16.02.2020
Havia três cargos principais, os mais importantes, para o povo de Israel no Antigo Testamento: o profeta (como Natã, 2Sm 7.2), o sacerdote (como Abiatar, 1Sm 30.7) e o rei (como Davi, 2Sm 5.3). Esses três ofícios eram distintos. O profeta comunicava a mensagem de Deus ao povo, o sacerdote oferecia sacrifícios, orações e louvores a Deus em favor o povo, e o rei governava o povo como representante de Deus.
Desde a Reforma, tem sido comum nos círculos cristãos falar sobre a obra de Cristo sob esses três ofícios gerais: profeta, sacerdote e rei. James M. Boice escreveu que Martinho Lutero foi, provavelmente, o primeiro a ensinar explicitamente que Cristo era Profeta, Sacerdote e Rei, mas o reformador nunca se referiu a isto como um tríplice ofício. Essa distinção pertence a João Calvino que, com seu incrível dom para sistematização, desenvolveu o termo completamente no volume II das Institutas (cap. 15). A partir daquele momento histórico (1536), o tríplice ofício de Cristo passou a ser visto com frequência nos escritos protestantes, particularmente nos dos puritanos e reformados.
A Confissão de Fé Batista de 1689, por exemplo, na mesma esteira da Confissão de Fé de Westminster (1647), menciona o tríplice ofício de Cristo no primeiro parágrafo do capítulo VIII — “De Cristo, o Mediador”:
Em seu propósito eterno, e de acordo com o pacto estabelecido entre ambos, aprouve a Deus escolher e destinar o Senhor Jesus Cristo, seu Filho unigênito, para ser o mediador entre Deus e os homens; para ser profeta1, sacerdote2 e rei3; […]
1At 3.22: Moisés disse: ‘O Senhor, seu Deus, levantará para vocês um profeta como eu, do meio de seu povo. Ouçam com atenção tudo que ele lhes disser’.
2Hb 5.5-6: 5Por isso Cristo não tomou para si a honra de ser Sumo Sacerdote, mas foi Deus que lhe concedeu essa honra, dizendo: “Você é meu Filho; hoje eu o gerei”. 6E, em outra passagem, diz: “Você é sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.”
3Sl 2.6: Ele diz: “Estabeleci meu rei no trono em Sião, em meu santo monte”. E Lc 1.31-33: 31Ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Jesus. 32Ele será grande, e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu antepassado Davi, 33e ele reinará sobre Israel para sempre; seu reino jamais terá fim!”
Estes três ofícios, portanto (profeta, sacerdote e rei) descrevem a obra de Cristo de diferentes maneiras:
[1.] como profeta, Cristo revela Deus a nós (Jo 1.18) e nos transmite a palavra de Deus (Jo 17.8);
[2.] como sacerdote, Cristo tanto oferece a Deus um sacrifício em nosso favor (Hb 10.12) quanto ele mesmo é o sacrifício oferecido (1Co 1.7), além de interceder por nós diante do Pai (Rm 8.34); e
[3.] como rei, Cristo governa a igreja (Ef 5.23) e o próprio universo (Ef 1.22).
Vamos agora estudar cada um desses ofícios e no final destacar algumas aplicações para a nossa vida e ministério.
A GLÓRIA DE CRISTO COMO PROFETA
Os profetas do Antigo Testamento transmitiam a palavra de Deus ao povo. Moisés foi o primeiro grande profeta e escreveu os cinco primeiros livros da Bíblia (Gn, Êx, Lv, Nm e Dt), o Pentateuco. Depois vieram outros que falaram e escreveram as palavras de Deus. Mas Moisés predisse que um dia viria outro profeta como ele (Dt 18.15-18):
15“O SENHOR, seu Deus, levantará um profeta como eu do meio de seus irmãos israelitas. Deem ouvidos a ele, 16pois foi isso que vocês pediram ao SENHOR, seu Deus, […] 17“Então o SENHOR me disse: […] 18Levantarei um profeta como você do meio de seus irmãos israelitas e porei minhas palavras em sua boca, e ele dirá ao povo tudo que eu lhe ordenar.
