16.10.2022
[Gênesis 1.1-2] 1No princípio, Deus criou os céus e a terra. 2A terra era sem forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas, e o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas.
Antes de mergulharmos de cabeça no texto de Gênesis, estamos tomando uma estrada bem mais longa em termos de introdução. Essa jornada – eu sei! – , para alguns de vocês, não encanta. Só que é necessária. Bastante necessária!
A TEORIA DA EVOLUÇÃO se tornou o credo que está sendo pregado, a verdade absoluta que está sendo apresentada, o dogma – doutrina certa e indiscutível – nas escolas e nas universidades do Ocidente – e o Brasil não está de fora desta doutrinação. Darwin, com toda a influência destrutiva da teoria da evolução, arrebentou com o pensamento moderno. Pensem comigo [perdoem-me se me faço repetitivo, mas é necessário], — estou aqui me valendo de observações tecidas por Wayne Grudem em seu excelente capítulo sobre “A Criação” na 2a edição de sua Teologia Sistemática — reflitam.
SE EFETIVAMENTE A VIDA NÃO FOI CRIADA POR DEUS, e se os seres humanos em particular não foram criados por Deus e não prestam contas a ele, se os seres humanos são meramente o resultado de acontecimentos aleatórios no universo, qual é, então, o significado da vida humana? Somos apenas o resultado da soma de matéria mais tempo mais chance (possibilidade, probabilidade ou destino; nesse caso, destino é Deus). Assim, imaginar que temos alguma importância eterna, ou realmente qualquer importância neste universo imenso, é simplesmente ilusório. Uma reflexão franca sobre essa teoria deveria levar as pessoas a um profundo senso de desespero – que é a conclusão sincera do niilismo [i.e., aniquilação da existência, existência sem sentido] e da filosofia existencialista [i.e., a existência ou a experiência, não a essência, define o indivíduo].
Além disso, se tudo na vida pode ser explicado pela teoria da evolução independentemente de Deus, e se não há Deus que nos criou (ou pelo menos se não podemos saber com certeza qualquer coisa sobre Deus), então não há um Juiz supremo diante de quem somos moralmente responsáveis. Portanto, não há absolutos morais na vida humana, e as ideias morais das pessoas não passam de preferências subjetivas de classes dominantes, talvez boas para elas, mas que não devem ser impostas a outros – p.ex., nos movimentos pró-aborto (oriundos do feminismo), o que mais se ouve são frases de efeito do tipo: “Não imponha seu credo ao meu corpo! Meu corpo, minhas regras!”. Na verdade, no caso da teoria da evolução levada às vias públicas, a única coisa proibida é se afirmar que se sabe que certas coisas são de fato certas e que outras são de fato erradas – hoje, essa é uma queixa comum contra os cristãos (e mesmo entre eles!).
Há mais uma consequência nefasta decorrente da teoria da evolução: se os processos inevitáveis da seleção natural continuam a trazer melhorias nas formas de vida na terra por meio da sobrevivência dos mais aptos, então por que deveríamos atrapalhar esse processo ao cuidar dos que são fracos ou menos aptos para se defenderem? Por que vacinas, por que antibióticos, por que analgésicos e antidepressivos? Por que imunossupressores? Por que anticorpos monologais? Não seria melhor deixar os mais fracos morrerem sem se reproduzirem para assim se avançar para uma forma nova e superior de humanos, até mesmo uma “raça superior”? Na verdade, Marx, Nietzsche e Hitler justificaram a luta de raças e de classes com base na teoria da evolução de Charles Darwin.
