22.08.2021
[Jó 38.1–42.6] 38.1Então, do meio de um redemoinho, o SENHOR respondeu a Jó: 2“Quem é esse que questiona minha sabedoria com palavras tão ignorantes? 3Prepare-se como um guerreiro, pois lhe farei algumas perguntas, e você me responderá.
Chegamos ao clímax da saga de Jó. Finalmente, Deus quebrou o silêncio. Jó pediu uma audiência com o SENHOR, e será atendido. O que Deus dirá?
Antes, um resumo da história até este ponto da narrativa.
Havia meses, Jó jazia prostrado com dores crônicas. Além de tudo o que perdeu – todos os bens e todos os dez filhos – , o patriarca estava com feridas purulentas por todo o corpo. Seu estado miserável o afetou sobremaneira, em várias áreas. Ouça:
Jó 19.13-20 13“Meus irmãos se mantêm afastados, meus conhecidos se voltaram contra mim. 14Minha família se foi, meus amigos chegados me esqueceram. 15Meus hóspedes e criadas me consideram um estranho; para eles, sou como um estrangeiro. 16Quando chamo meu servo, ele não vem; tenho de suplicar! 17Meu hálito enoja minha esposa; sou rejeitado pela própria família. 18Até as crianças me desprezam; quando me levanto para falar, me dão as costas. 19Meus amigos chegados me detestam; aqueles que eu amo se voltaram contra mim. 20Fui reduzido a pele e osso; escapei da morte por um triz.
Quando recebeu as pancadas, lá no princípio, Jó suportou as calamidades resultantes dos ataques com uma submissão surpreendente (1.21; 2.10): “Saí nu do ventre de minha mãe, e estarei nu quando partir. O SENHOR me deu o que eu tinha, e o SENHOR o tomou. Louvado seja o nome do SENHOR! […] Aceitaremos da mão de Deus apenas as coisas boas e nunca o mal?”. Jó foi forte na hora aguda da dor. Entretanto, à medida que a miséria se arrastava ao longo dos meses – quando o agudo foi se tornando crônico – , Jó começou a vacilar em sua fé; ele se calçou de sua justiça própria e passou a se queixar de Deus (capítulos 4–31). Por exemplo, ao se defender da má teologia de Elifaz, Bildade e Zofar, Jó disse coisas sobre Deus que não eram verdade (e das quais mais tarde se arrependeu):
Jó 13.22-25 22Chama-me, e eu responderei; ou permita que eu fale e responde-me. 23Diga-me, o que fiz de errado? Mostra-me minha rebeldia e meu pecado. 24Por que te afastas de mim? Por que me tratas como teu inimigo? 25Atormentarias uma folha soprada pelo vento? Perseguirias a palha seca?
Percebeu a sutileza? Na cabeça de Jó, Deus estava ignorando a fidelidade de Jó e pisando na cana quebrada. É bem verdade que, mais adiante, Jó chegaria a confessar sua esperança de que seu Redentor vive e que após a morte ele o veria face a face (em 19.25-27). Mas, por enquanto, na cabeça de Jó, Deus o estava tratando como um inimigo, não um amigo ou mesmo um filho. Eis um pouco do tom de suas queixas a Deus:
Jó 23.3-4 3Se ao menos eu soubesse onde encontrar a Deus, iria a seu tribunal. 4Exporia minha causa e apresentaria meus argumentos.
Jó 24.1 “Por que o Todo-poderoso não marca uma data para seu juízo? Por que os que o conhecem esperam por ele em vão?”
Os três amigos de Jó – Elifaz, Bildade e Zofar – haviam assumido a posição de que a severidade do sofrimento de Jó era o sinal ou sintoma de algum pecado grave não confessado. Deus estava punindo Jó. Jó precisava reconhecer seu pecado e lançá-lo fora.
Ora, de tão insensíveis e superficiais, Jó silenciou os três, demonstrando que não há correlação coerente, consistente neste mundo entre justiça ou fidelidade e prosperidade, felicidade ou entre injustiça ou impiedade e punição, sofrimento. De fato, Jó sustentou em seus discursos que os justos frequentemente sofrem mais do que os ímpios e os ímpios frequentemente prosperam mais do que os justos. Jó venceu o debate.