Havia, nos dias de Jesus, uma expectativa de que viria o profeta semelhante a Moisés (Dt 18.15,18). Por exemplo: após Jesus ter multiplicado os pães e os peixes, alguns exclamaram (Jo 6.14): “Quando o povo viu Jesus fazer esse sinal, exclamou: “Sem dúvida ele é o profeta que haveria de vir ao mundo!”. E ainda (Jo 7.40): “Quando as multidões o ouviram dizer isso, alguns declararam: “Certamente este homem é o profeta por quem esperávamos”. Pedro também identifica Cristo como o profeta predito por Moisés. Em Atos 3.22-24, citando Moisés em Deuteronômio 18, Pedro anunciou:
22Moisés disse: ‘O Senhor, seu Deus, levantará para vocês um profeta como eu, do meio de seu povo. Ouçam com atenção tudo que ele lhes disser. 23Quem não der ouvidos a esse profeta será eliminado do meio do povo’. 24“A começar por Samuel, todos os profetas falaram sobre o que está acontecendo hoje.
Apesar disso, é digno de nota que as epístolas nunca falam de Jesus como um profeta ou o profeta. Isso é especialmente notável nos capítulos iniciais de Hebreus, porque ali havia uma clara oportunidade para se identificar Jesus como profeta, se o autor assim o tivesse desejado. Ele inicia dizendo (Hb 1.1-2): “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho”. Então, após discutir a grandeza do Filho nos capítulos l e 2, o autor de Hebreus não conclui a seção dizendo: “Por isso, considerai Jesus, o maior de todos os profetas” ou algo semelhante, mas diz: “Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus” (Hb 3.1).
Por que as epístolas do Novo Testamento evitam chamar Jesus de profeta?
Apesar de ser Jesus o profeta predito por Moisés, ele é também infinitamente maior que qualquer profeta do Antigo Testamento, em dois sentidos:
PRIMEIRO: Cristo é aquele sobre quem foram feitas as profecias do Antigo Testamento. Quando Jesus falou com os dois discípulos no caminho de Emaús, ele os conduziu por todo o Antigo Testamento, mostrando como as profecias apontavam para ele (Lc 24.27):
E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.
Ele disse a esses discípulos que eles eram “tardios de coração para crer tudo o que os profetas disseram”, mostrando que era necessário que “o Cristo padecesse e entrasse na sua glória” (Lc 24.25-26). 1Pedro 1.1 diz que os profetas do Antigo Testamento estavam predizendo os sofrimentos de Cristo e sua glória futura. Assim, os profetas do Antigo Testamento escreviam a respeito do Cristo esperado para o futuro, e os apóstolos do Novo Testamento examinavam o que Cristo fez no passado e interpretavam sua vida em benefício da igreja.
SEGUNDO: Jesus não era meramente um mensageiro da revelação de Deus (como todos os outros profetas), mas era, ele mesmo, a fonte da revelação de Deus. Em vez de dizer, como todos os profetas do Antigo Testamento disseram: “Assim diz o SENHOR”, Jesus podia começar o ensino com autoridade divina, com a assombrosa declaração: “Eu porém vos digo”(Mt 5.22; etc.). A palavra do Senhor veio aos profetas do Antigo Testamento, mas Jesus falou com sua própria autoridade como o Verbo eterno de Deus (Jo 1.1) que revelou perfeitamente o Pai a nós (Jo 14.9; Hb 1.1-2).
Assim, no sentido mais amplo da palavra profeta, significando simplesmente alguém que revela Deus a nós e nos transmite as palavras de Deus, Cristo é evidentemente um profeta de modo verdadeiro e completo. De fato, ele é aquele prefigurado por todos os profetas do Antigo Testamento, por meio de palavras e de ações.
