16.05.2021
[João 15.1-8] 1“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. 2Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta. Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que produza ainda mais. 3Vocês já foram limpos pela mensagem que eu lhes dei. 4Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Pois, assim como um ramo não pode produzir fruto se não estiver na videira, vocês também não poderão produzir frutos a menos que permaneçam em mim. 5“Sim, eu sou a videira; vocês são os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, produz muito fruto. Pois, sem mim, vocês não podem fazer coisa alguma. 6Quem não permanece em mim é jogado fora, como um ramo imprestável, e seca. Esses ramos são ajuntados num monte para serem queimados. 7Mas, se vocês permanecerem em mim e minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e isso lhes será concedido! 8Quando vocês produzem muitos frutos, trazem grande glória a meu Pai e demonstram que são meus discípulos de verdade.
É muito comum se fazer referência à relação de alguém com Jesus nos termos de um “relacionamento pessoal”. Aliás, entre crentes, essa forma de se referir ao cristão se tornou uma espécie de vernáculo ou idioma contemporâneo evangélico. Na verdade, pode ser esse o modo como você mesmo faz a distinção entre o não-cristão (ou o cristão-nominal) e o cristão-genuíno. Costuma-se dizer a alguém: “Bem, você pode ir à igreja e fazer isto ou aquilo, participar das ordenanças, dizimar, ofertar, servir e tudo o mais, mas você precisa ter um ‘relacionamento pessoal’ com Jesus Cristo. Do contrário, tudo será vão.”; ou ainda perguntar para conferir: “Você tem um ‘relacionamento pessoal’ com Cristo?” Convenhamos, essa é uma linguagem bastante comum entre a gente, mas que precisa de qualificação. Assim do modo como está, ela é, no mínimo, incompleta.
Pense bem. Todo ser humano, qualquer ser humano tem um relacionamento pessoal com Cristo, e para a maioria deles não é boa tal convivência. Estamos nos referindo à relação entre o condenado e o Juiz. Jesus conhece cada ser humano de modo pessoal e íntimo – cada pensamento que qualquer um de nós já teve, está tendo e ainda terá, cada motivação do coração, palavra que falamos, ação que praticamos, relacionamento em que nos envolvemos. Tudo isso está registrado no céu, e com base nesse registro virá o julgamento para aqueles que não creram para a salvação. É tudo muito pessoal. Cada pessoa será julgada em uma base pessoal e individual pelo justo Juiz, que é o Senhor Jesus Cristo.
Percebeu? Relacionamento com Jesus todo mundo tem, relacionamento pessoal (inclusive!): uns para a salvação, outros para a condenação. Simples assim.
Há uma maneira melhor, mais biblicamente precisa, de se aferir a legitimidade de um relacionamento genuíno, salvífico com Cristo do que meramente dizer que se tem “um relacionamento pessoal com Jesus” ou indagar alguém: “Você tem um relacionamento pessoal com Jesus?” Ora, todo mundo tem! De um jeito ou de outro se tem. Para o bem ou para o mal, todos temos algum relacionamento com Jesus.
Em que pese sabermos o que se quer dizer com essa expressão (i.e., Jesus é o seu Salvador pessoal?), nós precisamos ir além, clarear esse sentido, pois essa não é uma categoria bíblica precisa (inda mais nesses dias de tanta banalização quanto ao significado de se “relacionar”). Então, qual é a natureza do verdadeiro relacionamento entre o cristão e o Cristo? Quem é o crente de verdade? Como ele se relaciona com Deus?
A Bíblia nos ajuda a responder a essas questões dando-nos uma série de analogias. Há na Escritura a referência ao relacionamento do crente com Deus ou o Cristo, por exemplo, como o relacionamento entre filho e Pai, ovelha e Pastor, súdito e Rei, escravo e Senhor, corpo e Cabeça, noiva e Noivo, adorador e Cordeiro substituto… E todas elas transmitem algum aspecto de nosso relacionamento com o Senhor: justificação, cuidado, intimidade, dependência, submissão, direção, obediência, provisão, proteção, alimentação etc. Todas essas coisas e muito mais estão vinculadas a essas metáforas.
