05.07.2020
[Filemom 1-3] 1Eu, Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, escrevo esta carta, junto com nosso irmão Timóteo, a Filemom, nosso amado colaborador, 2à irmã Áfia, a Arquipo, nosso companheiro na luta, e à igreja que se reúne em sua casa. 3Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.
Continuação da mensagem anterior.
Outra coisa muito importante Paulo estava comunicando a Filemom, quando diz “Eu, Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus” (v. 1). Apesar de estar preso em Roma, sob a guarda do imperador romano, Paulo, de fato, era “prisioneiro de Cristo Jesus”, e mais ninguém. Esta era a forma de o apóstolo dizer a Filemom que só há um Senhor sobre nós: Cristo Jesus e não Roma; só há uma causa pela qual nós devemos ser aprisionados: Cristo Jesus e não o orgulho; só há um que é soberano: Cristo Jesus e não o imperador ou a nossa vontade.
“Escrevo esta carta, junto com nosso irmão Timóteo, a Filemom, nosso amado colaborador”
Paulo prossegue e diz que escreve “esta carta, junto com nosso irmão Timóteo” (v. 1), mas nós sabemos pela conclusão da mesma que lá com eles estavam também outros irmãos. Veja (v. 23-24):
23Epafras, meu companheiro de prisão em Cristo Jesus, manda lembranças. 24Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus colaboradores, também enviam saudações.
William Hendriksen explica que não obstante a presença de todos aqueles homens com Paulo, apenas Timóteo escreveu com o apóstolo. Isso não é de admirar, já que o mesmo sempre esteve mais próximo de Paulo (2Co 1.1; Fl 1.1; Cl 1.1; 1Ts 1.1; 2Ts 1.1; Fm 1). Ademais, Timóteo foi quem mais tempo esteve com o apóstolo em Éfeso durante a terceira viagem missionária (At 19.1, 22), e pôde, portanto, tornar-se conhecido de algumas pessoas da cidade de Colossos que presumivelmente foram, à época, ouvir Paulo pregar, dentre as quais, possivelmente, estava Filemom (At 19.10).
Ao chamar Timóteo de “nosso irmão”, Paulo estava enfatizando a intimidade do relacionamento entre os dois e que se estendia também a Filemom. O apóstolo amava a Timóteo profunda e ternamente (Fp 2.19-23), e amava também Filemom (v. 1).
[*Fonte: William Hendriksen e Simon J. Kistemaker, Exposition of Colossians and Philemon, vol. 6, New Testament Commentary (Grand Rapids: Baker Book House, 1953-2001), p. 43-44.]
Essa conexão de amor e de colaboração – Paulo, Timóteo e Filemom, todos os três pertencentes à mesma família espiritual – Filemom jamais poderia esquecer. Paulo estava destacando para Filemom a importância dos laços da fé, da família da fé. Trocando em miúdos: da mesma forma que Timóteo era irmão deles dois – de Paulo e de Filemom (v. 1) –, Onésimo também havia se tornado “irmão no Senhor” dos três – de Paulo, de Timóteo e de Filemom (v. 16). E agora, todos os quatro – Paulo, Timóteo, Filemom e Onésimo – eram juntos colaboradores no reino de Deus. Veja, mais uma vez, o versículo 1 e a conexão dele com o versículo 16:
1Eu, Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, escrevo esta carta, junto com nosso irmão Timóteo, a Filemom, nosso amado colaborador,
16Ele já não é um escravo para você. É mais que um escravo: é um irmão amado, especialmente para mim. Agora ele será muito mais importante para você, como pessoa e como irmão no Senhor.
Para conseguir perdoar, Filemom precisava do irmão, das palavras do irmão Paulo, encorajando-o, mostrando-lhe o seu próprio exemplo – como prisioneiro de Cristo Jesus –, fazendo-o se lembrar de quem é o nosso verdadeiro Senhor, reforçando a ele os laços da família da fé e de quanto é importante que sejamos todos irmãos, amorosos, cientes de que todas as pessoas foram criadas à imagem e semelhança de Deus, e em Cristo somos todos família e colaboradores no reino de Deus.
