31.12.2017
EM DEFESA DA FÉ: A RENDIÇÃO
Judas 14-16
14Enoque, que viveu na sétima geração depois de Adão, profetizou a respeito desses homens, dizendo: “Ouçam! O Senhor vem com incontáveis milhares de santos 15para julgar a todos. Convencerá os pecadores de seus atos perversos e dos insultos que pronunciaram contra ele”. 16São murmuradores e descontentes, que vivem apenas para satisfazer os próprios desejos. Contam vantagem em alta voz e bajulam outros para conseguir o que querem.
Rendição militar
Deixe-me, à princípio, definir rendição militar. Wikipédia, a biblioteca livre da internet, diz que
rendição, na terminologia militar, é a renúncia ao controle sobre território, soldados, fortificações, navios ou armamentos para uma outra potência. Uma rendição pode acontecer pacificamente, sem luta, ou como resultado de uma derrota em batalha. Um estado soberano também pode se render após ser derrotado em guerra, normalmente assinando um tratado de paz. Uma rendição no campo de batalha, seja por indivíduos ou quando ordens são dadas por oficiais, normalmente resulta naqueles que estão se rendendo a se tornar prisioneiros de guerra.
Para se ter uma ideia, o segundo grande conflito mundial só cessou com a rendição alemã em maio de 1945, seguida, em agosto do mesmo ano, pela rendição japonesa (a bordo do navio de guerra norte-americano USS Missouri, na Baía de Tóquio). Era o fim da II Guerra Mundial, que havia começado seis anos antes (setembro de 1939).
Rendição final
Sem rendição não há paz. Assim é que enquanto não houver o comando do Senhor soberano do universo, colocando ponto final para as hostes do inferno, que vivem em guerra constante neste mundo, tentando frustrar os planos de Deus, a paz não reinará definitivamente. João, com visão apocalíptica, nos contou como será o dia da rendição do diabo e suas hostes malignas (Ap 20.7-15 a 21.2):
A derrota de Satanás
7Quando terminarem os mil anos, Satanás será solto da prisão 8e sairá para enganar as nações, Gogue e Magogue [os inimigos finais de Deus; cf. Ez 38 e 39], em todas as extremidades da terra. Ele as reunirá para a batalha, um exército poderoso, incontável como a areia da praia. 9Subiram pela vasta planície da terra e cercaram o acampamento do povo santo e a cidade amada. Mas fogo desceu do céu e os consumiu. 10O diabo, que os havia enganado, foi lançado no lago de fogo que arde com enxofre, onde já estavam a besta e o falso profeta. Ali serão atormentados dia e noite, para todo o sempre.
O julgamento final
11Vi um grande trono e aquele que estava sentado nele. A terra e o céu fugiram de sua presença, mas não encontraram lugar para se esconder. 12Vi os mortos, pequenos e grandes, em pé diante do trono de Deus. E foram abertos os livros, incluindo o Livro da Vida. Os mortos foram julgados segundo o que haviam feito, conforme o que estava registrado nos livros. 13O mar entregou seus mortos, e a morte e o mundo dos mortos também entregaram seus mortos. E todos foram julgados de acordo com seus atos. 14Então a morte e o mundo dos mortos foram lançados no lago de fogo. Esse lago de fogo é a segunda morte. 15E quem não tinha o nome registrado no Livro da Vida foi lançado no lago de fogo.
A nova Jerusalém
1Então vi um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra já não existiam, e o mar também não mais existia. 2E vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, como uma noiva belamente vestida para seu marido.
Batalha em defesa da fé
Enquanto o dia da rendição final não chega, nós cristãos somos convocados a batalhar pela fé “que, de uma vez por todas, foi confiada ao povo santo” (Jd 3). Afinal, como Judas nos informa, “alguns indivíduos perversos se infiltraram em seu meio sem serem notados, dizendo que a graça de Deus permite levar uma vida imoral. A condenação de tais pessoas foi registrada há muito tempo, pois negaram Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor” (v. 4).
