A nova humanidade em construção – Parte 1

[Atos 16.11-40] ¹¹Embarcamos em Trôade e navegamos diretamente para a ilha de Samotrácia e, no dia seguinte, chegamos a Neápolis. ¹²Dali, alcançamos Filipos, cidade importante dessa região da Macedônia e colônia romana, e ali permanecemos vários dias. […]

A NOVA HUMANIDADE

Todo mundo quer um mundo melhor – um mundo melhor, um planeta melhor para nossos filhos e semelhantes… Todo mundo está chocado com o estado em que se encontra a humanidade. Todos querem ver uma nova humanidade. O problema é que nada – filosofia ou ideologia nenhuma – será capaz de criar um novo mundo e uma nova humanidade. Uma humanidade nova e melhor só será possível pelo evangelho de Cristo; foi isso que estudamos na última mensagem no livro de Atos dos Apóstolos.

Quando o evangelho da cruz de Cristo caiu em solo europeu, ele começou a criar o que já vinha criando desde Jerusalém: uma nova humanidade, uma humanidade: [1.] sem muro de inimizade e de separação entre raças e culturas; [2.] uma humanidade onde não há mais preconceito de classes, cores ou sexos (Gl 3.26-29).

Essa é a nova humanidade: pessoas unidas com Cristo no batismo e que se revestiram de Cristo e que agora pertencem a Cristo (cf. Ef 2.14-16). O resultado disso é maravilhoso: pessoas que não seguem mais os desejos da natureza humana, mas que produzem o fruto do Espírito, o fruto da nossa união com Cristo pela fé (cf. Gl 5.19-26).

A nova humanidade que queremos construir e deixar para nossos filhos e semelhantes, esse mundo que reflete a nova cidade, a nova Jerusalém que virá da parte de Deus não surge naturalmente. Os exemplos de Paulo, Silas, Timóteo e Lucas nos ensinam que a nova humanidade é um processo em construção.

Na mensagem de hoje eu desejo convidar você a continuar seguindo comigo os primeiros passos da igreja cristã na Europa; de fato, convido você a engatinhar comigo pelo chão ao lado da infante igreja que cresceria para transformar o mundo.

Hoje e no próximo domingo, VEREMOS QUE A NOVA HUMANIDADE É CONSTRUÍDA [1.] pela pregação do evangelho, [2.] sob a perseguição da igreja, [3.] pela providência divina e [4.] a postura dos crentes. O resultado [5.] é o povo de Deus, a nova humanidade em Cristo Jesus – só o evangelho de Jesus Cristo é capaz de unir um povo tão diferente assim em um só corpo e lugar – e isso pela salvação e a santificação pela graça, por meio da fé em Cristo.

1. A PREGAÇÃO DO EVANGELHO

A primeira coisa que vemos acontecer é A PREGAÇÃO DO EVANGELHO; afinal, como escreveu o apóstolo Paulo, em Romanos 10.17, “a fé vem por ouvir, isto é, por ouvir as boas-novas a respeito de Cristo.” OU SEJA: não haverá nova humanidade sem a pregação do evangelho; e não há pregação do evangelho apenas com posturas ou exemplo de vida, tem de ter palavras ou exposição verbal do evangelho. E foi isso que Paulo fez quando desembarcou na Europa: ele pregou e praticou o evangelho de Cristo. Observe:

Pregando à empresária

Atos 16.13-15 ¹³No sábado, saímos da cidade e fomos à margem do rio, onde esperávamos encontrar um lugar de oração. Sentamo-nos e começamos a conversar com algumas mulheres ali reunidas. ¹⁴Uma delas era uma mulher temente a Deus chamada Lídia, da cidade de Tiatira, comerciante de tecido de púrpura. Enquanto ela nos ouvia, o Senhor lhe abriu o coração, e ela aceitou aquilo que Paulo estava dizendo. ¹⁵Foi batizada, junto com sua família, e pediu que nos hospedássemos em sua casa. “Se concordam que creio de fato no Senhor, venham ficar em minha casa”, disse ela, e insistiu até que aceitamos.

