04.09.2022
[Gênesis 1.1] No princípio, Deus criou os céus e a terra.
Gênesis levanta muitas questões. Talvez a primeira delas é se este livro deve ser tomado como fato ou ficção. — E aí, o que você acha? É fato ou ficção? — Esta, portanto, é uma questão que devemos resolver desde o início: Gênesis é fato ou ficção? Mais precisamente: a história da Criação é fato ou ficção? A resposta a essa pergunta é de suma importância, uma vez que a posição adotada sobre a natureza deste livro determinará não somente o modo como se o interpreta como também a maneira como se vê a vida.
Pense comigo:
Atos 17.24-26 24“Ele é o Deus que fez o mundo e tudo que nele há. […] 26De um só homem ele criou todas as nações da terra, tendo decidido de antemão onde se estabeleceriam e por quanto tempo.
2Coríntios 11.3 No entanto, temo que sua devoção pura e completa a Cristo seja corrompida de algum modo, como Eva foi enganada pela astúcia da serpente.
Apocalipse 10.6 Jurou em nome daquele que vive para todo o sempre, que criou os céus, a terra, o mar e tudo que neles há.
Ora, se Gênesis é ficção, como algumas teorias evolucionistas exigem que a tomemos, tanto Jesus quanto os autores de 10 livros do Novo Testamento estavam equivocados em suas afirmações à respeito da confiabilidade histórica de muitos detalhes de Gênesis 1—3. Desse modo, estaria em xeque não apenas o conteúdo dos três capítulos fundacionais de toda a Bíblia (Gn 1—3), mas a veracidade de 10 dos 27 livros do Novo Testamento.
Lucas 17.26-27 26“Quando o Filho do Homem voltar, será como no tempo de Noé. 27Naqueles dias, o povo seguia sua rotina de banquetes, festas e casamentos, até o dia em que Noé entrou na arca e veio o dilúvio, que destruiu a todos.
Pois bem, Gênesis é fato ou ficção? O primeiro livro da Bíblia deve realmente ser entendido como um relato de eventos literais? Não seria Gênesis, especialmente os três primeiros capítulos, sobretudo o relato da criação, algo como poesia inspirada, na qual são ensinadas verdades “espirituais”, mas não “históricas”? — Há muitos que optam pela ficção. Os teólogos liberais há anos que tomam essa posição, chamando o Gênesis de “mito” ou “fábula” ou “alegoria”. Recentemente, até mesmo alguns teólogos evangélicos proeminentes, aparentemente ortodoxos, infelizmente estão dispostos a assumir esta posição: Gênesis não é fato, mas ficção, “ficção teológica”.
O ponto de partida para responder se Gênesis é fato ou ficção – embora não resolva tudo – é que Gênesis faz parte da Sagrada Escritura e, portanto, nos foi dado por Deus e fala com autoridade divina. Referimo-nos aqui a 2Timóteo 3.16 — “Toda a Escritura é inspirada por Deus [i.e., todo o Antigo Testamento é inspirado por Deus] e útil para nos ensinar o que é verdadeiro e para nos fazer perceber o que não está em ordem em nossa vida. Ela [a Escritura inspirada por Deus] nos corrige quando erramos e nos ensina a fazer o que é certo.” — Certamente que, quando Paulo escreveu essas palavras, o apóstolo tinha Gênesis em mente tanto quanto qualquer outro livro das Escrituras. Portanto, se aceitarmos seus ensinamentos apostólicos, como todos os cristãos devem e precisam, isso terá influência em como tomamos o livro de Gênesis.
A inspiração divina do livro de Gênesis não resolve tudo – sobre ser fato ou ficção a narrativa do texto – por esta razão: Deus também inspirou ficção (i.e., textos bíblicos de natureza fantasiosa para seus próprios propósitos sagrados)… Deus inspirou tanto narrativas imaginárias (parábolas, por exemplo; textos poéticos e até alegóricos, dentre outros), como também inspirou narrativas históricas. A poesia, a parábola ou a alegoria nem sempre é factualmente verdadeira, mas Deus ainda assim inspirou esse tipo de gênero literário para comunicar sua mensagem redentora. Nosso Senhor e Salvador Jesus contou parábolas, por exemplo, que são histórias ficcionais contadas para esclarecer ou destacar um ponto espiritual importante (p.ex., a parábola do filho pródigo, a do bom samaritano etc.). Os Salmos e Provérbios são textos poéticos inspirados por Deus. Além disso, em Juízes, por exemplo, há um exemplo de alegoria ficcional inspirada por Deus:
Juízes 9.7-15 7Quando Jotão soube disso, subiu ao topo do monte Gerizim e gritou: “Ouçam-me, cidadãos de Siquém! Ouçam-me se querem que Deus os ouça! 8Certa vez as árvores resolveram ungir um rei. Primeiro disseram à oliveira: ‘Seja nosso rei!’. 9Mas a oliveira se recusou e disse: ‘Devo deixar de produzir o óleo que agrada a Deus e às pessoas, só para ser a mais alta das árvores que o vento agita?’. 10“Então disseram à figueira: ‘Seja nosso rei!’. 11Mas a figueira também se recusou e disse: ’Devo deixar de produzir meus frutos doces e deliciosos, só para ser a mais alta das árvores que o vento agita?’. 12“Então disseram à videira: ‘Seja nosso rei!’. 13Mas a videira também se recusou e disse: ‘Devo deixar de produzir o vinho que alegra a Deus e às pessoas, só para ser a mais alta das árvores que o vento agita?’. 14“Por fim, todas as árvores se voltaram para o espinheiro e disseram: ‘Seja nosso rei!’. 15E o espinheiro respondeu às árvores: ‘Se querem mesmo ungir-me seu rei, venham abrigar-se à minha sombra. Se não, que saia fogo de mim e queime os cedros do Líbano’”.