Diante de nós hoje, no décimo quinto capítulo de João, está outra daquelas metáforas muito instrutivas, a qual nos mune de vocabulário mais preciso, capacitando-nos a definir com terminologias bíblicas mais exatas o relacionamento do cristão com Cristo. Jesus nos apresenta a metáfora da videira, do viticultor, dos ramos e dos frutos bem aqui no meio de seu discurso de despedida para deixar claro o significado da vida cristã, descrever de modo inconfundível quem é o verdadeiro cristão, apresentar qual é o propósito da vida do cristão e revelar como o cristão conseguirá viver a vida cristã. Com efeito, o que temos neste texto é um tratado da relação entre ramos frutíferos e uma videira sob os cuidados de um viticultor.
Portanto, voltaremos nossa atenção mais uma vez a João 15.1-8 para aprendermos sobre A VIDA NA VIDEIRA; isto é, para sabermos qual é a natureza da genuína conversão, a natureza da vida cristã verdadeira. Veremos os seguintes: [1] a vida começa na videira; [2] o trabalho do viticultor; e, na próxima mensagem, [3] a frutificação dos ramos.
Nós vimos na semana retrasada – sermão: A VIDEIRA VERDADEIRA – que, de todas as coisas que Cristo falou em João 15, nada é mais definitivo ou importante do que os primeiros oito versículos. Expressando-se por metáforas, fazendo analogias, o Senhor destacou o que há de mais fundamental na vida cristã: nossa união com Cristo para a glória de Deus na nossa frutificação pela fé. Está claro em João 15.1-2, 4-5 e 7-8:
1“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. 2Todo ramo que, estando em mim, […] 4Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Pois, assim como um ramo não pode produzir fruto se não estiver na videira, vocês também não poderão produzir frutos a menos que permaneçam em mim. 5“Sim, eu sou a videira; vocês são os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, produz muito fruto. Pois, sem mim, vocês não podem fazer coisa alguma. […] 7Mas, se vocês permanecerem em mim e minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e isso lhes será concedido! 8Quando vocês produzem muitos frutos, trazem grande glória a meu Pai e demonstram que são meus discípulos de verdade.
Percebeu?
É para estar bastante esclarecido qual é o ponto desses oito primeiros versículos de João 15: o verdadeiro cristão é aquele que está unido a Cristo, seu propósito de vida é a frutificação para a glória de Deus e o modo de se viver essa vida é pela fé (i.e., palavra, oração e fé) que nos une(m) a Cristo.
A vida começa e está na videira. Fora da videira (que é Cristo) não há vida, apenas morte (não há seiva de vida, tampouco há do que se alimentar) e, no final, condenação. Versículo 6: “Quem não permanece em mim é jogado fora, como um ramo imprestável, e seca. Esses ramos são ajuntados num monte para serem queimados.”
A pessoa, contrário do que se pensa e se busca obter, além de não ter vida em si mesma, não tem em si mesma o menor potencial, a menor condição para prosseguir vivendo do modo que agrade a Deus. Verso 5: “Sim, eu sou a videira; vocês são os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, produz muito fruto. Pois, sem mim, vocês não podem fazer coisa alguma.”
De fato, a vida para a qual o ser humano foi criado, a vida plena, abundante, realizada e frutífera que todos almejamos só é possível na união com Cristo. Versículo 8: “Quando vocês produzem muitos frutos, trazem grande glória a meu Pai e demonstram que são meus discípulos de verdade.”
Uma das mais belas doutrinas do cristianismo é a da união mística do pecador com Cristo. Os teólogos a chamam união mística porque tal união transcende, e muito, a todas as analogias das relações terrenas: [1] tanto na intimidade de sua conexão com Cristo [2] como no poder transformador de sua influência em nossa vida e [3] na excelência das consequências dessa união nesta e na vida além. De fato, Cristo é o Salvador de seu povo. Mas ele também é a fonte da vida, força e felicidade desse povo. Através dele (unidos a ele) é que obtemos [1] tanto a salvação (justificação) [2] como a santificação e [3] a satisfação necessárias para sermos apresentados com grande alegria e sem defeito ao próprio Deus glorioso no céu (Jd 24).