Nós precisamos do irmão. Para conseguir perdoar nós precisamos das palavras e da presença do irmão. Irmão que nos traga a palavra de Deus, que é o que de fato nos define e nos diz o quê e como fazer todas as coisas. Ouça o que escreveu Dietrich Bonhoeffer sobre a palavra e a presença do irmão:
A pessoa cristã não vive mais de si mesma [do dom de em si mesma ser capaz, como diria Almir Sater], […], Vive inteiramente a partir da sentença que Deus pronuncia sobre ela, sujeita-se a ela na fé [justificação mediante a fé – Rm 5.1], […], o cristão depende da Palavra de Deus que lhe é dirigida […] O cristão vive totalmente da verdade da Palavra de Deus em Jesus Cristo. Perguntando-lhe sobre onde está sua salvação, sua felicidade, sua justiça, ele jamais poderá apontar para si mesmo, mas para a Palavra de Deus em Jesus Cristo, que lhe assegura salvação, felicidade e justiça. O cristão anseia ardentemente por esta Palavra. Porque não passa um dia em que não sinta fome e sede de justiça, anseia sempre pela Palavra libertadora. [PRESTE ATENÇÃO:] Só de fora ela pode vir. Ele mesmo é pobre, está morto. A ajuda deve vir de fora, e ela veio e torna a vir diariamente na Palavra a respeito de Jesus Cristo, trazendo salvação, justiça e felicidade. [Fonte: Vida em Comunhão, p. 13.]
Para conseguir perdoar nós precisamos da palavra de Deus. E tantas vezes essa palavra virá pelos lábios do irmão. Bonhoeffer, mais uma vez, foi profético ao escrever:
Deus, porém, colocou esta Palavra na boca de pessoas para que fosse difundida entre as pessoas. A pessoa que é atingida por ela, passa-a adiante para outras pessoas. Deus quis que procurássemos e achássemos sua Palavra viva no testemunho de irmãos, na boca de uma pessoa. Por isso o cristão precisa do cristão que lhe diga a Palavra de Deus, e necessita dele constantemente, quando a incerteza e o desânimo o assediam, pois não poderá ajudar a si mesmo sem burlar a verdade. Necessita do irmão como portador e proclamador da palavra salvífica de Deus. Precisa do irmão exclusivamente pela vontade de Jesus. O Cristo no próprio coração é mais fraco do que o Cristo na palavra do irmão; o seu próprio coração é incerto, a palavra do seu irmão é certa. Com isso se evidencia ao mesmo tempo o objetivo de toda comunhão entre cristãos: encontram-se como portadores da mensagem salvífica. É nessa qualidade que Deus permite que se encontrem e lhes presenteia com comunhão. [Fonte: Vida em Comunhão, p. 13-14.]
Na comunidade do amor, na igreja local, nós temos a presença do irmão.
2 – O papel da igreja
Além do irmão, outro elemento necessário para se conseguir perdoar é o contexto da igreja local. Olhe novamente para quem Paulo envia sua carta, nos versículos 1 e 2:
1Eu, Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, escrevo esta carta, junto com nosso irmão Timóteo, a Filemom, nosso amado colaborador, 2à irmã Áfia, a Arquipo, nosso companheiro na luta, e à igreja que se reúne em sua casa.
Filemom não é mencionado em nenhum outro lugar no Novo Testamento. Ele parece ser membro e líder da igreja em Colossos que se reunia em sua casa. Já vimos que ele deve ter se convertido sob a pregação de Paulo. Paulo nunca esteve em Colossos, mas Éfeso não ficava tão longe, então talvez Filemom tenha estado em Éfeso quando o apóstolo estave ministrando por lá e tenha sido salvo durante aquele período.
Áfia é um nome feminino; a maioria das pessoas supõe que ela seja a esposa de Filemom.
