jesus ao de Melquisedeque, em vez de ao de Arão, destacando sua eternidade e supremacia. Arão também foi separado para servir no santuário e oferecer sacrifícios — no caso de Cristo, o sacrifício de sua própria vida (Hb 8.2-3). Além disso, entrou no lugar santíssimo por meio da oferta de seu sangue, garantindo redenção eterna (Hb 9.12-14).
PORÉM, AO CONTRÁRIO DE ARÃO, Cristo era “santo”, “inculpável” e “sem mácula” por natureza, sem necessidade de tornar-se imaculado por meio de sacrifícios (Hb 7.26, 28; 9.14). Seu sumo sacerdócio é permanente e perfeito, dispensando a necessidade de sacrifícios repetidos ou em benefício próprio (Hb 7.24, 27; 10.11-12).
Em suma, é de Cristo que se trata o sistema de sacrifícios e o sacerdócio estabelecidos em Levítico.
Nosso Serviço
Em outro aspecto, a ordenação de Arão serve como modelo significativo para aqueles chamados ao serviço especial de Deus. Contudo, na nova aliança, todos os cristãos são sacerdotes de Deus (1Pe 2.9; Ap 1.6). Esse sacerdócio espiritual tem implicações para todos os crentes, não se limitando ao “ministério ordenado”.
É essencial distinguir o conceito veterotestamentário de sacerdócio da compreensão neotestamentária de ministério, que apresenta diferenças significativas. O papel mediador exclusivo do sacerdócio aarônico foi plenamente cumprido e não é mais necessário, pois pertence unicamente a Cristo, o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5). No contexto da nova aliança, o papel pastoral não é o de mediador, mas o de cuidador e capacitador dos santos. O pastor não atua como um performador, mas como um guia e preparador das ovelhas, com o objetivo de equipá-las para o ministério cristão e para a edificação do corpo de Cristo (Ef 4.11-16).
Ainda assim, o modelo de serviço apresentado na ordenação de Arão fornece lições valiosas sobre dedicação, consagração e obediência, inspirando todos os cristãos a servirem a Deus com zelo, fidelidade e um coração comprometido com sua obra.
RECAPITULANDO: o livro de Êxodo encerra-se com a construção do tabernáculo (Êx 35–40), enquanto os primeiros capítulos de Levítico (1–7) apresentam um manual detalhado sobre os sacrifícios a serem realizados nesse local sagrado. Após isso, o SENHOR entrega a Moisés as instruções específicas para o serviço no tabernáculo (Lv 8–10).
Levítico 8 narra a consagração de Arão e seus filhos, marcando o início oficial do ministério sacerdotal. No capítulo 9, descrevem-se os primeiros serviços realizados no tabernáculo, demonstrando a obediência inicial do povo às orientações divinas. Contudo, no capítulo 10, há um episódio de grave desobediência, em que os sacerdotes violam as instruções do SENHOR em questões de adoração. Esse ato é imediatamente seguido pelo juízo de Deus sobre os sacerdotes envolvidos, destacando a seriedade com que ele exige que sua santidade seja respeitada e reverenciada.
Eis o que abordaremos a seguir:
1) A consagração para o serviço
Respondendo: como pessoas comuns, nós precisamos ser chamados
Levítico 8.1-5 (NVT)
1Então o Senhor disse a Moisés: 2“Traga Arão e seus filhos, as roupas sagradas, o óleo da unção, o novilho para a oferta pelo pecado, os dois carneiros e o cesto de pães sem fermento, 3e reúna toda a comunidade à entrada da tenda do encontro”.
4Moisés seguiu as instruções do Senhor, e toda a comunidade se reuniu à entrada da tenda do encontro. 5“É isto que o Senhor ordenou que façamos!”, anunciou Moisés.
A natureza do chamado de Deus:
O serviço cristão não tem início em iniciativas humanas ou em movimentos motivados por visões ou ambições pessoais, mas na resposta à iniciativa de Deus e na obediência ao seu chamado. Arão e seus quatro filhos exemplificaram essa submissão ao serem conduzidos à presença do SENHOR e cumprirem as cerimônias prescritas, conforme a vontade divina (vs. 4-5).
