20.04.2025
1Irmãos, na primeira vez que estive com vocês, não usei palavras eloquentes nem sabedoria humana para lhes apresentar o plano secreto de Deus. 2Pois decidi que, enquanto estivesse com vocês, me esqueceria de tudo exceto de Jesus Cristo, aquele que foi crucificado. 3Fui até vocês em fraqueza, atemorizado e trêmulo. 4Minha mensagem e minha pregação foram muito simples. Em vez de usar argumentos persuasivos e astutos, me firmei no poder do Espírito. 5Agi desse modo para que vocês não se apoiassem em sabedoria humana, mas no poder de Deus.
— 1Coríntios 2.1-5 (NVT)
Há décadas, a psicologia e a neurociência se debruçam sobre um enigma fascinante e perturbador: como os hábitos se formam — e, sobretudo, como podem ser transformados. Incontáveis artigos, livros, palestras e cursos buscam responder a essa questão. Técnicas são propostas, estratégias são ensinadas, e promessas são feitas. Mas, à medida que lemos e analisamos essas abordagens, cresce a impressão de que todo o poder para mudar está realmente em nós mesmos — como se fôssemos máquinas capazes de realizar um “auto-reboot” e nos reprogramarmos simplesmente com força de vontade e disciplina pessoal.
Veja, por exemplo, esta abordagem que encontrei num artigo na internet. A sugestão é mais ou menos a seguinte:
“Visualize mentalmente os passos de uma nova atividade; aproveite os momentos do dia em que há um aumento natural da produção de noradrenalina; mude o ambiente para estimular novos comportamentos; e mantenha um controle sistemático de hábitos.”
Todas essas práticas, dizem os especialistas, podem facilitar a criação ou substituição de hábitos. Mas há um aviso: “não se trata de uma fórmula”. E, de fato, não é.
A conclusão, embora sofisticada em linguagem, é silenciosamente angustiante. Diante da dificuldade de promover mudanças profundas, a recomendação é — nas palavras deles mesmos! — a seguinte:
Beba um copo d’água ao acordar. Evite olhar o celular antes do café da manhã. Caminhe por 30 minutos. Automatize essas rotinas. Depois, quem sabe, tente modificar um hábito mais complexo.
Mas… e quando você não consegue? Quando fracassa pela décima vez? Quando a culpa lhe pesa e a frustração se acumula? A resposta do mundo moderno (e até evangélico) é esta: compre um curso. Eis como termina o artigo que estou citando:
Falhou em algum dia? Não se cobre demais. Tente novamente no dia seguinte. O importante é dar o primeiro passo e buscar conhecimento com quem entende do assunto. Para isso, a [instituição tal] desenvolveu o curso Neurobranding e Neuromarketing: Estratégias de Engajamento Sensorial. As aulas são 100% online e podem ser cursadas por todas as pessoas, independentemente da formação.
Meu Deus… é isso. Pessoas estão pagando pequenas fortunas para tentar mudar seus hábitos — e ainda assim, não conseguem. Não conseguem de verdade. Porque o problema não está apenas na química do cérebro e no comportamento automatizado. A raiz de tudo é o coração. E o coração humano não pode ser reprogramado por técnicas nem redimido por autodisciplina.
Pense: “Neurobranding e Neuromarketing: Estratégias de Engajamento Sensorial”. Só o nome já parece uma mistura de ficção científica com autoajuda corporativa. É quase como dizer: “Você não precisa nascer de novo — só precisa de um bom treinamento cerebral e uma marca forte na sua mente.” E tudo isso vendido como solução para a angústia humana diante da sua incapacidade de mudar.
Mas é exatamente aí que reside a tragédia: o ser humano tenta reconfigurar a superfície, enquanto ignora que o problema está no coração. Ele busca novas rotinas, quando na verdade precisa de nova vida. E isso não se compra com cartão de crédito, em 12 vezes, nem se acessa por login e senha — isso só se recebe pela graça de Deus, no poder da cruz de Cristo.
É justamente nesse ponto que a fé cristã apresenta uma perspectiva gloriosa, única, definitiva: a cruz de Cristo não apenas nos redime — ela nos capacita a viver de forma nova. Em Romanos 6.6 (NVT), lemos: “Nosso velho homem foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse destruído e não fôssemos mais escravos do pecado.”