As hostes do inferno agem neste mundo através de seus enviados; por meio daqueles que disseminam doutrinas de demônios (1Tm 4.1-5); são homens e mulheres que se misturam no ceio da igreja com ensinos que negam a soberania e o senhorio de Deus sobre nossas vidas, incitando imoralidade; joio no meio do trigo; lobos em pele de cordeiro; veneno na panela. Eles são perigosos e, portanto, devemos ficar atentos, certos de que o julgamento, por mais que tarde em chegar, virá com justiça da parte do Senhor.
A rendição
No texto que nós temos para hoje, Judas volta seu foco para o julgamento dos apóstatas, usando uma obra judaica extrabíblica, 1Enoque (2o ou 1o séc. a.C.), para traçar seu argumento. É preciso que se diga que o uso de literatura extrabíblica por um autor do Novo Testamento não torna essas obras literárias palavras inspiradas de Deus, na mesma categoria que o Cânon Bíblico. Judas, por exemplo, está simplesmente extraindo de 1Enoque (que era um livro reconhecido e respeitado pelos apóstatas) outro exemplo de julgamento, o que significa que, pelo menos neste ponto específico (1Enoque 1.9), o livro extrabíblico contém alguma verdade.
Apresentando-nos o julgamento de Deus sobre os apóstatas, Judas nos ensina lições preciosas sobre a rendição ou o juízo final. Destacaremos quatro delas: a rendição é precedida por advertências proféticas; a rendição é promulgada por ação justa de Deus; a rendição é provocada por atos de homens ímpios; e a rendição é publicada para advertência perpétua.
1. A rendição é precedida por advertência profética
Deus nunca deixou de anunciar, antecipadamente, julgamento sobre ímpios que não se arrependem; assim ele vem agindo desde os dias de Enoque, que viveu antes do dilúvio (o grande ato de julgamento de Deus). Observe, de novo, a narrativa de Judas:
14Enoque, que viveu na sétima geração depois de Adão, profetizou a respeito desses homens, dizendo: “Ouçam! O Senhor vem com incontáveis milhares de santos 15para julgar a todos.
Enoque aparece pela primeira vez como representante da sétima geração de Adão (Gênesis 5.18-24). Depois, Enoque é mencionado por Lucas como ascendente de Jesus (Lc 3.37). Em seguida, o autor de Hebreus o destaca na galeria dos heróis da fé (Hb 11.5).
Apesar de alguns comentaristas bíblicos insistirem que Judas estivesse atribuindo algum fator místico a Enoque, ao se referir a ele como o “sétimo depois de Adão”, a explicação mais simples parece ser a mais viável; ou seja, Judas está distinguindo Enoque (aquele “que viveu na sétima geração depois de Adão”; cf. Gn 5.1-18: Adão, Sete, Enos, Cainã, Maalaleel, Jarede e Enoque) de outro Enoque (o filho de Caim que apareceu mais cedo na narrativa bíblica; cf. Gn 4.17).
Enoque, nós somos informados por Judas, foi um profeta de Deus na sua geração.
Deus nunca deixou qualquer geração sem anúncio de juízo iminente, especialmente em tempos de declarada imoralidade e apostasia, como nos dias de Noé, Judas e os nossos atuais. A rendição é sempre precedida por advertência profética. Somos chamados, portanto, assim como Enoque, a profetizar ou anunciar o Dia do Senhor.
A rendição ou juízo final não pode ser tido como discurso alarmista, sensacionalista e muito menos como enredo apocalíptico para o cinema. O juízo é certo. Anunciá-lo é nossa responsabilidade como igreja no meio de uma geração perversa. Lembre-se: a rendição é precedida por advertência profética.
2. A rendição é promulgada por ação justa de Deus
Após se utilizar do exemplo de Enoque como alguém que profetizou o juízo de Deus sobre os pecadores, Judas, munido não apenas de literatura extrabíblica, mas também muito bem informado de textos do Antigo Testamento (Dt 33.2-4; Is 40. 4 e 10; 66.15-16; Jr 25.31; Mq 1.3-4; Hc 3.3-9; Zc 14.5), informa-nos sobre como será a justa condenação de Deus. Ele nos testifica que a rendição é promulgada (ordenada) por ação justa de Deus. Observe (Jd 14-15):
14Enoque, que viveu na sétima geração depois de Adão, profetizou a respeito desses homens, dizendo: “Ouçam! O Senhor vem com incontáveis milhares de santos 15para julgar a todos. Convencerá os pecadores de seus atos perversos e dos insultos que pronunciaram contra ele”.