Nos capítulos 32–37, o amigo mais jovem, Eliú, repreendeu tanto o Jó como os outros três: Elifaz, Bildade e Zofar. A teologia dos três primeiros debatedores não conseguiu explicar o sofrimento do justo Jó. Jó, por sua vez, disse coisas precipitadas e presunçosas sobre Deus para se justificar em face do sofrimento.
O ponto de vista de Eliú era que Jó era sim um homem justo, embora não perfeito. Jó não era ímpio, mas continuava pecador. E Deus o amava de verdade. Sendo assim, o SENHOR não estava tratando Jó como seu inimigo, mas como seu filho e amigo.
Deus originalmente permitiu o sofrimento de Jó para demonstrar a Satanás, aos anjos maus e aos exércitos do céu que Jó prezava o valor de Deus em si mesmo mais do que seus bens, sua família e sua saúde. Mas depois que Jó comprovou que de fato amava a Deus mais do que tudo no mundo, havia ainda outro propósito que Deus buscou alcançar ao permitir que o sofrimento de Jó se arrastasse por vários meses.
Tal propósito, de acordo com Eliú, era eliminar da vida de Jó um resíduo de orgulho que havia permanecido silenciosamente encrostado lá no fundo do coração de Jó. Ao ser sacudido pelo sofrimento, ao longo de meses e meses, o sedimento do orgulho e da arrogância se despregou do fundo e turvou o brilho da glória de Deus em sua vida, manifestando-se na justiça própria de Jó às custas da graça soberana de Deus.
Pois bem, o que estudamos até este ponto é que havia um duplo propósito para o sofrimento de Jó: [1] o propósito inicial era demonstrar o valor e a glória de Deus e [2] o propósito contínuo era refinar a justiça de Jó. Seu sofrimento não era punitivo, mas curativo. Não era um sinal da ira de Deus, mas da graça soberana de Deus. A dor de Jó não era a dor do chicote do carrasco cruel, mas a dor do bisturi do cirurgião competente. A remoção da doença crônica do orgulho e da arrogância era a coisa mais amorosa que Deus poderia fazer por Jó, custasse o que custou.
LEMBRE-SE DAS PALAVRAS DE CRISTO em Mateus 5.29-30: [1] melhor é sofrer a dor excruciante de um olho arrancado e jogado fora do que deixar que qualquer pecado permaneça em seu coração; [2] melhor é sofrer a dor insuportável de uma mão cortada e jogada fora do que deixar que o pecado te faça perecer; [3] melhor é sofrer a dor crônica de perder uma parte do corpo do que ser todo ele lançado no inferno. Ora, se isso não parece óbvio para você – a saber, que a santificação vale qualquer dor nesta terra – é provavelmente porque você não abomina o pecado e preza a santidade da maneira que Deus o faz e que você deveria fazer. Examine-se cuidadosamente neste ponto.
Perto do final do discurso de Eliú (nos capítulos 32–37), uma tempestade se formou e o encheu de temor (em 36.22 e ss.). É como se Eliú estivesse percebendo a aproximação de Deus na tempestade que se formava, por isso se apressa em concluir suas palavras. De fato, de alguma forma, do redemoinho veio a voz de Deus a Jó (em 38.1 e ss.).
Em Jó 38.1-2 Deus começa: “Então, do meio de um redemoinho, o SENHOR respondeu a Jó: ‘Quem é esse que questiona minha sabedoria com palavras tão ignorantes?’”. Alguém poderá pensar que Deus está criticando as palavras de Eliú, mas não é este o caso. De fato, Deus está falando com Jó, repreendendo Jó. Sabemos que é Deus exortando Jó porque em Jó 42.3, respondendo ao SENHOR, Jó citou as palavras exatas de Jó 38.2, aplicando-as a si mesmo. Jó 42.3: “Perguntaste [em Jó 38.2]: ‘Quem é esse que, com tanta ignorância, questiona minha sabedoria?’. Sou eu [disse Jó]; […]”.