A GLÓRIA DE CRISTO COMO SACERDOTE
No Antigo Testamento, os sacerdotes eram designados por Deus para oferecer sacrifícios. Eles também ofereciam orações e louvores a Deus em favor do povo. Ao agirem assim, “santificavam” as pessoas, ou tornavam-nas aceitáveis à presença de Deus — se bem que de forma limitada durante o período do Antigo Testamento.
No Novo Testamento, Jesus tornou-se nosso grande sumo sacerdote. Esse tema é bem desenvolvido na carta aos Hebreus, onde aprendemos que Jesus atua como sacerdote de duas maneiras.
PRIMEIRO: Jesus ofereceu um sacrifício perfeito pelo pecado. O sacrifício que Jesus ofereceu pelos pecados não foi o sangue de animais como touros ou bodes (Hb 10.4): “[…] porque é impossível que o sangue de touros e bodes remova pecados”. Em vez disso, Jesus ofereceu a si mesmo como sacrifício perfeito (Hb 9.26): “[…] ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado”.
Sabemos que o sacrifício de Cristo foi definitivo e completo, jamais precisará ser repetido — tema frequentemente enfatizado no livro de Hebreus (Veja 7.27; 9.12, 24-28; 10.1-2, 10, 12, 14; 13.12).
Portanto, Jesus preencheu todas as expectativas que se prefigurou, não apenas nos sacrifícios do Antigo Testamento, mas também na vida e ação dos sacerdotes que os ofereciam: Cristo era tanto o sacrifício quanto o sacerdote que oferecia o sacrifício. Assim é que agora ele é o “grande sumo sacerdote que penetrou os céus” (Hb 4.14) e que compareceu na presença de Deus em nosso favor (Hb 9.24), visto que ofereceu um sacrifício que de uma vez por todas pôs fim à necessidade de quaisquer outros sacrifícios.
SEGUNDO: Jesus nos aproxima continuamente de Deus. Os sacerdotes do Antigo Testa- mento não apenas apresentavam sacrifícios, mas também compareciam de modo representativo na presença de Deus, de tempos em tempos, em favor do povo. Mas Jesus faz muito mais do que isso. Como nosso perfeito sumo sacerdote, ele continuamente nos conduz à presença de Deus, de forma que não temos mais a necessidade de um templo em Jerusalém nem de um sacerdócio especial que se coloque entre nós e Deus.
E mais: Jesus não foi para a parte mais restrita (o santo dos santos) do templo terrestre de Jerusalém, mas foi ao equivalente celestial do santo dos santos, a presença do próprio Deus no céu (Hb 9.24). Consequentemente, temos uma esperança que segue Cristo até lá (Hb 6.19-20):
[…] a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu, onde Jesus, como precursor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre.
Ou seja: temos um privilégio muito maior do que o daqueles que viveram na época do templo do Antigo Testamento. Eles nem sequer podiam entrar na primeira parte do templo, o lugar santo, pois apenas os sacerdotes podiam ir até lá. Quanto à parte interior do templo, o santo dos santos, somente o sumo sacerdote podia entrar lá, e apenas uma única vez por ano (Hb 9.1-7). Mas quando Jesus ofereceu um sacrifício perfeito pelos pecados, a cortina ou véu do templo que fechava o santo dos santos rasgou-se em dois, de alto a baixo (Lc 23.45), indicando de modo simbólico na terra que a via de acesso a Deus nos céus tinha sido aberta com a morte de Jesus. Agora, o autor de Hebreus podia fazer essa impressionante exortação a todos os crentes (Hb 10.19-22):
19Portanto, irmãos, por causa do sangue de Jesus, podemos entrar com toda confiança no lugar santíssimo, 20Por sua morte, Jesus abriu um caminho novo e vivo através da cortina que leva ao lugar santíssimo. 21E, uma vez que temos um Sumo Sacerdote que governa sobre a casa de Deus, 22entremos com coração sincero e plena confiança, pois nossa consciência culpada foi purificada, e nosso corpo, lavado com água pura.
