07.01.2018
EM DEFESA DA FÉ: A ESTRATÉGIA
Judas 17-23
17Amados, lembrem-se do que previram os apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo. 18Eles lhes disseram que nos últimos tempos haveria zombadores cujo propósito na vida é satisfazer seus desejos perversos. 19Eles provocam divisões entre vocês e seguem seus instintos naturais, pois não têm neles o Espírito. 20Mas vocês, amados, edifiquem uns aos outros em sua santíssima fé, orem no poder do Espírito Santo 21e mantenham-se firmes no amor de Deus, enquanto aguardam a vida eterna que nosso Senhor Jesus Cristo lhes dará em sua misericórdia. 22Tenham compaixão daqueles que vacilam na fé. 23Resgatem outros, tirando-os das chamas do julgamento. De outros ainda, tenham misericórdia, mas façam isso com grande cautela, odiando os pecados que contaminam a vida deles.
A ARTE DA GUERRA
O livro A Arte da Guerra é uma obra literária do pensador chinês Sun Tzu, escrito por volta do ano 500 a.C., e funcionou como um manual estratégico para conflitos armados. Hoje, porém, o livro parece destinado a servir outra guerra: a das empresas no mundo corporativo; migrou das estantes dos estrategistas para as dos homens de negócios, servindo de base para estimular o potencial criativo dos homens e mulheres bem-sucedidos no ramo das empresas.
O tratado é composto por treze capítulos, cada qual abordando um aspecto da estratégia de guerra, de modo a compor um panorama de tudo que deve ser pensado em um combate. Acredita-se que o livro tenha sido usado por diversos estrategistas militares através da história, dentre os quais se destacam: Napoleão (imperador francês que viveu de 1769 a 1821) e Mao Tsé-Tung (imperador chinês que viveu de 1893 a 1976).
De fato, diz-se que se encontram citações do livro A Arte da Guerra de Sun Tzu nos escritos militares de Mao Tsé-Tung (líder comunista que liderou a Revolução Chinesa e arquitetou a fundação da República Popular da China). O general brasileiro Alberto Mendes Cardoso chamou a obra do Sun Tzu de clássico militar.
A bem da verdade, ninguém consegue vencer qualquer batalha sem que se tenha uma estratégia bem definida, por isso que se recorre aos manuais dos grandes cérebros militares. Por exemplo, Sun Tzu, um dos primeiros a usar o termo “estratégia” nos conflitos militares, n’A Arte da Guerra disse que “o que é de suma importância na guerra é atacar a estratégia do inimigo”. Adiante no livro, ele diz assim:
Todos os homens podem ver as táticas pelas quais eu conquisto, mas o que ninguém consegue ver é a estratégia a partir da qual grandes vitórias são obtidas.
A estratégia de Judas
Não se vence batalhas sem estratégia. E na batalha contra os atos dos apóstatas, na luta que estamos travando contra as obras daqueles que se infiltraram entre nós sem serem notados e que dizem que a graça de Deus permite que se leve uma vida imoral, negando a soberania e o senhorio de Jesus Cristo sobre nossas vidas (Jd 4)… nessa luta, Judas tem sido o nosso general, conduzindo-nos nesses tempos de guerra “pela fé que, de uma vez por todas, foi confiada ao povo santo” (Jd 3).
Nossos inimigos não são nazistas, comunistas ou terroristas; não são árabes, palestinos ou judeus; também não são os capitalistas ou a burguesia de direita (como você quiser chamar!); tampouco sejam nossos inimigos os católicos ou qualquer pessoa de outra fé diferente da nossa; aliás, não é contra pessoas que nós lutamos (Ef 6.12); nossa luta é contra a apostasia, o abandono da fé apostólica.
O que está em jogo não é um país, pois nossa pátria não é aqui (Fl 3.20; Hb 11.16), mas batalhamos pela preservação da verdade revelada na Bíblia, batalhamos pelo amor e as boas obras, batalhamos pela moralidade e pela santidade da Igreja de Cristo, batalhamos pela salvação.
