26.06.2016
A OBRA DA SALVAÇÃO
Mateus 19.25-27
25 Ao ouvirem isso, os discípulos ficaram perplexos e perguntaram: “Neste caso, quem pode ser salvo?” 26 Jesus olhou para eles e respondeu: “Para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis”. 27 Então Pedro lhe respondeu: “Nós deixamos tudo para seguir-te! Que será de nós?”
Rouba, mas faz!
Parece que uma das “tradições” da política brasileira é a do “rouba, mas faz”; ou seja: o governante enfrenta sérias denúncias de corrupção, mas é querido pelo povo por causa das obras que realiza. É impressionante, pois enquanto a imagem de “político que faz” é consolidada, a de “político que rouba” logo começa a despontar. Rouba, mas faz!
Grandes obras
Olhando para a realidade, fica-nos a impressão de que a política sempre esteve interessada, fundamentalmente, nas grandes obras. Especialmente aquelas que aparecem: praças floridas e arborizadas, pontes e estradas bem pavimentadas, casas populares, hospitais, escolas e creches de grande porte, bolsas de auxílio aos menos favorecidos, etc. Sim, realmente essas obras são indispensáveis. Não estamos criticando, apenas apontando. Aliás, todas as que foram citadas, salvo engano, são de direito constitucionalmente garantidas dos cidadãos.
Por outro lado, quem de vocês conhece político que foi eleito e reeleito por se preocupar ou por realizar obras que não aparecem, mas que são essências para a população? Falo, por exemplo, de saneamento básico.
“Saneamento básico é a atividade relacionada ao abastecimento de água potável, o manejo de água pluvial, a coleta e tratamento de esgoto, a limpeza urbana, o manejo de resíduos sólidos e o controle de pragas e qualquer tipo de agente patogênico, visando à saúde das comunidades.” * Fonte: Wikipédia.
Gente, entre as 100 maiores cidades do Brasil, 34 não têm plano de saneamento básico. Por quê? Obras estruturais, especialmente as de grande porte, aparecem e produzem popularidade. Obras de infraestrutura, por serem basilares, subterrâneas, imperceptíveis aos olhos, geralmente, não se destacam.
A obra da salvação
O que todos costumam esquecer ou não valorizam é que a estrutura só se sustenta com a infraestrutura. Essa é uma verdade para todas as áreas da vida. Cidades agradáveis precisam de água tratada, encanada e esgoto. Praças floridas e arborizadas precisam de sistema de irrigação. Prédios imponentes precisam de fundações. Corpos bonitos precisam de saúde. Profissionais de sucesso precisam de alfabetização. Crentes de caráter escultural precisam de salvação.
A obra da salvação não costuma aparecer. Eu diria até que ela não é muito popular em nossos dias. Experimente, por exemplo, falar de salvação ao amigo de faculdade ou de trabalho! Ela é impopular até mesmo na igreja. Pastores que falam muito dela não costumam ser bem quistos. As pessoas querem as grandes obras: felicidade, sucesso, saúde e prosperidade.
Todo mundo, no entanto, depende da obra de salvação. Só com ela é possível a alguém a vida eterna com Deus e dela é que aflora o caráter escultural que todos admiram. Aliás, é da salvação que se colhe uma vida verdadeiramente ética, moralmente louvável, próspera, saudável, feliz e bem-sucedida.
Sobre a obra de salvação é que Pedro hoje irá nos ensinar. Releiamos o texto.
Mt 19.25-27 | 25 Ao ouvirem isso, os discípulos ficaram perplexos e perguntaram: “Neste caso, quem pode ser salvo?” 26 Jesus olhou para eles e respondeu: “Para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis”. 27 Então Pedro lhe respondeu: “Nós deixamos tudo para seguir-te! Que será de nós?”
Estes versículos conectam duas narrativas muito conhecidas nos evangelhos: 1 a história do jovem rico (Mt 19.16-26) e 2 a parábola dos trabalhadores na vinha (Mt 20.1-16). O tema é um só: a obra de salvação.
Há neste trecho bíblico três realidades sobra a obra da salvação que desejamos destacar. A obra da salvação…
1. A obra da salvação é possível apenas para Deus
Todos parecem pensar que a salvação é obra humana, algo que as pessoas, quando lhes dá na cabeça, simplesmente escolhem fazer. Muitos até definem o momento da vida em que tomarão a decisão pela salvação. Sempre dizem que será mais tarde, será amanhã, será depois. Infelizmente, não sabem que a obra da salvação não depende, inicialmente, do homem, só é possível para Deus, pois pertence exclusivamente ao Senhor (Jonas 2.9).