Jesus abriu para nós a via de acesso a Deus para que nos aproximemos continuamente da presença do próprio Deus sem temor, mas com “toda confiança” e “com coração sincero e plena confiança”.
TERCEIRO: Como sacerdote, Jesus ora ao Pai continuamente por nós. Outra função sacerdotal no Antigo Testamento era orar em favor das pessoas. O autor de Hebreus nos diz que Jesus também cumpre essa função: “[…] também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7.25). Paulo afirma a mesma coisa quando diz que Cristo Jesus é aquele que intercede por nós (Rm 8.34).
Podemos concluir, portanto, que tanto Paulo quanto o autor de Hebreus estão dizendo que Jesus vive continuamente na presença de Deus, fazendo pedidos específicos e levando petições bem definidas diante de Deus em nosso favor. Esse é o papel que apenas Jesus, como Deus-homem, está qualificado para cumprir. Apesar de Deus poder cuidar de todas as nossas necessidades em resposta à observação direta de nossas necessidades (Mt 6.8: “[…] seu Pai sabe exatamente do que vocês precisam antes mesmo de pedirem.”), foi do agrado de Deus, em seu relacionamento com a raça humana, decidir agir em resposta à oração, aparentemente para que a fé demonstrada por meio da oração possa glorificá-lo.
São especialmente as orações dos homens e mulheres, criados à sua imagem, que lhes são agradáveis. Em Cristo temos um verdadeiro homem, um homem perfeito, orando e, portanto, glorificando a Deus continuamente por meio da oração. Assim, a humanidade é colocada numa posição grandemente exaltada: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem”(1Tm 2.5).
Mas é claro que apenas em sua natureza humana Jesus não poderia ser tal grande sumo sacerdote em favor de todo seu povo em todo o mundo. Ele não poderia ouvir as orações de pessoas em lugares distantes, nem poderia ouvir as orações proferidas apenas na mente das pessoas. Ele não poderia ouvir a todos os pedidos simultaneamente (pois em todos os momentos há no mundo milhões de pessoas dirigindo-lhe orações). Portanto, para ser o sumo sacerdote perfeito que intercede por nós, ele precisa ser tanto Deus quanto homem. Ele precisa ser aquele que em sua natureza divina pode conhecer todas as coisas e levá-las à presença do Pai. Mas visto que ele veio a ser e continua a ser homem, ele tem o direito de representar-nos diante de Deus e pode expressar seus pedidos do ponto de vista de um sumo sacerdote compreensivo, que se identifica por experiência própria com as situações por que passamos.
Portanto, Jesus é a única pessoa em todo o universo, em toda a eternidade, que pode ser tal sumo sacerdote celestial, aquele que é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, exaltado para sempre acima dos céus.
Pensar que Jesus está orando continuamente em nosso favor deve dar-nos grande ânimo. Ele sempre ora por nós, de acordo com a vontade do Pai, de modo que podemos saber que seus pedidos serão atendidos. Louis Berkhof diz:
É um consolo pensar que Cristo está orando por nós, mesmo quando somos negligentes em nossa vida de oração; que ele está apresentando ao Pai aquelas necessidades espirituais que não estavam presentes em nossa mente e que nós com frequência deixamos de incluir em nossas orações; e que ele ora por nossa proteção contra os perigos dos quais não temos nem sequer consciência, e contra os inimigos que nos ameaçam, apesar de não os percebemos. Ele está orando para que nossa fé não se acabe e para que no final possamos chegar à vitória.
A GLÓRIA DE CRISTO COMO REI
No Antigo Testamento o rei tinha autoridade para governar a nação de Israel. No Novo Testamento, Jesus nasceu para ser o Rei dos judeus (Mt 2.2), mas recusou todas as tentativas do povo em fazê-lo rei terreno com poder militar e político terreno (Jo 6.15). Ele disse a Pilatos (Jo 18.36):
Jesus respondeu: “Meu reino não é deste mundo. Se fosse, meus seguidores lutariam para impedir que eu fosse entregue aos líderes judeus. Mas meu reino não procede deste mundo”.