A escolha do vocabulário para descrever o ato de apresentação é profundamente significativa — versículo 6: “Em seguida, apresentou Arão e seus filhos”.
Até então, a mesma palavra havia sido utilizada exclusivamente para a “apresentação” de um animal sacrificial. Agora, porém, Arão e seus filhos são “apresentados” ao SENHOR de forma semelhante a um sacrifício, entregando suas vidas no altar para serem consagradas exclusivamente ao serviço de Deus.
Esse ato sublinha a natureza sacrificial e santa do chamado cristão, caracterizado por total dedicação e entrega ao propósito divino. Foi dessa imagem que Paulo extraiu sua aplicação em Romanos 12.1 (NAA), ao exortar os crentes a oferecerem seus corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: “Portanto, irmãos, pelas misericórdias de Deus, peço que ofereçam [apresentem] o seu corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Este é o culto racional de vocês.”
Lavagem: como pessoas pecadoras, nós precisamos de purificação
A cerimônia de consagração teve início com Moisés conduzindo Arão e seus filhos à frente e os lavando com água (Lv 8.6). Esse ato simbolizava a necessidade de pureza para aqueles que se aproximariam de um Deus santo e puro. Era imprescindível que os sacerdotes estivessem fisicamente íntegros (Lv 21.16–23) e completamente limpos, tanto exteriormente quanto interiormente — no corpo e na alma. De fato, em todas as ocasiões importantes, os sacerdotes realizavam lavagens rituais, banhando-se no grande lavatório localizado no pátio interno do tabernáculo (Lv 16.4, 24, 26, 28). Essa prática representava a santificação necessária para o serviço sagrado, enfatizando que somente os limpos poderiam estar diante do SENHOR.
A LIÇÃO: Uma vez que lavamos e branqueamos nossas vestes no sangue do Cordeiro (Ap 7.14), temos de, diariamente, nos purificar por meio da lavagem de água pela palavra, para nos apresentarmos a Cristo “como igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5.26-27, NAA).
Vestuário: como pessoas inadequadas, nós precisamos ser equipados
Os sacerdotes, sendo homens comuns, precisavam ser chamados; sendo pecadores, necessitavam de purificação e, além disso, sendo pessoas inadequadas, careciam de vestimentas adequadas ao ofício sagrado.
Levítico 8.7-9, 13 (NVT)
7Colocou a túnica oficial em Arão e amarrou o cinturão ao redor de sua cintura. Vestiu-o com o manto, sobre o qual colocou o colete sacerdotal, que prendeu firmemente com o cinturão decorativo. 8Colocou em Arão o peitoral e, dentro dele, o Urim e o Tumim. 9Pôs na cabeça de Arão o turbante e, na parte da frente do turbante, prendeu a tiara sagrada, o emblema de santidade, conforme o Senhor havia ordenado. […] 13Em seguida, Moisés apresentou os filhos de Arão. Vestiu-os com as túnicas, amarrou neles o cinturão e pôs-lhes na cabeça o turbante especial, conforme o Senhor tinha ordenado.
Após o banho ritual, Arão e seus filhos foram revestidos com as roupas sacerdotais. O sumo sacerdote recebeu oito peças de vestuário, sendo quatro delas exclusivas para sua função (isto é: o éfode ou manto, o peitoral do juízo, o turbante azul e a tiara de outro ou lâmina sagrada). Já os filhos de Arão foram vestidos de forma mais simples, usando calções de linho, túnicas ajustadas com cintos e turbantes.
Embora Levítico apenas mencione essas vestimentas, uma descrição completa e detalhada é encontrada em Êxodo 28, onde fica evidente que o sumo sacerdote apresentava-se com esplendor em suas vestes, causando uma impressão magnífica nos israelitas e contribuindo para a majestade do culto a Deus.