Pois bem, na noite da Páscoa, ao deixar o cenáculo, à caminho do jardim do Getsêmani, despedindo-se deles, Jesus ensinou a doutrina da união mística para os onze apóstolos que lhe restaram. Ele se preocupou com o desenvolvimento espiritual dos discípulos. Ordenou que fossem frutíferos. Cristo também revelou que é por meio da união ou da permanência nele pela fé que os verdadeiros discípulos recebem poder para frutificar para a glória de Deus. Dito de outro modo: a vida na videira começa na própria videira, essa é a vida do verdadeiro discípulos de Jesus Cristo, do verdadeiro crente. Esse é o tipo de relacionamento com Cristo que conta para o cristão: união com Cristo.
Semana passada – sermão: A OBRA DO VITICULTOR – nós dissemos que, na metáfora de Jesus, a videira é o próprio Cristo, e o Pai é o viticultor. Versículo 1: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.” Esse viticultor – à parte de preparar a terra, fertilizar o solo, plantar a videira, combater pestes e pragas e regá-la com água – tem duas responsabilidades primárias no cuidado da videira: cortar e podar ramos. Versículo 2: “Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta. Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que produza ainda mais.”
Desse modo, Jesus adiciona à metáfora da videira (que é ele mesmo) e dos ramos (que são seus discípulos) a metáfora do viticultor (que é seu Pai) para demonstrar o papel duplo do Pai na união de Cristo com seus discípulos para a frutificação. Ele [1] arranca da comunhão de seu povo os ramos infrutíferos e [2] ele apara os ramos frutíferos. Ele corta o que não tem vida e cultiva os vivos. Destrói o ímpio e disciplina o justo.
A obra de julgamento
Nós já vimos, na mensagem anterior, a obra de julgamento do viticultor. Versículo 2a: “Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto [falsos crentes, discípulos que não são discípulos de verdade], ele – o viticultor, o meu Pai – corta.” O Senhor Jesus estava preparando seus discípulos para dois grandes inimigos que sempre atacam a igreja: [1] os falsos crentes que a corroem de dentro para fora, e às vezes desertam e vão embora atirando na igreja (p.ex., Judas Iscariotes); e [2] a fornalha da perseguição que consome de fora para dentro (p.ex., a Paixão de Cristo que se avultava diante deles, seguida da perseguição da igreja no futuro próximo). Vimos o primeiro tipo de inimigo: o falso crente – em face do qual Jesus reagiu, dizendo: “Não tema, meu pequeno rebanho. Não pense que os desertores (os Judas Iscariotes e os falsos discípulos) terão sucesso. Eles serão cortados no devido tempo, jogados fora, ressecarão e serão queimados. O viticultor tem tudo sob controle. A igreja jamais será implodida! Não há cavalo de Tróia que a destrua.
A obra de disciplina
Se a obra de julgamento elimina os cavalos de Tróia com potencial de detonação da igreja, a obra de disciplina garante que as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja, na medida em que ela avança frutífera no mundo, no poder do Espírito Santo, espalhando o reino de Deus. João 15.6b: “Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que produza ainda mais.”
Em grego, o verbo podar (no versículo 2) é o mesmo verbo para limpar (kathairei). É tanto que o adjetivo limpos (no versículo 3 – “vocês já foram limpos”) tem a mesma raiz grega do verbo podar ou limpar (katharoi). Em outras palavras, é mais claro no original grego do que no português que Jesus está fazendo um jogo de palavras. O Pai poda, isto é, limpa (kathairei), os ramos para torná-los mais adequados para a produção de ainda mais frutos (v. 2). Mas lembrem-se (v. 3): “Vocês já foram limpos (katharoi) pela mensagem que eu lhes dei”. Vocês já foram limpos/podados, já estão adequados, equipados (v. 3); mas podem melhorar, por isso continuam sendo podados (kathairei), limpos (v. 2).”
