12.06.2016
A AULA DE PERDÃO
Mateus 18.21-22
21 Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: “Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?” 22 Jesus respondeu: “Eu lhe digo: Não até sete, mas até setenta vezes sete.
Ferroada de abelha
Só quem teve o dissabor é que sabe: ferroada de abelha dói muito. Alguém descreveu a sensação instantânea como um choque de alta voltagem. Depois da ferroada, o local fica vermelho, inchado e latejando. É uma dor que persiste mesmo depois da sensação inicial na hora da ferroada e pode durar vários dias.
Quando as abelhas ferroam, elas injetam um veneno (melitina) nas vítimas que ativa receptores de dor, deixando aquela sensação de queimadura. Depois que o ferrão penetra a pele, como tem a forma de uma espada com farpas, ele fica preso lá dentro, para continuar injetando mais veneno. Estratégia de defesa.
Agora, não é só a vítima que sofre com a ferroada. A abelha também sofre, e em alguns casos sofre até mais do que a vítima.
Quando uma abelha se sente ameaçada, ela utiliza o ferrão na pessoa que a ela oferece risco. Depois de dar a ferroada, ela tenta escapar e, por causa das farpas, a parte posterior do abdômen, onde se localiza o ferrão, na maioria das vezes fica presa na pele do ferroado e, em alguns casos, a abelha perde uma parte do intestino, morrendo logo em seguida.
Os órgãos das abelhas que são prejudicados em casos que o ferrão fica na vítima variam de intestino a coração.
Ferroada de gente
Não é só ferroada de abelha que dói. Ferroada de gente também é capaz de causar dor insuportável na alma de quem foi tratado injustamente.
Ferrão de gente tem as mais diferentes formas:
Abusos físicos, verbais ou sexuais.
Castigos desumanos (principalmente na infância).
Bullying, Traição, abandono, injustiça, agressão, ofensa, desprezo, insulto, vergonha, humilhação, maus tratos, dívida, golpe, desonestidade, calúnia, fofoca, desrespeito, etc.
Ao ser ferroada, seja de que jeito for, a pessoa só será curada depois que o ferrão for retirado da alma, depois que o perdão for concedido.
O problema é que muita gente ferroada age como criança: berra, lamenta e chora por todos os cantos, queixa-se do ocorrido a quem lhe der ouvidos, mas não deixa outra pessoa tocar na ferida, arrancar o ferrão e aplicar o remédio.
Ferrão na alma
Gente ferroada por gente, geralmente fica indisposta a perdoar.
Normalmente essas pessoas não admitem que estejam ressentidas, mas ao se tocar no nome do ofensor, ao lembrar-se da situação, brota de dentro delas raiva e rancor. Elas se transformam para o mal. Dizem que não têm nada contra, mas não querem nem ouvir falar de quem as machucou. São pura mágoa. Lewis B. Smedes, em seu livro Perdoe e esqueça, escreveu que
o ressentimento é a ira multiplicada pelo tempo. Ele não se dissipa como a ira, mas se esconde na alma e não é detectado por aparelho de ultrassonografia. Fingimos que estamos em paz enquanto há raiva lá dentro, no fundo. Então, escondido e reprimido, nosso ódio abre torneiras subterrâneas de veneno que, aos poucos, contamina todo o corpo e nossos relacionamentos de maneira imprevisível e muitas vezes irreparável.
O ferrão do ressentimento não arrancado da alma é fatal em todos os sentidos – física, emocional, relacional e espiritualmente. Ele pode causar no corpo diversas doenças: insônia, dor de cabeça, esgotamento físico e mental, artrite, palpitações, taquicardia, úlceras, pressão alta, doença de pele, etc.
Emocionalmente, o ferrão na alma nos aprisiona ao passado e à pessoa que nos ferroou, tornando-nos amargos e incapazes de amar.
As feridas que o ferrão do ressentimento não arrancado da alma pode causar nos relacionamentos também são desastrosas: gente que se relaciona sem amor, mas por interesse, conveniência, troca e pelo próprio sentimento de vingança; gente que vive sozinha, que é evitada pelas pessoas, pois transpiram rancor.
Espiritualmente, o ferrão do ressentimento não arrancado da alma também é fatal, pois quem não perdoa, amando o irmão em vez de odiá-lo, não pode dizer que um dia foi perdoado por Deus (1Jo 4.19-21).
A aula de perdão
Em nosso estudo sobre a vida de Pedro, hoje nós chegamos à aula de perdão. Pessoas de caráter escultural sabem oferecer e receber perdão. O milagre do evangelho é que a pessoa que recebeu um novo coração de Deus e se converteu da velha vida, reconciliando-se com o Senhor, passa a viver em reconciliação com outras pessoas. Ser cristão, portanto, pertencer ao reino de Cristo, traz profundas implicações, não só para a forma como nos relacionamos com Deus, mas também para o modo como nos relacionamos uns com os outros.