A cruz, portanto, não é apenas símbolo de perdão. É poder de transformação. Ela salva e santifica. Ela não modifica apenas um comportamento — ela transforma o coração. E, a partir dele, promove uma mudança real. A cruz não promete “engajamento sensorial”, mas sim morte e ressurreição. Ela não oferece branding, mas identidade redimida. E, ao contrário do neuromarketing, que lida com estímulos, a cruz lida com escravidão do pecado — e nos liberta de verdade.
É sobre isso que trata a mensagem desta noite. E, enquanto ainda ecoam os sons da Páscoa, nós nos voltamos ao poder da cruz para compreender como ela, e somente ela, é capaz de nos transformar de dentro para fora.
Gostaria de saber se você concordaria com a seguinte visão acerca da cruz de Cristo: a crucificação de Cristo foi uma substituição única e definitiva do Filho de Deus em meu lugar, de modo que eu não precisasse sofrer, mas pudesse desfrutar da vida abundante que ele adquiriu para mim. — E aí, concorda? — Essa é uma perspectiva comum em nossos dias — na prática, senão na teoria — e guarda grande semelhança com o pensamento que Paulo precisou confrontar em Corinto.
O problema com essa visão da cruz é que ela ignora um fato imenso — a saber, aquilo que Jesus declarou em Lucas 9.23 (NVT): “Se alguém quer ser meu seguidor, negue a si mesmo, tome diariamente sua cruz e siga-me.” Quando Cristo morreu na cruz pelos pecadores, ele não apenas tomou o meu lugar, realizando o que eu jamais poderia fazer (perdoar o meu pecado), mas também revelou o que eu devo fazer, caso deseje salvar a minha vida, a saber: tomar a minha própria cruz e segui-lo pela estrada do Calvário — o caminho da morte para o eu.
Cristo morreu para nos salvar do inferno, mas não para nos poupar da cruz. Ele morreu para que fôssemos glorificados, mas não para que fôssemos isentos de ser crucificados. “Se alguém quer ser meu seguidor, negue a si mesmo, tome diariamente sua cruz e siga-me.” John Piper disse assim: “Para o cristão, a cruz de Cristo não é apenas um marco passado de substituição. É também um lugar presente de execução diária.”
Nós, aliás, já lemos o que Paulo escreveu em Romanos 6.6 (NVT); ouça: “Nosso velho homem foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse destruído e não fôssemos mais escravos do pecado.” E acrescentou, em Romanos 6.11 (NVT): Assim também vocês considerem-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus.” Em outras palavras, jamais permita que a cruz perca seu poder de crucificar em sua vida! Não a relegue ao passado sombrio, como se Cristo tivesse morrido pelos pecadores apenas para que você pudesse viver em busca de prazeres.
Os prazeres virão! Alguns já estão aqui — como o perdão, a adoção e uma medida de cura e santidade. Mas, assim como Jesus suportou a cruz pela alegria que lhe estava proposta, também nós seguimos esse caminho nesta era caída, conforme afirma a carta aos Hebreus (12.1-11). A maior parte da alegria que almejamos ainda está além do horizonte. Por isso, o autor de Hebreus nos exorta (13.13-14, NAA): “Saiamos, pois, a ele, fora do acampamento, levando a mesma desonra que ele suportou. De fato, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir.”
Em outras palavras, se você deseja salvar a sua vida, precisa perdê-la; e, se deseja seguir Jesus, deve tomar, diariamente, a sua cruz. A grande tragédia de boa parte do cristianismo contemporâneo é que a cruz foi confinada, com segurança, ao passado distante, ao Gólgota. E, na prática, o que isso implica é que Jesus foi banhado em sangue para que eu possa me banhar em uma banheira de hidromassagem na feira de vaidades desse mundo. E quanto maior a banheira, mais se honra a cruz — assim ensina o evangelho da prosperidade, e, mais recentemente, da hipergraça.
Mas o que tudo isso tem a ver com o nosso texto de 1Coríntios 2.1-5?
O que Paulo desejou evidenciar neste capítulo é que a raiz de tanto orgulho e arrogância em Corinto estava no fato de que os cristãos ali não estavam permitindo que a cruz exercesse, no presente, seu efeito crucificador. Eles acreditavam ter superado a cruz. A cruz pode até ter sido necessária para resolver o problema do pecado, mas agora — segundo pensavam — estavam plenos, ricos, eram sábios e fortes! Eram reis… aos próprios olhos. A fraqueza da cruz, a loucura da cruz, a humilhação da cruz — tudo isso, para eles, pertencia ao passado.
