26.07.2020
[Filemom 4-7] 4Sempre dou graças a meu Deus por você em minhas orações, 5pois ouço com frequência de sua fé no Senhor Jesus e de seu amor por todo o povo santo. 6Oro para que você ponha em prática a comunhão que vem da fé, à medida que entender e experimentar todas as coisas boas que temos em Cristo. 7Seu amor, meu irmão, tem me dado muita alegria e conforto, pois sua bondade tem revigorado o coração do povo santo.
Continuação da parte 1.
A melhor forma de influenciar é pelo amor. As pessoas não nos ouvirão se não sentirem em nós amor, não enxergarem em nós amor e não ouvirem palavras ditas por nós em amor, especialmente se o que temos a dizer a elas é algo que as toca lá no fundo, mexendo com estruturas e valores. Aliás, se não for em amor, não diga o que você terá para dizer.
Paulo falava em amor. Leia comigo mais uma vez o nosso texto, Filemom 4-7:
4Sempre dou graças a meu Deus por você em minhas orações, 5pois ouço com frequência de sua fé no Senhor Jesus e de seu amor por todo o povo santo. 6Oro para que você ponha em prática a comunhão que vem da fé, à medida que entender e experimentar todas as coisas boas que temos em Cristo. 7Seu amor, meu irmão, tem me dado muita alegria e conforto, pois sua bondade tem revigorado o coração do povo santo.
Quando Filemom entregou sua vida a Jesus Cristo ele não tinha ideia de como aquele ato de arrependimento e fé – fruto de um novo coração, de regeneração espiritual, de novo nascimento promovido pelo Espírito Santo – transformaria sua vida por completo, mudando suas afeições e cosmovisão, impactando diretamente sua vida, inclusive no mundo dos negócios e seus relacionamentos. Pois é isso que o evangelho faz na vida da gente – penetra lá no fundo e vira o mundo da gente de cabeça para baixo, de dentro para fora e em todas as áreas, inclusive aquelas mais “mundanas”, as quais nós costumamos pensar que Deus não tem nada a ver com elas (trabalho e relacionamentos, por exemplo).
Filemom, como a maioria dos homens prósperos de sua época, possuía escravos, mas agora, sendo cristão, aquela prática tornara-se inviável. Afinal, Paulo o instruía de forma contundente (vs. 16-17):
16Ele [Onésimo] já não é um escravo para você. É mais que um escravo: é um irmão amado, especialmente para mim. Agora ele será muito mais importante para você, como pessoa e como irmão no Senhor. 17Portanto, se me considera seu companheiro na fé, receba-o como receberia a mim.
Em outras palavras, Paulo anulava a relação senhor-escravo e construía, em seu lugar, uma relação irmão-irmão, na qual o ex-escravo é tratado com toda a dignidade com que o próprio apóstolo seria. Logo, mesmo antes de a própria instituição da escravidão ser abolida, a obra do evangelho já abolia as suposições e os preconceitos que a tornavam possível. Mas no primeiro momento tudo aquilo era muito difícil de Filemom digerir.
Eugene Peterson escreveu que
[A carta a Filemom foi escrita] Por volta de 61 d.C. Em muitas cidades, às vezes um terço da população era de escravos. Eles faziam boa parte do trabalho que mantinha o império funcionando, mas eram legalmente propriedades, não pessoas. Os donos tinham o direito de tratá-los da maneira que preferissem. A maioria dos donos percebia que os escravos trabalhavam melhor quando tinham permissão para se casar e possuíam alguns bens. Havia ainda algumas leis contra a crueldade – mais parecidas com os direitos dos animais hoje que com direitos humanos. Muitos escravos trabalhavam duro para comprar sua liberdade; em geral, com o dinheiro que seus donos os deixavam acumular. O liberto ocupava um degrau um pouco mais alto que o escravo, mas, ainda assim, tinha obrigações sociais para com o antigo dono, agora seu patrono/patriarca.
[Fonte: Eugene H. Peterson, The Message: the Bible in contemporary language
(Colorado Springs: NavPress, 2005), Introduction to Philemon]
Esse era o mundo em que vivia Filemom, o senhor de escravos. Mas sob a influência de Paulo ele convertera-se a Cristo, tornara-se cristão! E agora?