Outra coisa séria: se os seres humanos estão continuamente evoluindo para melhor, então a sabedoria das gerações anteriores (em particular das crenças religiosas antigas, a fé judaico-cristã) provavelmente não é tão valiosa quanto o pensamento “científico” ou social moderno. Além disso, o efeito da evolução darwiniana sobre a opinião de muitas pessoas no que diz respeito à confiabilidade da Bíblia tem sido bastante negativa. — Inda mais: — Teorias sociológicas e psicológicas contemporâneas que enxergam os seres humanos simplesmente como formas mais desenvolvidas de animais são mais um resultado do pensamento evolucionista. E, por exemplo, os extremos do movimento moderno dos “direitos dos animais” que se opõe ao abate de animais (para alimento, para vestimentas de couro ou pesquisas médicas) também decorrem naturalmente do pensamento evolutivo. É óbvio que não estamos estimulando maus-tratos de animais, tampouco caças e pescas predatórias de espécies, pois conhecemos o que está escrito, por exemplo, em Provérbios 12.10 — “O justo cuida de seus animais, mas os perversos são sempre cruéis.” Entretanto, a Bíblia Sagrada nunca foi contra o uso de animais para a sobrevivência dos seres humanos, muito pelo contrário, o que se lê – no mesmo livro de Provérbios – é sobre o cultivo responsável para o benefícios dos homens:
Provérbios 27.23-27 23Tome conhecimento do estado de suas ovelhas e dedique-se a cuidar de seus rebanhos, 24pois a riqueza não dura para sempre, e pode ser que a coroa não passe para a geração seguinte. 25Depois de recolhido o feno, geminada a nova plantação e reunido o capim dos montes, 26os carneiros darão lã para suas roupas e os bodes poderão ser vendidos pelo preço de um campo. 27Você terá leite de cabra suficiente para si, para sua família e para suas servas.
As influências extremamente destrutivas que a teoria da evolução tem tido sobre o pensamento moderno precisam ser combatidas com coragem e coerência bíblico-científica, sem, contudo, perder-se a devida caridade cristã. É o que estamos tentando fazer nesta longa – mas necessária – introdução ao nosso estudo do livro de Gênesis.
Semana passada nós argumentamos que estamos em busca de uma estrutura bíblica de pensamento para encarar e enfrentar esta situação. Dissemos que a teoria da evolução não é a única teoria vigente. O evolucionismo é apenas a visão dominante e, portanto, é aquela com a qual qualquer discussão sobre a teoria das origens deve começar.
Pois bem…
A EVOLUÇÃO ATEÍSTA não é para os cristãos uma teoria possível para se explicar as origens da vida e do universo. Entretanto, não se deve descartar a teoria da evolução apenas porque é ateísta [o que em si já seria enorme problema]. Descartamos a teoria da evolução também porque o modelo evolutivo não passa pelo crivo da própria ciência. Semana passada nós apresentamos alguns poucos argumentos, mas me permitam recapitulá-los e acrescê-los de algumas objeções científicas à teoria darwiniana de evolução. Antes, porém, eu quero fazer alguns esclarecimentos importantes.
TEORIAS PURAMENTE SECULARES SOBRE A CRIAÇÃO são claramente inconsistentes com o ensino das Escrituras. Tais teorias, portanto, deveriam ser inaceitáveis para aqueles que creem na Bíblia. Uma teoria “secular” é qualquer teoria da origem do universo e da origem da vida que não vê um Deus infinito-pessoal como responsável pela criação direta e ativa do universo por design inteligente. Assim, a teoria do “big-bang” (em uma forma secular na qual Deus é excluído) – ou teorias que supõem que a matéria sempre existiu – são inconsistentes com o ensino da Bíblia de que Deus criou o universo do nada e que ele o fez para sua própria glória.
Outra coisa…
A PALAVRA “EVOLUÇÃO” pode ser usada de diferentes maneiras. Às vezes ela é utilizada para se referir à microevolução – i.e., pequenos desenvolvimentos no âmbito de uma única e mesma espécie, os quais explicam, por exemplo, por que moscas ou mosquitos ou baratas se tornam imunes a inseticidas; ou porque os seres humanos ficam mais altos ou mais baixos, têm tons e cores diferentes de pele, tipos diferentes de cabelos; ou por que se desenvolvem rosas de diferentes cores e variedades… Inúmeros exemplos de microevolução são evidentes hoje, e ninguém nega que exista. Phillip E. Johnson, por exemplo, em seu livro indispensável – Darwin no banco dos réus (editora Cultura Cristã) – salienta que alguns estudos frequentemente reivindicados como evidências da evolução são na verdade apenas diferenças populacionais temporárias da mesma espécie sem qualquer mudança genética. De fato, nenhuma mudança evolutiva teria ocorrido. O que realmente houve foi microevolução no âmbito da mesma espécie (p.ex., mariposas brancas e pretas, mas ainda mariposas; cavalos pretos e brancos, mas ainda são cavalos); microevolução para preservação da identidade genética em diferentes circunstâncias, em vez de evolução para outra espécie ou extinção da espécie mais fraca para dar lugar a uma mais evoluída; microevolução, portanto, como evolução de capacidade dentro da mesma espécie.