Arquipo deveria ser o filho – um filho mais velho, filho adulto – do casal. Em Colossenses 4.17 nós lemos que ele, Arquipo, era bastante envolvido no ministério, talvez um presbítero ou presbítero em treinamento. Veja (Cl 4.17):
E digam a Arquipo: “Cuide em realizar o ministério que o Senhor lhe deu”.
Paulo queria que a igreja encorajasse o jovem no desenvolvimento e no crescimento no ministério. Como a carta aos colossenses também deveria ser lida aos laodicenses (Cl 4.16), o encorajamento devido a Arquipo também se estendia àquela igreja. Logo, é razoável concluir que o filho de Filemom e Áfia servia em ambas as igrejas. Paulo até o chama de “nosso companheiro na luta” (Fm 2).
O mais impressionante, porém, não é que o filho do pastor ou presbítero Filemom também estava se tornando líder. Chama a atenção o fato de que a carta pessoal a Filemom traz também uma saudação “à igreja que se reúne em sua casa” (Fm 2). Você notou? Paulo desejava que essa carta, além daquela já endereçada aos colossenses, fosse também lida para a igreja! Como assim, Paulo? Sim! Tamanha era a importância que o apóstolo dava ao tema do perdão, especialmente em se tratando de um líder, de uma família de líderes.
Ao escrever a Filemom, a Áfia, a Arquipo E À IGREJA QUE SE REUNIA EM SUA CASA, é como se Paulo estivesse convidando a igreja para ouvir o que ele diria a Filemom, porque ele sabia que o que ele diria seria – talvez não fosse, mas poderia ser – um pouco difícil para Filemom ouvir e deglutir e colocar em prática. Então, o apóstolo convida a igreja a se aproximar e ouvir e, em seguida, observar como Filemom responderia à carta. Essa carta, portanto, endereçada a Filemom, de fato, era uma carta semipessoal. Paulo estava aconselhando Filemom, e chamando a igreja para ajudar naquele caso tão importante.
Na comunidade do amor, independentemente de maturidade ou de posição, nós todos temos e precisamos da pessoa do irmão para nos ajudar, aconselhar, exortar, encorajar e tanto mais. No entanto, por vezes, apenas o irmão não será o bastante, será também necessário o envolvimento de mais irmãos, da igreja. Como isso é bíblico e, ao mesmo tempo, banido entre nós – para a tragédia dos cristãos!
Somos salvos individualmente, mas depois somos trazidos para a igreja, o corpo de Cristo na convivência local. Membresia é importante! É no contexto da membresia na igreja local que nós desenvolvemos relacionamentos com pessoas reais e demonstramos o que realmente significa amar meu irmão e o Deus invisível que não vemos (1Jo 2.10; 3.10; 4.20-21). É no contexto da igreja local que você cresce como cristão. Você se compromete a seguir a Cristo junto com um grupo específico de pessoas. Você cultiva relacionamentos com eles, conhece-os, deixa-os conhecer você. Você se junta a uma igreja local, presta contas aos irmãos e pede contas aos irmãos. A vida cristã é vivida em pacto – pacto com Deus em Jesus Cristo e uns com os outros no corpo de Cristo em sua expressão local.
Veja o caso de Filemom. Membro da igreja em Colosso. Um dos líderes de lá. O filho, Arquipo, em treinamento ou já um presbítero. Mas esse mesmo homem, Filemom, estava tendo dificuldade para perdoar. Paulo, o irmão, vai em sua direção para ajudar. Mas sabendo que seria muito difícil para Filemom, as verdades eram difíceis de engolir, trouxe também a igreja de Filemom para ajudar. Fez a igreja conhecer a situação para que ela pudesse seguir na mesma linha do apóstolo, encorajando Filemom a perdoar com base no amor, e não por obrigação (v. 9).