Jesus já tinha usado essas palavras exatas (Jo 15.3), lá em João 13: “vocês estão limpos”. Jesus, lavando os pés dos discípulos, recebeu a objeção de Pedro: “Lavar os meus pés? De jeito nenhum!” (Jo 13.8). Jesus lhe respondeu (Jo 13.8): “Se eu não os lavar, você não terá comunhão comigo”. Isso é impressionante! Jesus estava dizendo: “Pedro, não há união entre mim e você, caso você se oponha à minha limpeza de seus pés!” Pedro replicou (Jo 13.9): “Senhor, então lave também minhas mãos e minha cabeça, e não somente os pés!” E Jesus triplicou (Jo 13.10): “A pessoa que tomou banho completo só precisa lavar os pés para ficar totalmente limpa. E vocês estão limpos” (essa é a mesma expressão de João 15.3 “vocês já foram limpos”). Em seguida, o Senhor acrescenta no mesmo versículo (Jo 13.10): “mas nem todos [estão limpos]”. João, então, insere uma nota de explicação (Jo 13.11): “Pois Jesus sabia quem o trairia. Foi a isso que se referiu quando disse: ‘Nem todos vocês estão limpos’”.
Mas qual é o ponto de Jesus em dizer que os discípulos já estavam limpos, totalmente limpos (Jo 13.10), já estavam podados e plenamente adequados, NO ENTANTO, deveriam ser lavados/podados de novo e de novo? Qual é o ponto de dizer que se alguém rejeita ser lavado/podado, tal pessoa não tem comunhão com Cristo, não está unida a Cristo? Jesus estava deixando claro que a pronta aceitação de ser lavado/podado (disciplina, santificação) é o sinal de que a pessoa já está lavada/podada (justificada).
O que é ser podado? O que é ser lavado?
A melhor exposição desta obra de poda, lavagem ou disciplina do Pai está, provavelmente, em Hebreus 12, onde se lê, do versículo 4 ao 13:
Hebreus 12.4-13 4Afinal, [na corrida da fé – sem pesos ou pecados, vs. 1-3] ainda não chegaram a arriscar a vida [não derramaram o sangue] na luta contra o pecado. 5Acaso vocês se esqueceram das palavras de ânimo que Deus lhes dirigiu como filhos dele? Ele disse: “Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor; não desanime quando ele o corrigir. 6Pois o Senhor disciplina quem ele ama e castiga todo aquele que aceita como filho”. 7Enquanto suportam essa disciplina de Deus, lembrem-se de que ele os trata como filhos. Quem já ouviu falar de um filho que nunca foi disciplinado pelo pai? 8Se Deus não os disciplina como faz com todos os seus filhos, significa que vocês não são filhos de verdade, mas ilegítimos. 9Uma vez que respeitávamos nossos pais terrenos que nos disciplinavam, não devemos nos submeter ainda mais à disciplina do Pai de nosso espírito e, assim, obter vida? 10Pois nossos pais nos disciplinaram por alguns anos como julgaram melhor, mas a disciplina de Deus é sempre para o nosso bem, a fim de que participemos de sua santidade. 11Nenhuma disciplina é agradável no momento em que é aplicada; ao contrário, é dolorosa. Mais tarde, porém, produz uma colheita de vida justa e de paz para os que assim são corrigidos. 12Portanto, revigorem suas mãos cansadas e seus joelhos enfraquecidos. 13Façam caminhos retos para seus pés a fim de que os mancos não caiam, mas sejam fortalecidos.
No contexto de Hebreus 12, a disciplina estava acontecendo por meio da perseguição por parte de perversos (Hb 12.4). E aqui em João 15.20, Jesus disse: “Vocês se lembram do que eu lhes disse: ‘O escravo não é maior que o seu senhor’? Uma vez que eles me perseguiram, também os perseguirão.” A poda seria pela perseguição.