Portanto, as palavras de Deus nos capítulos 38–41 não são uma repreensão a Eliú. Em nenhum lugar Deus repreendeu ou criticou Eliú. Eliú, apesar de severo tantas vezes e sarcástico outras tantas, estava correto tanto em suas afirmações como em suas aplicações. Era tanto que Jó escutou a tudo com consentimento. E quando Eliú terminou, Deus se dirigiu a Jó e não a Eliú.
Pois bem, agora nós queremos ouvir o que Deus tem a dizer a Jó.
Deus falará. E Jó responderá. Deus ficou tempo demais sob interrogação. Chegou a vez de Jó responder. Mas antes ele terá que ouvir:
Jó 38.1-3 1Então, do meio de um redemoinho, o SENHOR respondeu a Jó: 2“Quem é esse que questiona minha sabedoria com palavras tão ignorantes? 3Prepare-se como um guerreiro, pois lhe farei algumas perguntas, e você me responderá.
Para quem esporou tanto pela manifestação de Deus em seu sofrimento, o que Deus terá a dizer, à primeira vista, será uma grande decepção. Isto porque, nos capítulos 38 e 39, em vez de “esclarecer” as indagações de Jó, Deus o guiará em um tour pelos céus, os mares, as estrelas e diferentes habitats de diversos tipos de animais; por fim, o SENHOR fixará os olhos de Jó no Beemote, o hipopótamo (40.15) e no Leviatã, o crocodilo (41.1). Ou seja, é no mínimo intrigante a abordagem escolhida pelo SENHOR Deus.
Olhando para este bloco do livro de Jó, Charles Williams escreveu: “Como um mero argumento, talvez tenha algo faltando, afinal, [que lógica há em] dizer a um homem que perdeu seus bens, sua casa, seus filhos, sua saúde e agora está sentado na lata de lixo, cheio de bolhas pelo corpo, ‘Olhe para o hipopótamo.’”! De fato, gente, em um primeiro momento, superficialmente, parece tudo um enorme absurdo. Deus não responde diretamente a qualquer das perguntas de Jó, não apresenta justificativa por ter ficado em silêncio por tanto tempo, não dá qualquer dica sobre a aposta de Satanás e não expressa qualquer simpatia pelo estado de Jó. Ora, honestamente, foi realmente o suficiente o que Deus falou a Jó? Foi apropriado? Não estaria faltando mais alguma coisa a dizer?
Esse tipo de questionamento levou muitos comentaristas do texto bíblico a presumirem que, apesar da magnífica poesia desses capítulos (especialmente os capítulos 38 e 39, que devem estar entre as mais belas poesias a respeito da natureza em todo o mundo), esse trecho do livro de Jó não passa de acréscimo e, portanto, deve ser desconsiderado como palavras, de fato, de Deus.
Mas antes de sucumbir a uma visão tão radical, a uma posição tão cética diante de um texto Sagrado, simplesmente porque ele é um pouco mais difícil que o normal ou não se encaixa no seu padrão ou não atende suas expectativas, convido você a examinar um pouco mais de perto o que está acontecendo. Você verá que há pelo menos três grandes lições sobre Deus que podem ser extraídas desses capítulos, as quais sempre poderão confortar o coração de qualquer pessoa na hora do sofrimento.
1. Deus, o SENHOR fala; ele se dá a conhecer; revela-se pessoal e presente o tempo todo junto a seus filhos
A primeira e mais significativa das lições é que Deus fala! Deus se dá a conhecer. Jó 38.1: “Então, do meio de um redemoinho, o SENHOR respondeu a Jó”. Em outros lugares na Bíblia, a tempestade também foi o contexto apropriado para uma teofania – isto é, uma revelação da presença de Deus. Na épica revelação que Deus fez a Moisés no Monte Sinai, Deus veio à montanha na tempestade de raios e trovões (Êx 19.16-19).
A tempestade com seus raios, nuvens e trovões revelava e ocultava a majestade de Deus. Deus vinha falar ao povo escondido em densa nuvem– e quando ele falava, o povo confiava em Moisés (Êx 19.9). A nuvem era um símbolo frequente da presença de Deus. No Monte Sinai, Deus veio ao seu povo com as vestes de sua reverente santidade. O mesmo acontece aqui no livro de Jó. Deus não se agrada em apenas descer e se revelar aos seus filhos. Ele se faz conhecido como tremendo e aterrorizante, intimidador e majestoso, assustador e convidativo. Ele fala “do meio de um redemoinho” (Jó 38.1).