Agora, tente fazer algo parecido! Tente trazer a igreja ou mesmo apenas alguns poucos irmãos e irmãs maduros para ajudarem alguém, algum irmão ou irmã, a prosseguir no amor e na prática das boas obras! Tente ajudar alguém que não consegue perdoar, por exemplo, trazendo outras pessoas, a igreja para orar, encorajar e ajudar! Poucos aceitariam. Poucos se submeteriam a isso, cientes de que tal coisa é graça, é meio de graça; submetermo-nos uns aos outros no pacto da igreja local é graça de Deus.
Cristão, você percebe que tem uma necessidade pessoal e uma responsabilidade inegociável de fazer parte de uma congregação local? Não apenas participando frequentemente dos cultos e das reuniões ou dos compromissos, mas comprometendo-se a fazer parte de verdade da congregação, com regularidade, plantando sua vida nessa comunidade do amor, tornando-se alguém que depende dos outros e com quem os outros também podem contar. É assim que você cresce como cristão, sem se prender em meio aos enganos do coração pecaminoso, do mundo pervertido e do diabo perverso – nos quais os cristãos solitários (se é que existe alguma categoria assim!) podem se meter.
Essa é apenas uma parte de como você deve se doar em amor pelos outros: conhecer, ficar disponível para servir, cuidar e ajudar. Mas também é assim que você se salva de naufragar: deixando-se ser conhecido, submetendo-se ao cuidado e ao amor. Portanto, crente, não se contente apenas em participar dos cultos; seja membro regular, atuante, envolvido – relacionamentos discipuladores e pequenos grupos multiplicadores. Não assuma que você não precisa ser membro de uma igreja local ou apenas vir aos cultos. É arrogância de sua parte pensar que você não precisa da formalidade e da intencionalidade da membresia. Orgulho mata. Sufoca e mata aos poucos.
Os relacionamentos piedosos no contexto da igreja local preparam você para as provações que você não sabe que estão chegando (veja essa pandemia! quem esperava por isso?), e se você esperar até que essas provações cheguem para somente então recorrer ao irmão e à igreja, será tarde demais para construir esses relacionamentos.
Pergunte a si mesmo: você está construindo neste momento o tipo de relacionamento que o ajudará a suportar seja lá o que for, o ajudará a perseverar sobre o pecado, o ajudará a passar por provações e crescer em santificação (sem se amargurar com Deus) e depois aproveitar suas experiências e energias para ajudar outros na vida cristã?
Dependendo das circunstâncias ou da personalidade, alguns são mais, outros menos, mas você estará em grande perigo e, honestamente, também colocará ou deixará outros em perigo, caso não se beneficie da comunhão fortalecedora da igreja local ou não se disponha para beneficiar outras pessoas. Portanto, construa esse tipo de relacionamentos antes que você precise deles, e eles estarão lá para ajudá-lo a perdoar e a receber perdão – ou seja lá para o que for necessário. O papel da igreja é fundamental para a caminhada cristã, para o crescimento cristão, para se receber e repartir perdão.
Foi no contexto de um relacionamento tão amável que Paulo cultivou com Filemom – e por saber que Filemom também cultivou com a igreja que se reunia na casa dele – que o apóstolo, mais adiante na carta (versículo 8 em diante), iria abordar essa questão potencialmente difícil do perdão. Uma das razões pelas quais você tem que ter amizades como a de Paulo e Filemom, e de Filemom e a igreja, é porque você também precisará enfrentar questões difíceis em algum momento de sua vida, e você será ajudado por ter pessoas com as quais você não se constrange ou melindra. O diabo tentará dizer que eles não o amam e não têm nada com a sua vida, mas se você colocou anos de sua vida nessa amizade e igreja, será muito mais difícil acreditar no Maligno quando ele tentar você assim.
A igreja na casa de Filemom
Antes de deixarmos esse tópico (o papel da igreja), note que Paulo fala da “igreja que se reúne em sua casa” (v. 2).
