16.04.2017
A RESSURREIÇÃO NA PRÁTICA
Hoje é domingo de Páscoa e nós nos reunimos para celebrar a ressurreição de Jesus. Aliás, nós fazemos isso todos os domingos do ano, mas hoje é especial. Hoje é Páscoa.
Para o cristão, a ressurreição de Jesus é o ponto máximo, não só da Páscoa e da fé cristã, mas de toda a existência humana. A ressurreição não foi apenas o evento mais extraordinário da história por causa de seu caráter sobrenatural ou milagroso. A vitória do Filho de Deus sobre a morte provocou efeitos eternos, trazendo salvação aos que creem e promovendo transformações profundamente radicais na vida dos discípulos de Cristo.
O autor de Hebreus diz que “Jesus abriu um caminho novo e vivo” (Hb 10.20). Ou seja: é por Cristo que nós chegamos a Deus — não pelas obras nem pela religião; e também é por causa dele, por estarmos a caminho do céu ou da presença eterna com Deus — porque estamos sendo santificados —, que vivemos de forma radicalmente diferente aqui e agora.
O “caminho novo e vivo” aberto pela morte e ressurreição de Jesus traz implicações radicais para a prática evangélica ou do evangélico. O texto para o qual eu chamo a sua atenção hoje à noite revela a amplitude do conceito da ressurreição e sua aplicação nas relações do ser humano com Deus, consigo mesmo e com o próximo — com o mundo.
Abra, por favor, a sua Bíblia em Hebreus 13. Deixe-a aberta em Hebreus 13.
Estudaremos este capítulo inteiro. Nosso propósito e compreender a ressurreição na prática.
Sustentabilidade
Antes de mergulharmos no texto, pense comigo sobre uma das palavras do momento: “sustentabilidade”. O termo de origem é “sustentável”, proveniente do latim “sustentare” (conservar, cuidar, manter). “Sustentabilidade”, portanto, “é a capacidade do ser humano de satisfazer as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.”
Aproveitando o conceito de “sustentabilidade”, convido-os a olharmos para Hebreus 13, buscando definir o que seria uma “espiritualidade sustentável” ou como é “a ressurreição na prática”. Há duas respostas fundamentais que buscaremos responder:
Esta geração e, principalmente, as gerações futuras dependem de como nós vivemos lá fora (de segunda a sexta) o cristianismo que professamos aqui dentro, todos os finais de semana. Logo, a preocupação com uma espiritualidade sustentável ou com a ressurreição na prática é fundamental para salvação desta geração e também das gerações futuras.
Espiritualidade sustentável = ressurreição na prática
Há um versículo em Hebreus que revela que Jesus conservou fora o que ele confessava dentro dos muros de Jerusalém. Veja:
Hb 13.12 | Da mesma forma [que o corpo dos animais é queimado fora do acampamento — v. 11], Jesus sofreu fora das portas da cidade, para santificar seu povo mediante seu próprio sangue.
Não foi dentro da Jerusalém terrena que o Senhor sofreu, mas fora da cidade, deixando, assim, de lado todos os rituais levíticos que ocorriam dentro daquela cidade.
A ideia de Jesus sofrer e morrer fora da cidade para santificar o povo foi chocante para os judeus, pois sempre que alguém, durante a cerimônia, saía fora do acampamento, levando um animal, ao retornar, precisava ser, cerimonialmente, purificado (cf. Lv 16.26-28). Jesus, porém, morreu fora das portas da cidade — o puro para purificar os impuros.
O Senhor é para nós um modelo de espiritualidade sustentável — ele ensina para nós como deve ser a ressurreição na prática. Isso porquê, quando olhamos para a vida e a vocação de Cristo, do seu nascimento à sua morte, fica claro que tudo aconteceu, como deve ser com todos os que são normais, fora dos limites da convivência eclesiástica e do legalismo da religião. Observe:
Espiritualidade sustentável sim, pois Jesus conseguiu preservar e propagar a santidade de Deus fora da convivência eclesiástica. Ele revela como deve ser vivida na prática a ressurreição. Afinal, a vida que ele viveu é a vida que ele comprou para nós com a sua morte e ressurreição; é a vida para a qual ele nos chama a viver aqui e agora.
Interessante é que somente quando Jesus entra em Jerusalém — quando ele se aproxima da convivência eclesiástica farisaica e legalista —, somente então as controvérsias em torno de sua pessoa começam a pipocar. É nesta convivência insípida da religião que Jesus começa a ser questionado pelos fariseus. Eles questionam sua fonte de autoridade, sua forma de viver e outras coisas mais. Espiritualidade sustentável, portanto, é fundamental, pois se não soubermos preservar e professar do lado de fora o que nós prezamos e proclamamos aqui dentro, nós seremos insípidos e para nada mais prestaremos. Aliás, Jesus deixou isso claro no Sermão do Monte.