O profeta Naum também nos descreve Deus e seus caminhos nesses mesmos termos (Na 1.3): “O SENHOR é lento para se irar, mas tem grande poder e nunca deixa de castigar o culpado. Demonstra seu poder no vendaval e na tempestade; as nuvens são poeira debaixo de seus pés.” Esse é um texto que devemos ter em mente sempre que formos tentados (pelo tipo mais razo de literatura devocional) a acreditar que a vida de fé é um mar de rosas. Ora, juntamente com tudo o que queremos dizer com razão sobre a alegria cristã e o dom da paz que guarnecem nosso coração e mente em Cristo Jesus, também sabemos e devemos afirmar que o caminho de Deus “está no vendaval e na tempestade, e as nuvens são a poeira de seus pés” (Na 1.3, NVI). — Foi do redemoinho que Deus falou com Jó. Foi no vale do sofrimento que o SENHOR o respondeu. Foi com o sofrimento que Deus chamou a atenção de Jó.
Quem é esse Deus que falou com Jó?
YAHWEH é o seu nome. SENHOR é o seu nome. SENHOR, o Deus da aliança. Ele é um Deus pessoal, um Deus de aliança e de promessa.
Deus recebeu o nome da aliança pessoal, YAHWEH (o SENHOR), lá no prólogo do livro de Jó (nos capítulos 1 e 2). Lá, fomos apresentados a Jó e convidados a refletir sobre o relacionamento pessoal de Deus com ele, YAHWEH (o SENHOR). Mas ao longo dos capítulos 3 a 37, o nome YAHWEH é usado apenas uma vez, por Jó (em 12.9); no miolo do livro, Deus é chamado de El Shaddai, Deus, o Todo-Poderoso. Por quê?
No livro de Jó, referir-se a Deus desse modo – El Shaddai, Deus, o Todo-Poderoso – se tornou uma maneira de falar de Deus como alguém desanexado e distante, apenas transcendente. Ora, é verdade que A REVELAÇÃO DE DEUS COMO “EL SHADDAI” FOI DADA EM GÊNESIS, e lá estava a imagem de um Deus que assumiu o controle quando toda a esperança se foi e todas as forças se exauriram. Foi aos cuidados de “El Shaddai”, por exemplo, que Jacó confiou Benjamim quando os irmãos pediram para levá-lo de volta com eles para o Egito (Gn 43.14). Foi “El Shaddai” quem cuidou de José (Gn 49.25). MAS COM ELIFAZ, BILDADE E ZOFAR “El Shaddai” se tornou um Deus não de graça e força, mas distante, desanexado, transcendente, um todo-poderoso impessoal. Ou seja: os três amigos de Jó se acostumaram a usar um nome de Deus, que originalmente falava da graça, mas que agora, de uma forma, negava a graça.
Ô, MEU POVO! Quão estéril a teologia pode se tornar quando se perde o contato com o coração misericordioso de Deus! A proximidade pessoal do SENHOR da aliança – YAHWEH – deu lugar à ideia de um Deus majestoso, mas distante; um Deus poderoso, mas vingativo; um Deus inimigo na vida de Elifaz, Bildade e Zofar; em alguns momentos, até na vida de Jó. MAS AGORA, NO CAPÍTULO 38, o autor inspirado por Deus quer que não tenhamos dúvidas. Deus é mais uma vez chamado de “YAHWEH” (o SENHOR). Agora, o gracioso Senhor da promessa, o Deus da aliança com Abraão está falando com este homem de Uz. Agora, o Deus cujo nome, “YAHWEH”, está associado à sua presença cuidadosa, amor constante e fidelidade ao povo de sua aliança, esse Deus fala com Jó.
Você se lembra do grande desejo de Jó?
