24.04.2016
CAINDO NA GRAÇA DE DEUS
Jonas 3.1-10
1 A palavra do Senhor veio a Jonas pela segunda vez com esta ordem: 2 “Vá à grande cidade de Nínive e pregue contra ela a mensagem que eu lhe darei”. 3 Jonas obedeceu à palavra do Senhor e foi para Nínive. Era uma cidade muito grande; sendo necessários três dias para percorrê-la. 4 Jonas entrou na cidade e a percorreu durante um dia, proclamando: “Daqui a quarenta dias Nínive será destruída”. 5 Os ninivitas creram em Deus. Proclamaram um jejum, e todos eles, do maior ao menor, vestiram-se de pano de saco. 6 Quando as notícias chegaram ao rei de Nínive, ele se levantou do trono, tirou o manto real, vestiu-se de pano de saco e sentou-se sobre cinza. 7 Então fez uma proclamação em Nínive: “Por decreto do rei e de seus nobres: Não é permitido a nenhum homem ou animal, bois ou ovelhas, provar coisa alguma; não comam nem bebam! 8 Cubram-se de pano de saco, homens e animais. E todos clamem a Deus com todas as suas forças. Deixem os maus caminhos e a violência. 9 Talvez Deus se arrependa e abandone a sua ira, e não sejamos destruídos”. 10 Tendo em vista o que eles fizeram e como abandonaram os seus maus caminhos, Deus se arrependeu e não os destruiu como tinha ameaçado.
A relevância do nosso texto
Quero começar essa mensagem destacando a relevância do nosso texto.
Stuart Olyott (Jonas, ed. Fiel, pg. 49) argumentou que há duas razões pelas quais nós devemos considerar atentamente essa narrativa.
Esse capítulo contém a história do maior avivamento que já existiu. Mais pessoas são convertidas no capítulo 3 de Jonas do que em todo o Israel, no tempo do Antigo Testamento e do que no Dia de Pentecostes, no Novo Testamento.
Na História da Igreja houve dias grandiosos de despertamento espiritual. Por exemplo: no século IV, João Crisóstomo batizou 3 mil pessoas em um único dia. No século XVI, na época da Reforma Protestante, milhares vinham a Cristo semanalmente.
Os três séculos seguintes à Reforma, do século XVII ao século XIX, provaram de dias grandiosos nos países influenciados pelos escritos dos reformadores – da Europa aos Estados Unidos da América. Também há belíssimos registros do que Deus fez na Ásia, em países como a Coreia e a China, por exemplo.
Coisas lindas de Deus aconteceram de Jerusalém até os confins da terra, onde centenas e até milhares de pessoas se convertiam a Cristo, enquanto outras, já convertidas, rededicavam suas vidas ao Senhor. Indivíduos eram transformados, instituições eram chacoalhadas e a sociedade experimentava enormes benefícios em todos os sentidos, como consequência dos grandes avivamentos.
Porém, nunca, em toda História, houve algo semelhante ao capítulo 3 de Jonas. Jonas, o profeta relutante, foi o pregador e o missionário mais bem-sucedido de todos os tempos.
A segunda razão pela qual nós devemos dar atenção a esse capítulo é o que disse Jesus. “Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração e a condenarão; pois eles se arrependeram com a pregação de Jonas, e agora está aqui o que é maior do que Jonas.” (Mt 12.41) O arrependimento dos ninivitas foi genuíno. Nem mesmo as pessoas para quem Jesus pregou, a viva voz, experimentaram tamanha contrição, nem passaram por tão profunda transformação ou beberam de tão doce salvação.
Portanto, a beleza do marco histórico e a bênção manifesta de forma inigualável na vida daqueles pecadores justificam a relevância do nosso texto.
A urgente necessidade de um avivamento
A nossa geração precisa, urgentemente, de um avivamento – do mesmo tipo que caiu sobre “a grande cidade de Nínive”.
Por que a urgência de um avivamento? Pelo estado convalescente da igreja.
Em 1959, pregando à sua congregação na Capela de Westminster em Londres, na Inglaterra, Martyn Lloyd-Jones descreveu o estado da igreja de forma tão eficaz que tal apontamento fala mais da igreja de hoje do que da de então.