A questão, no entanto, é que o sentido dado ao termo evolução é geralmente no contexto da discussão de teorias de criação e de evolução. Assim, o termo evolução é mais comumente usado para se referir à macroevolução – i.e., a teoria geral da evolução, ou o que às vezes é chamado de teoria evolutiva neodarwiniana (“neo-” significa “novo”, então “evolução neodarwiniana” se refere à forma moderna e mais refinada da teoria da evolução de Darwin).
O problema é que A TEORIA NEODARWINIANA continua fundamentalmente semelhante à posição original de Darwin, com pequenos refinamentos e modificações devido a mais de 100 anos de pesquisa. Na teoria da evolução darwiniana moderna, A HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DA VIDA começou quando uma mistura de substâncias químicas presentes na terra produziu espontaneamente uma forma de vida muito simples, provavelmente unicelular. Essa célula viva se reproduziu e, eventualmente, houve algumas mutações ou modificações nas novas células produzidas. Essas mutações levaram ao desenvolvimento de formas de vida mais complexas. O ambiente hostil implicava que muitos deles pereceriam, mas aqueles que fossem mais adequados ao seu ambiente sobreviveriam e se multiplicariam. Assim, a natureza exerceu um processo de “seleção natural” no qual sobreviveram os diferentes organismos mais adaptados ao ambiente. Mais e mais mutações acabaram se desenvolvendo em mais e mais variedades de seres vivos, de modo que, a partir do organismo mais simples, todas as formas de vida complexas da terra acabaram se desenvolvendo por meio desse processo de mutação aleatória e seleção natural. ISSO É MACROEVOLUÇÃO. Portanto, quando utilizamos o termo evolução, referimo-nos à macroevolução ou à teoria geral da evolução neodarwiniana.
ANTES DE MERGULHARMOS NA TEORIA DA EVOLUÇÃO TEÍSTA, o que faremos, Deus permitindo na segunda parte desta mensagem, na semana que vem ou depois, veja bem, é necessário apresentar com mais alguns detalhes as OBJEÇÕES CIENTÍFICAS cada vez mais persuasivas à teoria da evolução neodarwiniana – porque, ao assim procedermos, estaremos também apresentando argumentos científicos contrários à teoria da evolução teísta. A principal diferença entre os evolucionistas teístas e os evolucionistas ateístas ou darwinianos ou neodarwinianos é que os teístas creem que Deus, especificamente o Deus da Bíblia, está guiando o processo evolutivo, enquanto os ateístas, darwinianos ou neodarwinianos atribuem desenvolvimentos idênticos ao acaso, não a Deus. Outra maneira de se colocar essa questão seria dizer que o Deus da evolução teísta é o Deus das lacunas deixadas pelo acaso dos ateístas. — Mas será mesmo?
NA MENSAGEM DE DOMINGO PASSADO nós apontamos alguns dos grandes problemas com a teoria da evolução ateísta ou darwiniana ou neodarwiniana – isto é, a teoria evolucionista não consegue explicar [1.] a origem da matéria, [2.] a forma da matéria, [3.] o surgimento da vida e [4.] o aparecimento da personalidade ou da consciência de Deus no homem. O evolucionista teísta, por sua vez, introduziria Deus nesses pontos – ou seja: Deus criou a matéria e a vida e a consciência (i.e., alma ou espírito). — O problema, no entanto, não se resolve, pois o evolucionista teísta terá que conceber as origens das coisas exatamente como sua contraparte ateísta as concebe. E tanto pela Bíblia como pela ciência a teoria da evolução não se sustenta. Logo, também não se sustenta a teoria da evolução teísta.
Nomes de peso da teologia reformada, fundamentalista e evangélica olharam e ainda olham para A TEORIA DA EVOLUÇÃO TEÍSTA COMO UM POSSIBILIDADE – por exemplo: o reformado Benjamin B. Warfield, o fundamentalista James Orr e os evangélicos N. T. Wright e John Walton. Vale, porém, destacar-se que nem Warfield nem Orr eram evolucionistas teístas, apesar de Orr ter chegado bem perto de endossar a teoria. Já N. T. Wright e John Walton chegam bem perto de abraçar a teoria evolucionista teísta como certa, se é que não a abraçam como verdade. Parece-me que sim, eles abraçam. Já Warfield e Orr viam a teoria da evolução teísta apenas como uma possibilidade.