A ação justa de Deus é-nos aqui apresentada através de cinco verdades bíblicas sobre o julgamento final:
Para se ter uma ideia dos “atos perversos e dos insultos que pronunciaram contra ele” (Jd 15), permitam-me ler um trecho de uma coluna da Folha de S. Paulo de 25/12/17 (autoria de Gregório Duvivier, um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos). Sim, esse sujeito, no dia de Natal, publicou um texto no mínimo ultrajante, cujo título foi: “Parabéns, baderneiro comunista defensor de bandido e da prostituição”. A seguir, trechos com censura:
Só mesmo no Brasil que o país para pra celebrar o aniversário de um líder comunista. Pior que isso: um baderneiro terrorista bolivariano sem-terra defensor de bandido e da prostituição. […] Perdoou as prostitutas e, pior, garantiu que elas vão entrar no céu antes de você. “Elas e os cobradores de imposto”, disse o comuna, provando que, se tem uma coisa que comunista gosta mais ainda do que de p******, é de imposto. […] Ao transformar água em vinho, nada mais fez do que dar drogas à juventude — como bom comunista. […]
O texto é escrito de forma a sugerir que Cristo está mais para comunista e de esquerda do que para capitalista e de direita (como se Cristo ou o cristianismo existisse por uma ideologia política). Sem nenhum conhecimento bíblico-teológico (ou seria descaso proposital, com intensão de escarnecer?) do que realmente significou Jesus criticar a riqueza, transformar água em vinho, purificar o templo, expulsar demônios, etc., Gregório Duvivier se porta como um exemplo típico daqueles que serão julgados, conforme Judas escreveu, prenunciando a rendição ou o julgamento final de Deus:
Jd 14-15 | “Ouçam! O Senhor vem com incontáveis milhares de santos 15para julgar a todos. Convencerá os pecadores de seus atos perversos e dos insultos que pronunciaram contra ele”.
Até lá, conforme previsto no Art. 208 do Código Penal Brasileiro, Gregório Duvivier poderá ser processado pelo crime de “Vilipêndio da fé”, ou seja, “vilipendiar [ultrajar, insultar] publicamente ato ou objeto de culto religioso. Pena: detenção, de um mês a um ano, ou multa”. Bem, já que no Brasil para tudo se dá um “jeitinho”, o sujeito poderá se safar. O problema, porém, é que se ele não se arrepender e não se voltar para Cristo com fé, terá que encarar o justo juízo de Deus. Ele e todos quantos agem e falam de forma ímpia contra Deus. Lembre-se: a rendição é promulgada por ação justa de Deus.
3. A rendição é provocada por atos de homens ímpios
Vimos que a rendição é precedida por advertências proféticas (Deus sempre anuncia o seu juízo) e que ela é promulgada por ação justa de Deus (Deus é sempre justo). Vejamos agora que a rendição é provocada por atos de homens ímpios, que também se encontram infiltrados na igreja. Sim, o julgamento virá sobre “todos” (Jd 15), tanto aos de fora (ímpios) como aos de dentro da igreja (infiltrados). Portanto, quem são esses que com seus ato ímpios provocaram o juízo de Deus? Observe (Jd 16):
São murmuradores e descontentes, que vivem apenas para satisfazer os próprios desejos. Contam vantagem em alta voz e bajulam outros para conseguir o que querem.
Judas está nos apontando cinco marcas nestes que provocam a justa condenação de Deus. Você as identificou? São elas: murmuração, descontentamento, egoísmo, arrogância e adulação ou bajulação. Veja de novo (Jd 16):
São murmuradores e descontentes, que vivem apenas para satisfazer os próprios desejos. Contam vantagem em alta voz e bajulam outros para conseguir o que querem.