Se você é do tipo que leu muito e leu cuidadosamente o seu Novo Testamento, irá se lembrar de ter lido em outros lugares menções semelhantes de igrejas reunidas em casas. No primeiro século da era cristã, igrejas não eram definidas pelo local onde se reuniam, pela edificação do templo, mas pelo fato de se reunirem regularmente. Às vezes, os membros de uma determinada igreja se reuniam em vários tipos de lugares na mesma cidade ou localidade. Eles precisavam fugir dos olhos dos perseguidores ou mesmo encontrar lugares maiores em algum lugar para se reunir. Poderia ser um salão alugado como o da “escola de Tirano” na cidade de Éfeso (At 19.9); alguma área aberta à margem de um rio, como foi lá no início em Filipos (At 16.12-13); uma casa com um cômodo ou uma área fora da casa, grande o suficiente para as pessoas se reunirem, como deve ter sido na casa de Ninfa na cidade de Laodiceia (Cl 4.15), ou a casa de Filemom que abrigava as reuniões e cultos públicos da igreja em Colossos (Fm 2). A igreja cristã em seu início não contou com edifícios dedicados exclusivamente ao uso de congregações cristãs. Foi apenas no século III da era cristã que que eles surgiram. Claro que não era porque cristãos não gostassem de templos, mas porque eles eram impossibilitados por lei de os terem.
A edificação mais antiga de uma igreja que se tem conhecimento foi encontrada em Dura Europo, situada na Síria, a meio caminho entre Alepo e Bagdá, nas margens do Eufrates, em um ponto estratégico de várias rotas comerciais importantes da história. Estima-se que a igreja seja da primeira metade do século III. Era uma casa que teve dois de seus maiores cômodos transformados em um grande salão (bem, grande para os padrões da época) com uma plataforma para a acomodação de todos e a realização dos cultos.
[*Fonte: John MacArthur Jr., Colossians and Philemon, The MacArthur New Testament Commentary (Chicago: Moody Press, 1992), p. 211.]
Não era incomum uma congregação ou igreja local se reunir em uma casa. Na Nova Inglaterra Puritana, uma das colônias americanas, quando os separatistas ingleses (dentre eles também os Batistas) chegaram no século XVII e começaram a construir igrejas dedicadas especificamente para congregações cristãs se reunirem e cultuarem o Senhor Deus Jesus Cristo, aqueles locais eram chamados de “meeting houses” ou “casas de reuniões” – ou seja: a casa em que a igreja se reúne. Isso é o que eram aqueles locais: uma casa onde se reúne a igreja. Entre os Batistas aqui no Brasil, tempos atrás, falava-se em “salões de cultos”.
Nós amamos nosso templo, nossa quadra e nossos prédios com salas, gabinetes, cozinha e outras coisas mais. Sei que a placa do lado de fora diz “Segunda Igreja Batista em Goiânia”. Em certo sentido, a placa está sim fazendo alusão às nossas edificações aqui neste local em Goiânia. No entanto, fundamentalmente, a placa está falando sobre aqueles de nós que se reúnem neste local para seus cultos e atividades. De fato, nossa igreja começou se reunindo noutro local. Depois, com muito sacrifício, nossos antecessores compraram este local maior e foram ampliando para conseguir acomodar o número de membros que foi aumentando. E no momento nós estamos estudando outra ampliação dentro dos limites deste nosso terreno. Como nós somos abençoados por ter uma área deste tamanho em local tão nobre do nosso bairro e cidade! Como nos é útil este edifício! Mas ele não é verdadeiramente o que nós queremos dizer com “igreja” ou “Segunda Igreja Batista em Goiânia”. Sabemos que em Cristo nós somos igreja em qualquer lugar que nos reunirmos, e não precisamos deste prédio ou de qualquer outro prédio para ser uma igreja. Realmente nós precisamos nos “reunir como igreja”, temos que ter essa capacidade – é isso o que significa ser uma igreja – mas onde nos reunimos não é a questão crucial.