Ei-lo aqui:
Jó 23.3, 8-9 3Se ao menos eu soubesse onde encontrar a Deus, iria a seu tribunal. […] 8Se vou para o leste, lá ele não está; sigo para o oeste, mas não consigo encontrá-lo. 9Não o vejo no norte, pois está escondido; quando olho para o sul, ele está oculto.
Entre os piores temores de Jó estavam o de que Deus o tivesse abandonado e o estava retribuindo com punição. No silêncio e no isolamento – de fato, naquele breu de sofrimento – , Jó simplesmente presumiu que Deus o havia deixado só, abandonado ao castigo. Jó não sabia que Deus mesmo, soberana e graciosamente, o havia colocado sob provação para glorificar a si mesmo na vida de Jó e também refinar a sua justiça. Portanto, é claro que a aparente “ausência” de Deus fazia parte da história, pois a peregrinação de Jó se daria por fé, não por vista. Era crucial para a saga de Jó que Jó estivesse “no escuro” – mas com Deus por perto (mesmo que Jó não o soubesse)!
Jó é um representante de todos nós que tentamos continuar confiando no escuro dos vales de sofrimento. Jó é um exemplo para todos aqueles cuja fé é provada pelas trevas e pela aparente ausência de Deus. Mas o que Jó aprendeu em Jó 38 serve também para nós: Deus fala. Ele se revela. É pessoal. O SENHOR não se ausenta.
Deus, na verdade, esteve presente o tempo todo com Jó. Agora essa presença se tornou conhecida, visível. Esta é a primeira e a maior lição aprendida por Jó. Deus, o SENHOR fala. Ele se dá a conhecer É pessoal. O SENHOR não se ausenta. Essa é a coisa mais importante que esses capítulos têm a dizer.
2. A sabedoria de Deus revelada em sua criação e em suas criaturas
Recapitulando:
Jó 38.1-3 1Então, do meio de um redemoinho, o SENHOR respondeu a Jó: 2“Quem é esse que questiona minha sabedoria com palavras tão ignorantes? 3Prepare-se como um guerreiro, pois lhe farei algumas perguntas, e você me responderá.
Pode até soar intimidador, e alguns comentaristas bíblicos até tomam essas palavras de Deus como sendo para oprimir e humilhar Jó. Parece mais provável, no entanto, que haja uma leve ironia no tom, e as perguntas não sejam intimidadoras, mas sim educativas: o tipo de perguntas que um bom professor pode fazer ao aluno para que ele ganhe conhecimento. Desse modo, é como se o SENHOR Deus passeasse pela criação – fizesse uma caminhada pelo jardim, talvez, enquanto a tempestade se acalmava – e convidasse Jó a acompanhá-lo, indagando-o: Está vendo isso…? Você reconhece aquilo…? O que diria daquilo outro…? Do mesmo modo que Jesus mais tarde convidou seus discípulos a observar “como crescem os lírios do campo” (Mt 6.28), então aqui Deus está convidando Jó a considerar a beleza, a ordem e a maravilha do mundo criado.
2.1 – A sabedoria de Deus revelada na CRIAÇÃO
1. A TERRA (os alicerces, as dimensões e a sustentação da terra)
Jó 38.4-7 4“Onde você estava quando eu lancei os alicerces do mundo? Diga-me, já que sabe tanto. 5Quem definiu suas dimensões e estendeu a linha de medir? Vamos, você deve saber. 6O que sustenta seus alicerces e quem lançou sua pedra angular, 7enquanto as estrelas da manhã cantavam juntas, e os anjos davam gritos de alegria?
Jó 38.17-18 17Sabe onde ficam as portas da morte? Viu as portas da escuridão absoluta? 18Tem ideia da extensão da terra? Responda-me, se é que você sabe!
2. OS MARES (as nascentes, profundezas e os limites dos mares)
Jó 38.8-11, 16 8“Quem estabeleceu os limites do mar quando do ventre ele brotou, 9quando eu o vesti com nuvens e o envolvi em escuridão profunda? 10Pois o contive atrás de portas com trancas, para delimitar seus litorais. 11Disse: ‘Daqui não pode passar; aqui suas ondas orgulhosas devem parar!’. […] 16“Você explorou as nascentes do mar? Percorreu suas profundezas?