A história do jovem rico revela porque a obra da salvação é possível apenas para Deus. Antes, porém, observe que a decisão em si, não garante salvação.
Mt 19.16 | Eis que alguém se aproximou de Jesus e lhe perguntou: “Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?”
Note que Jesus não se comoveu com a decisão desse “alguém” que se aproximou para perguntar sobre a vida eterna. Interessante que tanto Mateus (19.16) como Marcos (10.17), inicialmente, não nos dizem que ele era rico ou importante. Só Lucas o descreve como “certo homem importante” (18.18).
Escrevendo a Teófilo (homem de elevado nível social), Lucas assim o fez porque tinha como propósito relatar que o evangelho de Jesus Cristo atingia também as camadas mais altas da sociedade. Mateus e Marcos, porém, querem destacar o orgulho do coração desse religioso que era rico e importante.
O fato de alguém simplesmente ir a Jesus, ir a igreja ou tomar uma decisão não garante em si que tenha ocorrido salvação. Pelo contrário, pode muito bem ser fruto de um coração orgulhoso. Afinal, o orgulho se manifesta tanto na ostentação como na piedade, tanto ao dizer: “Olhe o quanto eu tenho!” como ao querer demonstrar: “Veja como eu sou!”.
O jovem rico se aproximou de Jesus porque desejava ser reconhecido, elogiado ou agraciado com palavras de um Mestre em ascensão, reconhecido entre multidões. Observamos isso no teor das duas perguntas que ele faz ao Senhor.
Mt 19.16 | […] “Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?”
Mt 19.20 | […] “O que me falta ainda?”
A obra da salvação é possível apenas a Deus porque, acima de tudo, o homem é escravo da lealdade que ele tem consigo mesmo; seu coração se ostenta; só quer ter, só quer receber, só quer garantir, só quer se beneficiar, só quer resolver a vida aqui e agora (e que Deus nos ajude!); ele é só eu, eu e eu. Por isso que uma simples decisão de ir a igreja, de ser crente ou de querer mudar não garantem em si salvação. Por isso que nossas igrejas estão cheias de gente que amam elogios e reconhecimentos, e se entristecem quando não os têm. O ego que as levou a Jesus continua faminto e latente dentro do coração.
A salvação é possível apenas para Deus porque, a fim de nos salvar, Deus precisa, primeiro, nos libertar de nós mesmo, precisa nos fazer sentir o que temos que sentir (a profundidade do nosso pecado) e querer o que mais precisamos receber (salvação pela graça, por meio da fé). Agora…
Observe como é impossível apenas para o homem a salvação. Veja como nós, erroneamente, pensamos ou entendemos a salvação.
A salvação é algo que se faz e se garante, não o que Cristo fez e garantiu.
Mt 19.16 | […] “Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?”
Mt 19.20 | […] “A tudo isso tenho obedecido. O que me falta ainda?”
Não se faz para receber nem se esforça para garantir. Cristo já fez e já garantiu.
A salvação são realizações, não um relacionamento.
Mt 19.16-17 | 16 Eis que alguém se aproximou de Jesus e lhe perguntou: “Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?” 17 Respondeu-lhe Jesus: “Por que você me pergunta sobre o que é bom? Há somente um que é bom.” […]
O jovem pergunta uma coisa (sobre fazer algo de bom) e Jesus responde outra (só Deus é bom). Ou seja: bom não é o que fazemos para recebermos em troca as bênçãos de Deus; bom é Deus com quem devemos nos relacionar com amor e fidelidade, sem querermos dele receber para podermos gastar com outros prazeres (Tg 4.3-4). A pessoa que procurou Jesus tinha tudo o que o mundo não quer perder: juventude, importância e riquezas. Ela estava disposta a realizar o que fosse preciso para garantir tudo aquilo que ela temia perder.
O jovem rico não queria se relacionar com Deus; ele só queria realizar algumas coisas para Deus a fim de garantir os seus prazeres.