O que Paulo pregou àquelas mulheres, resultando na conversão de Lídia? Paulo pregou o senhorio de Cristo e a necessidade de arrependimento e profissão pública de fé pelo batismo — versículo 15: “Foi batizada, junto com sua família, e pediu que nos hospedássemos em sua casa. ‘Se concordam que creio de fato no Senhor, venham ficar em minha casa’, disse ela, e insistiu até que aceitamos.”

Pregando à endemoniada

Entusiasmados com o sucesso inicial, Paulo e equipe prosseguiram pregando:

Atos 16.16 Certo dia, enquanto íamos ao lugar de oração, […]

Isso era discipulado cristão! Mas havia uma “pedra” no caminho:

Atos 16.16-18 ¹⁶Certo dia, enquanto íamos ao lugar de oração, veio ao nosso encontro uma escrava possuída por um espírito pelo qual ela predizia o futuro. Com suas adivinhações, ganhava muito dinheiro para seus senhores. ¹⁷Ela seguia Paulo e a nós, gritando: “Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vieram anunciar como vocês podem ser salvos!”. ¹⁸Isso continuou por vários dias, […]

O EVANGELHO CHEGOU À EUROPA PARA LIBERTAR AS PESSOAS – libertá-las da religiosidade (cf. Lídia, vs. 13-15), libertá-las do diabo e da exploração dos homens (cf. a endemoniada, vs. 16-19). MAS PERCEBAM A ASTÚCIA DO DIABO:

Paulo Anglada nos informa de que a expressão do versículo 16: “pelo qual ela predizia o futuro” (na NVT) e que na ARA se traduziu por “adivinhador” – “espírito adivinhador” – traduz o termo grego pithon (πυθων). É uma referência a uma serpente ou dragão da mitologia grega que teria sido morta pelo deus Apolo; na sequência, Apolo tomou de pithon para si o poder da adivinhação. A palavra era usada com referência à sacerdotisa do célebre templo sagrado (o oráculo) de Delfos (Grécia). Cria-se que Apolo falava por essa mulher, a qual era consultada por autoridades e pessoas em geral para a previsão (adivinhação) do futuro. Posteriormente, o termo “pitonisa” passou a ser empregado com referência a mulheres que reivindicavam possuir o “dom” de adivinhação.

A REFERIDA JOVEM DE ATOS 16.16 era uma escrava, e a sua “capacidade de prever o futuro” era explorada e dava muito lucro aos seus senhores. Na realidade, tratava-se de uma jovem possessa por um espírito maligno, um demônio que a possuía. Tal prática era (e ainda é) muito comum entre pagãos:

1Coríntios 10.19-21 ¹⁹Então, o que estou tentando dizer? Que a comida oferecida a ídolos tem alguma importância, ou que os ídolos são deuses de verdade? ²⁰De maneira nenhuma! Estou dizendo que esses sacrifícios são oferecidos a demônios, e não a Deus. E não quero que vocês tenham parte com demônios. ²¹Vocês não podem beber do cálice do Senhor e também do cálice de demônios. Não podem participar da mesa do Senhor e também da mesa de demônios.

Como tudo tem limites, a paciência de Paulo explodiu – mas qual foi a causa?

Atos 16.17-18 ¹⁷Ela [a escrava com espírito de pitonisa] seguia Paulo e a nós, gritando: “Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vieram anunciar como vocês podem ser salvos!”. ¹⁸Isso continuou por vários dias, até que Paulo, indignado, se voltou e disse ao espírito dentro da jovem: “Eu ordeno em nome de Jesus Cristo que saia dela”. E, no mesmo instante, o espírito a deixou.

POR QUE PAULO SE INDIGNOU? Afinal, o diabo não estava falando a coisa certa? Veja, Versículo 17: “Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vieram anunciar como vocês podem ser salvos!” — Verdade? Só que não!

Trata-se de uma declaração verdadeira, mas diabolicamente VAGA.

PRESTE ATENÇÃO: Paulo e seus colaboradores eram, de fato, “servos do Deus Altíssimo”, e eles estavam sim em Filipos para anunciar como os filipenses poderiam “ser salvos” (ARA: “o caminho da salvação”). Realmente, Paulo anunciava o meio de serem salvos do pecado e da condenação.

