28.01.2018
EM DEFESA DA FÉ: A PERSEVERANÇA
Judas 24-25
24Toda a glória seja àquele que é poderoso para guardá-los de cair e para levá-los, com grande alegria e sem defeito, à sua presença gloriosa. 25Toda a glória seja àquele que é o único Deus, nosso Salvador por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor. Glória, majestade, poder e autoridade lhe pertencem desde antes de todos os tempos, agora e para sempre! Amém.
O fracasso da força de vontade
Quanto tempo dura a força de vontade? Somente aqueles que a testaram, em sucessivas tentativas fracassadas, sabem realmente o quanto ela é frágil. Quer ver uma coisa? Ainda estamos no primeiro mês do ano, então lhe pergunto: por quanto tempo você conseguirá praticar suas resoluções de ano-novo (fez uma?)? Quantos dias você conseguirá manter a dieta, frenquentar a academia ou fazer seus exercícios físicos (já desistiu?)? Quanto tempo durará a decisão de ficar sem comer doce ou tomar refrigerante? Quanto tempo você conseguirá ficar sem se irritar ou explodir com alguém? Enfim, a julgar pelos anos anteriores, quantos rounds você suportará na luta para romper com velhos hábitos e criar hábitos saudáveis?
Somente aqueles que vivem lutando contra o desejo, a compulsão, o vício, a tentação, a procrastinação, a impaciência, a ira ou algum tipo de escravidão habitual sabem realmente o quanto, na maior parte, é fracassada nossa força de vontade. Se não fosse assim, “A Ciência da Força de Vontade”, curso ministrado na Universidade de Stanford pela psicóloga Kelly McGonigal, não seria um dos mais procurados dos oferecidos na história dos Estudos Contínuos daquela renomada instituição de ensino norte-americana.
Bem, nossa intenção não é apresentar dicas de como você poderá empoderar sua força de vontade e assim conquistar todos os seus sonhos em 2018. Saiba, porém, que não desdenhamos deles, pois creio que muitos são nobres e tantos outos são sim urgentes, podendo até se tratarem de necessidades de vida ou morte para alguém.
Fugimos da autoajuda apenas porque não creio nessas “ciências” do comportamento como alternativa para mudanças profundas, e porque entendo que púlpito não é lugar para palestras motivacionais. Além do quê, para os interessados, a lista dos livros de auto-ajuda mais vendidos do momento pode ser encontrada nas últimas páginas da Veja todas as semanas nas bancas dos jornais. Basta dar uma olhadinha por lá.
Como chegaremos ao céu?
A “religião da autoajuda”, com seus inúmeros gurus (ou como queiram chamá-los), ao meu ver, serve, quando muito, para revelar uma enorme e muito importante verdade: o fracasso da força de vontade. Mas, de novo, não é sobre tal “ciência” que desejamos tratar.
Fazemos esses apontamentos apenas para demonstrar quão frágeis nós somos em nós mesmos, pois se não conseguimos manter ao menos as resoluções de ano-novo para perder peso, melhorar ou manter a saúde, crescer na carreira e outras coisas mais, quem nos garante que nós conseguiremos perseverar na vida cristã e chegar até o céu?
Aliás, quem dentre nós poderá garantir que chegará crente em 31 de dezembro deste ano? Quantos poderão afirmar que chegarão no céu, perseverando para a vida eterna? Quem disser: “Eu vou conseguir!”, falará com base em quê? Irá se basear na própria fé? Haverá de se apoiar em sua força de vontade cristã?
Ora, sejamos francos, se somos tão falhos em manter nossos planos para a vida na terra, se somos tão incapazes de manter resoluções, votos e tantas vezes nossa palavra para alguém, o que nos garante que manteremos a fé para chegarmos até o céu? Perceberam a gravidade do assunto que temos diante de nós?
O que está em jogo, no final das contas, não é o peso na balança, a saúde do coração, o nível do colesterol, o sucesso profissional, a habilidade de fazer e manter amigos, a capacidade de influenciar pessoas, construir uma família feliz ou seja lá o que for. Conquanto seja tudo muito importante, nada disso é o mais importante. A alma é que está em jogo, a vida eterna é que está sobre a mesa. Sendo assim, face ao fracasso da força de vontade, que garantia nós temos de que venceremos ou que chegaremos ao céu?