3. A LUZ DO DIA (o controle das noites e dos dias)
Jó 38.12-15 12“Você alguma vez deu ordem para que a manhã aparecesse e fez o amanhecer se levantar no leste? 13Fez a luz do dia se espalhar até os confins da terra, para acabar com a perversidade da noite? 14À medida que a luz se aproxima, a terra toma forma, como o barro sob um anel de selar; como uma veste, seus contornos se mostram. 15A luz incomoda os perversos e detém o braço levantado para cometer violência.
Jó 38.19-21 19“De onde vem a luz, e para onde vai a escuridão? 20Você é capaz de levar cada uma a seu lugar? Sabe como chegar lá? 21Claro que sabe de tudo isso! Afinal, já havia nascido antes de tudo ser criado e tem muita experiência!
4. A NEVE E A CHUVA (mistério e mecânica da neve e da chuva)
Jó 38.22-30 22“Você alguma vez visitou os depósitos de neve ou viu onde fica guardado o granizo? 23Eu os reservo como armas para os tempos de angústia, para o dia de batalha e guerra. 24Onde os relâmpagos se dividem? De onde se dispersa o vento leste? 25“Quem abriu um canal para as chuvas torrenciais? Quem definiu o percurso dos relâmpagos? 26Quem faz a chuva cair sobre a terra árida, no deserto, onde ninguém habita? 27Quem envia a chuva para saciar a terra seca e fazer brotar o capim novo? 28“Acaso a chuva tem pai? Quem gera o orvalho? 29Quem é a mãe do gelo? Quem dá à luz a geada que vem do céu? 30Pois a água se transforma em gelo, duro como pedra, e a superfície das águas profundas se congela.
Jó 38.34-38 34“Pode gritar para as nuvens e fazer chover? 35Pode fazer os raios aparecerem e lhes dizer onde cair? 36Quem dá intuição ao coração e instinto à mente? 37Quem é sábio o suficiente para contar todas as nuvens? Quem pode inclinar as vasilhas de água do céu, 38quando a terra está seca e o solo se endureceu em torrões?
5. AS ESTRELAS (controle das estrelas, as leis da natureza, o governo de tudo)
Jó 38.31-33 31“Você é capaz de controlar as estrelas e amarrar o grupo das Plêiades ou afrouxar as cordas do Órion? 32Pode fazer aparecer no tempo exato as constelações, ou guiar a Ursa e seus filhotes pelo céu? 33Conhece as leis do universo? Pode usá-las para governar a terra?
Portanto, quer se concentre na terra, no mar, no amanhecer ou no anoitecer, na neve, no granizo ou na chuva, nas constelações, nas leis da natureza ou no governo de todas as coisas criadas, a verdade é que Jó é ignorante e impotente. Ele não sabe da origem dessas coisas. Ele não sabe como fazê-las funcionar. Ele não tem condições de sustentá-las. Está totalmente rodeado, acima e abaixo, por mistérios. Nós também! Porque os avanços científicos dos últimos duzentos anos desde a revolução científica são como baldes de areia com água salgada retirada do oceano da sabedoria de Deus, e despejados em um buraco na praia enquanto a maré está subindo. Deus não se impressiona com a sabedoria dos homens. Deveríamos nos sentir absolutamente humilhados por nossa ignorância, não ficar impressionados com a nossa ciência avançada.
2.2 – A sabedoria de Deus nas CRIATURAS
Tendo apresentado sua sabedoria na criação, Deus falará de sua sabedoria nas criaturas:
1. Os leões (alimentação)
Jó 38.39-41 39“Acaso você pode caçar a presa para a leoa e saciar a fome dos leõezinhos, 40enquanto eles se agacham na toca ou ficam à espreita no mato?
2. Os corvos (alimentação)
Jó 38.41 Quem providencia alimento para os corvos quando seus filhotes clamam a Deus e, famintos, andam de um lado para o outro?”
3. As cabras monteses (gestação e parto)
Jó 39.1-4 1 “Você sabe quando as cabras monteses dão à luz? Viu as corças nascerem? 2Sabe quantos meses dura sua gestação? Sabe qual é o momento do parto? 3Elas se agacham para dar à luz seus filhotes, e assim suas crias nascem. 4Os filhotes crescem nos campos abertos e vão embora, para nunca mais voltar.