Ora, se Deus inspirou pelo seu Espírito autores bíblicos que nos legaram poesias, parábolas e alegorias – inclusive alegoria de árvores falantes – , que garantia nós temos de que Gênesis 1—3 não é também alegoria, afinal, há até uma serpente falante em Gênesis 3. Genesis 3 não é alegoria? Por que não? Não seria alegoria ou literatura ficcional, talvez poesia, os primeiros capítulos de Gênesis? Absolutamente não! Trata-se de fato, não de ficção. Por quê? Espere até o próximo domingo. Deus permitindo, trataremos de argumentar em prol da historicidade de Gênesis — Gênesis é fato inspirado, não ficção inspirada. Próximo domingo…
Hoje: a primeira verdade sobre Gênesis a se estabelecer é que se trata de um livro inspirado por Deus. Como todas as partes e todos os livros da Bíblia Sagrada, Gênesis é a revelação – não apenas o registro feito por homens a respeito da revelação de Deus; é, antes, a própria revelação – de Deus aos homens (através da agência de escritores humanos inspirados pelo Espírito); Gênesis não é a tentativa de um homem ou de um grupo de homens de um povo tentando achar significado para Deus ou a Natureza.
Quando os liberais falam de mito, fábula ou ficção, é esta concepção que eles têm em mente: Gênesis (e a Bíblia toda, por assim dizer) é a tentativa dos hebreus (e depois dos cristãos) de achar significado para as questões metafísicas [questões para além das coisas físicas] da existência. Esses liberais acabam por colocar Gênesis (e a história da criação e da queda e do dilúvio etc.) no mesmo nível de qualquer outro documento que possa ter chegado até nós desde os tempos antigos; colocam Gênesis no nível das cosmogonias do Orientes Médio – cosmogonia é um relato específico que apresenta uma cosmovisão; é a visão de um povo ou tribo sobre a origem de tudo; já a cosmologia são as ideias de como o mundo veio a existir e funciona no presente.
Portanto, para os teólogos liberais, Gênesis acaba sendo como qualquer outro documento da Mesopotâmia, do Egito, da Fenícia ou da Babilônia de há milhares de séculos. Só que não, absolutamente, não! Gênesis não é o documento de um povo, não é registro sagrado exclusivo de uma gente. Gênesis é a revelação inspirada por Deus dada (sim, por meio dos judeus) à humanidade; é a história das origens; história inspirada por Deus; revelação divina para a humanidade.
Edward J. Young, ex-professor de Antigo Testamento no Seminário Teológico de Westminster (até sua morte em 1968), atestou correta e sucintamente: “Ou a Bíblia é a revelação de Deus ou ela é simplesmente a tentativa da nação hebraica de apresentar o melhor que eles puderam achar.” Se a Bíblia for a revelação de Deus, e é!, então “Deus nos falou sobre a criação, e nós [devemos] crer que é histórico, isto é, que realmente aconteceu, porque Deus assim falou”. O Dr. Young continua:
Gênesis 1 é um documento sui generis [i.e., totalmente único em sua própria espécie]; seu igual ou semelhante não pode ser encontrado em nenhum lugar na literatura da antiguidade. E a razão para isso é óbvia. Gênesis 1 é a revelação divina ao homem sobre a criação do céu e da terra. Não contém a cosmologia [ou a cosmogonia] dos hebreus ou de Moisés. Qualquer que tenha sido essa cosmologia, não sabemos… Israel, no entanto, foi favorecida por Deus na medida em que o SENHOR lhe deu a revelação sobre a criação do céu e da terra, e Gênesis 1 é essa revelação.
Por esta razão, não podemos falar adequadamente do gênero literário de Gênesis 1. Não é uma cosmogonia, como se fosse simplesmente uma entre muitas visões para a origem do mundo. Em todo caso, uma verdadeira cosmogonia será sempre uma revelação divina. Entretanto, as chamadas cosmogonias dos vários povos da antiguidade são, na realidade, deformações da verdade originalmente revelada por Deus sobre a criação. Existe apenas uma cosmogonia genuína, a saber, Gênesis 1, e este relato por si só fornece informações confiáveis sobre a origem da terra.
De fato, Gênesis é a história das origens contada ao homem pelo próprio Deus. Gênesis, como toda a Escritura, é inspirado por Deus – história inspirada. E a história inspirada de Deus visa a nos levar a Cristo:
2Timóteo 3.14-17 14Você, porém, deve permanecer fiel àquilo que lhe foi ensinado. Sabe que é a verdade, pois conhece aqueles de quem aprendeu. 15Desde a infância lhe foram ensinadas as Sagradas Escrituras [Gênesis ensinou sobre: o Deus dos cristãos, a origem do ser humano, a origem da família, a origem do mal, a origem da salvação, a doutrina da justificação pela fé, a doutrina da eleição, a origem do julgamento divino e muito mais – tudo isso lhe foi ensinado em Gênesis, Timoteo], [foram essas Sagradas Escrituras que lhe foram ensinadas] que lhe deram sabedoria para receber a salvação que vem pela fé em Cristo Jesus. 16Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para nos ensinar o que é verdadeiro e para nos fazer perceber o que não está em ordem em nossa vida. Ela nos corrige quando erramos e nos ensina a fazer o que é certo. 17Deus a usa para preparar e capacitar seu povo para toda boa obra.
A história das origens é inspirada por Deus, Gênesis é inspirado por Deus, e visa a mos levar a Cristo para a nossa reconciliação com Deus.
S.D.G. L.B.Peixoto
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