Judas, nosso general, após ter descrito 1os combatentes (Jd 1-2); depois de haver revelado 2o combate que cristãos são chamados a travarem no seu dia a dia (Jd 3-4); ao ter exibido 3os alvejados (Jd 5-7); apresentado 4a espada, que é nossa arma no combate (Jd 5-7); tendo falado sobre 5os apóstatas (Jd 8-13); e anunciado 6a rendição desses indivíduos no dia do juízo final (Jd 14-16), caminhando para a conclusão de sua carta, Judas anunciará 7a estratégia que o exército de Jesus deve usar para vencer a batalha pela fé (Jd 17-23).
Na estratégia formulada por Judas, há três princípios fundamentais que deverão ser observados pelo soldado de Cristo: [1] arme-se para o combate (Jd 17-19); [2] alicerce sua vida cristã (Jd 20-21); e [3] anuncie o Evangelho de Cristo (Jd 22-23).
1. Arme-se para o combate (Jd 17-19)
Historiadores, conforme dissemos na última mensagem, dizem que a rendição do Japão (2.9.1945) significou o fim da II Guerra Mundial. Após os ataques nucleares lançados pelos EUA em Hiroshima e Nagasaki (respectivamente em 6 e 9 de agosto de 1945), o imperador Hirohito ordenou seu Conselho de Guerra que tentasse negociar uma paz minimamente honrosa com os Aliados. A força da bomba nuclear, o poder daquela arma secreta norte-americana, para o bem ou para o mal, foi o que definitivamente colocou um ponto final numa das batalhas mais sangrentas da história.
Estar bem armado e saber usar suas armas é uma das principais estratégias para se obter sucesso em qualquer combate. Judas sabia disso muito bem, por isso ele escreveu:
Jd 17-19 | 17Amados, lembrem-se do que previram os apóstolos [Pedro e Paulo] de nosso Senhor Jesus Cristo. 18Eles lhes disseram que nos últimos tempos haveria zombadores cujo propósito na vida é satisfazer seus desejos perversos [cf. 2Pe 3.3-4ss.]. 19Eles provocam divisões entre vocês e seguem seus instintos naturais, pois não têm neles o Espírito.
Nossa arma é a palavra de Deus, tanto para atacar como para nos defender (2Co 6.7). Ela é poderosa, pois foi Deus mesmo quem inspirou os apóstolos (2Tm 3.16) e os capacitou (Jo 16.13) para nos entregá-la tal como ele mesmo planejou (Ef 2.20). A palavra de Deus é sempre atual e relevante. Judas, por exemplo, desmascara os apóstatas usando as palavras dos Apóstolos:
Jd 17-19 | 17Amados, lembrem-se do que previram os apóstolos [Pedro e Paulo] de nosso Senhor Jesus Cristo. 18Eles lhes disseram que nos últimos tempos haveria zombadores cujo propósito na vida é satisfazer seus desejos perversos [cf. 2Pe 3.3-4ss.]. 19Eles provocam divisões entre vocês e seguem seus instintos naturais, pois não têm neles o Espírito.
Usando a Palavra de Deus, Judas foi capaz de definir quem são os apóstatas — eles são 1blasfemos (zombadores; não têm qualquer temor), 2inconsequentes (seguem seus próprios desejos ímpios; vivem pelo que vêm e não pela fé), 3briguentos (causam divisões, não exercitam amor), 4teimosos (seguem a tendência de sua própria alma; seus instintos naturais; obras da carne e não o fruto do Espírito) e, por fim, são 5carnais (não têm o Espírito). Devemos, pois, nos armar da palavra de Deus para podermos discernir, diagnosticar e deferir os devidos golpes. Paulo diz assim:
2Tm 3.15-17 | 15Desde a infância lhe foram ensinadas as Sagradas Escrituras, que lhe deram sabedoria para receber a salvação que vem pela fé em Cristo Jesus. 16Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para nos ensinar o que é verdadeiro e para nos fazer perceber o que não está em ordem em nossa vida. Ela nos corrige quando erramos e nos ensina a fazer o que é certo. 17Deus a usa para preparar e capacitar seu povo para toda boa obra.
Para vencer o combate, a estratégia é se armar da Palavra de Deus.