Seu novo status afetaria a vida dele toda, inclusive seus negócios e seus relacionamentos. Essa nova vida implicaria em nova forma de se relacionar e de trabalhar. O evangelho teria que mudar a cosmovisão e as ações de Filemom daquele momento em diante. Aquela era uma transformação radical. Portanto, Paulo, o discipulador, o influenciador de Filemom, teria que abordar esse assunto com ele, especialmente agora que o escravo, Onésimo, após ter roubado do amo e fugido para Roma, também se convertera a Cristo. O apóstolo usaria sua influência para ajudar Filemom a fazer sentido de sua nova vida em Cristo – acolhendo, perdoando e libertando Onésimo. E o apóstolo exerceria sua influência sobre Filemom com base no amor (v. 9).
Essa carta nos ensina que cada movimento que fazemos em resposta a Deus tem o efeito de uma onda, tocando tudo na vida da gente – toca o eu, a família, os negócios, os amigos, a sociedade… A fé em Deus que brota do evangelho de Jesus Cristo altera nossa visão de mundo e nossos afetos. E deve alterar. O amor de Deus afeta nossos relacionamentos diários. A esperança do evangelho adentra nosso trabalho e se espalha. A nova criatura que nós vamos nos tornando pelo evangelho, no poder do Espírito de Deus, não pode se confinar à alma. Ela ultrapassa o mundo interior e faz história. Do contrário, essa fé não passará de fantasia, na melhor das hipóteses, ou de hipocrisia, na pior. [Peterson.]
Eugene Peterson nos lembra que a nossa fé é histórica. Os cristãos sempre insistiram, ao custo da própria vida, na historicidade de Jesus – nascimento constatável, morte datável, ressurreição testemunhada, acontecimentos em locais e cidades localizáveis. Portanto, deve haver também uma historicidade paralela nos seguidores de Jesus. Enquanto absorvem o que Jesus disse e praticou – como revelação pessoal de Deus (o Verbo eterno) no tempo e no espaço –, tudo o que os cristãos dizem e fazem deverá, de alguma forma, influenciar a história local e, no final das contas, a história mundial. [Ibid.] Doutro modo, a fé professada será morta (cf. Tg 2.14-26).
Filemom e Onésimo, o senhor e o escravo, que aparecem de maneira tão proeminente nesta carta de Paulo, não faziam ideia de que crer em Jesus os envolveria (além da mudança profunda de coração e cosmovisão) numa mudança social radical – isto porque as sementes para o fim da escravidão foram plantadas por esta carta (que envolvia a vida de ambos) e os frutos seriam colhidos definitivamente com a abolição da escravidão no século XIX (a demora, infelizmente, não por falha no cristianismo ou em sua mensagem, mas por causa da dureza do coração dos homens): em 1834 ocorreu a abolição na Inglaterra e em todo o Império Britânico (graças aos esforços de um cristão chamado William Wilberforce); entre 1863-1865 foi nos EUA; e em 1888, aqui no Brasil.
Onésimo, ao se converter a Cristo, precisava encarar a humilhante situação de voltar e pedir perdão, e até ter que restituir todo mal que causara, caso Filemom não abrisse mão de ter seu prejuízo de alguma forma reparado (vs. 18-19). Filemom, por sua vez, uma vez cristão, teria que também se humilhar, descer de sua posição e até perder financeiramente, abrindo mão de tudo que lhe fora roubado e de Onésimo como escravo, para recebê-lo como irmão e cooperador no evangelho (vs. 8-16). Era muito difícil para os dois, mas era possível pelo poder do amor que jorra e escorre do evangelho de Jesus Cristo.