Para tanto, a aula de hoje é de extraordinária importância e nos traz três lições:
Vamos lá… Vejamos uma lição de cada vez.
1. Cuide de suas feridas
Jesus Cristo deixou claro que devemos fazer morrer o orgulho para não pecarmos contra outras pessoas (veja Mt 18.1-14). Mas, o que nós devemos fazer quando um irmão peca contra nós? A resposta a este dilema foi o que deu origem à pergunta de Pedro ao Senhor Jesus Cristo:
Mt 18.21-22 | 21 Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: “Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?” 22 Jesus respondeu: “Eu lhe digo: Não até sete, mas até setenta vezes sete.
Antes da questão levantada por Pedro, o Senhor Jesus, percebendo como o orgulho da gente é potente o bastante para ferroar os outros, tratou de ensinar que as pessoas que conseguem perdoar são aquelas que aprenderam a cuidar de feridas: das feridas que elas causam e das feridas que elas sofrem.
Quando nós causamos feridas
Os discípulos estavam preocupados em defender aquilo que eles julgavam ser os seus direitos pessoais.
Mt 18.1 | Naquele momento os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: “Quem é o maior no Reino dos céus?”
Parece que eles não aprendiam! Não é mesmo?
Jesus tinha acabado de ensinar sobre negar a si mesmo, tomar a cruz e segui-lo como essencial na vida cristã (Mt 16.24). Porém, lá estavam eles, preocupados com o lugar de honra no reino dos céus, defendendo os seus privilégios.
O Senhor sabia que um coração orgulhoso assim causa muitas feridas nas outras pessoas, especialmente quando ele julga que os outros estão em seu caminho. Por isso que Jesus Cristo foi radical em seu ensino, dizendo: tornem-se humildes como uma criança e façam de tudo para não fazer seu irmão tropeçar – se tiver que arrancar um olho, arranque-o; se tiver que arrancar uma mão, arranque-a também. É preferível a morte ao pecado contra o irmão (Mt 18.1-8).
Infelizmente, porém, pecaremos contra o irmão. Neste caso, ao percebermos que o nosso pecado machucou e colocou para correr um pequenino de Deus, devemos correr atrás dele e trazê-lo de volta para o aprisco, afinal, “o Pai de vocês, que está nos céus, não quer que nenhum destes pequeninos se perca” (Mt 18.9-14; cf. Mt 5.23-24).
Quando nós somos feridos
Não é só o outro que corre o risco de se afastar e de se amargurar, nós também podemos muito bem ser ofendidos e nos ressentirmos. Nestes casos, quando pecarem contra nós, o que devemos fazer? Jesus nos aponta quatro passos.
1.1 – Vá e se abra com quem pecou contra você
Mt 18.15 | “Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você ganhou seu irmão.”
Veja que a preocupação é dupla: não deixar o sol se por sobre a ira nem perder o irmão para o pecado.
Abrimo-nos com quem pecou contra nós, não com o intuito de desabafar, dizendo poucas e boas, lavando a alma com desaforos, mas com o desejo de curar os dois corações: o meu, do ressentimento; o do outro, do ato do pecado.
Vá e se abra com quem pecou contra você: mostre-lhe o erro e ganhe seu irmão.
1.2 – Pegue outros e vá se abrir com quem pecou contra você
Mt 18.16 | “Mas se ele não o ouvir, leve consigo mais um ou dois outros, de modo que ‘qualquer acusação seja confirmada pelo depoimento de duas ou três testemunhas’”.
“Mais um ou dois outros” para que a conversa seja justa, os ânimos se acalmem, o pecado seja confirmado, confrontado com graça e haja um santo constrangimento, levando o que pecou contra nós ao arrependimento.
1.3 – Leve o caso para a igreja
Mt 18.17 | “Se ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja;”
A igreja como corpo e a comunhão dos crentes é a arena na qual as relações entre discípulos devem ser tratadas e corrigidas, através de conselhos, exortações, orações, etc.
1.4 – Aja com amoroso rigor
Mt 18.17 | “e se ele se recusar a ouvir também a igreja, trate-o como pagão ou publicano.”
Ou seja: se quem pecou contra o outro não se arrependeu e não mudou de atitude, não há razões para crer que tal pessoa seja realmente cristã. Portanto, não deveria fazer parte da comunhão. Homens e mulheres segundo o coração de Deus reconhecem, arrependem e restituem seus pecados.
Deus deu à igreja a autoridade para tratar das feridas que nos outros nós causamos e das feridas que em nós os outros causaram.