Mt 19.20-22 | 20 Disse-lhe o jovem: “A tudo isso tenho obedecido. O que me falta ainda?” 21 Jesus respondeu: “Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me”. 22 Ouvindo isso, o jovem afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas
A obra da salvação é possível apenas a Deus porque o homem entende a salvação como algo que se faz e se garante; algo que se realiza para se ter e se manter os prazeres separados de Deus, e não como algo que Cristo já fez e já garantiu para podermos desfrutar do prazer eterno, do tesouro nos céus, isto é: Deus. Veja como Pedro aprendeu a lição e lá na frente colocou:
1Pe 3.18 | Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. […]
O evangelho (a obra de Cristo) não existe para nos trazer prazeres ou para resolver nossos problemas terrenos, mas para nos levar ao maior dos prazeres (Deus) e resolver o nosso principal problema (a ira de Deus no inferno). Infelizmente, a maioria não entendeu ainda e, portanto, não está salva.
O jovem rico e importante não queria Deus, mas apenas garantir com Deus tudo o que ele julgava ser riqueza, importância e prazer. O testemunho dele provou que a obra da salvação é possível apenas a Deus.
Cristo, porém, rico em graça e misericórdia que é, neste encontro revelou ao jovem rico o estado deplorável no qual ele se encontrava. Caso reconhecesse, arrependesse e atendesse, ele teria recebido a salvação. Mas, ele não quis.
Observe o uso que Jesus fez la lei para revelar o coração pecaminoso do jovem. O Senhor sabia que ele não guardava a lei, mas ele se achava perfeito.
Mt 19.16-17 | 16 Eis que alguém se aproximou de Jesus e lhe perguntou: “Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?” 17 Respondeu-lhe Jesus: “Por que você me pergunta sobre o que é bom? Há somente um que é bom. Se você quer entrar na vida, obedeça aos mandamentos”. 18 “Quais?”, perguntou ele. Jesus respondeu: “‘Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, 19 honra teu pai e tua mãe’ e ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’”. 20 Disse-lhe o jovem: “A tudo isso tenho obedecido [a lei toda!]. O que me falta ainda?” [Meu Deus! O que o jovem queria? Apenas um elogio ou um endosso!] 21 Jesus respondeu: “Se você quer ser perfeito [como ele achava que era!], vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me”. 22 Ouvindo isso, o jovem afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas. 23 Então Jesus disse aos discípulos: “Digo-lhes a verdade: Dificilmente um rico entrará no Reino dos céus. 24 E lhes digo ainda: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus”. 25 Ao ouvirem isso, os discípulos ficaram perplexos e perguntaram: “Neste caso, quem pode ser salvo?” 26 Jesus olhou para eles e respondeu: “Para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis”.
É impossível para o homem ser salvo enquanto ele continuar amando os seus prazeres. Só Deus pode salvar um pecador, transformando o seu coração.
Aplicação:
2. A obra da salvação é um processo contínuo da graça de Deus
Pedro, após ouvir o Senhor falar, pensa em tudo o que eles deixaram para trás (contrário do Jovem rico!) e, então fala; fala revelando seu coração transformado, mas que ainda contém resquícios do pecado; fala revelando que a obra da salvação é um processo contínuo da graça de Deus no coração dos que foram salvos e estão sendo santificados.
Mt 19.27-30 | 27 Então Pedro lhe respondeu: “Nós deixamos tudo para seguir-te! Que será de nós?” 28 Jesus lhes disse: “Digo-lhes a verdade: Por ocasião da regeneração de todas as coisas, quando o Filho do homem se assentar em seu trono glorioso, vocês que me seguiram também se assentarão em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. 29 E todos os que tiverem deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos, por minha causa, receberão cem vezes mais e herdarão a vida eterna. 30 Contudo, muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos serão primeiros.
Você notou o verso 30? Veja o verso 30 à luz da pergunta de Pedro no verso 27. O que isso revela? Revela que Pedro ainda pensava em termos de recompensas terrenas, de privilégios pessoais e de aprovação humana. Tanto é verdade que Jesus conta a parábola dos trabalhadores na vinha (Mt 20.1-16) para dar uma lição a Pedro e aos demais apóstolos que como ele pensavam.
Note como Jesus começa a parábola. Veja como ela está diretamente relacionada ao que Jesus disse no verso 30 de Mateus 19.
Mt 19.30-20.1 | 30 Contudo, muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos serão primeiros. 1 “Pois o Reino dos céus é como um proprietário que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha.
