02.10.2016
A IGREJA MODELO
Atos 2.40-47
40 Com muitas outras palavras [Pedro] os advertia e insistia com eles: “Salvem-se desta geração corrompida!” 41 Os que aceitaram a mensagem foram batizados, e naquele dia houve um acréscimo de cerca de três mil pessoas. 42 Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. 43 Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. 44 Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. 45 Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade. 46 Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, 47 louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos.
Igreja infante
A mãe e o pai do bebê recém nascido chegam da maternidade com o primeiro filho no colo, colocam ele no berço e, olhando um para a cara do outro, exclamam com preocupação: “E agora, o que a gente faz?”.
Os dois fizeram o curso para pais e gestantes oferecido pela maternidade; leram tudo o que puderam sobre cuidados básicos e primeiros socorros para o neném; ouviram conselhos; assistiram videos-aulas no YouTube; enfim, os pais se prepararam da melhor maneira que puderam. No entanto, a primeira mamada sem a ajuda da enfermeira, a primeira troca de fraldas no meio da madrugada, o primeiro banho e o primeiro choro estranho da criança que não cala de jeito nenhum, deixam atordoados quaisquer pais de primeira viajem. Só quem já passou por isso sabe da aflição.
Os apóstolos passaram por algo parecido.
Diante dos cerca de três mil novos convertidos, com cerca de três mil bebês espirituais sob seus cuidados, eles devem ter feito a mesma pergunta dos pais recém chegados da maternidade: “E agora, o que a gente faz?”.
Os milhares de recém-nascidos de novo careciam, como todo bebê recém-chegado da maternidade, de sábios cuidados paternais: como andar com Cristo, como vencer as tentações, como orar, como adorar etc. Os apóstolos ainda não tinham o Novo Testamento, não dispunham de manuais nem de seminários. Tudo o que tiveram foram três anos de discipulado intensivo com Jesus. E agora? Como eles nutririam e educariam aqueles bebês espirituais? Como a igreja infante sobreviveria e cresceria sob os cuidados dos apóstolos?
A igreja modelo
Quando o entusiasmo do nascimento espiritual daqueles primeiros milhares cedeu lugar ao choque de realidade, os seus pais espirituais arregaçaram as mangas e começaram a cuidar de seus novos convertidos. A igreja, então, vicejou, cresceu e prosperou.
Como os apóstolos cuidaram desses mais novos membros da família de Deus? A resposta a esta pergunta nos apresenta a igreja modelo; i.e.: o que toda igreja cristã, em qualquer tempo ou lugar, deve primar por ser e por fazer.
Chamo a sua atenção para três aspectos inegociáveis da igreja modelo: perfil, prioridades e práticas.
1. O perfil da igreja modelo
A igreja modelo não é uma igreja perfeita. Seguindo com os nossos estudos no livro de Atos nós descobriremos os defeitos da igreja primitiva e veremos que perfeição estava longe de ser uma realidade entre os primeiros cristãos.
Por exemplo, havia entre eles hipocrisia (Ananias e Safira), erros doutrinários e gente com pecados. Portanto, o que a torna modelo não é o seu estado de perfeição, mas aquilo pelo que ela prima por ser e por fazer.
Quem deve compor a igreja modelo? Quem são seus membros? A Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira define bem a igreja.
Igreja é uma congregação local de pessoas regeneradas e batizadas após profissão de fé.
Isso fica claro para nós já no momento em que nasceram aqueles primeiros cristãos.
At 2.40-41 | 40 Com muitas outras palavras [Pedro] os advertia e insistia com eles: “Salvem-se desta geração corrompida!” 41 Os que aceitaram a mensagem foram batizados, e naquele dia houve um acréscimo de cerca de três mil pessoas.
A pregação do Evangelho, no poder do Espírito Santo, gera no coração das pessoas o novo nascimento (regeneração), que é seguido de arrependimento e fé (batismo após profissão de fé).
