17.10.2021
[Mateus 16.18] Agora eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha igreja, e as forças da morte [as portas do inferno] não a conquistarão [não prevalecerão contra ela].
Bem, se você é cristão, as palavras de Jesus que nós acabamos de ler devem lhe convencer de uma coisa: foi Cristo mesmo quem edificou, fundou ou construiu a igreja. Disse o Senhor a Pedro: “edificarei minha igreja”. Assim ele o fez como quem constrói uma casa, tijolo a tijolo – é tanto que a palavra grega para edificação [οικοδομεω = oikodomeo] tem em sua raiz a palavra grega para casa [οικια = oikia]; por exemplo, lá no final do Sermão do Monte, falando sobre os dois fundamentos, Jesus disse o seguinte, Mateus 7.24: “Quem ouve minhas palavras e as pratica é tão sábio como a pessoa que constrói [οικοδομεω = oikodomeo] sua casa [οικια = oikia]sobre uma rocha firme.” A IGREJA, portanto, não é invenção de homens; ela é obra, construção, edificação do próprio Cristo.
Mas o que é uma igreja?
O que você diria ser uma igreja?
Como a língua é viva, dinâmica, para o bem ou para o mal, o significado das palavras, com o tempo, vão tomando outras formas, assumindo outros significados e, com isso, pode nos fazer perder contato com a ideia original. Marcos Bagno, por exemplo, professor de línguas na UnB, escreveu que a língua por ser viva e dinâmica, “está em constante movimento – toda língua é uma língua em decomposição e em recomposição, em permanente transformação”. Certo ou errado, em muitos casos esse conceito se prova de algum modo verdadeiro. Um exemplo clássico é a palavra igreja.
Pense em como as pessoas hoje falam sobre “entrar em” ou “associar a” uma igreja (“membrar”), como se fosse um clube ou uma fraternidade íntima de amigos. Ou “ir à igreja”, como se fosse um prédio. Ou “gostar da igreja”, como se fosse um show, um balcão de restaurante de fast food ou uma prestadora de serviços. Jonathan Leeman nos coloca para pensar:
Que suposições estão em jogo quando falamos sobre igreja dessas maneiras [apresentações, prédios, clubes, irmandades ou prestadoras de serviços]? Além disso, como essas suposições moldam o modo como nos envolvemos com nossa igreja?
E ele responde que
se continuarmos a irrefletidamente tratar as igrejas como pouco mais do que clubes, prédios ou apresentações, perderemos o carregamento de apoio e bênçãos que Deus pretende [derramar em nossa vida].
A Bíblia jamais faz uso da palavra igreja em relação a prédio, clube, local de apresentações ou de entrega de serviços de quaisquer natureza, por mais nobres que sejam. Está claro, a julgar pelo que vemos, o quanto o significado de igreja se decompôs e se recompôs, transformando-se em algo totalmente diferente da ideia original de Jesus e dos apóstolos. Nosso propósito, portanto, na mensagem de hoje, é redescobrir, à luz da Bíblia – dito de outro modo: contemplando o print da igreja capturado das páginas da Bíblia – o significado de igreja, de uma igreja bíblica, em essência.
Um povo reunido diante de Deus
Jesus Cristo foi o primeiro, no Novo Testamento, que chamou seu povo de “minha igreja” (Mt 16.18). Assim como Adão deu nome à sua esposa (Eva), assim também Cristo deu nome à sua igreja (noiva!). Portanto, NOTE BEM, tanto a ideia de edificar a “igreja” com de chamá-la de “igreja” foram ambas do próprio Cristo: “edificarei minha igreja”. Perdoem-me pela repetição, mas é preciso garantir que todos captaram: a ideia de uma igreja não é fruto da imaginação ou da vontade humana de exercer poder ou domínio sobre as pessoas, também não é humano o nome dado à ela: igreja. Igreja é ideia de Deus.
Visto que Jesus entendia ser ele mesmo o Messias prometido de Israel no Antigo Testamento, suas referências (em Mt 16.18 e em Mt 18.17) à igreja ou ekklesia, para usarmos a palavra grega, certamente traduzem o significado do termo hebraico equivalente: qahal. Mas o que significam, literalmente, os termos ekklesia (no grego) e qahal (no hebraico)? Ambos se traduzem como “assembleia”. Igreja, portanto, ao pé da letra, nada mais é do que assembleia – isto é, uma reunião de pessoas chamadas, convocadas.