A Igreja é constituída de tal forma que cada membro é importante, e sua importância é vital. Por isso também chamo sua atenção para este assunto [avivamento], em parte porque sinto que há uma curiosa tendência, hoje em dia, de membros da Igreja Cristã sentirem e pensarem que podem, por si mesmos, fazer muito pouco, e assim tendem a depender de outros para fazerem tudo por eles. Isto, naturalmente, é algo que é característico da vida moderna. Por exemplo, homens e mulheres não participam mais de esportes como costumavam. Em vez disso, hoje ficam na audiência, assistindo, enquanto outros jogam. Houve uma época em que as pessoas providenciavam seu próprio entretenimento, porém hoje dependem do rádio e da televisão para se distraírem. E receio que essa tendência está se manifestando até mesmo na Igreja Cristã. Dia a dia é mais evidente que a grande maioria está simplesmente cruzando os braços e esperando que uma ou duas pessoas façam tudo que é necessário. Ora, obviamente isso é uma negação completa de tudo que o Novo Testamento apresenta a respeito da doutrina da Igreja como Corpo de Cristo, em que cada membro tem responsabilidades, tem uma função, e é de importância vital [cf. 1Co 12]. […]
Essa é a razão porque eu creio que esta é uma questão que realmente merece a urgente atenção de cada um de nós. Na verdade, não hesito em afirmar que, a não ser que nós, individualmente como cristãos, sintamos uma preocupação séria acerca da condição da Igreja e do mundo hoje em dia, então somos cristãos muito medíocres. Se nos associamos com a Igreja Cristã simplesmente para recebermos ajuda pessoal, e nada mais, então somos meras crianças em Cristo. Se experimentamos crescimento em nossas vidas cristãs, então devemos ter uma preocupação a respeito da situação da sociedade, uma preocupação a respeito da condição da Igreja, e uma preocupação a respeito da armadura do Deus Todo-poderoso [sobre nós]. Esta é, repito, uma questão que deve atingir a todos nós. [Mas parece que não está atingindo.]
– Avivamento, ed. PES, pg. 12
O estado convalescente da igreja indica que ela precisa de um avivamento. Algo nas proporções do que Jonas viu acontecer na cidade de Nínive. O povo de Deus precisa sair da UTI e a sociedade também. Tudo, portanto, deverá passar por um avivamento. Martyn Lloyd-Jones, mesmo morto, ainda fala.
David Martyn Lloyd-Jones
Lloyd-Jones viveu durante praticamente o século XX todo. Nasceu em dezembro de 1899 e faleceu em março de 1981. Pôde, portanto, ver muita coisa sobre o estado da igreja que desaguou na nossa geração.
Aos 27 anos ele já era pastor em sua terra natal – o País de Gales. Com 39 anos ele foi para Londres (no ano em que estourou a II Guerra Mundial) e se tornou pastor adjunto do então eminente pastor G. Campbell Morgan.
Quatro anos mais tarde, contando 43 de idade, tornou-se o pastor titular da Capela de Westminster, de onde se aposentou em 1968, aos 68 anos, por causa de um câncer no intestino. Dos 68 aos 81 anos, Lloyd-Jones viveu pregando itinerantemente e editando os seus sermões para publicação.
Por que esse breve relato biográfico?
Martyn Lloyd-Jones era um estudioso da história da igreja. Ele sabia que do século I até meados do século XIX, com exceção das eras de trevas que provocaram a Reforma Protestante, a Igreja sempre passou por momentos de grandes avivamentos. No entanto, para a tristeza de todos, no século XX o que se experimentou foi um período de adoecimento. A igreja começou a convalescer. Precisava-se, urgentemente, de um avivamento. Vale a pena você ler o livro dele, publicado pela editora PES, cujo título é “Avivamento”.
O que é avivamento?
Lloyd-Jones tinha certeza de que a cura da Igreja passava necessariamente por um avivamento. Mas, o que é avivamento? Desculpem-me, mas outra vez nós precisaremos recorrer a ele, Martyn Lloyd-Jones, que é mestre no assunto. É impressionante a sua precisão cirúrgica ao definir o termo. Observe.