A igreja modelo é composta por crentes: pessoas regeneradas, convertidas e batizadas após pública profissão de fé; pessoas que se salvaram desta geração corrompida (vestes sujas) e foram acrescentadas no Corpo de Cristo (vestes brancas).
2. As prioridades da igreja modelo
Sabemos o que era prioritário para a igreja primitiva porquê, em Atos 2.42, nós somos informados daquilo a quê “eles se dedicavam”. O verbo dedicar (gr. proskartereō) conota firmeza, constância, inflexibilidade, fidelidade exclusiva com relação a determinada ação ou direção. Mas a que eles se dedicavam com constância e fidelidade exclusiva? A que toda e qualquer igreja deve se dedicar com firmeza e fidelidade exclusiva? Leia Atos 2.42, 47.
42 Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. […] 47 louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos.
Perceberam? As prioridades da igreja modelo são: ensino, comunhão, adoração, e evangelização.
2.1. A igreja modelo prioriza o ensino
Qual é a prioridade número um de uma igreja cheia do Espírito Santo? É o ensino. O seu compromisso primeiro é com a aprendizagem. O seu material didático é o ensino ou a doutrina dos apóstolos. John Stott foi pujante em sua afirmação sobre esta prioridade da igreja.
A primeira evidência do Espírito que Lucas menciona é que “eles perseveravam na doutrina dos apóstolos”. Poderíamos até dizer que, naquele dia, o Espirito Santo abriu uma escola em Jerusalém; seus professores eram os apóstolos que Jesus escolhera; e havia três mil alunos no jardim de infância! Vemos que esses novos convertidos não estavam se deliciando com uma experiência mística que os levasse a rejeitar a própria mente ou teologia. O anti-intelectualismo e a plenitude do Espírito são mutuamente incompatíveis, pois o Espírito Santo é o Espírito da verdade. Esses primeiros discípulos também não pensavam que, devido ao fato de terem recebido o Espírito, esse era o único professor de que precisavam, podendo dispensar os mestres humanos. Pelo contrário, eles se assentavam aos pés dos apóstolos, ansiosos por receberem instruções, e nisso perseveravam.
Por que a igreja modelo prioriza o ensino? Pastores-mestres que ensinem…
Ef 4.13-16 | 13 até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo. 14 O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. 15 Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. 16 Dele todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce e edifica-se a si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função.
O ensino promove o conhecimento de Deus, gera maturidade, produz crescimento, confere estabilidade emocional e espiritual e cria amor. A igreja modelo, portanto, prioriza a aprendizagem.
2.2. A igreja modelo prioriza a comunhão
A igreja modelo também prioriza (dedica-se!) a comunhão. A palavra koinōnia, de onde vem nossa palavra comunhão, tem como raiz a palavra comum. Comunhão, portanto, é ter coisas ou interesses comuns e compartilhados.
A igreja tem o mesmo Deus e Pai de Jesus Cristo e dele compartilha uns com os outros, fortalecendo e encorajando uns aos outros; compartilha das mesmas alegrias e das mesmas tristezas; reparte o que tem com quem mais precisa; o que se tem é também do outro e o que o outro não tem é problema nosso.
A igreja modelo prioriza a comunhão; dedica-se a compartilhar.
2.3. A igreja modelo prioriza a adoração
Pode-se notar que a igreja modelo prioriza a adoração ao se ler que eles se dedicavam ao partir do pão [Ceia] e às orações [confissões, súplicas, intercessões e ações de graças] – At 2.42. Eles louvavam diariamente a Deus – At 2.47.
A igreja modelo estuda a Palavra, cuida uns dos outros e se reúne para cultuar a Deus. A igreja modelo prioriza a adoração.
2.4. A igreja modelo prioriza a evangelização
Os primeiros cristão também priorizavam a evangelização:
At 2.47 | louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos.