O plano eterno de Deus sempre foi o de reunir pessoas que refletissem sua glória. Vemos isso já na criação de Adão e Eva que ouviram com seus próprios ouvidos o que Deus lhes comissionara a fazer, Gênesis 1.28: “Sejam férteis e multipliquem-se. Encham e governem a terra. Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que rastejam pelo chão”. Veio o pecado (Gn 3), suas consequências (Gn 4–5) e, consequentemente o dilúvio, do qual Deus salvou não apenas um indivíduo, mas uma família inteira, a família de Noé (Gn 6–10). Em Gênesis 12, Deus chamou Abrão e prometeu que os descendentes dele seriam tão numerosos quanto as estrelas no céu.
No livro do Êxodo, Deus lidou não somente com Moisés, mas com toda a nação de Israel – 12 tribos constituídas de centenas de milhares de pessoas que ainda não possuíam uma identidade própria, mas que Deus resgatara para os reunir como povo dele mesmo e os fazer desfilar para a sua glória entre as nações. Ouça um trecho do primeiro cântico da Bíblia, o cântico de libertação de Moisés:
Êxodo 15.13-16 13“Com o teu fiel amor, conduzes o povo que resgataste. Com teu poder, o guias à tua santa habitação. 14Os povos ouvem e estremecem, a angústia se apodera dos que vivem na Filístia. 15Aterrorizam-se os líderes de Edom, estremecem os nobres de Moabe. Desfalecem os habitantes de Canaã; 16espanto e terror caem sobre eles. O poder do teu braço os deixa paralisados, como pedra, até teu povo passar, ó SENHOR, até passar o povo que compraste.
Esse povo que Deus resgatou, ele mesmo o reuniu para si e o entregou leis e dele requereu cerimônias que deveriam ser observadas não só pelos indivíduos, mas igualmente por todo o povo diante dele, reunido diante de sua face:
Deuteronômio 4.9-10 9“Fiquem muito atentos! Cuidem para que não se esqueçam daquilo que viram com os próprios olhos. Não deixem que essas lembranças se apaguem de sua memória enquanto viverem. Passem-nas adiante a seus filhos e netos. 10Nunca se esqueçam do dia em que estiveram diante do SENHOR, seu Deus, no monte Sinai, onde o SENHOR me disse: ‘Convoque [reúna, convoque em assembleia, qahal] o povo para que se apresente diante de mim, e eu os instruirei pessoalmente. Eles aprenderão a me temer enquanto viverem e ensinarão seus filhos a também me temer’.
Desde o resgate do povo do Egito, Deus requereu que seu povo se reunisse em assembleia solene ou sagrada, separada com o intuito de se celebrar a gloriosa graça de Deus que agiu para libertar seu povo (Êx 12.16). Por exemplo, abrindo o Livro V do Saltério, o salmista convoca o povo a louvar nos seguintes termos:
Salmo 107.31-32 (NVI) 31Que eles deem graças ao SENHOR por seu amor leal e por suas maravilhas em favor dos homens. 32Que o exaltem na assembleia do povo e o louvem na reunião dos líderes.
Após o cativeiro babilônico, o povo de Deus, agora duplamente resgatado (do Egito e da Babilônia), reúne-se em assembleia:
Neemias 8.1-8 1Em outubro, quando os israelitas já haviam se estabelecido em suas cidades, todo o povo se reuniu com um só propósito na praça em frente da porta das Águas. Pediram ao escriba Esdras que trouxesse o Livro da Lei de Moisés, que o SENHOR tinha dado a Israel. 2Assim, no dia 8 de outubro, o sacerdote Esdras trouxe o Livro da Lei perante a comunidade constituída de homens e mulheres e de todas as crianças com idade suficiente para entender. 3Ficou de frente para a praça, junto à porta das Águas, desde o amanhecer até o meio-dia, e leu em voz alta para todos que podiam entender. Todo o povo ouviu com atenção a leitura do Livro da Lei. 4O escriba Esdras estava em pé sobre uma plataforma de madeira feita para a ocasião. […] 5Esdras estava sobre a plataforma, à vista de todo o povo. Quando o viram abrir o Livro da Lei, todos se levantaram. 6Esdras louvou o SENHOR, o grande Deus, e todo o povo disse: “Amém! Amém!”, com as mãos erguidas. Depois, prostraram-se com o rosto no chão e adoraram o SENHOR. 7Em seguida, os levitas […] instruíram o povo acerca da Lei, e todos permaneceram em seus lugares. 8Liam o Livro da Lei de Deus, explicavam com clareza o significado do que era lido e ajudavam o povo a entender cada passagem.