Agora note como Jesus concluiu a parábola. Veja como a parábola é o conteúdo do parêntese aberto em Mateus 19.30 e fechado em Mateus 20.16.
Mt 19.30 e 20.16 | 19.30 Contudo, muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos serão primeiros. 20.16 “Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos”.
Jesus contou a parábola para exortar Pedro. O Senhor estava ensinando que a obra de Deus é um processo contínuo da graça de Deus no coração do pecador que foi salvo e está em processo de santificação. Mas, o que Pedro aprendeu sobre isso e que serve para nós? Leia a parábola…
Mt 20.1-15 | 1 “Pois o Reino dos céus é como um proprietário que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. 2 Ele combinou pagar-lhes um denário pelo dia e mandou-os para a sua vinha. 3 “Por volta das noves hora da manhã, ele saiu e viu outros que estavam desocupados na praça, 4 e lhes disse: ‘Vão também trabalhar na vinha, e eu lhes pagarei o que for justo’. 5 E eles foram. “Saindo outra vez, por volta do meio-dia e das três horas da tarde, fez a mesma coisa. 6 Saindo por volta das cinco horas da tarde, encontrou ainda outros que estavam desocupados e lhes perguntou: ‘Por que vocês estiveram aqui desocupados o dia todo?’ 7 ‘Porque ninguém nos contratou’, responderam eles. “Ele lhes disse: ‘Vão vocês também trabalhar na vinha’. 8 “Ao cair da tarde, o dono da vinha disse a seu administrador: ‘Chame os trabalhadores e pague-lhes o salário, começando com os últimos contratados e terminando nos primeiros’. 9 “Vieram os trabalhadores contratados por volta das cinco horas da tarde, e cada um recebeu um denário. 10 Quando vieram os que tinham sido contratados primeiro, esperavam receber mais. Mas cada um deles também recebeu um denário. 11 Quando o receberam, começaram a se queixar do proprietário da vinha, 12 dizendo-lhe: ‘Estes homens contratados por último trabalharam apenas uma hora, e o senhor os igualou a nós, que suportamos o peso do trabalho e o calor do dia’. 13 “Mas ele respondeu a um deles: ‘Amigo, não estou sendo injusto com você. Você não concordou em trabalhar por um denário? 14 Receba o que é seu e vá. Eu quero dar ao que foi contratado por último o mesmo que lhe dei. 15 Não tenho o direito de fazer o que quero com o meu dinheiro? Ou você está com inveja porque sou generoso?
A salvação é um processo contínuo da graça de Deus porque precisamos aprender a desfrutar de pelo menso três coisas essenciais.
A salvação é um processo contínuo da graça de Deus porque precisamos aprender a desfrutar da graça de 1 ser eleito por Deus e chamado pelo Espírito Santo, 2 ser amigo de Deus em Cristo Jesus e 3 ficar satisfeito com tudo o que Deus promete para nós em Jesus Cristo.
3. A obra da salvação produz pessoas que amam a Deus e o próximo
A obra de salvação é uma obra de infraestrutura. Ela é interna. Acontece no coração e na alma da gente. No entanto, é inevitável que a obra de salvação apareça na forma de obras estruturais de amor a Deus e pelo próximo. Foi isso que Jesus quis dizer ao jovem rico.
Mt 19.21 | Jesus respondeu: “Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me”.
A obra da salvação nos faz amar a Deus de tal forma que deixamos tudo para segui-lo; faz-nos amar o próximo de tal modo que quando abrimos a mão para seguir a Deus, tudo o que nós temos cai sobre o outro necessitado. Deus é generoso (Mt 20.15) e nós devemos ser da mesma forma generosos.
A fé salvadora não é comprada pelas obras, mas é comprovada pelas obras de amor que praticamos (Tg 2.18). A fé salvadora que não produz obras é tão morta quanto o corpo sem o espírito (Tg 2.23). Foi o que revelou a atitude do jovem rico, ao deixar Jesus.
A obra da salvação
Caráter escultural é fruto da obra de salvação. Deus começa a talhar em nós o caráter de Cristo no momento em que nos salva. Salvação é obra de infraestrutura do Espírito que, por sua vez, se manifesta de forma estrutural, ou seja: de forma visível e de forma concreta. Recapitulando:
A obra da salvação consiste, pois, em pela graça, receber a Cristo através da fé, alimentar-se da esperança provir (Mt 19.28-29) e praticar o amor. Creia.
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