Eles não se trancavam dentro de quatro paredes. A vida deles no culto e de casa em casa, a forma como viviam e como usavam suas palavras, o jeito de seus louvores a Deus, contribuíam para que tivessem a simpatia de todo o povo. Eles alcançavam os de fora com o Evangelho da graça.
A igreja modelo prioriza a evangelização.
3. As práticas da igreja modelo
Além do perfil e das prioridades, nós precisamos observar as práticas da igreja modelo; ou seja: sendo quem eles eram e priorizando o que eles priorizavam, que tipo de igreja eles iam se tornando?
3.1 – A igreja que prioriza o ensino reverbera o poder de Deus
At 2.43 | Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos.
O ensino da Palavra de Deus produz temor (gr. phobos) no coração das pessoas. Tal ensino vem acompanhado pelos milagres que Deus opera com o objetivo de autenticar a sua Palavra.
Agora, cuidado aqui! A Palavra poderá ser autenticada por milagres, mas milagres não produzirão o poder da Palavra. Portanto, não priorize milagres. Priorize a Palavra. A igreja que prioriza o ensino reverbera o poder de Deus.
3.2 – A igreja que prioriza a comunhão reproduz o amor de Deus
At 2.44-45 | 44 Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. 45 Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade.
Eles não vendiam tudo o que tinham, pois ainda havia casas próprias entre eles e nessas casas eles se reuniam diariamente (At 2.46). Vendiam apenas o necessário para suprir a carência de irmãos. Note que a expressão “distribuíam a cada um conforme a sua necessidade” indica que a venda e a partilha eram ocasionais, em resposta a necessidades específicas, não feitas de uma só vez.
O amor deles era de tal modo que, se preciso fosse, vendiam o de que dispunham para poder ajudar quem mais precisava. O que é de um é de todos e o que o outro não tem é problema de todos.
A igreja que prioriza a comunhão reproduz o amor de Deus.
3.3 – A igreja que prioriza a adoração recebe cura de Deus
At 2.46 | Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração,
A cura de Deus pode ser observada na alegria (gr. exultação, felicidade radiante) e na sinceridade de coração (gr. sem pedra, liso). O que eles desfrutavam ou recebiam na adoração no templo eles levavam para os seus pequenos grupos nas casas. A igreja que prioriza a adoração recebe cura de Deus.
3.4 – A igreja que prioriza a evangelização reparte o Evangelho de Deus
At 2.47 | louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos.
A igreja modelo
Para concluir, permitam-me fazer quatro aplicações sobre a igreja modelo.
A igreja modelo é composta por pessoas salvas, não perfeitas. Estamos todos em processo de santificação. O mesmo evangelho que nos salva – pela graça, por meio da fé -, também nos santifica. Não abandone a comunhão por causa de alguma decepção.
A igreja modelo equilibra bem as suas prioridades: ela adora a Deus, edifica e cuida uns dos outro e evangeliza os que estão de fora. Ela vive para Deus, busca crescer e fazer crescer na Palavra e alcança os descrentes. Ela olha sempre em três direções: para Deus, para ela mesma e para os de fora.
A igreja modelo colherá seus frutos na medida que praticar aquilo para o que ela foi chamada a praticar: 1 reverberar o poder de Deus na Palavra, 2 reproduzir o amor de Deus no cuidado mútuo, 3 receber cura de Deus na adoração coletiva e 4 repartir o evangelho de Deus na evangelização.
A igreja modelo conhece bem a relação entre salvação e igreja: Deus é quem acrescenta novos membros à igreja através do esforço diário dos crentes na evangelização; salvação e participação na igreja andam juntas: Deus não acrescenta na igreja para depois salvar nem salva sem acrescentar na igreja, o que lemos é que “o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos”.
Sejamos uma igreja modelo. Seja você um crente modelo.
Atente-se para as suas práticas (poder, amor, cura e evangelho).
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