Paulo escreveu para ajudar a ambos – tanto a Filemom como a Onésimo, mas especialmente a Filemom. Uma vez que, tendo Filemom recebido a carta das mãos do próprio Onésimo, este (portador e entregador da carta) já tinha engolido orgulho e agido no poder do amor do evangelho, e estava pronto para pedir perdão. Mas Paulo sabia que para ajudar Filemom era necessário que este (recebendo a carta) se beneficiasse da comunidade do amor (vs. 1-3) – da presença do irmão, do papel da igreja local e do poder do evangelho (como já vimos em mensagens anteriores) – e também se submetesse à influência do amor (vs. 4-5); ou seja, submetesse-se à influência amorosa de Paulo na vida dele.
Ô meu povo! A vida cristã é impossível de ser vivida apenas por nós mesmos. Há coisas que precisam ser tocadas e transformadas em nós que só serão possíveis se estivermos vivendo sob a influência amorosa de outras pessoas na nossa vida. Sim, nós precisamos do poder do Espírito Santo, mas nós precisamos também da influência do irmão que, EM AMOR, diz a verdade e modela para nós a verdade. Não se esqueça, crente: a fé cristã, para produzir em nós a devida transformação e promover através de nós o devido impacto no mundo, requererá que vivamos sob o poder da influência do amor que surge do evangelho de Jesus Cristo e chega a nós através da comunidade do amor – a convivência na igreja local.
O que faremos agora, no restante desta mensagem, é olhar para a forma como Paulo influenciou Filemom. O modo de o apóstolo agir é tão perfeito que nos ensina, além da forma, o conteúdo de nossa influência. Em outras palavras: como influenciar e com o que influenciar as pessoas na arte de fazer discípulos? Lembrando que fazer discípulos – influenciar e modelar com o evangelho de Jesus Cristo – é um chamado para todos os cristãos, de todas as idades e em todas as esferas, não apenas para pastores, missionários ou líderes da igreja. Então, como fazer, como influenciar?
Para influenciarmos com amor, algumas posturas deverão ser por nós assumidas. Olhe para Paulo aqui nestes versículos e veja. Observe que essas posturas, na verdade, são parte de um novo estilo de vida (que não é natural para o ser humano pecador e egoísta), produzido pelo Espírito na vida do cristão.
Primeiro, Paulo ensina que para influenciar em amor nós devemos, antes de tudo, ser homens e mulheres de oração. Versículos 4 e 6:
4Sempre dou graças a meu Deus por você em minhas orações, […] 6Oro para que você ponha em prática…
As qualidades da vida cristã não são obras carnais ou naturais, mas espirituais. Elas são obras da graça de Deus na vida das pessoas – é tudo fruto do Espírito (Gl 5.22-23). Daí a necessidade que temos de orar pelas pessoas que desejamos ajudar, aconselhar, discipular e ver transformadas. Paulo orava por Filemom. Antes mesmo de enviar Onésimo de volta com a carta na mão e dizer o que precisava ser dito em amor, Paulo já estava acompanhando Filemom em oração – intercedendo por ele, levando-o a Deus em oração: “Sempre dou graças a meu Deus por você… Oro para que você ponha em prática…”
Como nos falta essa prática, a prática da intercessão! Geralmente, queremos mudar as pessoas na força, no grito, com jeitinhos, técnicas ou manobras, sem oração. Achamos que as pessoas mudarão por conta própria, dependendo da persuasão ou da força de nossos argumentos, mas não é assim. Paulo, por exemplo, sabia que as coisas acontecem por causa da oração e da influência do Espírito Santo. Aos filipenses ele escreveu (Fl 1.19):
pois sei que, com suas orações e o auxílio do Espírito de Jesus Cristo, isso resultará em minha libertação.
Aos efésios, ele declarou que dependia das orações deles para ser bem-sucedido na proclamação do evangelho (Ef 6.19-20):
19E orem também por mim. Peçam que Deus me conceda as palavras certas, para que eu possa explicar corajosamente o segredo revelado pelas boas-novas. 20Agora estou preso em correntes, mas continuo a anunciar essa mensagem como embaixador de Deus. Portanto, orem para que eu siga falando corajosamente em nome dele, como é meu dever.
