27.03.2016
O IMPACTO DA RESSURREIÇÃO
João 20.24-29
24 Tomé, chamado Dídimo, um dos Doze, não estava com os discípulos quando Jesus apareceu. 25 Os outros discípulos lhe disseram: “Vimos o Senhor!” Mas ele lhes disse: “Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei”. 26 Uma semana mais tarde, os seus discípulos estavam outra vez ali, e Tomé com eles. Apesar de estarem trancadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “Paz seja com vocês!” 27 E Jesus disse a Tomé: “Coloque o seu dedo aqui; veja as minhas mãos. Estenda a mão e coloque-a no meu lado. Pare de duvidar e creia”. 28 Disse-lhe Tomé: “Senhor meu e Deus meu!” 29 Então Jesus lhe disse: “Porque me viu, você creu? Felizes os que não viram e creram”.
Como eu fui perder?
Após receber a grande notícia, você já ficou com a sensação de que não deveria ter perdido aquele acontecimento? Na cabeça da gente fica a questão: “Como eu fui perder?” É horrível! Diante do texto que acabamos de ler, ficamos com a impressão de que Tomé passou por esse dessabor.
Caso existisse a ata do primeiro encontro de Jesus com seus discípulos, após a ressurreição, não encontraríamos o nome de Tomé no livro de assinaturas. Ele estava ausente. Como ele foi perder aquela ocasião?
Animal ferido
Como um animal ferido, Tomé abraçou a sua própria solidão.
Todos nós reagimos diferentemente quando as coisas não acontecem do nosso jeito. Especialmente quando o que está em questão é o investimento de uma vida toda. Judas Iscariotes, por exemplo, trocou Jesus por 30 moedas de prata. Pedro negou Jesus e voltou a pescar. As mulheres do sepulcro choraram a falta do Senhor. Os discípulos de Emaús desistiram da fé e caminharam de volta para a terra natal. Tomé abandonou o grupo dos apóstolos.
Como um animal ferido, ele abraçou a sua própria solidão para lamber as suas feridas.
Geração descrente
Geralmente nós atribuímos dúvida a Tomé. Erramos ao descrevê-lo como um homem duvidoso. Mais apropriado seria se o chamássemos de “descrente”. Deveríamos atribuir descrença a Tomé, pois ele, convictamente, atestou sua incredulidade na ressurreição.
Note que o apelido de Tomé era “Dídimo”, que significa “gêmeo”. Sugerindo, talvez, a guerra civil que ele travava dentro do seu coração: fiel a Jesus, mas descrente de sua ressurreição.
Tomé é um apóstolo para a nossa geração. Afinal, somos a geração da descrença, a geração da interrogação. Há muito que deixamos de ser a geração da fé, a geração da exclamação, a geração do louvor. Tornamo-nos céticos e incrédulos. Acreditamos em Jesus, mas somos descrentes na prática.
O impacto da ressurreição
Jesus, no entanto, sempre aparece de forma a impactar nossas vidas, transformando-nos profundamente, da mesma forma que ele impactou e transformou a vida de Tomé.
Quais impactos a ressurreição de Jesus causaram na vida de Tomé? O que ela tem a nos dizer? De que forma ela nos impacta ainda hoje?
Em essência, podemos afirmar que a ressurreição impacta a nossa incredulidade. Observe, pois, o impacto da ressurreição sobre a incredulidade, visto a partir de três perspectivas: [1] a incredulidade resiste a evidência; [2] a incredulidade reside na obstinação; e [3] a incredulidade é rompida com o encontro.
1. A incredulidade resiste a evidência
Veja de novo a incredulidade de Tomé:
Jo 20.24-25 | 24 Tomé, chamado Dídimo, um dos Doze, não estava com os discípulos quando Jesus apareceu. 25 Os outros discípulos lhe disseram: “Vimos o Senhor!” Mas ele lhes disse: “Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei”.
Impressionante! Havia em Tomé uma disposição natural para a descrença. Ele parecia estar programado para olhar sempre para o lado negro e pessimista das coisas. As outras duas vezes em que Tomé aparece nos evangelhos revelam essa sua disposição para a descrença.
Cético quanto ao presente
Jo 11.14-16 | 14 Então lhes disse claramente: “Lázaro morreu, 15 e para o bem de vocês estou contente por não ter estado lá, para que vocês creiam. Mas, vamos até ele”. 16 Então Tomé, chamado Dídimo, disse aos outros discípulos: “Vamos também para morrermos com ele”.
Jesus falava de ressurreição e de vida, mas Tomé insistia em enxergar apenas a morte. Cuidado para não enxergar através dessas palavras de Tomé um coração valente. O que temos aqui é um coração cético e incrédulo, resmungão.