Todas essas marcas ou características florescem ou fluem de uma mesma fonte: o coração, o ego, o eu, o servo-arbítrio ou livre-arbítrio escravizado pelo pecado. É gente que não quer ser desagradada (murmuradora), só olha para o que não tem (descontente); só pensa em si mesma (satisfazer seus próprios desejos), só quer ser reconhecida (conta vantagem em voz alta, é arrogante) e só quer receber favores (gente aduladora, bajuladora, que só fala o que os outros querem ouvir para conseguir o que tanto deseja).
Qual é o problema com gente assim? O mundo gira em torno delas. Tudo e todos existem para elas, inclusive Deus. Fazem o que for preciso para obterem o que desejam. Passam por cima de todo mundo. Sugam. Consomem. Esgotam. Corrompem-se.
Quando ouvem o que lhes desagrada, murmuram; quando se aproximam de alguém, vomitam descontentamento, pois vivem procurando defeitos ou focando naquilo que não têm; quando não conseguem o que desejam, agridem ou praticam delitos; quando vê o sucesso do outro, desdenha e se exalta; quando encontra alguém do seu interesse, bajula por algo em troca. É terrível. Gente assim não serve o próximo. Essas pessoas não adoram a Deus. Tudo o que fazem é para o louvor da sua própria glória.
Enfim, gente assim age impiamente. Por isso que a rendição é provocada por atos de homens ímpios. Deus, no entanto, virá para julgar, conforme nós já estudamos.
4. A rendição é publicada para advertência perpétua
A última coisa que precisamos dizer é que a rendição é publicada para advertência perpétua. A doutrina ou o ensino do juízo final não existe para assustar ou alarmar, mas para nos fazer temer. Existe um Justo Juiz ao qual “todos” (Jd 15) prestarão contas. Quando nos damos conta disto, buscamos viver segundo suas leis, intencionamos conhecer e praticar a justiça, arrependemo-nos e voltamo-nos para ele com fé e esperança.
Agora, quem ignora essa advertência perpétua, publicada pelo próprio Deus e anunciada desde sempre, de Enoque (passando pelos profetas e apóstolos) aos cristãos de todos os tempos, será no final sentenciado com a justa condenação de Deus.
Judas sabia que quanto mais se ignora o juízo de Deus, mais ímpias vão se tornando as pessoas e as gerações; afinal, acaba-se a fé, evapora-se a esperança e destrói-se o amor. Por isso é que Judas adverte (Jd 14-16):
14Enoque, que viveu na sétima geração depois de Adão, profetizou a respeito desses homens, dizendo: “Ouçam! O Senhor vem com incontáveis milhares de santos 15para julgar a todos. Convencerá os pecadores de seus atos perversos e dos insultos que pronunciaram contra ele”. 16São murmuradores e descontentes, que vivem apenas para satisfazer os próprios desejos. Contam vantagem em alta voz e bajulam outros para conseguir o que querem.
A rendição
A única saída é você se render enquanto é tempo. Quem hoje se rende a Cristo, negando a si mesmo, tomando dia a dia sua cruz e seguindo Jesus com arrependimento e fé, recebe perdão e salvação. E no dia do juízo final, ouvirá do Rei Jesus (Mt 25.34):
Venham, vocês que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o reino que ele lhes preparou desde a criação do mundo.
Quem agora não se rende como filho abençoado do Pai, mas segue em resistência, vivendo para si e para seu próprio ego, no final terá que se render como prisioneiro de guerra. As palavras do Justo Juiz não serão nada agradáveis (Mt 25.41):
Fora daqui, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos.
A questão, portanto, não é se nós teremos que nos render, mas quando nós iremos nos render. Quem se rende hoje, arrependendo-se e crendo, abandonando o senhorio do pecado e sujeitando-se ao senhorio de Cristo, será perdoado e no final glorificado. Mas quem não se rende hoje a Cristo, será no final rendido e condenado.
Renda-se a Cristo e faça dele não só seu Salvador, mas seu “único Soberano e Senhor” (Jd 4). Que seja hoje, o último dia do ano, o dia de sua rendição. Assine agora mesmo o seu tratado de paz com Deus pelo sangue de Jesus. Não espere pela última hora. Arrependa-se e creia. Renda-se a Cristo. Que hoje seja o dia da sua bendita rendição.
S.D.G. L.B.Peixoto
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