Mt 18.18-20 | 18 “Digo-lhes a verdade: Tudo o que vocês ligarem na terra terá sido ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra terá sido desligado no céu. 19 Também lhes digo que se dois de vocês concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem, isso lhes será feito por meu Pai que está nos céus. 20 Pois onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles”.
Dois ou três reunidos em nome de Jesus para tratar das feridas dos irmãos terão de Deus a sabedoria para ligar ou desligar o pecador. Ao apresentar esses passos à pessoa ferida, Jesus está dizendo coisas muito, muito importantes.
Cuide de suas feridas.
2. Conceda perdão a quem te ofendeu
Ouvindo a lição de Jesus, Pedro chegou a uma conclusão prática e verdadeira: “Senhor, e se a pessoa continuar pecando? E se ela não se arrepender e pecar de novo? Até quando eu vou ter que perdoar a pessoa?” Ao que Jesus respondeu: “Sempre.”
Mt 18.21-22 | 21 Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: “Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?” 22 Jesus respondeu: “Eu lhe digo: Não até sete, mas até setenta vezes sete.
O princípio é claro: sempre conceda perdão a quem te ofendeu e ponto.
O que é perdoar?
Jaime Kemp, falando de perdão, ensina, primeiramente, o que não é perdoar.
Hb 12.14-15 | 14 Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor. 15 Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus; que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando muitos.
Perdoar é…
Ef 4.32-5.2 | 4.32 Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo. 5.1 Portanto, sejam imitadores de Deus, como filhos amados, 5.2 e vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus.
Cuide de suas feridas, conceda perdão a quem te ofendeu e…
3. Compreenda a graça derramada sobre a sua vida
Para conseguir perdoar de forma a glorificar a Deus e a abençoar o ofensor, a pessoa ferida precisará compreender a graça derramada sobre a vida dela; daí a parábola a seguir.
Mt 18.22-27 | 22 Jesus respondeu: “Eu lhe digo: [perdoar] Não até sete, mas até setenta vezes sete. 23 “Por isso, o Reino dos céus é como um rei que desejava acertar contas com seus servos. 24 Quando começou o acerto, foi trazido à sua presença um que lhe devia uma enorme quantidade de prata. 25 Como não tinha condições de pagar, o senhor ordenou que ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que ele possuía fossem vendidos para pagar a dívida. 26 “O servo prostrou-se diante dele e lhe implorou: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’. 27 O senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a dívida e o deixou ir.
Observe o seguinte:
Quem não perdoa age como quem não recebeu perdão e será condenado.
Mt 18.26-35 | 26 “O servo prostrou-se diante dele e lhe implorou: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’. 27 O senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a dívida e o deixou ir. 28 “Mas quando aquele servo saiu, encontrou um de seus conservos, que lhe devia cem denários. Agarrou-o e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Pague-me o que me deve!’ 29 “Então o seu conservo caiu de joelhos e implorou-lhe: ‘Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei’. 30 “Mas ele não quis. Antes, saiu e mandou lançá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. 31 Quando os outros servos, companheiros dele, viram o que havia acontecido, ficaram muito tristes e foram contar ao seu senhor tudo o que havia acontecido. 32 “Então o senhor chamou o servo e disse: ‘Servo mau, cancelei toda a sua dívida porque você me implorou. 33 Você não devia ter tido misericórdia do seu conservo como eu tive de você? ’ 34 Irado, seu senhor entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia. 35 “Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão”.
Um coração regenerado pela graça de Deus deve resultar em uma vida transformada, que oferece a mesma misericórdia e perdão como os que recebeu de Deus. Alguém que não concede o perdão aos outros mostra que o seu coração não experimentou o perdão de Deus.
Quem recebe graça também reparte graça.
Quem foi perdoado aprende a perdoar.
Quem compreende a graça derramada sobre a vida dele(a) exercita o perdão.
A aula de perdão
A aula de perdão é para todos: para os que ferroaram e para quem foi ferroado. Quem ferroou precisa se arrepender. Quem foi ferroado precisa perdoar.
O viver acumula experiências diversas. Na bagagem adquirida ao longo dos anos, é muito provável que tenhamos acumulado feridas que os outros em nós causaram, perceptível ou imperceptivelmente. A tendência humana é deixar a ferida infeccionar até contaminar o corpo todo com amargura, ressentimento, ódio, ira ou vingança.
Pedro aprendeu que o cristão, para ter caráter escultural, precisa perdoar.
1Pe 2.23-25 | 23 Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça. 24 Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a justiça; por suas feridas vocês foram curados. 25 Pois vocês eram como ovelhas desgarradas, mas agora se converteram ao Pastor e Bispo de suas almas.
Exercite o perdão:
Após a aula de perdão…
Graça, misericórdia e paz a vós todos.
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