Pois bem, essa rica associação entre A ASSEMBLEIA DE DEUS e O POVO DE ISRAEL (ou seja: o povo de Deus reunido em assembleia solene diante de Deus), que é expressa por qahal no Antigo Testamento, é agora transportada para ekklesia no Novo Testamento. Desse modo, A IGREJA é, literalmente, uma assembleia – uma reunião de redimidos pelo sangue de Cristo diante de Deus, um povo chamado a se reunir diante de Deus em assembleia solene, Hebreus 10.25 “E não deixemos de nos reunir [congregar-nos, grego: επισυναγωγη = episunagoge, reunião em um lugar religioso ou dedicado à fé], como fazem alguns, mas encorajemo-nos mutuamente, sobretudo agora que o dia está próximo.” A essa reunião, a esse ato de se reunir ou de congregar, Paulo chamou de ekklesia, igreja ou assembleia em 1Coríntios 11.18: “Primeiro, ouço que há divisões quando vocês se reúnem como igreja [ekklesia] e, até certo ponto, eu o creio.” Portanto, em essência, UMA IGREJA É UMA ASSEMBLEIA REUNIDA PARA ADORAR A DEUS.
A igreja é o Israel de Deus
Os cristãos estão divididos no que diz respeito a quão intimamente Israel deveria ser identificado com a Igreja. O Novo Testamento identifica Israel com a igreja em uma única passagem, na qual Paulo se refere à igreja da Galácia com o título “Israel de Deus” – Gálatas 6.16: “Que a paz e a misericórdia de Deus estejam sobre todos os que vivem de acordo com esse princípio e sobre o Israel de Deus.”
Embora alguns tenham a opinião de que “Israel de Deus” se refere especificamente aos judeus que pertenciam às igrejas predominantemente compostas de gentios ou de não-judeus na Galácia, outros (como eu) estão convencidos de que, nessa mesma carta, Paulo se refere a todos os cristãos, judeus e gentios, como “descendentes de Abraão” – Gálatas 3.29: “E agora que pertencem a Cristo, são verdadeiros filhos de Abraão, herdeiros dele segundo a promessa de Deus.”
Distinções entre o povo de Deus no Antigo e no Novo Testamento são óbvias. O povo de Deus, no Antigo Testamento, é etnicamente distinto; no Novo Testamento, é etnicamente misturado. No Antigo Testamento, o povo de Deus vivia sob o seu próprio governo, com leis dadas por Deus; no Novo Testamento, o povo de Deus vive entre os governantes das nações. No Antigo Testamento, exigia-se dos membros do povo de Deus que circuncidassem seus descendentes masculinos; no Novo Testamento, exige-se que eles batizem todos os crentes.
O que explica a mudança na transição do Antigo para o Novo Testamento?
Jesus cumpriu promessas explícitas de Deus no Antigo Testamento e até padrões que eram vigentes. Ele é o cumprimento do templo e de seu sacerdócio, da terra e de seus governantes, até da nação de Israel como um filho de Deus. No Antigo Testamento, Israel é chamado filho de Deus (Êx 4.22), sua esposa (Ez 16.6-14), a menina dos seus olhos (Dt 32.10), sua vinha (Is 5.1-7; Na 2.2) e seu rebanho (Ez 34.4). Por meio desses nomes, Deus prefigurou a obra que realizaria por intermédio de Cristo e de sua igreja.