Paulo os estava incentivando a interceder por ele. A oração intercessória é quando você para e dedica um tempo para pedir a Deus que faça coisas pelos outros ou nos outros. Vemos exemplos regulares dessa prática nas cartas de Paulo (p.ex., Cl 1.9-12; Fl 1.3-11; Ef 1.15-23; 3.14-21), e nesta a Filemom não é diferente (vs. 4-7). Tudo o que almejava em termos de transformação na vida dos outros, Paulo, primeiro, levava a Deus em oração. Portanto, para influenciar com o amor do evangelho nós devemos, antes de tudo, ser homens e mulheres de oração, de intercessão.
Segundo, Paulo ensina que aqueles que influenciam com amor são os que sabem expressar gratidão – tanto em ações de graças a Deus como em palavras ao irmão. Versículo 4:
4Sempre dou graças a meu Deus por você em minhas orações,
Paulo não tinha vergonha, nem se sentia vulnerável, ao expressar gratidão a Filemom. Note que o tempo do verbo não é passado, mas denota ação contínua: “sempre”.
Um dos elementos mais ausentes nas relações interpessoais de nossos dias é a gratidão. Como as pessoas são ingratas! No mínimo, indiferentes. Elas não sabem agradecer. Têm medo de agradecer. Não querem agradecer. Paulo, no entanto, ensina que relacionamento saudável é nutrido com gratidão. E se quisermos influenciar com amor nós deveremos saber agradecer – a Deus e aos outros.
Terceiro, para influenciar as pessoas, Paulo ensina que nós devemos saber afirmá-las, reconhecendo suas qualidades. Versículo 5:
5pois ouço com frequência de sua fé no Senhor Jesus e de seu amor por todo o povo santo.
Vivemos em um tempo onde todo mundo tem um pé atrás com todo mundo. Por isso os relacionamentos são tão superficiais. Relacionamentos e amizades crescem, florescem e frutificam no solo do reconhecimento, da afirmação. Trocando em miúdos: para se construir um relacionamento profundo, não será suficiente apenas deixarmos claro que nós apreciamos a pessoa ou que somos gratos por ela ou a ela, teremos que deixar claro também o porquê de nossa apreciação. A pessoa precisa ter a confirmação de que nós gostamos dela pelo que ela é diante de Deus e, consequentemente, pela bênção que ela é para nós e para os outros (para a glória de Deus). Foi exatamente isso o que Paulo fez com Filemom (v. 5): “pois ouço com frequência de sua fé no Senhor Jesus e de seu amor por todo o povo santo.”
Paulo disse a Filemom que ouvia bem o testemunho que os outros davam a respeito dele; ouvia que Filemom tinha uma fé genuína no Senhor Jesus; e ouvia que essa fé se comprovava na prática, pela forma como Filemom dedicava amor aos crentes (por todos os santos). Em outras palavras: “Filemom, eu sou grato a Deus pela sua vida, pois conheço você, vejo você e sei como você tem crescido. Eu acompanho a sua vida e tenho orgulho do que vejo e ouço sobre você!”
Para influenciar as pessoas, Paulo ensina que nós devemos saber afirmá-las, reconhecendo suas qualidades. Versículo 7: “Seu amor, meu irmão, tem me dado muita alegria e conforto, pois sua bondade tem revigorado o coração do povo santo.”
Quarto, para influenciar as pessoas, Paulo ensina que nós devemos também exortá-las, encorajá-las ou motivá-las a fazer o que é devido. Oramos, agradecemos e afirmamos, mas também exortamos em amor. Versículo 6:
6Oro para que você ponha em prática a comunhão que vem da fé, à medida que entender e experimentar todas as coisas boas que temos em Cristo.
Em outras palavras:
Filemom, eu louvo a Deus pela sua vida, agradeço por você existir e poder ser seu amigo e tê-lo como discípulo (v. 4). Tenho ouvido e visto o quanto você tem crescido em Cristo e abençoado a vida dos irmãos, inclusive a minha (v. 5). Mas eu vou além, oro para que você continue crescendo em amor e prove da comunhão que vem da fé; lembrando que para tanto você terá que crescer na compreensão e no regozijo do evangelho de Cristo (v. 6)”.