Observe o uso angustiante da ironia por parte de Paulo, logo mais adiante:
1Coríntios 4.8-11 (NVT)
8Vocês consideram que já têm tudo de que precisam. Pensam que já são ricos e até já começaram a reinar sem nós! Gostaria que, de fato, já estivessem reinando, pois então eu reinaria com vocês. 9Por vezes me parece que Deus colocou a nós, os apóstolos, em último lugar, como condenados à morte, espetáculo para o mundo inteiro, tanto para as pessoas como para os anjos.
10Nossa dedicação a Cristo [cf. 1.22-25] nos faz parecer loucos, mas vocês afirmam ser sábios em Cristo. Nós somos fracos, mas vocês são fortes. Vocês são respeitados, mas nós somos ridicularizados. 11Até agora passamos fome e sede, e não temos roupa necessária para nos manter aquecidos. Somos espancados e não temos casa.
O que Paulo está dizendo?
Ora, o apóstolo está afirmando que os coríntios estavam equivocados ao pensar que Jesus morreu na cruz para que, nesta era, eles pudessem desfrutar de plenitude, riqueza, dignidade real, sabedoria mundana e força. A cruz não é apenas um evento histórico; é um estilo de vida! “Tome a sua cruz diariamente”, disse Jesus! Mas eles não estavam tomando sua cruz diariamente. Estavam, sim, tomando o cetro real diariamente. Sentavam-se em seu trono todos os dias. Deixavam no passado aquilo que pertence ao presente — a saber, a cruz — e tentavam trazer para o presente aquilo que pertence ao futuro — a saber, o poder e a dignidade dos santos glorificados. E o resultado disso era que a cruz estava sendo esvaziada de seu poder de humilhar, e a herança estava sendo contaminada pelo orgulho e a ostentação.
E Paulo, nesses primeiros capítulos de 1Coríntios, fazia o que estava ao seu alcance para nos mostrar que a vida cristã é uma vida na cruz. Repetindo o que John Piper escreveu: “A cruz não é apenas um lugar passado de substituição; é também um lugar presente de execução diária” — a execução do orgulho, a execução da arrogância, a execução da ostentação (inclusive a ostentação espiritual) nos homens, a execução da autoconfiança, e a execução do amor ao dinheiro, ao status e aos elogios humanos. A cruz, portanto, não pode ser deixada no passado. Seu poder é para o presente.
O que Paulo faz em 1Coríntios 2.1-5 é ilustrar, a partir de sua própria experiência, o que ele quer dizer com o poder presente da cruz. Releia:
1Irmãos, na primeira vez que estive com vocês, não usei palavras eloquentes nem sabedoria humana para lhes apresentar o plano secreto de Deus. 2Pois decidi que, enquanto estivesse com vocês, me esqueceria de tudo exceto de Jesus Cristo, aquele que foi crucificado. 3Fui até vocês em fraqueza, atemorizado e trêmulo. 4Minha mensagem e minha pregação foram muito simples. Em vez de usar argumentos persuasivos e astutos, me firmei no poder do Espírito. 5Agi desse modo para que vocês não se apoiassem em sabedoria humana, mas no poder de Deus.
Paulo descreve sua chegada a Corinto por meio de duas afirmações negativas — sobre como não veio — e duas positivas — sobre como veio. Além disso, nos revela tanto o fundamento dessa forma de atuação, que é a cruz, quanto o seu objetivo: que a fé dos coríntios não se apoiasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus: a cruz.
Como Paulo não foi a Corinto
Primeiramente, observe as duas descrições de como Paulo não foi a Corinto. A primeira aparece no versículo 1: “Irmãos, na primeira vez que estive com vocês, não usei palavras eloquentes nem sabedoria humana para lhes apresentar o plano secreto de Deus.” A segunda está no versículo 4: “Minha mensagem e minha pregação foram muito simples. Em vez de usar argumentos persuasivos e astutos”.
Essas afirmações estão em plena harmonia com o que Paulo já havia dito em 1Coríntios 1.17: que ele pregava o evangelho, “não com palavras de sabedoria humana”. Como veremos, havia, sim, uma sabedoria naquilo que Paulo anunciava, mas não era a sabedoria deste mundo. E seu estilo de apresentação do evangelho não consistia em floreios retóricos que pudessem atrair admiradores da oratória.