Não há necessidade de tomar tempo em dar uma definição do que quero dizer com avivamento. É uma experiência na vida da Igreja quando o Espírito Santo realiza uma obra incomum. Ele a realiza, primariamente, entre os membros da Igreja; é um reviver dos crentes. Não se pode reviver algo que nunca teve vida; assim, por definição, o avivamento é primeiramente uma vivificação, um revigoramento, um despertamento de membros de igreja que se acham letárgicos, dormentes, que estão quase morrendo. Subitamente o poder do Espírito vem sobre eles, e eles são levados a uma nova e mais profunda consciência das verdades que antes sustentavam intelectualmente e, talvez, também num nível mais profundo. Eles são levados a humilhar-se, e ficam convencidos de pecados e cheios de temor pelas suas condições diante de Deus. Muitos deles acham que nunca tinham sido cristãos. E então passam a ver a grande salvação de Deus em toda a sua glória, e a sentir o seu poder. Depois, como resultado do seu revigoramento e avivamento, começam a orar. Novo poder entra na pregação dos pastores, e o resultado disso é que muitos que estavam fora da Igreja são convertidos e ingressam nela. Assim, as duas principais características do avivamento são, primeiro, este extraordinário revigoramento dos membros da Igreja e, segundo, a conversão de multidões que até então estiveram fora na indiferença do pecado. (Há muitas outras consequências que não me detenho para mencionar, tais como a necessária provisão de edifícios maiores para a igreja, o estabelecimento de novas causas para abençoar a sociedade, numerosos homens se oferecendo para ao ministério e começando a preparar-se, e assim por diante). Eis aqui, pois em sua essência, uma definição do que queremos dizer com avivamento.
– Os Puritanos: suas origens e seus sucessores, ed. PES, pg. 15-16
A Igreja de Cristo precisa de um avivamento. Nós, membros da SIBGO, precisamos de um avivamento. Goiânia precisa de uma igreja reavivada pelo Espírito Santo de Deus.
Caindo na graça de Deus
Pois bem, isso nos traz de volta ao nosso texto.
Quando Jonas correu com Deus, mesmo que sozinho, mesmo imperfeito e pecador que era, mesmo diante de um grande império, mesmo a contragosto, ele colheu um enorme avivamento, o maior da história.
Jonas viu Nínive cair na graça de Deus. É disso que a Igreja precisa hoje.
Convido você a olhar para a reação de Nínive à pregação da Palavra de Deus pelo profeta Jonas e identificar os elementos fundamentais de uma experiência espiritual genuína. O tema é de fundamental importância, pois além de estarmos precisando de um mover de Deus, além de estarmos carentes de um “reviver dos crentes”, há muita coisa hoje em dia sendo descrita como avivamento, mas que na verdade é barulho, é alarido de festa no arraial de Deus; é fogo estranho no altar do Senhor; é expressão pagã travestidas de espiritualidade cristã, é culto sem espírito e sem verdade.
Portanto, quais são as marcas fundamentais de uma genuína experiência com Deus? Observe comigo quatro traços de quem caiu na graça de Deus.
1. Compreensão
Não há genuíno avivamento sem compreensão genuína da verdade revelada de Deus. Os ninivitas ouviram e compreenderam a mensagem do Senhor.
Jn 3.4-5 | 4 Jonas entrou na cidade e a percorreu durante um dia, proclamando: “Daqui a quarenta dias Nínive será destruída”. 5 Os ninivitas creram em Deus. Proclamaram um jejum, e todos eles, do maior ao menor, vestiram-se de pano de saco.
A Palavra foi pregada, foi crida e foi colocada em prática. Tudo isso porque, antes de tudo, ela foi compreendida. O que se compreendeu? Não houvesse arrependimento e mudança de vida, o final de Nínive seria o juízo de Deus.
A mente quando exposta à “clara exposição da verdade” (2Co 4.2) é iluminada pelo Espírito Santo, provocando transformações no pecador que outrora estava cego para Deus (2Co 4.3-6). O diabo sabe que sem compreensão não pode haver salvação nem avivamento, por isso ele cega e se empenha em arrancar a Palavra do coração de quem a ouve. Jesus disse assim:
Mt 13.19 | Quando alguém ouve a mensagem do Reino e não a entende, o Maligno vem e lhe arranca o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho.
A Palavra, quando pregada e pelo Espírito iluminada, leva compreensão do real estado do homem diante de Deus. Isso é fundamental para o genuíno avivamento. Observe o que Paulo escreveu aos coríntios:
1Co 14.24-25 | 24 Mas se entrar algum descrente ou não instruído quando todos estiverem profetizando, ele por todos será convencido de que é pecador e por todos será julgado, 25 e os segredos do seu coração serão expostos. Assim, ele se prostrará, rosto em terra, e adorará a Deus, exclamando: “Deus realmente está entre vocês!”