A influência do amor nos faz orar pelo outro, agradecer ao outro e a Deus pelo outro, além de afirmar o outro, mas não deixa de, em amor, exortar o outro na Palavra centrada no evangelho de Cristo. Essa é a influência que nós devemos exercer uns sobre os outros no contexto da comunidade do amor. No entanto, sejamos honestos: como nos falta, povo de Deus, esse equilíbrio! Equilíbrio entre dependência de Deus (oração), simpatia (gratidão e afirmação) e verdade (exortação). Falta-nos essa sinergia.
Falta-nos saber dizer a verdade em amor. Falta-nos saber ser simpáticos. Falta-nos orar e orar mais pelos outros. Como nós somos prontos para falar e tardios para ouvir; elogiamos e não exortamos; afirmamos e não corrigimos; exortamos, mas sem simpatia; agimos, mas não oramos… Falta-nos ser completos na forma como devemos ser para conseguir, de fato, influenciar em amor: gente que ora, agradece, afirma ou reconhece, mas que também exorta em amor à luz do evangelho.
Para conseguirmos influenciar, completos assim é que nós devemos ser. Mas tem algo mais a aprender com essas palavras de Paulo: o que se espera influenciar na vida dos outros; o conteúdo da nossa influência.
Precisamos ser um pouco mais específicos, para não perdermos a profundidade dessas palavras de Paulo. Lembre-se: ele está preparando o terreno do coração de Filemom para tratar com ele da necessidade de perdoar Onésimo. Antes, porém, ele precisa fisgar ou manter fisgada a simpatia desse seu discípulo, e o faz dizendo que ora por ele, demonstrando gratidão pela vida dele, afirmando-o e exortando-o.
Nessa afirmação (vs. 4-7), que foi composta com notas de um espírito de oração, Paulo destaca duas coisas em particular a respeito do caráter de Filemom. Você notou? Veja:
4Sempre dou graças a meu Deus por você em minhas orações, 5pois ouço com frequência de sua fé no Senhor Jesus e de seu amor por todo o povo santo. 6Oro para que você ponha em prática a comunhão que vem da fé, à medida que entender e experimentar todas as coisas boas que temos em Cristo. 7Seu amor, meu irmão, tem me dado muita alegria e conforto, pois sua bondade tem revigorado o coração do povo santo.
Paulo destaca a fé e o amor de Filemom. A fé é a fonte. O amor é o fruto. Fé e amor, portanto, é o que devemos influenciar na vida das pessoas. Mas que tipo de fé? Que tipo de amor? Veja comigo quais são os objetos da fé e do amor de Filemom. Eles são, observe, o Senhor Jesus e os santos da igreja (v.5): “ouço com frequência de sua fé no Senhor Jesus e de seu amor por todo o povo santo.”
Fé no Senhor Jesus Cristo e amor pelo Senhor Jesus Cristo que faz transbordar amor nos irmãos. Essa é a influência que devemos ter nas pessoas – ajudá-las a crescer na fé e no amor de nosso Senhor Jesus de uma forma que elas transbordem em amor pelos irmãos da igreja. — Ouça, crentes: quem não te influencia a crescer na fé e no amor por Jesus, e no amor pelos santos de Deus, a igreja local, não é digno ou digna de sua amizade ou convivência íntima (tanto mais indigno de seu namoro). E se você não tem influenciado assim dessa maneira você não está sendo uma boa influência. Simples assim.
Para muitas pessoas, não sem razão, a igreja é uma grande decepção. Não é verdade? Talvez os membros tenham decepcionado você. Talvez você tenha se tornado cínico ou cético em relação à igreja ao longo dos anos e por isso se pegue dizendo coisas do tipo: “Jesus, eu amo. É a igreja que eu não consigo suportar. Eu creio no evangelho. Não creio é nos cristãos.” Antes de julgar as pessoas que dizem algo desse tipo, devemos ser solidários com as feridas abertas dessas pessoas.