4. Os jumentos selvagens (liberdade)
Jó 39.5-8 5“Quem deu ao jumento sua liberdade? Quem desatou suas cordas? 6Eu o coloquei no deserto; as terras estéreis são seu lar. 7Ele despreza o barulho da cidade e não faz caso dos gritos do condutor. 8Os montes são seu pasto, onde ele procura o capim.
5. Os bois selvagens (indomáveis)
Jó 39.9-12 9“Acaso o boi selvagem aceitará ser domado? Passará a noite no curral? 10Você consegue prendê-lo ao arado? Acaso ele lavrará um campo para você? 11Sendo ele muito forte, pode-se confiar nele? Você pode ir embora, certo de que ele fará seu trabalho? 12Pode depender dele para recolher o trigo e levá-lo ao lugar de debulhar os grãos?
6. Os avestruzes (sobre elas vale a pena ler)
Jó 39.13-18 13“A avestruz bate as asas, alegre, mas não tem a plumagem da cegonha. 14Ela põe seus ovos na terra, para que sejam aquecidos no pó. 15Não se preocupa que alguém possa pisá-los ou que um animal selvagem os destrua. 16Trata seus filhotes com dureza, como se não fossem seus; não se importa se eles morrem. 17Pois Deus não lhe deu sabedoria, nem lhe concedeu entendimento. 18Quando, porém, ela se levanta para correr, zomba até mesmo do cavalo mais veloz e seu cavaleiro.
7. Os cavalos (também vale a pena ler):
Jó 39.19-25 19“Acaso você deu força ao cavalo ou lhe cobriu o pescoço com a crina? 20Deu-lhe a habilidade de pular como um gafanhoto? Seu bufar majestoso é assustador! 21Ele revolve o chão com as patas e alegra-se em sua força quando corre para a batalha. 22Ri do medo e nada teme; não foge da espada. 23Flechas voam ao seu redor, lanças e dardos faíscam. 24Agitado e enfurecido, devora o caminho; lança-se à batalha quando a trombeta ressoa. 25Relincha ao toque da trombeta e fareja de longe a batalha, à espera das ordens do capitão e do ruído de luta.
8. Os falcões e as águias (sabedoria)
Jó 39.26-30 26“Acaso é sua sabedoria que faz o falcão voar alto e abrir as asas para o sul? 27É por ordem sua que a águia se eleva e faz o ninho lá no alto? 28Ela mora nos rochedos; constrói seu ninho nas pedras mais altas. 29Dali, ela caça sua presa; de longe, seus olhos a avistam. 30Seus filhotes bebem sangue; onde há um animal morto, ali ela está”.
Pois bem, quer considere a presa de leões, o nascimento de cabras monteses, a liberdade do jumento selvagem, a insubordinação do boi selvagem, a estupidez do avestruz, a força, a beleza e o destemor do cavalo de guerra ou o vôo do falcão e da águia, o resultado é o mesmo: Jó é ignorante e impotente. Ele não os criou. Ele não sabe como controlá-los. Ele não tem como sustentá-los. Mas era esse mesmo Jó ignorante dos caminhos de Deus que ousava questionar a atitude de Deus!
Foi por isso que, no início do capítulo 40, Deus fez uma pausa em seu interrogatório para dar a Jó a chance de lhe responder:
Jó 40.1-5 1Então o SENHOR disse a Jó: 2“Ainda quer discutir com o Todo-poderoso? Você critica Deus, mas será que tem as respostas?”. 3Então Jó respondeu ao SENHOR: 4“Eu não sou nada; como poderia encontrar as respostas? Cobrirei minha boca com a mão. 5Já falei demais; não tenho mais nada a dizer”.
Jó entendeu o ponto de Deus: uma criatura finita que não tem sabedoria para governar este mundo e é totalmente ignorante de 99,999% de seus processos não tem nada a ver com instruir seu Criador e Soberano a respeito de como governar o mundo, ou mesmo poderá questioná-lo pela maneira como ele faz todas as coisas acontecerem (ou não acontecerem). Jó se humilhou em face da sabedoria de Deus.