2. Alicerce a sua vida cristã (Jd 20-21)
Após dizer que o cristão deve se armar com a Palavra de Deus, Judas diz que ele deve também alicerçar sua vida cristã:
Jd 20-21 | 20Mas vocês, amados, edifiquem uns aos outros em sua santíssima fé, orem no poder do Espírito Santo 21e mantenham-se firmes no amor de Deus, enquanto aguardam a vida eterna que nosso Senhor Jesus Cristo lhes dará em sua misericórdia.
O alicerce é a Palavra de Deus — é a “santíssima fé” (Jd 3 e 20) e a condição para edificarmos a vida cristã vem da oração no Espírito Santo. A palavra de Deus e a oração devem andar juntas para a edificação da igreja e de seus membros individualmente, por isso que pastores se dedicam, prioritariamente, à Palavra e à oração, deixando outros assuntos para diáconos (At 6.4).
Orar no Espírito não é orar em “línguas”. Afinal, se Paulo nos diz que devemos orar em todo tempo no Espírito (Ef 6.18), ele não pode estar falando de oração em línguas! Orar no Espírito Santo é orar de forma tal que o Espírito Santo seja o motor e o mapa para as nossas orações. Quando oramos no Espírito Santo, o Espírito de Deus está nos movendo a orar, isto é, ele é quem nos motiva a orar, e nos capacita a orar, e também “energiza” as nossas orações (i.e., mantém-nos orando).
David Brainerd é um exemplo clássico do que estamos dizendo, pois, em seus diários espirituais (cf. A Vida de David Brainerd, por Jonathan Edwards, Ed. Fiel), ele sempre fez questão de deixar registrado aquilo que o “energizava” na oração (o que o mantinha orando) era o Espírito Santo de Deus. Veja, p.ex., as citações a seguir:
Dia do Senhor, 18 de abril. Cedo pela manhã, retirei-me ao bosque para oração; tive a assistência do Espírito de Deus, e minha fé foi exercitada; fui capacitado a pleitear fervorosamente pelo avanço do reino de Cristo no mundo, e a interceder em favor de queridos amigos ausentes. […] 19 de abril. […] À tarde, Deus esteve comigo de verdade. Oh, realmente foi uma bendita companhia! Deus capacitou-me para agonizar em oração; ao ponto de eu ficar molhado de suor, embora estivesse na sombra e a brisa fosse fresca.
Precisamos do Espírito Santo para orar. Sem ele, nós não conseguiremos orar. Ele é o motor das nossas orações. Ele é quem nos move a orar.
Quando nós oramos, é também o Espírito de Deus quem nos guia, quem nos diz como orar e sobre o que orar. Assim, o Espírito é nosso mapa.
Portanto, orar no Espírito Santo é ser movido e guiado pelo Espírito Santo em oração. Ou seja, oramos no seu poder e segundo a sua direção. João Calvino, comentando sobre Judas 20, fez excelente observação a respeito da expressão “Orando no Espírito Santo”.
Essa ordem de perseverança [da qual nos fala Judas em sua Epístola] depende de sermos capacitados com o imenso poder de Deus. Sempre que precisarmos de constância na fé, necessitaremos de recursos para a oração, e como as nossas orações são, muitas vezes, superficiais e mecânicas, Judas acrescenta ‘no Espírito Santo’, como que dizendo: a preguiça é tanta, a frieza é tanta, que ninguém será vitorioso como deve ser na vida de oração sem que sejamos movidos e guiados pelo Espírito Santo de Deus.
Somos tão inclinados a desanimar e a deixar de orar como devemos que ninguém se aventurará a chamar Deus de ‘Pai’, a menos que o mesmo Espírito coloque a Palavra em nós. Do Espírito, nós recebemos o dom da real preocupação, da ardorosa inquietação, da inabalável força, da essencial vivacidade e do verdadeiro zelo que devemos receber — tudo isso e, finalmente, a assistência, sem a qual, segundo Paulo escreve (em Rm 8.26), seríamos incapazes de orar. Judas faz muito bem, portanto, em dizer que ninguém pode orar como se deve orar, a menos que o Espírito o mova e o conduza em oração.
Nessa mesma linha de pensamento, Matthew Henry escreveu assim:
A oração é a enfermeira da fé. A maneira de edificar a nós mesmos sobre a nossa santíssima fé é perseverando na oração (Rm 12.12). Nossas orações certamente prevalecem quando oramos no Espírito Santo, isto é, debaixo de sua orientação e influência, de acordo com a regra da sua Palavra, com fé, fervor e importunação perseverante e constante; isso é orar no Espírito Santo.