Sabemos, por suas cartas, que Paulo era um pensador profundo e que dominava poderosamente a linguagem. Mas o ponto aqui é que ele não pregava o evangelho com a intenção de despertar admiração mundana ou carnal por suas habilidades. Ele não desejava que as pessoas respondessem à mensagem por causa de sua eloquência ou de seu intelecto.
Como Paulo foi a Corinto
Essas foram as descrições de como Paulo não foi ao coríntios. Agora, quais são as duas descrições de como foi a Corinto?
A primeira está no versículo 3: “Fui até vocês em fraqueza, atemorizado e trêmulo [ARA: fui até vocês em fraqueza, temor e grande tremor].” A segunda, no versículo 4. Depois de afirmar que sua pregação não consistiu em palavras persuasivas de sabedoria, ele acrescenta, positivamente, que foi “em demonstração do Espírito e de poder” (v. 4, ARA); ou: “me firmei no poder do Espírito” (NVT).
Portanto, as duas descrições de como Paulo foi a Corinto são: ele esteve entre eles em fraqueza, temor e grande tremor; e sua mensagem foi transmitida em demonstração do Espírito e de poder, sua mensagem foi firmada no poder do Espírito.
Qual era a fraqueza de Paulo
Em 2Coríntios 10.10 (NVT), lemos a respeito de como seus opositores o descreviam: “As cartas de Paulo são exigentes e enérgicas, mas em pessoa ele é fraco e seus discursos de nada valem.” Ou (NAA): “As cartas são graves e fortes, mas a presença pessoal dele é fraca e a sua palavra é desprezível.”
Evidentemente, Paulo não possuía uma aparência marcante ou atraente. Na verdade, parecia haver algo em seu corpo que o tornava cronicamente fraco e pouco impressionante aos olhos dos outros. Ouça como ele descreve sua primeira pregação às igrejas da Galácia, em Gálatas 4.13-14 (NVT):
13[…] certamente [vocês] se lembram de que eu estava doente quando lhes anunciei as boas-novas pela primeira vez. 14Embora minha saúde precária fosse uma tentação para me rejeitarem, vocês não me desprezaram nem me mandaram embora. Ao contrário, acolheram-me e cuidaram de mim como se eu fosse um anjo de Deus, ou mesmo o próprio Cristo Jesus.”
A razão pela qual se dá a entender que essa fraqueza, enfermidade ou condição era crônica é que Paulo descreve seu “espinho na carne”, em 2Coríntios 12, usando a mesma linguagem de fraqueza. No versículo 9, ele afirma que se gloriará ainda mais em suas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse sobre ele. Jesus lhe diz: “Minha graça é tudo de que você precisa. Meu poder opera melhor na fraqueza.”
E essa é exatamente a conexão que ele estabelece em nosso texto, não é mesmo? Ele diz, em 1Coríntios 2.3, que esteve entre eles “em fraqueza”. E, logo em seguida, em 1Coríntios 2.4, afirma que sua palavra e sua pregação foram “em demonstração do Espírito e de poder” — o mesmo poder que, segundo ele, se aperfeiçoa na fraqueza.
Paulo não tenta esconder nem negar suas fraquezas, que o tornavam desprezível aos olhos de alguns. Ao contrário, ele se gloria no fato de que Deus escolheu usar um vaso de barro, para que o efeito poderoso de sua pregação fosse claramente atribuído a Deus.
O temor e o tremor de Paulo
Além da fraqueza, havia ainda o “temor e tremor” mencionados em 1Coríntios 2.3. Isso significa, ao menos, que ele não foi a Corinto com uma postura arrogante. Não havia exibicionismo, vaidade ou ostentação. Em vez disso, havia humildade e um tremor genuíno, pois sua inadequação era grande, as consequências eram sérias, e os perigos, reais.
Se alguém disser: “Espere aí, pensei que os cristãos deveriam ser confiantes e destemidos” ou “fortes e corajosos”, como diz Deus a Josué — se você pensa assim —, considere estas palavras de um homem que conheceu profundamente o sofrimento e a oposição — João Calvino (em seu comentário de 1Coríntios 2.3):
Os servos do Senhor não são tão insensatos a ponto de não perceberem os perigos que os cercam, nem tão desprovidos de sensibilidade que não se deixem tocar por eles. Pelo contrário, é necessário que vivam seriamente apreensivos por duas razões fundamentais: primeiro, para que, reconhecendo sua própria fragilidade, aprendam a depender e a descansar única e inteiramente em Deus; segundo, para que sejam exercitados na verdadeira renúncia.