Embora Israel e a Igreja não sejam idênticos, são intimamente relacionados por meio de Jesus Cristo
Efésios 2.12-16 12Naquele tempo, vocês viviam afastados de Cristo. Não tinham os privilégios do povo de Israel e não conheciam as promessas da aliança. Viviam no mundo sem Deus e sem esperança. 13Agora, porém, estão em Cristo Jesus. Antigamente, estavam distantes de Deus, mas agora foram trazidos para perto dele por meio do sangue de Cristo. 14Porque Cristo é nossa paz. Ele uniu judeus e gentios em um só povo ao derrubar o muro de inimizade que nos separava. 15Ele acabou com o sistema da lei, com seus mandamentos e ordenanças, promovendo a paz ao criar para si, desses dois grupos, uma nova humanidade. 16Assim, ele os reconciliou com Deus em um só corpo por meio de sua morte na cruz, eliminando a inimizade que havia entre eles.
Israel foi chamado para ser o servo do Senhor, contudo foi infiel a ele. Por outro lado, Jesus é o servo fiel (veja Jesus vencendo a tentação nos 40 dias no deserto em Mateus 4.1-11; Israel perambulou 40 anos no pecado no deserto). Os templos de Salomão e de Esdras, bem como o templo na visão de Ezequiel, apontam para Jesus Cristo, cujo corpo se tornou o supremo tabernáculo terreno para o Espírito de Deus. A terra de Israel, especialmente a cidade de Jerusalém, assinala a redenção de toda a terra. O próprio céu é referido como a nova Jerusalém. A igreja multirracial cumpriu as promessas dadas às 12 tribos (veja Apocalipse 7). E a lei do Antigo Testamento achou seu cumprimento em Cristo (veja Mateus 5.17). Cristo é o cumprimento de tudo para o que Israel aponta (veja 2Coríntios 1.20). E a igreja é seu corpo.
No mínimo, poderíamos dizer que Deus tinha um plano de glorificar seu nome por meio de grupos de pessoas que ele escolheu, redimiu e tomou para si mesmo (reuniu para si = qahal ou ekklesia). Por isso, Edmund Clowney estava correto quando escreveu que “a história da igreja começa com Israel, o povo de Deus do Antigo Testamento”. Eu diria – acho que parafraseando o saudoso Isaltino Gomes Coelho Filho – que a igreja foi gerada na mente de Deus na eternidade (veja Efésios 1), gestada no Antigo Testamento (veja Gênesis 12), entrou em trabalho de parto nos Evangelhos (Veja Mateus 16.18 e 18.17) e veio à luz no dia de Pentecostes (veja Atos 2), e do Pentecostes em diante engatinhou, cresceu e frutificou (veja Atos e as cartas do Novo Testamento).
Usos da palavra ekklesia
O uso genérico para a palavra ekklesia ou igreja faz referência à reunião de todos os crentes em Cristo de todas tempos, povos, tribos, línguas e nações:
Hebreus 12.22-24 22Vocês, porém, chegaram ao monte Sião, à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, aos incontáveis milhares de anjos em alegre reunião, 23à congregação [εκκλησια = ekklesia] dos filhos mais velhos, cujos nomes estão escritos no céu, e a Deus, que é juiz de todos, aos espíritos dos justos no céu, agora aperfeiçoados, 24a Jesus, o mediador da nova aliança, e ao sangue aspergido, que fala de coisas melhores do que falava o sangue de Abel.
Não podemos enxergar agora essa igreja em sua totalidade, mas Deus pode e um dia essa igreja universal ou invisível ou católica [expressão grega e latina para universal] estará reunida [congregada, em assembleia] em um só lugar:
Apocalipse 7.9-10 9Depois disso, vi uma imensa multidão, grande demais para ser contada, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro. Usavam vestes brancas e seguravam ramos de palmeiras. 10E gritavam com grande estrondo: “A salvação vem de nosso Deus, que está sentado no trono, e do Cordeiro!”.
Portanto, há momentos no Novo Testamento em que é assim que a palavra “igreja” é usada – em um sentido universal. Além de Hebreus 12.23, que lemos há pouco, outro exemplo é o que Paulo escreveu aos efésios:
Efésios 1.22-23 22Deus submeteu todas as coisas à autoridade de Cristo e o fez cabeça de tudo, para o bem da igreja [εκκλησια = ekklesia]. 23E a igreja é seu corpo; ela é preenchida e completada por Cristo, que enche consigo mesmo todas as coisas em toda parte.