Cético quanto ao futuro
Jo 14.1-7 | 1 “Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim. 2 Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar. 3 E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver. 4 Vocês conhecem o caminho para onde vou”. 5 Disse-lhe Tomé: “Senhor, não sabemos para onde vais; como então podemos saber o caminho?” 6 Respondeu Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim. 7 Se vocês realmente me conhecessem, conheceriam também o meu Pai. Já agora vocês o conhecem e o têm visto”.
Tomé tinha uma predisposição para o sombrio, o ceticismo e o negativismo. A incredulidade sempre nos fará ver o lado negro das coisas.
Cético e solitário
Além de ficarmos céticos e negativistas, a incredulidade nos isola das pessoas.
Jo 20.19, 24 | 19 Ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “Paz seja com vocês!” […] 24 Tomé, chamado Dídimo, um dos Doze, não estava com os discípulos quando Jesus apareceu.
Dez dos apóstolos (com exceção de Judas Iscariotes e de Tomé), mais outros discípulos, estavam reunidos no cenáculo. Amedrontados, sim!, porém, unidos pela pouca fé que ainda lhes restava. Tomé, no entanto, afastou-se com incredulidade. Deveria estar pensando: “Não é possível que ainda aconteça alguma coisa boa!”. O seu isolamento manteve-o miserável por mais uma semana, até a segunda aparição de Jesus aos discípulos uma semana mais tarde (Jo 20.26).
C. S. Lewis foi profético quando disse que para o incrédulo (para o pessimista e o cético), não existe nada mais massacraste do que ficar perto de crentes alegres e positivos. Tal exposição é fatal para os descrentes. Não é de se admirar, portanto, que geralmente aqueles que estão travando batalhas de incredulidade na alma prontamente se afastam da comunhão da igreja ou de outros crentes.
Quando o incrédulo se reaproxima da comunhão, talvez por não conseguir viver sem ela (de alguma forma ele se fortalece na comunhão); talvez por querer apenas bisbilhotar (a curiosidade o excita); talvez por querer confrontar (debater e combater alimenta a sua fé na incredulidade); quando o incrédulo se reaproxima da comunhão é inevitável que ele encare a proclamação de fé dos crentes.
Jo 20.24-25 | 24 Tomé, chamado Dídimo, um dos Doze, não estava com os discípulos quando Jesus apareceu. 25 Os outros discípulos lhe disseram: “Vimos o Senhor!” Mas ele lhes disse: “Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei”.
Assim como Tomé, todos os que duvidam da ressurreição, todos os incrédulos, duvidam e expressam ceticismo na face de milhares e milhares de testemunhas que, ao longo de mais de dois mil anos, anunciam que Jesus ressuscitou.
A incredulidade resiste a evidência.
2. A incredulidade reside na obstinação
É impressionante a reação de Tomé diante da declaração de fé dos discípulos que viram o Cristo ressurreto.
Jo 20.24-25 | 24 Tomé, chamado Dídimo, um dos Doze, não estava com os discípulos quando Jesus apareceu. 25 Os outros discípulos lhe disseram: “Vimos o Senhor!” Mas ele lhes disse: “Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei”.
Percebeu?
Tomé demanda a sua própria evidência: “Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, […]”
O que era suficiente para todos os outros (apenas ver) não era suficiente para o incrédulo Tomé. Ele precisava ver, tocar e pegar.
A incredulidade é arrogante. Ela sempre apresenta demandas para crer. Para o naturalista, o crivo é a razão. Para o pietista, o crivo é a experiência religiosa. O problema é que o racionalismo abriu caminho para a irracionalidade dos atos humanos, e o pietismo deu espaço para o misticismo, para o animismo e para o paganismo em nome da fé. É muito arriscado demandar a sua própria evidência para poder crer.
Tomé declara a sua absoluta resignação: “Não crerei”.
Tomé negou as evidências dos seus amigos de fé. O testemunho deles era certeiro, pois partia de quem a princípio também negava a ressurreição.
A incredulidade é irracional, ela ignora evidências (testemunhos, vidas transformadas, argumentos sólidos e históricos).
Muita gente culpa os cristãos de serem emocionais. Porém, nada é mais emocional (passional) do que a incredulidade. Afinal, quem ousaria colocar a mão nas feridas de um amigo que, após ser crucificado, ressuscitou?
Tomé não creu por falta de evidências. Ele não creu porque não queria crer. Ouça-o mais uma vez.
Jo 20.25 | “Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei”.
Estamos diante de uma recusa obstinada.
Você também não crê?
Não é por causa de circunstâncias ou de desapontamentos com outros cristãos. Assim como Tomé, você não crê porque não quer crer.
A incredulidade resiste a evidência e reside na obstinação.
3. A incredulidade é rompida com um encontro
Observe comigo como a incredulidade de Tomé foi rompida.
Jo 20.26 | Uma semana mais tarde, os seus discípulos estavam outra vez ali, e Tomé com eles. Apesar de estarem trancadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “Paz seja com vocês!”