Então, por que Paulo ficou indignado?

Anglada comenta que no judaísmo a expressão “Deus altíssimo” apontava para YAHWEH, o Deus da Aliança conforme a revelação bíblica. No paganismo grego, entretanto, a expressão se referia a Zeus, o maioral dos deuses. Já a expressão traduzida por “o caminho da salvação” (ARA) não tem artigo definido no original grego, sendo, portanto, indefinida: “um caminho de salvação” ou “um jeito de como vocês podem ser salvos”.

A MELHOR TRADUÇÃO: Versículo 17: “Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vieram anunciar [ARA:] um caminho de salvação [ou NVT:] um jeito de como vocês podem ser salvos!”

A declaração da jovem pitonisa parecia verdadeira, mas significava, para os ouvintes pagãos, que Paulo e seus companheiros eram servos de Zeus, e anunciavam um caminho de salvação, entre outros. Afinal, TODA DIVINDADE PAGÃ OFERECIA ALGUM TIPO DE “SALVAÇÃO”, não do pecado, mas de problemas – como enfermidade física, perigos no mar, frustração amorosa, necessidade financeira, ou alguma outra dificuldade.

A intenção de Satanás, portanto, – o verdadeiro agente por detrás da jovem vidente – , sugere João Calvino, era confundir a atividade dos missionários cristãos, embaralhando luz e trevas. LOGO, podemos imaginar o tamanho do dano que o paganismo dessa jovem poderia ter causado ao evangelho de Cristo, se Paulo não tivesse discernido a fonte diabólica de seu testemunho, e ela acabasse, por exemplo, sendo recebida como membro da igreja em Filipos, em virtude de sua APARENTE PROFISSÃO DE FÉ.

A LIÇÃO: ideias, conceitos e práticas motivadas pela astúcia e sutileza de Satanás podem ser facilmente introduzidas na igreja, confundindo a mensagem do evangelho, associando o evangelho de Cristo às trevas diabólicas do paganismo e do pragmatismo.

• Será que algo assim não tem acontecido no Brasil “evangélico” de hoje?
• Que tipo de salvação se anuncia? Para qual finalidade é o evangelho dos “crentes” anunciado nas igrejas contemporâneas?

Graças ao discernimento de Paulo e à sua coragem, somados ao poder do evangelho puro de Jesus Cristo, a endemoniada de Filipos foi libertada do diabo e das garras de seus exploradores. A nova humanidade só começa a ser construída quando se pratica a pregação do verdadeiro evangelho de Cristo: ele o único e suficiente é Salvador e Senhor daqueles que o confessam. E eis para que Cristo veio, morreu e ressuscitou:

Romanos 5.8-11 ⁸Mas Deus nos prova seu grande amor ao enviar Cristo para morrer por nós quando ainda éramos pecadores. ⁹E, uma vez que fomos declarados justos por seu sangue, certamente seremos salvos da ira de Deus por meio dele. ¹⁰Pois, se quando ainda éramos inimigos de Deus nosso relacionamento com ele foi restaurado pela morte de seu Filho, agora que já estamos reconciliados certamente seremos salvos por sua vida. ¹¹Agora, portanto, podemos nos alegrar em Deus, com quem fomos reconciliados por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.

Isso é o que celebraremos na ceia do SENHOR, ao redor da qual, reune-se a nova humanidade – os salvos pela graça, por meio da fé; salvos pela pregação do evangelho de Cristo; salvos por terem se arrependido do pecado e crido em Cristo.

SEMANA QUE VEM: a nova humanidade é construída [1.] pela pregação do evangelho, [2.] sob a perseguição da igreja, [3.] pela providência divina e [4.] a postura dos crentes. O resultado [5.] é o povo de Deus, a nova humanidade em Cristo Jesus – só o evangelho de Jesus Cristo é capaz de unir um povo tão diferente assim em um só corpo e lugar – e isso pela salvação e a santificação pela graça, por meio da fé em Cristo.

Agora, passemos à ceia do SENHOR.

S.D.G. L.B.Peixoto