Aqui, Paulo não se refere apenas à igreja em Éfeso, ele se refere à Igreja universal ou invisível. MAS a maioria das referências à igreja no Novo Testamento tem a igreja local em mente – p.ex.: a igreja toda que se reunia na casa de Gaio (Rm 16.23), a igreja que se reunia na casa de Ninfa (Cl 4.15), a igreja que se reunia na casa de Filemom (Fm 2), a igreja em Éfeso (Ef 1.1), em Corinto (1Co 1.2), na cidade de Colossos (Cl 1.2), no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na Ásia e na Bitínia (Gl 1.2; 1Pe 1.1). Essas igreja tinham pastores ou presbíteros que cuidavam delas, designados pelo próprio Deus:
Atos 20.28 Portanto, cuidem de si mesmos [presbíteros de Éfeso, v. 17] e do rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos [supervisores], a fim de pastorearem sua igreja [em Éfeso], comprada com seu próprio sangue.
Tito 1.5 Deixei-o na ilha de Creta para que você completasse o trabalho e nomeasse presbíteros [anciãos que pastoreariam] em cada cidade, conforme o instruí.
Tiago 5.14 Alguém está doente? Chame os presbíteros da igreja para que venham e orem sobre ele e o unjam com óleo, em nome do Senhor.
Ademais, Tanto 2João quanto 3João retratam uma congregação específica e suas lutas com falsos mestres e líderes locais.
Por fim, exceto Paulo e Atos dos Apóstolos, o livro de Apocalipse contém mais ocorrências da palavra ekklesia do que qualquer outro livro no Novo Testamento. Salvo em Apocalipse 22.16, todas essas ocorrências estão nos primeiros três capítulos. Nesses capítulos iniciais (Apocalipse 1—3), a palavra igreja ou ekklesia é usada 14 vezes em um formato padronizado, ou para começar ou para concluir uma carta específica dirigida a cada uma das sete igrejas (Ap 2.1, 7, 8, 11, 12, 17, 18, 29; 3.1, 6, 7, 13, 14, 22). E, em Apocalipse 22.16, Jesus disse que enviou seu anjo “a fim de lhes dar esta mensagem para as igrejas”. Portanto, a mensagem deste livro, desde o capítulo 4 até o 22, é destinada às IGREJAS LOCAIS.
Uma igreja bíblica, portanto, é uma assembleia do povo de Deus, uma reunião do povo de Deus em sua expressão local, igreja local, composta de pessoas redimidas para ler a palavra, ouvir a palavra, orar a palavra, cantar a palavra e encenar (nas ordenanças bíblicas – batismo e ceia) a palavra de Deus. E desse modo as igrejas locais dão expressão, visibilidade à igreja universal de Deus.
O que é uma igreja?
UMA IGREJA, BIBLICAMENTE FALANDO, É a assembleia do povo de Deus, é a reunião do povo de Deus em um só lugar, refletindo a união invisível da igreja universal com Cristo, refletindo a reunião de todos os salvos em Cristo, de todas as eras e de todos os lugares do mundo. Um povo reunido para adorar e refletir a glória de Deus em Cristo no mundo.
Sobre essa igreja bíblica, ainda precisamos ver como essa essência – um povo reunido para a glória de Deus – se parece de fato na prática, aos olhos do mundo. Para tanto, na próxima mensagem: [1] estudaremos, em mais detalhes, o papel da igreja no plano de redenção do mundo; [2] veremos o caráter de uma igreja bíblica: ela é única, santa, universal e apostólica; [3] falaremos das marcas de uma igreja bíblica: a pregação da palavra centrada no evangelho e a correta administração das ordenanças bíblicas; [4] exibiremos algumas das imagens de uma igreja bíblica: corpo, família, rebanho de ovelhas, casa, sacerdócio e embaixada do reino de Deus e, por fim, [4] aplicaremos tudo isso à vida real, à prática de uma igreja local, à SIB em Goiânia.
Faremos isso no próximo domingo, Deus permitindo. Daremos à próxima mensagem o título de A EXPRESSÃO DA IGREJA – COM O QUE SE PARECE UMA IGREJA BÍBLIA? Por ora, deixe-me tirar algumas lições a respeito de como nós devemos pensar sobre a igreja à partir de sua ESSÊNCIA BÍBLICA.