UMA POSSIBILIDADE, NO ENTANTO, NÃO É UMA CERTEZA. É justo também dizer que, enquanto alguns bons crentes vêm razões para se apoiar no evolucionismo teísta, outros cristãos rejeitam essa abordagem. Um dos que a rejeitam é Davis Young, cuja própria posição é a teoria da criação progressiva (a que eu adoto e a qual conheceremos noutra mensagem). Young escreveu contra a evolução teísta dizendo que ela “conduz logicamente e em última análise à morte da fé genuinamente bíblica”. Seu livro sobre a criação e o dilúvio (escrito em 1977) traz um capítulo no qual a evolução teísta é especificamente estudada, e ele chama essa teoria de “uma casa construída sobre a areia”.
O QUE SE DEVE PENSAR DA EVOLUÇÃO TEÍSTA? Positivamente falando, podemos dizer que tem dois pontos importantes a seu favor. PRIMEIRO, A VERDADE É VERDADE ONDE QUER QUE SEJA ENCONTRADA, inclusive na ciência. Então, se a evolução é verdadeira, como os evolucionistas certamente acreditam, e se a Bíblia também é verdadeira, logo, algo na visão dos evolucionistas teístas deve ser verdadeira. Veja bem, isso não significa que a evolução seja verdadeira. Significa que devemos pelo menos perguntar se é verdade ou não o evolucionismo teísta, e se for verdade, devemos aprender com essa teoria. Cabe aqui lembrar de que muitas teorias da ciência já foram declaradas como anti-cristãs, mas agora são mantidas por ambos: cristãos e não-cristãos, sem aparentes efeitos nocivos para o cristianismo. — POR EXEMPLO: Galileu Galilei (séculos XV e XVI) abraçou a astronomia copernicana [a qual atestou que o centro do nosso sistema planetário é o sol e não a Terra], mas Galileu acabou sendo compelido por clérigos irados a se retratar. DA MESMA FORMA, no passado, houve cristãos que se opuseram à maioria dos avanços da medicina – analgésicos, anestésicos, cirurgias – achando que em os adotando estariam se opondo aos decretos de Deus. PARA SE TER UMA IDEIA, houve na história considerável número de cristãos que se opuseram até a dispositivos científicos como pára-raios, argumentando que o relâmpago era de Deus e que, se Deus escolhesse atingir um edifício, seria pecaminoso de nossa parte nos opormos a tal decreto. COMO CRISTÃOS, NO ENTANTO, temos de afirmar que a verdade é verdade onde quer que seja encontrada.
O SEGUNDO ARGUMENTO A FAVOR DA EVOLUÇÃO TEÍSTA é que Deus parece sim trabalhar em outras áreas da vida de acordo com esse padrão da teoria. A evolução teísta postula um universo que opera de acordo com leis fixas e universais nas quais, no entanto, Deus às vezes se intromete: como na criação da vida a partir da não-vida ou na implantação da consciência de Deus no homem. O evolucionista teísta poderia argumentar mais ou menos assim: “Não é exatamente isso que vemos na vida em geral ou, aliás, na história registrada para nós na Bíblia? Na maior parte, a história de Israel e da igreja flui naturalmente. Líderes surgem, fazem suas coisas e depois morrem dando lugar a outros governantes. É apenas ocasionalmente que Deus intervém milagrosamente. Ver esse padrão em ação na evolução é bíblico. É o que devemos esperar com base no que sabemos da história cristã.”
PORTANTO, ESTES SÃO DOIS PONTOS POSITIVOS para a teoria da evolução teísta: [1.] toda verdade é verdade de Deus; e [2.] Deus age seguindo leis fixas que ele mesmo estabeleceu e, vez por outra, intervém com milagres. Isso é sim verdade, mas será que torna a teoria da evolução teísta verdadeira? Não necessariamente! Há também pontos fracos significativos nessa teoria, para os quais ninguém, sobretudo o cristão, deve ser cego. Uma possibilidade não é uma certeza.
S.D.G. L.B.Peixoto
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