30.05.2021
[João 15.9-17] 9“Eu os amei como o Pai me amou. Permaneçam no meu amor. 10Quando vocês obedecem a meus mandamentos, permanecem no meu amor, assim como eu obedeço aos mandamentos de meu Pai e permaneço no amor dele. 11Eu lhes disse estas coisas para que fiquem repletos da minha alegria. Sim, sua alegria transbordará! 12Este é meu mandamento: Amem uns aos outros como eu amo vocês. 13Não existe amor maior do que dar a vida por seus amigos. 14Vocês serão meus amigos se fizerem o que eu ordeno. 15Já não os chamo de escravos, pois o senhor não faz confidências a seus escravos. Agora vocês são meus amigos, pois eu lhes disse tudo que o Pai me disse. 16Vocês não me escolheram; eu os escolhi. Eu os chamei para irem e produzirem frutos duradouros, para que o Pai lhes dê tudo que pedirem em meu nome. 17Este é meu mandamento: Amem uns aos outros.”
Todo mundo parece aceitar que a necessidade mais latente, a dor mais aguda no fundo da alma da gente é a de sermos amados e recebermos aprovação de outras pessoas. Na prática, parece ser verdade. Quer ver? Mesmo que você não diga ou não admita, lá no fundinho, quer que te amem ou que, pelo menos, gostem de você – aliás, dizem-nos os psicólogos que a fome de amor e aprovação é uma necessidade fundamental da infância; gente! a julgar pelo que se vê, é grande o número daqueles não cresceram e vivem do amor e da aprovação dos outros ao redor!
Ora, é evidente que nem sempre as pessoas nos amam ou gostam de nós o tempo todo. Não é todo mundo que gosta da gente, aprova o que cremos ou confessamos, faz muita conta de nós ou do que nós falamos e fazemos por elas, ou mesmo nos aceita “do jeito que eu sou”. Ninguém consegue ser unanimidade. Resultado: de um lado, um bando de gente, direta ou indiretamente, vivendo frustrada, rancorosa e exigindo a aprovação de todos aqueles de quem elas gostam ou os rodeiam ou a quem elas servem; de outro lado, outros tantos buscando redenção no amor próprio, no amar a si mesmo, gostar de si mesmo, desprezando as pessoas. Nessa maneira centrada no eu de viver, já se criou até um idioma próprio: As Cinco Linguagens do Amor – livro de Gary Chapman (já na 3a edição desde o lançamento no Brasil em 1992) – , que se propõe a ajudar “como expressar um compromisso de amor a seu cônjuge”. As “linguagens do amor” apresentadas no livro (que já vendeu cerca de 8 milhões de exemplares!) são as seguintes: [1] palavras de afirmação; [2] tempo de qualidade; [3] presentes; [4] atos de serviço; e [5] toque físico. Verdade seja dita, o livro acerta em cheio quando descreve aquilo que costuma normalmente “ligar” as pessoas: afirmação, atenção, agrado, ajuda e afago.
A tese do autor é que todo mundo tem “um tanque vazio” que precisa ser enchido com uma ou mais das cinco formas de se expressar amor (palavras de afirmação, tempo de qualidade, presente, atos de serviço e toque físico). Chapman escreve:
Será que lá no interior de cada um desses casais machucados existe um indicador invisível de um “tanque” vazio? Será que esses comportamentos inadequados, separações, palavras duras e espírito crítico acontecem devido a esse “tanque” vazio? Se pudermos achar uma forma de enchê-lo, será que o casamento renasceria? O “tanque” cheio possibilitaria que os casais criassem um clima emocional onde seria possível discutir as diferenças e resolver os conflitos? Será que esse “tanque” é a chave para que um casamento perdure?
Bacana, não é!?
Honestamente, o livro nos coloca para pensar e nos desafia sobre formas práticas de expressarmos amor, coisa que, por natureza, não somos bons em praticar. O problema é que, biblicamente, há pelo menos dois erros enormes com essa abordagem.
PRIMEIRO. Na resenha que fez desse livro, David Powlison escreveu:
As linguagens do amor são parte da história das relações humanas. Mas falar as linguagens de amor não é certamente a história toda. Na verdade, quando isto passa a ser a história toda, é sabedoria prática imoral – manipulação, aproveitamento ou ambos. Fazer algo bom às pessoas, de modo tangível, é parte da prática de considerar os interesses dos outros. Mas para amá-los de verdade, você geralmente precisa ajudá-los a ver [seu tanque vazio] como idólatra, e despertar neles uma “coceira” bem mais séria! Isso é cristianismo básico. As Cinco Linguagens do Amor não o ensina a amar neste nível mais profundo e decisivo.
SEGUNDO. Sem dúvida, as pessoas muitas vezes se sentem profundamente feridas e amargas quando não são amadas. Algumas delas cometem adultério, esquivam-se do relacionamento, brigam e julgam quando percebem que o cônjuge (ou alguém mais) está em falta para com elas. “Mas”, escreveu Powlison, “pense mais a respeito disso.”