1. A igreja local é a essência do grande plano de Deus para exibir sua glória
Pense, por um momento, em como Paulo costurou ou teceu a carta aos Efésios em sua totalidade. Ele começou, no capítulo 1, com uma bela descrição de nossa salvação – somente pela graça, somente para a glória de Cristo. No capítulo 2, ele tratou de com o evangelho nos salvou. E então, no meio do capítulo 2, Paulo deu início ao ponto principal de aplicação do evangelho: que judeus e gentios são um em Cristo. Ou seja: dois grupos que por razões étnicas, teológicas, sociais e políticas estavam em inimizade estão agora unidos, reconciliados com Deus no mesmo corpo: a igreja. Na verdade, Paulo usou os dois vínculos mais íntimos que conhecemos – o vínculo de família e o vínculo de etnia – para descrever a igreja unida. Somos a nova família de Deus (Ef 2.19). Somos a nova humanidade de Deus (Ef 2.15).
Preste bastante atenção: pessoas sem nada em comum, exceto Cristo, vivendo juntos como se tivéssemos tudo em comum. Qual é o propósito de Deus nesse milagre? Efésios 3.10: “O plano de Deus era mostrar a todos os governantes e autoridades nos domínios celestiais, por meio da igreja, as muitas formas da sabedoria divina.”
NÃO PERCA ISSO DE VISTA, MEU POVO: De que modo Deus tornará conhecida ao mundo sua multiforme sabedoria? Pela igreja. É a obra sobrenatural de Deus em nós, não apenas como indivíduos, mas coletivamente, como um corpo eclesiástico, como uma igreja, um povo reunido que se torna a vitrine ou a plataforma da gloriosa sabedoria de Deus, a exibição do poder do evangelho para salvar, santificar e unir pessoas tão diferentes em Cristo. Longe de ser opcional, meu povo, a igreja é central no plano de Deus.
2. A igreja local deve ser distinta do mundo para refletir a glória de Deus
O propósito de Deus para a igreja no mundo se cumprem quando os crentes são, de fato, diferentes do mundo. Isso não significa ser diferentes apenas enquanto pessoas de diferentes tipos de origens ou de culturas diferentes ou de gostos diferentes, diferentes preferências aprendendo a conviver e a se amar. Também significa que são diferentes no sentido de santidade. Em 1Pedro 1.15-16 se lê esta advertência do apóstolo: “Agora, porém, sejam santos em tudo que fizerem, como é santo aquele que os chamou. Pois as Escrituras dizem: ‘Sejam santos, porque eu sou santo’”. Igrejas são para pecadores, para enfermos de alma. Ainda assim, igrejas são para pecadores arrependidos em busca de restauração pela graça e por meio da fé. Se a igreja não parece diferente do mundo, para que servirá? Não importa a mensagem que ela pregue; uma igreja que se parece com o mundo só difamará essa mensagem. Desse modo, diferente do mundo, santa, a igreja refletirá, exibirá o poder do evangelho para salvar e transformar vidas.
3. A igreja local deve refletir a imagem de Deus
Nosso trabalho como cristãos é exibir aqui na terra o caráter, a semelhança, a imagem e a glória do Filho e do Pai que estão no céu! Na prática, o que isso significa?
Por exemplo: o Pai é pacificador, então você, igreja, seja pacificadora. O Pai ama seus inimigos, então você, igreja, ame seus inimigos. O Pai e o Filho são um, então você, igreja, seja unida, sem divisão. O Filho veio para servir, então você, igreja, sirva uns aos outros, sirva ao mundo. O Filho veio para buscar e salvar o perdido, então você, igreja, busque e salve o perdido. O Filho não veio para estabelecer o reino deste mundo, mas o reino do céu, então você, igreja, viva para estabelecer o reino do céu na terra e não outro reino qualquer – nossa batalha é espiritual, não política. Ou ainda: 2Coríntios 13.14: “Que a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês.” Igreja: reflita a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo. Tal Pai, tal Filho e tais filhos.