A perseverança dos santos para a salvação
O texto que nós temos para hoje (Judas 24-25) trata de um dos temais mais centrais da fé cristã: a perseverança dos santos para a salvação. Sobre esta doutrina, a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, em acordo com os artigos de fé das confissões de fé reformadas, no artigo VI, sobre a Eleição, afirmou o que segue:
[…] A salvação do crente é eterna. Os salvos perseveram em Cristo e estão guardados pelo poder de Deus. Nenhuma força ou circunstância tem poder para separar o crente do amor de Deus em Cristo Jesus [Pq?]. O novo nascimento, o perdão, a justificação, a adoção como filhos de Deus, a eleição e o dom do Espírito Santo [note que são todas “forças” externas!] asseguram aos salvos a permanência na graça da salvação.
Cremos que a doutrina da permanência da salvação (ou da perseverança dos santos para a salvação) é absolutamente necessária para uma compreensão correta do evangelho de Cristo e da verdade do conceito bíblico de vida eterna e duradoura.
O resumo de tudo pode ser colocado da seguinte maneira: se eu posso perder a salvação, ela não é eterna nem duradoura, mas temporária; se posso perdê-la, então eu devo lutar para mantê-la e viverei dependente da fragilidade de minha força de vontade; se posso perdê-la, minha salvação é, em última instância, dependente de mim e não de Deus; e se posso perdê-la, minha fé, minha confiança, meu conforto e minha esperança são roubados de mim, deixando-me, portanto, suspenso no ar da incerteza quanto ao meu destino final. Lamentável, mas é assim que a maioria dos que se dizem evangélicos creem, praticam seu cristianismo e vivem sua vida cristã!
Nossa confiança se baseia em Deus
Graças a Deus que, contrariando a maioria, a Bíblia aborda a doutrina da nossa perseverança para a salvação de maneira clara e constante. Leia, por exemplo, textos tais quais: João 10.27-30; Romanos 8.38-39; Efésios 1.13-14; Hebreus 13.5; 1João 2.19 e 5.13. De tantos versículos que poderíamos citar, revejam o texto que lemos no inicio, Judas 24-25:
24Toda a glória seja àquele que é poderoso para guardá-los de cair e para levá-los, com grande alegria e sem defeito, à sua presença gloriosa. 25Toda a glória seja àquele que é o único Deus, nosso Salvador por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor. Glória, majestade, poder e autoridade lhe pertencem desde antes de todos os tempos, agora e para sempre! Amém.
Note que Judas nos estimula a glorificar a Deus por dois motivos: pelo que ele faz para nos salvar (v. 24):
24Toda a glória seja àquele que é poderoso para guardá-los de cair e para levá-los, com grande alegria e sem defeito, à sua presença gloriosa.
e pelo que ele é para a nossa salvação (v. 25):
25Toda a glória seja àquele que é o único Deus, nosso Salvador por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor. Glória, majestade, poder e autoridade lhe pertencem desde antes de todos os tempos, agora e para sempre! Amém.
Ou seja: se há garantia de que os crentes em Cristo perseverarão para a vida eterna, e há!, esta não se encontra em nós mesmos, no que somos, na nossa força de vontade nem no que fazemos, mas em Deus que, soberana e graciosamente, amou-nos e nos substituiu na cruz, garantindo-nos nossa salvação no final desta vida. Ouçam Paulo, o apóstolo:
Rm 8.28-30 | 28E sabemos que Deus faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que o amam e que são chamados de acordo com seu propósito. 29Pois Deus conheceu de antemão os seus e os predestinou para se tornarem semelhantes à imagem de seu Filho, a fim de que ele fosse o primeiro entre muitos irmãos. 30Depois de predestiná-los ele os chamou, e depois de chamá-los, os declarou justos, e depois de declará-los justos, lhes deu sua glória.
Em Cristo, nós somos mais do que vencedores por meio de Deus que nos amou (Rm 8.37); e isto significa que nada nem ninguém, material ou espiritualmente falando, será capaz de nos fazer perder ou de nos separar do amor de Deus em Jesus Cristo, o Senhor (Rm 8.38-39). Portanto, crente, regozije-se de que nossa confiança está em quem Deus é e no que Deus fez, faz e fará por nós; nossa confiança não se baseia em quem somos ou no que fazemos ou podemos fazer nem no quanto nos esforçamos. Louvado seja Deus!