Se você fosse amado, se seu cônjuge, seus pais ou seus amigos agissem melhor, os seus problemas estariam fundamentalmente resolvidos? Será que um tanque de amor vazio é mesmo a causa de você tratar outros mal? Você retorna mal por mal porque alguém cometeu uma maldade contra você? Se os tanques de amor pudessem ser enchidos por toda parte, se outros pudessem falar a sua linguagem e você, falar a deles, isso realmente produziria um reino de doçura e suavidade nos relacionamentos? Se você pudesse dar aos outros aquilo de que precisam, na medida certa, eles o amariam em troca? O princípio de que “os gentios amam aqueles que os amam” é realmente a chave principal para produzir o sucesso e a felicidade matrimonial? A resposta a cada uma das perguntas deste parágrafo é um profundo NÃO.
O GRANDE PROBLEMA DO SER HUMANO, segundo a Bíblia, não é que andamos de tanque vazio, carentes de amor e afirmação alheia, mas que o pecado nos afetou de tal forma que transformou nosso coração em uma fábrica de ídolos que precisam ser quebrados e o coração regenerado e santificado para daí sim sabermos receber e repartir amor. De verdade, As Cinco Linguagens do Amor transformam o amor em moeda de troca, meio de manipulação (de ambas as partes), maquiagem de ídolos e desculpa para que jamais se reconheça ou se recorra à nossa maior necessidade: salvação – no sentido mais amplo do termo, isto é, justificação, regeneração, santificação e glorificação.
Quer ver como essa linguagem na vida de um coração não regenerado e não santificado, com efeito, destrói tanto o amante como a amada (e vice-versa) – pais e filhos também, amigos e amigas de igual maneira? Observe o formato que essas cinco linguagens costumam assumir na vida real (David Powlison):
Nossa maior necessidade, povo de Deus, caro amigo, cara amiga, não é de um pouco mais de amor-próprio ou de expressões de amor ou aprovação das outras pessoas ou mesmo de Deus; o que de fato nós mais carecemos é do amor de Deus Pai já expressado na Pessoa e obra do Filho Jesus. Fora desse amor divinal qualquer solução é supérflua. A medida de atuação se torna necessariamente uma versão de “Paz, paz, quando não há paz”.
David Powlison indaga: “Para onde você se volta quando está cego de dor e raiva, cheio de medo e desespero, desapontamentos e desejos? O que você faz se está afundado em fantasias de fuga e pesadelos, se está induzido por paixões sórdidas e padrões de autodestruição? Que ajuda há para você em meio a todo o inferno que existe em relacionamentos já rompidos ou em processo de rompimento? Será de ajuda buscar os padrões pelos quais os publicanos, gentios e pecadores tentam fazer a vida funcionar [amar apenas quem te ama; querer bem apenas quem te quer bem; e tudo isso do seu próprio jeito]? É suficiente tentar fazer com que os outros se sintam bem a seu respeito na esperança de que eles o[a] farão sentir-se bem a seu próprio respeito?” Claro que não!
Cristo pode alcançar qualquer um de nós (e ele alcança!) – pessoas cegas e indesejáveis, publicanos, gentios, pecadores, cônjuges briguentos, filhos rilientos ou rebeldes, enfim, todo tipo de gente, até mesmo as pessoas boazinhas – e transformá-los graciosamente em filhos amados do Pai. Ele vive para transformar aqueles por quem ele morreu. Esta é a maior necessidade de todo mundo: ser transformado pelo amor de Deus; é desse amor de Deus, a nós oferecido na vida e obra de Cristo, que precisamos.
Sim, ame generosamente e de maneira adequada as pessoas. Minha oração é que o seu amor seja cada vez mais abundante em conhecimento verdadeiro e todo o discernimento. O amor inteligente é um dom de Deus, fruto do Espírito Santo.
Sim, tome uma iniciativa unilateral e não desista. Ame os seus inimigos. O amor que não é retribuído expressa a imagem do seu Pai.
Mas busque muito mais também, e faça tudo por razões diferentes, razões bíblicas. 2Coríntios 5.14-15 “De qualquer forma, o amor de Cristo nos impulsiona [controla, constrange]. Porque cremos que ele morreu por todos, também cremos que todos morreram. Ele morreu por todos, para que os que recebem sua nova vida não vivam mais para si mesmos, mas para Cristo, que morreu e ressuscitou por eles.”
O que de fato e mais profundamente todos nós precisamos é de crescer fluentemente no amor de Cristo, a linguagem do amor de Deus, e que ninguém fala ou ouve naturalmente, mas que todos necessitam. Daí a importância do nosso texto em João 15.
S.D.G. L.B.Peixoto
Mais episódios da série
Evangelho de João
Mais episódios da série Evangelho de João
Mais Sermões
28 de fevereiro, 2016
9 de março, 2016
5 de novembro, 2023
2 de abril, 2023
Mais Séries
A Linguagem do Amor de Deus
Pr. Leandro B. Peixoto