4. A igreja local é uma assembleia que se reúne ao mesmo tempo em um só local
Parece óbvio, mas nos últimos tempos não tem sido assim tão claro para muita gente. O que se vê são igrejas, a mesma igreja, oferecendo o mesmo culto a públicos diferentes (multi-cultos); igrejas, a mesma igreja, reunida com públicos diferentes em múltiplas localidades (multi-site); igrejas, a mesma igreja, chamando transmissão de culto de “culto virtual” (igreja reunida virtualmente). Ora, meu povo, não é isto que se vê no Novo Testamento. Com efeito, a palavra de Deus atesta que a igreja é, em essência, uma assembleia, uma reunião de pessoas: a reunião de seu membros, ao mesmo tempo e em um mesmo lugar. Igreja, portanto, tem horário, quorum e local para se reunir, posto que é uma assembleia dos membros. — Sim, o templo, o prédio ou o edifício não é a igreja, mas a igreja – a assembleia, a reunião solene do povo – precisa sim de um local para que todos se reúnam ao mesmo tempo. Veja alguns textos bíblicos a este respeito:
Atos 2.46 adoravam juntos no templo diariamente, reuniam-se nos lares para comer e partiam o pão com grande alegria e generosidade,
Atos 5.11-13 11Um grande temor se apoderou de toda a igreja e de todos que souberam desse acontecimento.12Os apóstolos realizavam muitos sinais e maravilhas entre o povo. Todos se reuniam regularmente no templo, na parte conhecida como Pórtico de Salomão. 13Quando se reuniam ali, ninguém mais tinha coragem de juntar-se a eles, embora o povo os tivesse em alta consideração.
Atos 6.2-3 2Por isso, os Doze convocaram uma reunião com todos os discípulos e disseram: “Nós, apóstolos, devemos nos dedicar ao ensino da palavra de Deus, e não à distribuição de alimentos. 3Sendo assim, irmãos, escolham sete homens respeitados, cheios do Espírito e de sabedoria, e nós os encarregaremos desse serviço.
1Coríntios 11.33 Portanto, meus irmãos, quando se reunirem [como igreja, v. 18] para comer, esperem uns pelos outros.
1Coríntios 14.23 Ainda assim, se descrentes ou pessoas que não entendem essas coisas entrarem na reunião de sua igreja e ouvirem todos falarem em línguas, pensarão que vocês são loucos.
1Coríntios 14.26 Pois bem, irmãos, o que fazer, então? Quando vocês se reunirem, um cantará, o outro ensinará, o outro revelará, um falará em línguas e outro interpretará o que for dito. Tudo que for feito, porém, deverá fortalecer a todos.
Igreja, meu povo, é mais do que sua reunião ou assembleia, mas não é menos do que a reunião ou a assembleia. Assembleia ou reunião é a essência do que significa ser igreja. Daí a exortação: “não deixemos de nos reunir, como fazem alguns” (Hb 10.25). Essa reunião é a expressão visível, a realidade local do que se vê e verá na glória do céu:
Apocalipse 7.9-10 9Depois disso, vi uma imensa multidão, grande demais para ser contada, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro. Usavam vestes brancas e seguravam ramos de palmeiras. 10E gritavam com grande estrondo: “A salvação vem de nosso Deus, que está sentado no trono, e do Cordeiro!”.
Reunir-se com os irmãos, na assembleia da igreja, reunir-se como igreja para cantar louvores diante do Cordeiro de Deus é a essência do que significa ser igreja, pelo menos uma igreja bíblica. Portanto, abaixo a ideia de que você não precisa se reunir, posto que seria o mesmo que dizer: abaixo a igreja. A igreja é, essencialmente, a reunião do povo de Deus reunida para adorar o Cordeiro.
Junte-se a Cristo. Juste-se à igreja de Cristo. Arrependa-se do pecado e creia em Cristo. Una-se aos irmãos na assembleia de Cristo, a igreja que Jesus está edificando para a eternidade. PENSE NISTO: o que te faz crer que você estará na grande ekklesia, diante do trono do Cordeiro (Ap 7.9-10), se aqui e agora você não está congregado, arrolado ou não faz parte de uma assembleia de crentes, uma igreja local – que é a expressão visível dessa igreja universal e eterna? Creia em Cristo e junte-se à igreja.
S.D.G. L.B.Peixoto
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