O apóstolo Paulo, por exemplo, não estava livre das influências do temor, mas sabia dominá-las de tal maneira que, mesmo diante dos perigos, permanecia corajoso. Com perseverança incansável e firme resistência, ele se preservava dos ataques de Satanás e do mundo. Assim, conseguia avançar com determinação por entre os inúmeros obstáculos do caminho.
Fazer tudo em relação a Cristo crucificado
Mas o que tudo isso tem a ver com a cruz de Cristo? O fato de Paulo estar com temor e tremor, de ser fraco e pouco impressionante, de evitar floreios retóricos e ostentação intelectual — o que tudo isso tem a ver com a cruz?
Em 1Coríntios 2.2, Paulo nos dá a resposta: “porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.” O que exatamente ele quer dizer com isso?
Certamente, não significa que, durante os dezoito meses que passou em Corinto, ele tenha falado apenas sobre a cruz. Na verdade, nesta mesma carta ele os repreende por não compreenderem outras doutrinas. Por exemplo: Paulo trata da unidade do corpo de Cristo e da rejeição às divisões internas, contrapõe a sabedoria de Deus à sabedoria humana e estabelece os fundamentos do ministério apostólico. Além disso, orienta quanto à pureza moral e à disciplina eclesiástica, à santidade do corpo em contraste com a imoralidade sexual, e às questões relacionadas ao casamento, ao celibato e à vida conjugal. Paulo também discorre sobre a liberdade cristã e a consciência individual, sobre a relação com os ídolos e o consumo de alimentos sacrificados, bem como sobre os direitos dos ministros do evangelho. Ele enfatiza o decoro e a ordem no culto público, o uso adequado dos dons espirituais e apresenta o amor como o caminho mais excelente. Por fim, reafirma a doutrina da ressurreição dos mortos e incentiva a solidariedade entre as igrejas por meio da coleta em favor dos santos. Tudo isso, de alguma forma, Paulo já havia ensinado ao longo dos dezoito meses que passou entre eles.
Portanto, ao dizer: “decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2), o que Paulo está afirmando é que tudo o mais que conhecesse, tudo o mais que ensinasse e tudo o mais que fizesse, ele o faria em relação a Cristo crucificado.
Isso nos leva de volta ao ponto de partida: Paulo não permite que a cruz se torne uma relíquia histórica. Ele a coloca no centro de sua vida, de seu ministério e de seus relacionamentos cotidianos. Ele fabrica tendas à sombra da cruz. Ele prega à sombra da cruz. Ele debate com opositores à sombra da cruz. Ele come, bebe e dorme em Cristo crucificado.
E o efeito disso sobre ele é transformador: torna-o um homem de amor contrito, tão fora de sintonia com este mundo ávido por glória, que sua vida só pode ser explicada pelo poder de Deus — pela cruz.
O que Paulo quer dizer com “poder”
Ainda não tratamos com profundidade da palavra poder, mencionada em 1Coríntios 2.4-5 (NVT), onde Paulo afirma:
4Minha mensagem e minha pregação foram muito simples. Em vez de usar argumentos persuasivos e astutos, me firmei no poder do Espírito. 5Agi desse modo para que vocês não se apoiassem em sabedoria humana, mas no poder de Deus.
Muitos interpretam esse “poder” como referência a milagres. De fato, Paulo realizou sinais e prodígios. Mas não parece que esse seja o foco aqui.
Não podemos deixar de pensar que, em primeiro lugar, Paulo tem em mente o poder mencionado em 1Coríntios 1.17, pois esse é o paralelo mais imediato ao nosso texto: “Pois Cristo não me enviou para batizar, mas para anunciar as boas-novas, e não com palavras de sabedoria humana, para que a cruz de Cristo não perca seu poder. ”
Portanto, quando ele diz, em 2.4, que não veio com esse tipo de eloquência, mas com demonstração do Espírito e de poder, é mais provável que esteja falando do poder da cruz — o poder do evangelho. Cristo crucificado é chamado de “poder de Deus” em 1Coríntios 1.24, e por isso, também é esse o “poder de Deus” referido em 1Coríntios 2.5.