Mesmo assim, Jesus de fato tem um reino, cuja vinda ele anunciou em sua pregação (Mt 4.17,23; 12.28, etc.). Ele é, de fato, o verdadeiro rei do novo povo de Deus. Dessa forma, Jesus negou-se a repreender seus discípulos que clamavam em alta voz durante sua entrada triunfal em Jerusalém (Lc 19.38): “Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas maiores alturas!”
Após sua ressurreição, Deus Pai deu a Jesus muito maior autoridade sobre a igreja e sobre o universo. Deus o exaltou (Ef 1.20-22):
20[…]e o fez sentar-se no lugar de honra, à direita de Deus, nos domínios celestiais. 21Agora ele está muito acima de qualquer governante, autoridade, poder, líder ou qualquer outro nome não apenas neste mundo, mas também no futuro. 22Deus submeteu todas as coisas à autoridade de Cristo e o fez cabeça de tudo, para o bem da igreja.
Essa autoridade sobre a igreja e sobre o universo será mais plenamente reconhecida pelas pessoas quando Jesus voltar à terra com poder e grande glória para reinar para sempre e sempre (Mt 26.64; 2Ts l.7-10; Ap 19.11-16). Naquele dia ele será reconhecido como o “REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap 19.16) e todo joelho se dobrará diante dele (Fp 2.10).
O NOSSO PAPEL COMO PROFETAS, SACERDOTES E REIS
Se olharmos para a situação de Adão antes da queda e para a nossa situação futura com Cristo no céu por toda a eternidade, poderemos ver que esses papéis de profeta, sacerdote e rei têm paralelo com a experiência que Deus originariamente pretendia que o homem tivesse e serão cumpridos na nossa vida no céu.
Criação
No jardim do Éden, Adão era um “profeta” no sentido de que possuía o verdadeiro conhecimento de Deus e sempre falava de modo fidedigno a respeito de Deus e da sua criação. Ele era um “sacerdote” no sentido de que podia oferecer livre e espontaneamente orações e louvores a Deus. Não havia necessidade de um sacrifício para pagar os pecados, mas em outro sentido de sacrifício o trabalho de Adão e Eva seria oferecido a Deus em gratidão e ações de graças, e assim teria sido um “sacrifício” de outro tipo (Hb 13.15: “um sacrifício constante de louvor a Deus, o fruto dos lábios que proclamam seu nome”). Adão e Eva eram também “reis” (ou rei e rainha) no sentido de que receberam domínio e autoridade sobre a criação (Gn 1.26-28).
Queda
Após a entrada do pecado no mundo, os seres humanos decaídos não mais exerciam a função de profetas, pois acreditavam em falsas informações acerca de Deus e falava falsamente sobre ele para os outros. Não mais tinham acesso sacerdotal a Deus, pois o pecado os havia afastado da sua presença. Em vez de reger a criação como reis, estavam sujeitos aos rigores da criação e eram tiranizados por inundações, secas e terra improdutivas, bem como por tiranos humanos. O caráter nobre do homem, como Deus o havia criado — de ser um verdadeiro profeta, sacerdote e rei — , perdeu-se com o pecado.
Israel
Houve uma recuperação parcial da pureza desses três papéis na instituição dos cargos de profeta, sacerdote e rei no reino de Israel. De tempos em tempos, homens piedosos exerciam esses ofícios. Mas havia também falsos profetas, sacerdotes desonestos e reis ímpios, e a pureza original e a santidade com as quais Deus pretendia que o homem cumprisse esses ofícios jamais foram vistas plenamente.
Cristo
Quando Cristo veio, vimos pela primeira vez o cumprimento desses três papéis, uma vez que ele foi o profeta verdadeiro — que manifestou mais plenamente as palavras de Deu para nós, o perfeito sumo sacerdote — que ofereceu o sacrifício supremo pelos pecados e que aproximou o seu povo a Deus, e o verdadeiro e justo rei do universo — que reinará eternamente com um cetro de retidão sobre o novo céu e a nova terra.