Mt 5.13-16 | 13 Vocês são o sal da terra. Mas, se o sal perder o sabor, para que servirá? É possível torná-lo salgado outra vez? Será jogado fora e pisado pelos que passam, pois já não serve para nada. 14 Vocês são a luz do mundo. É impossível esconder uma cidade construída no alto de um monte. 15 Não faz sentido acender uma lâmpada e depois colocá-la sob um cesto. Pelo contrário, ela é colocada num pedestal, de onde ilumina todos que estão na casa. 16 Da mesma forma, suas boas obras devem brilhar, para que todos as vejam e louvem seu Pai, que está no céu.
Não podemos nos trancar nos guetos da religião, nossa espiritualidade não pode ser apenas para dentro da igreja, sob pena de destruirmos e acabarmos com o que precisamos preservar e proclamar — ou seja: o evangelho de Cristo.
Portanto, ao olharmos para o nosso texto de Páscoa, Hebreus 13, permitam-me mostrar para vocês como deve ser a espiritualidade sustentável ou a vida onde a ressurreição é vivida na prática.
1. A ressurreição na prática evidencia o amor cristão
Hb 13.1-3 | 1 Continuem a amar uns aos outros como irmãos. 2 Não se esqueçam de demonstrar hospitalidade, porque alguns, sem o saber, hospedaram anjos. 3 Lembrem-se dos que estão na prisão, como se vocês mesmos estivessem presos. Lembrem-se dos que são maltratados, como se sofressem os maus-tratos em seu próprio corpo.
2. A ressurreição na prática cultiva pureza sexual
Hb 13.4 | Honrem o casamento e mantenham pura a união conjugal, pois Deus certamente julgará os impuros e os adúlteros.
3. A ressurreição na prática desenvolve contentamento em Deus
Hb 13.5-6 | 5 Não amem o dinheiro; estejam satisfeitos com o que têm. Porque Deus disse: “Não o deixarei; jamais o abandonarei”. 6 Por isso, podemos dizer com toda a confiança: “O Senhor é meu ajudador, portanto não temerei; o que me podem fazer os simples mortais?”.
4. A ressurreição na prática busca encorajamento nos exemplos de fé
Hb 13.7-8 | 7 Lembrem-se de seus líderes que lhes ensinaram a palavra de Deus. Pensem em todo o bem que resultou da vida deles e sigam seu exemplo de fé. 8 Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre.
5. A ressurreição na prática preserva a sã doutrina
Hb 13.9 | Portanto, não se deixem atrair por ensinos novos e estranhos. A força de vocês vem da graça de Deus, e não de regras sobre alimentos, que em nada ajudam aqueles que as seguem.
Realmente, são muitos os ensinos estranhos que existem fora desta nossa comunhão. Nem cabe aqui destacá-los. São diversos e alguns até delirantes. No desespero de encontrar força para viver, as pessoas buscam todo tipo de doutrina e deturpação.
Circulava entre os leitores de Hebreus todo tipo de ensinamento estranho que pervertia a verdade e podia desviá-los do evangelho. Uma dessas era a ideia de que só progredia na vida cristã quem comesse certo alimento sacrificial. Tal ideia certamente era uma perversão de determinado texto de Levítico, que dizia que após o sacrifício o adorador comia partes do animal ofertado. Mas, essa ideia pervertia o evangelho. Não apenas por deturpar Levítico, mas principalmente por anular a obra de Jesus.
O que fortalece o crente não são rituais e práticas religiosas, não são simpatias, esoterismo nem comidas especiais, mas fé na graça de Deus, conforme a revelação bíblica.
Gl 3.5 | Volto a perguntar: acaso aquele que lhes deu o Espírito e realizou milagres entre vocês agiu assim porque vocês obedeceram à lei ou porque creram na mensagem que ouviram?
Sem fé na graça de Deus é impossível agradar a Deus (Hb 11.6). Portanto, a espiritualidade sustentável ou a ressurreição na prática, defende a doutrina fora do domingo, pois a doutrina correta nos leva a fazer uso dos meios adequados para a nossa sobrevivência e a glória de Deus.
6. A ressurreição na prática leva o culto para fora do culto
Hb 13.10-11 | 10 Temos um altar do qual os sacerdotes no tabernáculo não têm direito de comer. 11 O sumo sacerdote traz o sangue dos animais para o lugar santo como sacrifício pelo pecado, enquanto o corpo dos animais é queimado fora do acampamento.
Perceba a dinâmica entre o dentro e o fora. Os leitores de Hebreus estavam tentados a voltar à religiosidade judaica e a repugnar tudo o que estava lá fora — inclusive o sacrifício de Cristo. Por isso o autor diz que o sangue aspergido dentro do Santo dos Santos só terá eficácia se os corpos dos animais forem queimados fora do acampamento.
O culto que prestamos aqui dentro só ganha legitimidade se tiver continuidade na vida lá fora. Não adianta cantar aqui se lá fora não há alegria. Não adianta cear à mesma mesa aqui se lá fora as relações estão rompidas. Não adianta pregar a graça aqui dentro se lá fora eu não exerço graça. Não adianta ser santo aqui se lá fora eu sou mais um na multidão… e assim por diante.