Os vencedores
O plano inicial de Judas, quando pegou a pena e o papiro para escrever esta carta, era “escrever-lhes com todo empenho sobre a salvação que compartilhamos” (v. 3). Foi quando ele começou a se lembrar de que “alguns indivíduos perversos se infiltraram em seu meio sem serem notados, dizendo que a graça de Deus permite levar uma vida imoral” (v. 4); essa gente (joio no meio do trigo, lobos em pele de cordeiro) estava negando “Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor” (v. 4). Então, como um general em comando, Judas se levanta para convocar os fieis, insistindo “que defendam a fé que, de uma vez por todas, foi confiada ao povo santo” (v. 3).
Judas é um mestre na “arte da guerra”. Revisem comigo a estratégia dele:
À essa altura, antes de terminar a carta, Judas se dá conta do peso de tudo que escreveu; então, ele para e pondera sobre a fragilidade dos soldados de sua tropa de elite:
Quem garante que eles manterão a fé?
E se eles fracassarem? Afinal, tantos antes deles e no meio deles já fracassaram! E olha que alguns do passado viveram em condições muito mais privilegiadas na presença de Deus, mas mesmo assim tropeçaram e caíram (i.e., anjos, v. 6); outros, testemunharam do poder de Deus como poucos já puderam provar antes e depois deles, mas depois morreram no deserto (i.e., Israel, v. 5); e muitos desfrutaram de tanto conforto, prosperidade e liberdade concedidas por Deus, para depois serem destruídos por causa da devassidão (i.e., Sodoma e Gomorra, v. 7)!
Quem garante que esses para quem escrevo vencerão no final?
E se eles se tornarem incrédulos e sem amor como Caim se tornou (v. 11); e se eles se tornarem gananciosos e imorais como Balaão acabou se tornando (v 11); e se eles se tornarem orgulhosos e insubmissos como Coré (v. 11)?
Quem garante que esses crentes vencerão essa batalha?
E se eles, assim como os apóstatas, também negarem o senhorio e a soberania de Deus sobre a vida deles? E se eles também abandonarem a Bíblia para seguirem sonhos e experiências místicas, justificado assim seus atos inconstantes e imorais?
Judas tinha tudo para não crer que aqueles para quem ele escrevia tivessem a menor chance de serem vitoriosos, caso dependessem apenas deles mesmos. Então, ele se recorda da “salvação que compartilhamos” (v. 3), aquela sobre a qual ele inicialmente desejava escrever, e conclui sua carta, não apenas nos entregando um resumo da “salvação que compartilhamos”, mas também nos apresentando o fundamento seguro para a nossa vitória final em Cristo. Como é bom saber que não depende de nós, mas de Deus!
Irmãos, nós venceremos por causa de Cristo. Nossa vitória foi planejada por Deus em Cristo e se dá pelo poder do Espírito; ela foi planejada como fruto do amor de Deus, executada por causa da graça que há em Jesus e nos é aplicada no poder do Espírito Santo.
Nossa vitória não depende de nossa força de vontade, pois se assim fosse, Israel não teria deixado de crer no deserto depois de tanto esforço para deixar o Egito; nossa vitória não depende de circunstâncias favoráveis, pois se fosse assim os anjos não teriam se rebelado no céu, quando viviam face a face com o próprio Deus; nossa vitória não depende de termos mais disso ou daquilo nem de termos mais direito para vivermos a vida como nós bem entendemos, pois se fosse assim Sodoma e Gomorra não teriam provocado sua própria destruição (e também a Babilônia, Pérsia, Roma e todos os impérios da história).
A vitória não está em nós mesmos, mas em Deus que fez e faz todas as coisas para o bem daqueles que “o amam e que são chamados de acordo com seu propósito” (Rm 8.28).
Hoje à noite, Deus permitindo, mergulharemos nos versos finais desta carta e estudaremos, de acordo com Judas, no que se fundamenta a certeza de vitória daqueles que são mais do que vencedores por meio de Deus que os amou (Rm 8.37); a saber: o poder de Deus, a promessa de Deus, a pessoa de Deus e o plano de Deus. Por ora, regozijemo-nos na promessa divina de perseverança para a nossa salvação final:
Jd 24-25 | 24Toda a glória seja àquele que é poderoso para guardá-los de cair e para levá-los, com grande alegria e sem defeito, à sua presença gloriosa. 25Toda a glória seja àquele que é o único Deus, nosso Salvador por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor. Glória, majestade, poder e autoridade lhe pertencem desde antes de todos os tempos, agora e para sempre! Amém.
Como é bom saber que não depende de quem somos ou do que fazemos, mas de quem Deus é, fez e fará pelo seu povo amado desde antes da fundação do mundo.
S.D.G. L.B.Peixoto
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