Curiosamente, as Escrituras não mencionam calçados. Os sacerdotes realizavam suas funções descalços, uma prática apropriada para aqueles que ministravam em terreno santo, na presença do SENHOR, como exemplificado nos encontros de Moisés e Josué com Deus (Êx 3.5; Js 5.15). Essa ausência de calçados reforçava a reverência e a santidade exigidas no serviço sacerdotal.
Essas vestes sagradas não eram apenas para distinção visual, mas apontavam para a pureza (túnica de linho fino), a modéstia (calções de linho), o serviço (cinto bordado), a submissão (o turbante), a santidade (a diadema de outro), a responsabilidade (o manto ou éfode) a justiça (o peitoral do juízo) e a intercessão (o manto azul) do servo dedicado ao SENHOR.
No Novo Testamento, todas essas representações encontram cumprimento em Cristo, o Sumo Sacerdote perfeito (Hebreus 4.14), que intercede continuamente por seu povo diante de Deus.
Unção: como pessoas não qualificadas, nós precisamos ser capacitados
Depois de colocar as vestes sacerdotais, distinguindo-os dos demais em Israel, os sacerdotes e o tabernáculo precisavam da unção.
Levítico 8.10-12 (NVT)
10Depois, Moisés pegou o óleo da unção e ungiu o tabernáculo e tudo que nele havia, a fim de consagrá-los. 11Aspergiu o altar com óleo sete vezes para ungi-lo, bem como todos os seus utensílios, a bacia e seu suporte, para também consagrá-los. 12Derramou um pouco do óleo sobre a cabeça de Arão, para ungi-lo e consagrá-lo.
A unção era o meio costumeiro pelo qual as pessoas eram dedicadas ao serviço de Deus. Quando Saul foi ungido como rei, o Espírito do Senhor veio sobre ele com poder (1Sm 10.1-13). De maneira semelhante, Davi foi ungido, e o Espírito permaneceu com ele durante todo o seu reinado (1Sm 16.13). Olhando para o futuro, Isaías profetizou que o Messias, aquele que traria boas novas aos pobres, seria ungido pelo “Espírito do SENHOR Soberano” (Is 61.1, NVT). Essa profecia encontra seu cumprimento em Jesus, que recebeu a unção mais perfeita jamais concedida, como descrito nos relatos de seu batismo (Mt 3.16-17; Mc 1.9-11; Lc 3.21-22).
Aos trinta anos, o carpinteiro de Nazaré iniciou seu ministério público. Apesar de ser o Filho eterno de Deus, ao viver como homem neste mundo, era necessário que ele recebesse o Espírito em sua plenitude, conforme lhe foi concedido por Deus. Como Martyn Lloyd-Jones explica: “porque ele havia se tornado homem e estava vivendo neste mundo como homem, embora ainda fosse o Filho eterno de Deus, ele precisava receber o Espírito em sua plenitude, e Deus lhe concedeu o Espírito”.
Se isso foi necessário para Jesus, quanto maior é a necessidade daqueles que ministram em seu nome! Ninguém deve ousar servir ao Senhor sem esse revestimento que vem do próprio Deus.
Dedicação: como pessoas comuns, nós precisamos de santificação
Estava concluída a primeira parte da cerimônia de consagração. Cerimonialmente, Arão e seus filhos estavam limpos e, oficialmente, consagrados ao serviço sacerdotal. No entanto, o pecado ainda habitava neles, o que os tornava incapazes de oferecer sacrifícios pelo povo sem que eles mesmos fossem continuamente santificados de seus próprios pecados. Por essa razão, Moisés, o mediador da aliança e, naquele momento, o sacerdote oficiante, agiu conforme o dever que lhe cabia: providenciou a purificação necessária para que pudessem exercer plenamente suas funções diante do SENHOR.
Levítico 8.14 (NVT) Então Moisés apresentou o novilho para a oferta pelo pecado. Arão e seus filhos colocaram as mãos sobre a cabeça do novilho, 15e Moisés o matou. […]
Deste ponto, no verso 15, até o verso 32, encontramos o ritual dos sacrifícios conforme fora detalhado em Levítico 1 a 7. Contudo, é importante destacar algumas particularidades desses sacrifícios.