Permita-me a pergunta: o que você está fazendo para usar a natureza comunitária de sua igreja em sua própria vida? E na sua prática evangelística? E junto aos amigos que não conhecem o Senhor Jesus lá na escola, na universidade ou no trabalho? Você já pensou em alguma maneira de usar a comunhão e as reuniões da sua igreja como parte do testemunho a seus amigos no trabalho, para ensinar-lhes a verdade do evangelho? Você poderia convidá-los para um pequeno grupo, para os cultos e os cursos, ou para sua casa ou algum outro evento especial, onde eles possam estar com irmãos da sua igreja e testemunhar como é viver em amor e comunidade; também para ouvir o evangelho. Como o evangelho verdadeiro, testificado pelo testemunho corporativo de uma congregação cristã, na forma como os irmãos se amam e cuidam uns dos outros, tem o poder de expressar o amor de Deus! O apóstolo João sabia bem disso (Jo 13.34-35):
34Por isso [sem a presença de Cristo com eles no mundo, de forma visível], agora eu lhes dou um novo mandamento: Amem uns aos outros. Assim como eu os amei, vocês devem amar uns aos outros. 35Seu amor uns pelos outros provará ao mundo que são meus discípulos”.
A forma como nós nos amamos ou deixamos de amar revela se Cristo está de fato entre nós, igreja local. Infelizmente, muitos não consideram essa verdade e a desprezam. A reunião da igreja é crucial.
Às vezes, nós cristãos aqui no Brasil tratamos as bênçãos temporárias de Deus como requisitos permanentes. Por exemplo, às vezes ouço evangélicos ficarem muito chateados com a possibilidade de perdermos isenção de imposto sobre nossas propriedades ou termos que pagar imposto sobre os dízimos e as ofertas da igreja. Não sou a favor de que se remova esses nossos privilégios, deixe-me esclarecer (caso algum legislador me ouça). Aprecio isso como um sinal de benevolência em relação à fé cristã e como reconhecimento de que o cristianismo pregado e praticado nas igrejas, em geral, tem sim grande efeito abençoador em nossa sociedade – e, portanto, querendo garantir a estabilidade das igrejas como fonte incomparável de bem para as famílias e a nação, dão algum apoio indireto especial, mas apenas subsidiário, na forma de isenção para as igrejas e suas “casas de reuniões” para cultos. Obrigado!
No entanto, povo de Deus, preste bastante atenção, esse é um privilégio que a maioria dos cristãos no mundo não desfrutam e provavelmente não desfrutarão até que o Senhor retorne para buscar sua igreja. Esses são privilégios e bênçãos que desfrutamos e queremos continuar os recebendo, se pudermos, mas devemos ter muito cuidado para não equivaler esses benefícios ou a perda deles ao evangelho estar ou não sendo ameaçado. Isso definitivamente não é verdade. A igreja existe em circunstâncias muito mais adversas do que toda a hostilidade que estamos experimentando atualmente nas culturas ocidentais em que vivemos. Precisamos ter cuidado com o modo como pensamos sobre isso.
Aqui no Novo Testamento, vemos muito claramente que as igrejas se reuniam em casas. Ele enfatiza a natureza congregacional da igreja. Não é um edifício, não é uma organização regional ou política, mas é uma congregação porque se reúne para cultos, ensino, cumprir as ordenanças do Senhor e deliberações – por isso nós os Batistas somos congregacionais e não presbiterais ou episcopais. A igreja local se reunia e, independentemente de onde se reunia, ela era uma congregação cristã por causa do que eles faziam juntos. Eles liam a Palavra de Deus e oravam juntos; eles cantavam e se instruíam mutuamente pela Palavra, ofertavam, obedeciam às ordens de Jesus de batizar e celebrar sua ceia juntos, etc. Eles não eram apenas uma família física ou um grupo social homogêneo: eles viviam reunidos, todos eles, simplesmente por sua fé compartilhada em Cristo. A carta a Filemom, como nós podemos ver, não foi escrita apenas para Filemom e sua família, mas foi escrita para a igreja que se reunia na casa deles em Colossos.
Continua na próxima mensagem.
S.D.G. L.B.Peixoto
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