Às vezes, fica-se com a impressão de que a igreja é o único hospital que negligencia seus próprios feridos, deixando-os morrer. Sim, há aqueles casos incuráveis, gente calejada, doentes crônicos que não querem cura. Mas muitos, de fato, já sofreram bastante com a língua ferina e a maldade dos “santos”, e agora são tentados a se afastar e manter distância do convívio com a igreja. Mas eu quero que você veja em nosso texto que o compromisso com a igreja, apesar de toda a sua feiúra e confusão, é essencial para ser discípulo de Jesus. Você não pode ter Cristo e não ter seu corpo, a igreja.
É um oximoro, uma contradição em termos, uma aberração falar de um cristão sem igreja. De fato, pode revelar uma profunda disfunção espiritual na alma desse que se diz crente, mas sem igreja. Se você acha que é possível crer e servir a Cristo, ter amor e fé pelo Senhor Jesus, ao mesmo tempo em que se distancia de todos os santos, saiba que não dá – como o apóstolo João colocou em 1João 2.9: “Se alguém afirma: ‘Estou na luz’, mas odeia seu irmão, ainda está na escuridão.” O amor pelo irmão é uma evidência da realidade espiritual de quem confessa o nome do Senhor Jesus; essa pessoa amará o povo de Deus, com rugas e verrugas, pecados e tudo mais, e buscará viver sob a influencia do amor na igreja e influenciando em amor aos demais.
Paulo tanto identificava essa qualidade de fé e amor em Filemom que o exortou a praticá-la mais uma vez ; desta vez acolhendo, perdoando e libertando Onésimo, quando lhe chegasse a oportunidade (vs. 4-6):
4Sempre dou graças a meu Deus por você em minhas orações, 5pois ouço com frequência de sua fé no Senhor Jesus e de seu amor por todo o povo santo. 6Oro para que você ponha em prática a comunhão [com Onésimo, agora, nosso irmão; cf. v. 16] que vem da fé, à medida que entender e experimentar todas as coisas boas que temos em Cristo.
Essa qualidade de fé e de amor por Jesus Cristo, que transborda em amor pelos irmãos da igreja, serve de fonte de refrigério para todos os que vivem sob a influência do amor nos laços da comunidade do amor. Ouça, versículo 7:
7Seu amor, meu irmão, tem me dado muita alegria e conforto, pois sua bondade tem revigorado o coração do povo santo.
Essa é a influência que nós queremos ter uns nos outros:
um tipo de comunidade, unida pelos laços do amor pelo e no evangelho que influencia um ao outro com fé, esperança e amor por Jesus Cristo e uns pelos outros;
um tipo de fé, esperança e amor que permita ao outro, que encoraje ao outro a se submeter a essa influência do amor que tem como propósito fazer uns aos outros colocar “em prática a comunhão que vem da fé, à medida que entendermos e experimentarmos todas as coisas boas que temos em Cristo” (v. 6);
um tipo de fé, esperança e amor que permita que promova alegria e conforto, um tipo de culto e de convivência (em RDs e PGMs, em reuniões e atividades da igreja), que de tão bom e amável, de tão cheio de Cristo, revigora, refresca o coração do povo santo (v. 7).
Dois exemplos do que temos experimentado como igreja:
Um jovem de Goiânia, com origem em outra denominação, hoje está morando na Inglaterra. Ama morar lá. Não via com bons olhos vir passear e visitar os pais e familiares em Goiânia. Mas esteve aqui em julho do ano passado e conviveu conosco por um mês – cultos, PGM e Refugiados. Ele amou tanto essa comunhão que, desde então, nos acompanha à distância e – veja você! – até já considerou voltar a morar no Brasil por causa da experiência que teve congregando conosco. Ele testemunhou a um amigo: “Quando fui ao Brasil, ano passado, fui pelo dever de estar com meus pais, achando que seria ruim a estadia em Goiânia, mas foi o melhor mês da minha vida!” Esse jovem provou da alegria e do conforto da nossa comunhão; ele provou de nossa bondade e teve revigorado seu coração (v. 7). É a influência do amor.