A aplicação específica ao contexto da consagração: Esses sacrifícios não eram apenas rituais gerais, mas foram realizados como parte do processo de purificação e dedicação dos sacerdotes, — a “ordenação” deles — marcando sua entrada oficial no ministério sacerdotal.
O papel de Moisés como oficiante: Durante a cerimônia, Moisés atuou como sacerdote, oferecendo os sacrifícios em nome de Arão e seus filhos, já que eles ainda não estavam plenamente investidos em suas funções.
A combinação de diferentes tipos de sacrifícios: Foram incluídos sacrifícios pelo pecado, holocaustos e ofertas de paz, simbolizando a expiação, a dedicação total a Deus e a comunhão com ele, respectivamente.
A santificação pelo sangue: O sangue dos sacrifícios foi aplicado tanto no altar quanto nos próprios sacerdotes, simbolizando a purificação e a consagração total ao serviço do SENHOR.
Esses elementos ressaltam o caráter único e solene do ritual, enfatizando a necessidade de santidade e dedicação absoluta no serviço a Deus.
Esperando: como pessoas inexperientes, eles precisavam ser moldados
Depois de um dia cheio, Arão e seus filhos poderiam estar ansiosos para começar seu trabalho como sacerdotes. No entanto, foi-lhes ordenado esperar mais sete dias antes de assumirem suas responsabilidades.
Levítico 8.33-36 (NVT)
33Não saiam da entrada da tenda do encontro por sete dias, pois só então estará concluída a cerimônia de consagração. 34Tudo que fizemos hoje foi ordenado pelo Senhor a fim de fazer expiação por vocês. 35Agora, permaneçam à entrada da tenda do encontro dia e noite por sete dias e cumpram todas as exigências do Senhor. Se não o fizerem, morrerão, pois foi isso que o Senhor me ordenou”. 36Arão e seus filhos fizeram tudo que o Senhor tinha ordenado por meio de Moisés.
O significado desse intervalo de sete dias é mais espiritual do que apenas um padrão de rito de passagem. O período de espera sublinhava a necessidade de não entrar precipitadamente e sem preparo no serviço a Deus.
É a partir desse princípio que Paulo elabora sua exortação a Timóteo, encarregado de selecionar presbíteros para a igreja em Éfeso: “Não deve ser recém-convertido [neófito], pois poderia se tornar orgulhoso, e o diabo o faria cair.” (1Tm 3.6, NVT). Essa advertência encontra um paralelo direto no que acontecerá com Nadabe e Abiú, filhos de Arão, em Levítico 10: cheios de orgulho, eles se ensoberbecem, cometem sacrilégio e incorrem na condenação do diabo, resultando em sua queda e condenação.
Durante a semana de espera, à entrada da tenda do encontro (Lv 8.33), os sacerdotes deveriam oferecer sacrifícios por si mesmos (Lv 8.34) para manter a pureza, aprofundar a comunhão com Deus e preparar-se espiritualmente para suas funções. Como observa Gordon Wenham: “Um homem pode se contaminar em um momento, mas a santificação e a remoção da impureza geralmente são processos mais lentos”. De fato, a prontidão para o serviço não ocorre de forma instantânea. Há quem perceba uma semelhança entre os sete dias da criação e os sete dias dedicados à preparação e consagração do sacerdócio, sugerindo que ambos os processos foram igualmente trabalhosos, exigindo um longo e cuidadoso esforço, sendo ambos obras conduzidas pelo Espírito.
Entretanto, mesmo com esse período prolongado de reflexão, adoração e preparação, não se evitou que Nadabe e Abiú, pouco após assumirem suas funções — como já mencionado e exploraremos em maior detalhe em Levítico 10.1-3 —, não e evitou que Nadabe e Abiú comprometessem tragicamente seu sacerdócio devido à desobediência. Esse episódio destaca a seriedade e a gravidade de ingressar no serviço de Deus sem plena reverência e preparo espiritual, evidenciando as terríveis consequências de tratar o que é santo com descuido e leviandade.