Nosso culto aqui dentro deve ser, sobretudo, afirmado lá fora (em casa, no trabalho, nas relações). A ressurreição na prática leva o culto para fora do culto.
7. A ressurreição na prática vive a identidade fora da igreja
Hb 13.12 | Da mesma forma, Jesus sofreu fora das portas da cidade, para santificar seu povo mediante seu próprio sangue.
É fora que começa a verdadeira santidade. Foi fora que Jesus viveu vida santa e comprou santidade para nós. Da festa de casamento em Caná, passando pelo banquete na casa de Mateus, até o culto no templo e na sinagoga, a identidade de Jesus era sempre a mesma.
Quem vive a ressurreição na prática faz opção de ser não aquilo que o mundo quer que ele ou ela seja, nem o que os desejos humanos tantas vezes projetam, mas aquilo que de fato devemos ser na presença de Deus. Vive-se, assim, a identidade cristã fora da igreja, pois, dentro ou fora, estamos todos continuamente na presença de Deus.
8. A ressurreição na prática prega a salvação fora do sistema
Hb 13.12-13 | 12 Jesus sofreu fora das portas da cidade, […] 13 Portanto, vamos até ele, para fora do acampamento, […]
O que temos aqui é muito forte. Parece que Hebreus nos sugere que o verdadeiro encontro com Cristo acontece, não dentro, mas fora.
Sabemos, no entanto, que se encontra com ele na igreja sim, mas também lá fora, no vai e vem, na rua, na esquina, no trabalho, nas atividades diárias. Jesus não pode ser encontrado apenas na igreja. Ele é maior que a igreja, que a liturgia, que as tradições. Jesus é encontrado quando alguém o busca, seja aqui dentro, seja também lá fora.
A ressurreição na prática prega a salvação fora do sistema. Ela se empenha em apresentar Jesus lá fora. Ela sabe que não precisa, primeiro, trazer para dentro. Pode-se falar de Jesus e discipular na vida cristã lá fora. Portanto, pregue a salvação fora do sistema.
9. A ressurreição na prática enfrenta o combate fora do cerco
Hb 13.12-13 | 12 Jesus sofreu fora das portas da cidade, […] 13 Portanto, vamos até ele, para fora do acampamento, e soframos a mesma desonra que ele sofreu.
O grande sofrimento de Jesus e sua maior desonra foram suportados do lado de fora das portas da cidade; e ele espera que os nossos aconteçam lá fora também. Isso significa que as nossas “boas brigas”, os nossos “bons combates” não devem ser aqui dentro, uns contra os outros, mas lá fora, todos juntos contra as hostes do mal.
A espiritualidade sustentável, a ressurreição na prática enfrenta o combate fora do cerco.
10. A ressurreição na prática vive de fé e esperança, praticando amor
Hb 13.14-16 | 14 ESPERANÇA Pois não temos neste mundo uma cidade permanente; aguardamos a cidade por vir. 15 FÉ Assim, por meio de Jesus, ofereçamos um sacrifício constante de louvor a Deus, o fruto dos lábios que proclamam seu nome. 16 AMOR E não se esqueçam de fazer o bem e de repartir o que têm com os necessitados, pois esses são os sacrifícios que agradam a Deus.
11. A ressurreição na prática vive a vida de igreja
Hb 13.17-25 | 17 Obedeçam a seus líderes e façam o que disserem. O trabalho deles é cuidar de sua alma, e disso prestarão contas. Deem-lhes motivo para trabalhar com alegria, e não com tristeza, pois isso certamente não beneficiaria vocês.
18 Orem por nós, pois nossa consciência está limpa e desejamos viver de forma honrada em tudo que fazemos. 19 Orem especialmente para que eu volte e possa vê-los em breve.
20 E, agora, que o Deus da paz, que trouxe de volta dos mortos nosso Senhor Jesus, o grande Pastor das ovelhas, e confirmou uma aliança eterna com seu sangue, 21 os capacite em tudo que precisam para fazer a vontade dele. Que ele produza em vocês, mediante o poder de Jesus Cristo, tudo que é agradável a ele, a quem seja a glória para todo o sempre! Amém.
22 Suplico a vocês, irmãos, que prestem atenção naquilo que lhes escrevi nesta breve exortação. 23 Quero que saibam que nosso irmão Timóteo já saiu da prisão. Se ele vier em breve, eu o levarei comigo quando for vê-los.
24 Transmitam minhas saudações a todos os seus líderes e a todo o povo santo. Os irmãos da Itália também mandam lembranças.
25 Que a graça de Deus seja com todos vocês.
Aprendemos neste texto o quanto a vida de igreja é indispensável. Nela há: pastoreio, intercessão, doutrina, comunhão, adoração, exortação, prestação de contas e benção.
A ressurreição na prática vive a vida de igreja.
A ressurreição na prática
Como está a sua vida? Sua vida bate com essa vida de ressurreição? Você já provou da ressurreição? Creia em Cristo e viva a ressurreição na prática. Será revolucionário.
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