Não se deve, portanto, trocar a Palavra pelos programas, a Bíblia pelas brincadeiras, as Escrituras pelas esquesitices “evangélicas”.
Avivamento genuíno começa com compreensão da Palavra.
2. Convicção
A compreensão da Palavra de Deus gerou nos ninivitas convicção.
Jn 3.4-5 | 4 Jonas entrou na cidade e a percorreu durante um dia, proclamando: “Daqui a quarenta dias Nínive será destruída”. 5 Os ninivitas creram em Deus. Proclamaram um jejum, e todos eles, do maior ao menor, vestiram-se de pano de saco.
Ao compreenderem as palavras que saíram dos lábios de Jonas, os cidadãos de Nínive foram tomados pela convicção de que elas eram palavras de Deus e não de homens; da mesma forma que os tessalonicenses, ao ouviram a pregação de Paulo, se convenceram (1Ts 2.13). Pois bem, a convicção levou os ninivitas à fé: convenceram-se de seu estado de perdição e recorreram com fé à misericórdia, à compaixão e ao amor de Deus (Jn 4.2).
Não há avivamento sem convicção de pecados e fé na graça de Deus.
3. Contrição
A compreensão gerou convicção que, por sua vez, levou à contrição.
Jn 3.5-8 | 5 Os ninivitas creram em Deus. Proclamaram um jejum, e todos eles, do maior ao menor, vestiram-se de pano de saco. 6 Quando as notícias chegaram ao rei de Nínive, ele se levantou do trono, tirou o manto real, vestiu-se de pano de saco e sentou-se sobre cinza. 7 Então fez uma proclamação em Nínive: “Por decreto do rei e de seus nobres: Não é permitido a nenhum homem ou animal, bois ou ovelhas, provar coisa alguma; não comam nem bebam! 8 Cubram-se de pano de saco, homens e animais…
Contrição, como podemos constatar, é vergonha e arrependimento pela própria culpa; faz a pessoa querer mudar os seus caminhos. Ela fez os ninivitas vestirem-se de pano de saco (abriram mão de posses), sentarem sobre cinza (abriram mão de prestígio) e jejuarem (abriram mão de prazeres).
Os coríntios experimentaram algo parecido. Paulo escreveu assim:
2Co 7.9-11 | 9 Agora, porém, me alegro, não porque vocês foram entristecidos, mas porque a tristeza os levou ao arrependimento. Pois vocês se entristeceram como Deus desejava, e de forma alguma foram prejudicados por nossa causa. 10 A tristeza segundo Deus não produz remorso, mas sim um arrependimento que leva à salvação, e a tristeza segundo o mundo produz morte. 11 Vejam o que esta tristeza segundo Deus produziu em vocês: que dedicação, que desculpas, que indignação, que temor, que saudade, que preocupação, que desejo de ver a justiça feita! Em tudo vocês se mostraram inocentes a esse respeito.
Avivamento é fruto de contrição; é arrependimento seguido do desejo de se viver em novidade de vida.
4. Confissão
Eis o caminho do avivamento: compreensão, convicção, contrição e confissão.
Tendo compreendido a Palavra de Deus, se convencido dos pecados e recorrido à graça de Deus (arrependidos e desejosos de mudança), os ninivitas confessaram os pecados a Deus e receberam em troca o perdão.
Jn 3.8-10 | 8 Cubram-se de pano de saco, homens e animais. E todos clamem a Deus com todas as suas forças. Deixem os maus caminhos e a violência. 9 Talvez Deus se arrependa e abandone a sua ira, e não sejamos destruídos”. 10 Tendo em vista o que eles fizeram e como abandonaram os seus maus caminhos, Deus se arrependeu e não os destruiu como tinha ameaçado.
Ah, povo de Deus, como nós estamos precisando dessa genuína experiência de avivamento; como nós estamos carecendo dessa visita graciosa de Deus, do Espírito Santo trazendo tempos de refrigério da presença do Senhor (At 3.20)!
Caindo na graça de Deus
Nós precisamos cair na graça de Deus. Ela traz compreensão, convicção, contrição e confissão. Precisamos de avivamento. Quatro palavras de aplicação.
Precisamos de um avivamento.
Precisamos cair na graça de Deus.
Precisamos…
de compreensão bíblica
de convicção de pecado
de contrição do coração
e de confissão com fé.
Que o Senhor nos abençoe e que da sua presença venham dias de refrigério.
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