O que Paulo mais desejava em sua vida era sair do caminho, para que o poder de Deus pudesse agir. A ideia de que alguém pudesse depositar sua esperança ou sua fé em sua eloquência ou força pessoal era, para ele, algo abominável. Tudo o que ele queria era exibir publicamente Jesus Cristo, e este crucificado, para que o poder da cruz pudesse salvar e santificar pecadores.
E o que Paulo fez, então? Morreu na cruz todos os dias. Morreu para a ostentação intelectual. Morreu para a eloquência impressionante. Morreu para as exigências seculares de apresentações elegantes, autoconfiantes, poderosas e atraentes. Morreu para si e viveu para Cristo, servindo o próximo — 2Coríntios 5.15 (NVT): “[Cristo] morreu por todos, para que os que recebem sua nova vida não vivam mais para si mesmos, mas para Cristo, que morreu e ressuscitou por eles.”
Paulo esteve entre os coríntios em fraqueza, temor e grande tremor, e fez questão de escrever isso, para que a nossa fé — a sua e a minha, nesta noite — não se apoiasse na sabedoria dos homens, nem tampouco em nossa própria força para transformar nossos hábitos, mas no poder de Deus: o poder de Cristo crucificado.
Portanto, suplico a você: não trate a cruz como uma relíquia histórica do passado. Ela é o próprio poder de Deus para transformar todas as áreas da sua vida. Se você deseja ser discípulo dele, se quer salvar a sua vida e não perdê-la, se anseia transformar, redimir, hábitos que te escravizam há anos, tome esta cruz diariamente. Considere este mundo como o caminho do Calvário, e não como ruas de ouro.
Então, você cultivará seu tesouro no céus — e as pessoas verão que o seu tesouro está nos céus — e Deus receberá toda a glória.
Agora, para tornar o sermão ainda mais prático e transformador, permitam-me três aplicações claras, profundas e pastoralmente relevantes de como o poder da cruz pode auxiliar na transformação de hábitos que escravizam:
1. A cruz revela a gravidade do seu pecado — e isso rompe com a trivialização do hábito escravizador
A cruz mostra o custo real do pecado. Quando se contempla Cristo crucificado, percebe-se que nossos pecados — inclusive os hábitos que cultivamos em segredo — não são inofensivos nem triviais. Eles são graves o suficiente para requerer o sangue do Filho de Deus.
Portanto, quando você for tentado a se render novamente a um hábito escravizador, volte-se para a cruz. Olhe para o preço que foi pago. Deixe que o horror da cruz destrua a sedução do pecado. O temor reverente e o amor grato a Deus serão forças espirituais muito mais poderosas do que a vergonha ou a culpa isoladas.
2. A cruz te liberta da necessidade de provar seu valor — e isso desarma hábitos que nascem da autopromoção ou do desespero
Muitos hábitos escravizadores nascem de uma busca por alívio emocional, validação, aceitação ou controle. Mas a cruz nos diz: você já foi aceito, já foi amado, já foi redimido — não por mérito, mas por graça. A cruz encerra a ilusão de que precisamos “nos salvar” por meio de esforço, performance ou prazer.
Portanto, Diante do impulso de buscar refúgio em um hábito destrutivo, pregue o evangelho a si mesmo: “Cristo morreu por mim. Não preciso provar nada. Posso não ter mérito, mas tenho valor. Estou seguro em seu amor. Ele é meu tesouro. Ele é meu prazer. Nada mais.” Esse tipo de liberdade interior corta o ímpeto de muitos vícios pela raiz.
3. A cruz te chama à morte diária — e isso te dá uma estratégia prática para lutar contra o pecado
Jesus disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia a dia e siga-me” (Lucas 9.23). Isso significa que a vida cristã normal é uma vida de crucificação constante do “eu” — e isso inclui nossos desejos desordenados e hábitos viciantes; crucificação do “eu” e fé:
Gálatas 2.20 (NVT) Fui crucificado com Cristo; assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Portanto, vivo neste corpo terreno pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim
Em vez de esperar uma transformação instantânea, abrace o processo diário de mortificação do pecado. Cada vez que você renuncia a um hábito escravizador, você está dizendo: “Hoje, estou crucificando esse desejo. Hoje, estou tomando minha cruz. Minha vida neste corpo terreno se dá pela fé no Filho de Deus.” Sim! Não é fácil, mas é o caminho pelo qual o poder da ressurreição se manifesta em você. Prove e veja.
S.D.G. L.B.Peixoto
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