Cristãos
Mas surpreendentemente, nós, como cristãos, ainda hoje começamos a imitar Cristo em cada um desses papéis, apesar de ser em subordinação a ele:
PRIMEIRO: Temos um papel “profético” à medida que proclamamos o evangelho ao mundo, trazendo assim a Palavra salvadora de Deus às pessoas. De fato, sempre que falamos fidedignamente a respeito de Deus, a crentes ou a descrentes, estamos exercendo uma função “profética” (usando a palavra em um sentido bem amplo).
SEGUNDO: Somos também sacerdotes, pois Pedro nos chama de “sacerdócio real” (1Pe 2.9). E nos convida a sermos parte da edificação de um templo espiritual e sacerdócio santo para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por meio de Jesus Cristo (1Pe 2.5). O autor de Hebreus também nos vê como sacerdotes aptos a entrar no santo dos santos (Hb 10.19,22) e somos instados a oferecer “a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hb 13.15). Ele também nos diz que nossas boas obras são sacrifícios agradáveis a Deus: “E não se esqueçam de fazer o bem e de repartir o que têm com os necessitados, pois esses são os sacrifícios que agradam a Deus.” Paulo também tem um papel sacerdotal em mente (Rm 12.1):
Portanto, irmãos, suplico-lhes que entreguem seu corpo a Deus, por causa de tudo que ele fez por vocês. Que seja um sacrifício vivo e santo, do tipo que Deus considera agradável. Essa é a verdadeira forma de adorá-lo.
TERCEIRO: Também compartilhamos agora parcialmente do reino de Cristo, visto que fomos elevados para nos assentar com ele nos lugares celestiais (Ef 2.6), participando assim até certo ponto da sua autoridade sobre várias áreas deste mundo ou sobre a igreja, dando a alguns a autoridade sobre muitas coisas e a outros a autoridade sobre pouco. Mas quando o Senhor retornar, aqueles que tiverem sido fieis sobre o pouco receberão autoridade sobre o muito (Mt 25.14-30).
Novo Céu e Nova Terra
Quando Cristo voltar e reger o novo céu e a nova terra, mais uma vez seremos verdadeiros “profetas”, pois nosso conhecimento se tornará perfeito e conheceremos como somos conhecidos (1Co 13.12). Falaremos apenas a verdade a respeito de Deus e o mundo, e se cumprirá em nós o propósito profético original que Deus tinha para Adão.
Seremos sacerdotes para sempre, pois iremos adorar e oferecer orações a Deus, contemplando sua face e habitando em sua presença (Ap 22.3-4). Ofereceremos a nós mesmos, todas as nossas posses e ações como sacrifícios ao nosso mui digno Rei.
Também iremos, sujeitos a Deus, participar no governo do universo, pois com ele reinaremos eternamente (Ap 22.5). Jesus diz (Ap 3.21): “O vitorioso se sentará comigo em meu trono, assim como eu fui vitorioso e me sentei com meu Pai em seu trono.” De fato, Paulo diz aos coríntios (1Co 6.2-3): “[…] não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos?”. Portanto, por toda a eternidade, agiremos para sempre como profetas, sacerdotes e reis subordinados, sempre sujeitos ao Senhor Jesus, o supremo profeta, sacerdote e rei.
A GLÓRIA DOS OFÍCIOS DE CRISTO
De que maneira você tem refletido em sua vida a glória dos ofícios de Cristo?
Você consegue ver algum cumprimento do papel de profeta em sua vida agora (prega o evangelho)?
Consegue ver o papel de sacerdote (vive o evangelho)?
Consegue ver o papel de rei (lidera pelo evangelho)?
Como cada uma dessas funções pode ser desenvolvida em sua vida?
S.D.G. L.B.Peixoto
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