Essa mesma ideia de preparo prolongado é refletida no ministério de Jesus. Após seu batismo, quando o Espírito desceu sobre ele, o primeiro movimento do Espírito foi enviá-lo ao deserto por quarenta dias (Mc 1.12-13). Durante esse período, Jesus orou, resistiu à tentação e enfrentou Satanás, fortalecendo-se para o ministério que estava por vir. Somente após esse preparo ele iniciou sua missão de curar os quebrantados e perdoar os pecadores. É evidente que essa atitude tinha como objetivo identificar Jesus com seu povo. Enquanto Israel falhou no deserto, Jesus permaneceu fiel. Além disso, esse gesto ilustra a importância do preparo prolongado para o serviço a Deus, mostrando que dedicação, disciplina e perseverança são indispensáveis para cumprir plenamente a missão divina.
Os discípulos de Jesus passaram por algo semelhante. Seu primeiro chamado não foi para agir, mas para estarem com Cristo (Mc 3.14). Após a ressurreição, foram instruídos a esperar em Jerusalém até que o Espírito Santo, prometido por Deus, fosse derramado sobre eles, antes de começarem o serviço público (At 1.4-5). Somente quando os discípulos entenderam que seu chamado principal era “à comunhão com seu Filho Jesus Cristo” (1Co 1.9), puderam servir verdadeiramente e oferecer algo aos outros, fruto do transbordar de seu relacionamento com Jesus.
Em nossa sociedade apressada, muitos entram no serviço a Deus sem o devido preparo, sem tempo para crescer em santidade, amadurecer em meio às provações ou buscar poder do alto. Essa pressa tem causado tropeços tropeços irreparáveis diante de desânimos, tentações ou provações, evidenciando uma a falta de preparo ou uma preparação inadequada. Mais grave ainda é o potencial de dano causado aos outros, que podem confiar em alguém não pronto para o ministério. Assim, esperar não é um opcional, mas um componente essencial do processo de consagração.
O capítulo 8 de Levítico enfatiza repetidamente a obediência a tudo o que o Senhor havia ordenado (Lv 8.5, 9, 13, 17, 21, 29, 36). E ele conclui transferindo a responsabilidade de obediência de Moisés para Arão e seus filhos: “Arão e seus filhos fizeram tudo que o Senhor tinha ordenado por meio de Moisés” (Lv 8.36). Não poderia haver melhor início para o sacerdócio do que obedecer cuidadosamente às ordens divinas. O sacerdócio não foi uma invenção humana ou uma conveniência sociológica, mas uma instituição divina para aqueles chamados a interceder entre Deus e o seu povo. Aqueles que hoje ocupam funções similares no serviço cristão são igualmente chamados a obedecer ao Senhor com o mesmo zelo e reverência.
1Pedro 2.4-5 (NVT)
4Vocês têm se aproximado de Cristo, a pedra viva. As pessoas o rejeitaram, mas Deus o escolheu para lhe conceder grande honra.
5E vocês também são pedras vivas, com as quais um templo espiritual é edificado. Além disso, são sacerdotes santos. Por meio de Jesus Cristo, oferecem sacrifícios espirituais que agradam a Deus.
Mas como? De que modo se vive para agradar a Deus?
Exercendo o nosso sacerdócio!
1Pedro 2.9 (NVT)
Vocês, porém, [vocês os que creem em Cristo, vocês que têm fé genuína, fé salvadora] são povo escolhido, reino de sacerdotes, nação santa, propriedade exclusiva de Deus. Assim, vocês podem mostrar às pessoas como é admirável aquele [NAA: a fim de proclamar as virtudes daquele] que os chamou das trevas para sua maravilhosa luz.
Que privilégio!
S.D.G. L.B.Peixoto
Mais Sermões
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Mais Séries
Sacerdócio
Pr. Leandro B. Peixoto