3. O poder de Deus é indicado pelo hipopótamo e pelo crocodilo
Deus falou e revelou sua sabedoria a Jó. Em que pese Jó já ter se colocado em seu devido lugar, o SENHOR ainda tinha mais para dizer – Jó não era poderoso como o SENHOR, o Todo-Poderoso El Shaddai:
Jó 40.6-14 6Então, do meio do redemoinho, o SENHOR respondeu a Jó: 7“Prepare-se como um guerreiro, pois lhe farei algumas perguntas, e você responderá. 8“Porá em dúvida minha justiça e me condenará só para provar que tem razão? 9Você é tão forte quanto Deus? Sua voz pode trovejar como a dele? 10Então vista-se de glória e esplendor, de honra e majestade. 11Dê vazão à sua ira, deixe-a transbordar contra os orgulhosos. 12Humilhe-os com um olhar, pise os perversos onde estiverem. 13Enterre-os no pó, prenda-os no mundo dos mortos. 14Então eu mesmo reconheceria que você pode se salvar por sua própria força.
Na sequência, o SENHOR perguntará se Jó seria capaz de capturar duas criaturas terríveis, o Beemote ou hipopótamo (40.15-24) e o Leviatã ou crocodilo (41.1-34). A resposta é NÃO! De jeito nenhum Jó conseguiria! Tudo bem que Jó era mais sábio do que essas feras, mas estava longe de ser mais forte e poderoso. Jó não era capaz de explicar tampouco enfrentar tamanhos poderes daqueles animais. Diante deles, do Beemote e do Leviatã ou do hipopótamo e do crocodilo, Jó ficava impotente. No entanto, ambos estão sob o controle de Deus. Mesmo as criaturas mais temíveis, monstruosas e poderosamente terríveis estão nas mãos, na coleira e na guia do Criador soberano e todo-poderoso.
Jó 41.8-11 11Se você encostar a mão nele [no Leviatã], o resultado será uma batalha que você não esquecerá, e nunca mais tentará fazê-lo! 9Não! É inútil procurar capturá-lo; o caçador que tentar será derrubado. 10E, visto que ninguém ousa perturbá-lo, quem será capaz de me enfrentar? 11Quem me deu alguma coisa, para que eu precise retribuir depois? Tudo debaixo do céu me pertence.
Face à revelação majestosa, poderosa e sábia que Deus fez de si mesmo, Jó caiu em si:
1. Ele se rendeu à soberania de Deus:
Jó 42.1-2 1Então Jó respondeu ao SENHOR: 2“Sei que podes fazer todas as coisas, e ninguém pode frustrar teus planos.
2. Ele se submeteu à sabedoria de Deus:
Jó 42.3 Perguntaste: ‘Quem é esse que, com tanta ignorância, questiona minha sabedoria?’. Sou eu; falei de coisas de que eu não entendia, coisas maravilhosas demais que eu não conhecia.
3. Ele se alegrou com a graça de Deus:
Jó 42.4-6 4Disseste: ‘Ouça, e eu falarei! Eu lhe farei algumas perguntas, e você responderá’. 5Antes, eu só te conhecia de ouvir falar; agora, eu te vi com meus próprios olhos. 6Retiro tudo que disse e me sento arrependido no pó e nas cinzas”.
As lições da descoberta de Jó para nós são claras, simples e profundas:
Seja como George Mueller de Bristol, Inglaterra. No Dia do Senhor, 6 de fevereiro de 1870, sua esposa Mary morreu de febre reumática. Eles estavam casados havia 39 anos e 4 meses. O Senhor lhe deu forças para pregar no culto fúnebre da esposa, no qual ele declarou, cheio de fé na boa, agradável e perfeita vontade de Deus:
Sinto falta dela de inúmeras maneiras, e sentirei ainda mais e mais. Mas como um filho de Deus, e como um servo do Senhor Jesus, eu me curvo, estou satisfeito com a vontade do meu Pai Celestial, busco em perfeita submissão sua santa vontade para glorificá-lo, beijo continuamente a mão que tem assim me afligido.
S.D.G. L.B.Peixoto
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