Nós, portanto, auxiliados uns pelos outros (v. 20), alicerçamos a vida cristão na Palavra, pela oração no Espírito — “vitamina BO” (Bíblia e Oração)!; tudo isso com perseverante firmeza (v. 21) e cheios de esperança (v. 22):
Jd 20-21 | 20Mas vocês, amados, edifiquem uns aos outros em sua santíssima fé, orem no poder do Espírito Santo 21e mantenham-se firmes no amor de Deus [fruto da fé; obras de amor que brotam da fé; obediência à Palavra], enquanto aguardam a vida eterna que nosso Senhor Jesus Cristo lhes dará em sua misericórdia [aguardando em esperança].
3. Anuncie o Evangelho de Cristo (Jd 22-23)
Além de se armar com a Palavra de Deus (vv. 17-19) e de se alicerçar na fé, orando no Espírito, perseverando no amor e na esperança (vv. 20-21), Judas diz que nesse combate nós devemos anunciar a Palavra de Deus (vv. 22-23). A melhor defesa é o bom ataque.
Jd 22-23 | 22Tenham compaixão daqueles que vacilam na fé. 23Resgatem outros, tirando-os das chamas do julgamento. De outros ainda, tenham misericórdia, mas façam isso com grande cautela, odiando os pecados que contaminam a vida deles.
Nesses dois versículos, Judas identifica três categorias de incrédulos que precisam ser alcançados pelo nosso anúncio do Evangelho — confusos, convencidos e contaminados.
3.1 — Anuncie o Evangelho de Cristo aos confusos
22Tenham compaixão daqueles que vacilam na fé [NVI duvidam];
Em Corinto e nas igrejas da Galácia, muitos já haviam sido confundidos (2Co 11.3; Gl 1.6-9; 3.1-5). O mesmo acontece ainda hoje. Temos que nos compadecer dessas pessoas “que vacilam na fé” (que estão confusas; cheias de dúvidas); compadecer-se, demonstrando-lhes misericórdia, anunciando-lhes o evangelho e discipulando-as com fé, esperança e amor; ensinando-as a andar por fé, cheias de esperança, frutificando em amor.
3.2 — Anuncie o Evangelho de Cristo aos convencidos
23aResgatem outros, tirando-os das chamas do julgamento.
A essa segunda categoria de pessoas, não basta demonstrarmos compaixão, ensinando e discipulando, temos que ir ao encontro delas, devemos arrebatá-las do fogo.
3.3 — Anuncie o Evangelho de Cristo aos contaminados
23bDe outros ainda, tenham misericórdia, mas façam isso com grande cautela, odiando os pecados que contaminam a vida deles.
A terceira categoria de incrédulos é a dos que já estão comprometidos com a doutrina dos apóstatas. A esses, na medida do possível, devemos demonstrar misericórdia e tomar todo cuidado do mundo para não sermos seduzidos e arrastados por eles — “odiando os pecados que contaminam a vida deles”.
Judas está dizendo: anuncie o Evangelho de Cristo aos confusos, aos convencidos e aos contaminados; faça com misericórdia, intrepidez e santidade.
A estratégia do soldado de cristo
Pois bem, estamos engajados numa batalha. Batalha de vida ou morte, pior do que qualquer outra já registrada, mais cruel que qualquer uma que ainda possa surgir neste mundo inseguro e ímpio em que vivemos. Estamos numa batalha espiritual.
Lutamos contra doutrinas de demônios. Os exércitos inimigos são apóstatas, homens e mulheres que se divorciaram da verdade revelada na Bíblia. Eles corrompem o Evangelho, corroem a moral e congelam o coração de seus seguidores.
Segundo Judas, a estratégia para vencer é: nos armar e nos alicerçar com a Palavra e a oração, além de anunciar o Evangelho a todos quantos estejam confusos, convencidos ou contaminados. Que o Senhor nos ajude a manter o foco e a seguir sua estratégia.
Avante! Sigamos em defesa da fé, alimentando a esperança e frutificando em amor.
S.D.G. L.B.Peixoto
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Pr. Leandro B. Peixoto