Uma jovem escreveu a um jovem de nossa igreja. Ele printou a conversa e me mandou (cuidado com WhatsApp, hein!). Ela escreveu:
— “Desde janeiro… tô acompanhando as transmissões da SIB e como tem sido transformador em minha vida, normalmente nos finais das pregações do Pr. Leandro eu desligo o notebook chorando, da graça [sic] maravilhosa de Deus. […]
— Minha vontade é de congregar na SIB 😂 É um pouco longe de casa, mas oro para que no tempo de Deus e se for da vontade dele que logo eu tenha meu carro e irei. Um amor por essa congregação que nem sei explicar.
— Nossa se eu for falar o quanto amo a congregação da SIB foco horas falando, eu nunca estive lá presencialmente, mas é como se eu sentisse o amor e a comunhão dos irmãos, ver o cuidado e zelo, assistir as diversas séries no site, passar a semana escutando e com as ministrações na cabeça, até hj [sic] eu não tirei o Cristianismo Vintage da carta de Tiago da mente kk, parece que fico lembrando até do Pr falando da introdução e usando o Justin Bieber como exemplo, e o final da série que eu chorei igual uma criança.
Percebeu? Essa jovem também (mesmo que virtualmente) provou da alegria e do conforto da nossa comunhão; ela provou de nossa bondade e teve revigorado seu coração (v. 7). É a influência do amor. É para isso que nós somos chamados.
Em qual área da sua vida o evangelho ainda não penetrou com poder para te transformar? Você se importa com essa necessidade? Você tenta e não consegue mudar? Quais são seus métodos para conseguir ser diferente? Você se colocou soba a influência do amor e permitiu que outros se aproximem para orar por você ou com você, afirmar você e exortar você pelo evangelho de Jesus Cristo?
Quem exerce influência sobre a sua vida? A quem você recorre como modelo?
A quem você tem servido de influência? Você busca influenciar? Como? Você vive de forma a influenciar com palavras e posturas?
Paulo estava prestes a abordar com Filemom (v. 8 em diante) uma questão muito delicada – o perdão devido a Onésimo. Antes, porém, o apóstolo fez questão de destacar o amor que ele nutria pelo amigo; ele estabeleceu um contexto amoroso para que fosse possível viver a prática da responsabilidade que todos temos de prestar contas ao irmão no contexto da igreja local. Paulo fez isso orando, agradecendo, afirmando e exortando – foi o que lemos e estudamos nos versículos 4-7.
Antes de entrar no coração de Filemom e esculpi-lo com a verdade, Paulo precisava, primeiro, bater e amolecer o coração com amor. E assim ele o fez.
No restante da carta (v. 8 em diante), como veremos a seguir, Deus permitindo, Paulo pressionará Filemom com força e nos empurrará com força para a prática da reconciliação pelo evangelho. Mas, para ser possível, o apóstolo nos ensina, precisamos, antes, criar e nos colocar sob uma atmosfera de comunhão, ministério e serviço que reconheça que maturidade, crescimento e profunda experiência espiritual duradoura só são possíveis quando servimos e nos unimos à obra do reino sob a influencia do amor (vs. 4-7) no contexto da comunidade do amor, a igreja local (vs. 1-3).
Quando começamos a ver a vida cristã como algo para se viver juntos, na comunhão do amor – compartilhando, tendo companheirismo, influenciando e sendo influenciado, servindo e sendo servidos –, então manter outras pessoas à distância ou tratá-las de alguma forma como inferiores ou mesmo ameaçadoras se tornará impossível. Sob a influência do amor e na atmosfera de uma comunidade amorosa, não haverá coração que resista ao evangelho e que não seja transformado, de dentro para fora, e transborde em práticas de amor para redimir o mundo (vs. 8-16).
Que Deus se compraza de nos tornar um povo de influência, marcados pelo amor e a fé no Senhor Jesus e por todos os santos, para que cada um de nós seja influenciado a crescer no conhecimento e no regozijo espiritual e, por sua vez, viva para influenciar pelo amor de Cristo. Que Deus se agrade de fazer de nós uma igreja do evangelho da reconciliação, jamais alienada do poder do evangelho suficiente e poderoso para transformar vidas e sociedades para a glória e o louvor de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo – o trino Deus a quem adoramos e servimos. Amém.
S.D.G. L.B.Peixoto
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