A incredulidade de Tomé começou a ser abrandada quando ele se juntou aos crentes. No domingo seguinte à Pascoa (Jo 20.19-23), os discípulos se reuniram mais uma vez na esperança de encontrarem Jesus (Jo 20.24-29). Tomé, dessa vez, estava com eles! Por quê? Porque a incredulidade de Tomé estava sendo abrandada pela comunhão dos crentes.
Paulo reconhecia o poder da comunhão dos crentes.
1Co 14.22-25 | 22 Portanto, as línguas são um sinal para os descrentes, e não para os que creem; a profecia, porém, é para os que creem, não para os descrentes. 23 Assim, se toda a igreja se reunir e todos falarem em línguas, e entrarem alguns não instruídos ou descrentes, não dirão que vocês estão loucos? 24 Mas se entrar algum descrente ou não instruído quando todos estiverem profetizando, ele por todos será convencido de que é pecador e por todos será julgado, 25 e os segredos do seu coração serão expostos. Assim, ele se prostrará, rosto em terra, e adorará a Deus, exclamando: “Deus realmente está entre vocês!”
Na presença de crentes apaixonados e comprometidos com a edificação a incredulidade tende a se abrandar.
Como alguém pode colocar fim à dúvida e à descrença? Queira estar na presença de crentes apaixonados por Jesus.
A incredulidade de Tomé se dissipou quando ele teve um encontro com Jesus. João, ao narrar esse episódio, parece fazer questão de dizer que as portas estavam trancadas. Observe.
Jo 20.26 | Uma semana mais tarde, os seus discípulos estavam outra vez ali, e Tomé com eles. Apesar de estarem trancadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “Paz seja com vocês!”
Tomé testemunhou que nada pode deter a presença de Jesus. A presença de Jesus é inevitável. Nem corações incrédulos ou portas trancadas. Ele entra sem arrombar, mas entra. A sua graça é irresistível. As suas ovelhas ouvem a sua voz e o seguem. Elas não conseguem trancá-lo do lado de fora. Ele penetra seus corações, suas casas, seus trabalhos, seus relacionamentos, etc. Cristo entra em todos os lugares. A vontade de Deus nos faz nascer de novo e coloca em nós fé (Jo 1.12-13).
Além de inevitável, a presença de Jesus é íntima. Observe o que Jesus fez com Tomé.
Jo 20.27 | E Jesus disse a Tomé: “Coloque o seu dedo aqui; veja as minhas mãos. Estenda a mão e coloque-a no meu lado. Pare de duvidar e creia”.
Jesus tinha ouvido cada palavra de Tomé. Penso que quando ele atende a demanda de Tomé o que ele realmente quer dizer é: “Tomé, eu não estou agindo assim para fazer a sua vontade, mas para revelar que nunca me afastei de você. Pare de duvidar e creia.” O resultado não poderia ter sido outro. Tomé creu.
Jo 20.278-29 | 28 Disse-lhe Tomé: “Senhor meu e Deus meu!” 29 Então Jesus lhe disse: “Porque me viu, você creu? Felizes os que não viram e creram”.
Felizes os que aprendem a desenvolver intimidade pela fé na Palavra de Deus.
O impacto da ressurreição
Esse episódio na vida de Tomé nos permite fazer pelo menos três exortações:
A Ceia do Senhor
A Ceia do Senhor, que celebraremos agora, neste Domingo da Ressurreição, testifica de tudo o que nós acabamos de dizer.
Ela dá evidência da ressurreição de Jesus
Mt 26.29 | Eu lhes digo que, de agora em diante, não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai”.
Sempre que participamos da Ceia nossos olhos se voltam para o dia das bodas do Cordeiro no céu.
Ela dá exemplo do valor da comunhão
1Co 11.17-22 | 17 Entretanto, nisto que lhes vou dizer não os elogio, pois as reuniões de vocês mais fazem mal do que bem. 18 Em primeiro lugar, ouço que, quando vocês se reúnem como igreja, há divisões entre vocês, e até certo ponto eu o creio. 19 Pois é necessário que haja divergências entre vocês, para que sejam conhecidos quais dentre vocês são aprovados. 20 Quando vocês se reúnem, não é para comer a ceia do Senhor, 21 porque cada um come sua própria ceia sem esperar pelos outros. Assim, enquanto um fica com fome, outro se embriaga. 22 Será que vocês não têm casa onde comer e beber? Ou desprezam a igreja de Deus e humilham os que nada têm? Que lhes direi? Eu os elogiarei por isso? Certamente que não.
Ela simboliza a intimidade que temos com o Senhor
1Co 11.23-26 | 23 Pois recebi do Senhor o que também lhes entreguei: Que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão 24 e, tendo dado graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim”. 25 Da mesma forma, depois da ceia ele tomou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isso sempre que o beberem em memória de mim”. 26 Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha.
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