A perseguição não é a única maneira pela qual o Pai corta e poda e limpa os ramos verdadeiros da videira, mas é uma maneira. E o que Jesus quer que vejamos é que nossa união com ele não será isolada das piores experiências externas desta vida. Antes, nossa união com Cristo será influenciada por essas experiências. A vida cristã não é para ser vivida em uma redoma que nos resguarda das aflições deste mundo – de fato, no mundo nós teremos aflições (Jo 16.33). Cristo quer que saibamos:
— “Nosso Pai, o viticultor, governa essas experiências dolorosas e amargas da vida. Perseguições, sofrimentos, calamidades e todo o tipo de aflições impostas pelos maus ou pela vida mesmo tocarão sim aos ramos, e não os tocarão à toa. Jamais serão sem objetivo ou aleatórios os sofrimentos. Serão sempre a obra do vinicultor, que tem um propósito bastante definido, a saber, mais frutos. João 15.2b: ‘Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que produza ainda mais.’”
Você não pode deixar de observar a dinâmica da vida na videira: a nossa experiência de união com Cristo (nossa permanência na videira) é energizada, intensificada e animada por experiências externas controladas pela boa mão da soberana providência do Pai. Existem grandes operações internas (experiências íntimas) em nossa união com Cristo por parte do Espírito Santo, do próprio Cristo e também do Pai em nós; mas aqui em João 15 o foco está no elemento externo dessa união. O viticultor (Deus Pai) não é a seiva nem a videira, mas seu trabalho de podar, cortar e cuidar tem uma influência profunda em nossa experiência com a seiva e a videira (Cristo).
Uma imagem de como isso funciona seria 2Coríntios 1.8-9. Paulo escreveu:
2Coríntios 1.8-9 8Irmãos, queremos que saibam das aflições pelas quais passamos na província da Ásia. Fomos esmagados e oprimidos além da nossa capacidade de suportar, e pensamos que não sobreviveríamos. 9De fato, esperávamos morrer. Mas, como resultado, deixamos de confiar em nós mesmos e aprendemos a confiar somente em Deus, que ressuscita os mortos.
NOTE: a permanência de Paulo em Cristo – em Deus – foi profundamente auxiliada por essa poda que quase o levou à morte. Portanto, o ponto principal de João 15.2 é duplo: Jesus está preparando seus discípulos [1] para a profanação de dentro (esses profanos ele mesmo corta, v. 2 e lança fora, v. 6) e [2] para a perseguição ou perturbações de fora (essas aflições ele mesmo dosa e usa para podar [v. 2] os ramos limpos [v. 3] para que deem ainda mais frutos). Cristo está encorajando e animando ao dizer que o Pai – o viticultor – está no controle de ambos. Nenhum traidor ou profano escapará, e todas as nossas dores ou dificuldades servirão profundamente ao prazer da união com Cristo.
A poda pela provação e a palavra de Deus
Sabemos que Deus poda, e que ele poda através das provações, da disciplina. Mas na prática, como isto acontece?
PRIMEIRO, O VITICULTOR NOS LIMPA PELAS PALAVRAS DO EVANGELHO. João 15.2b-3: “Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que produza ainda mais. Vocês já foram limpos pela mensagem [grego: logos] que eu lhes dei.” Logos ou mensagem (no versículo 3) representa toda a mensagem de Jesus, do evangelho de Jesus expresso aqui no Evangelho de João – isto é: Cristo sendo o Filho eterno de Deus (1.1-3), sua vinda entre nós na carne, Deus em corpo humano (1.14), seu ser sem pecado (8.46), seu morrer por suas ovelhas (3.15; 10.17), sua ressurreição dos mortos (10.18). Crer nesta “mensagem” é o que conecta uma pessoa a Cristo. Crer nesta “mensagem” é a união que Deus cria entre o ramo e a videira, entre o discípulo e Jesus. E no instante dessa união, o discípulo está completamente limpo. Totalmente podado.
Eis a seguir uma das declarações mais claras em todo este Evangelho sobre o que aconteceu com você se você for um verdadeiro discípulo (não como Judas Iscariotes, que não era totalmente limpo). João 5.24: “Eu lhes digo a verdade: quem ouve minha mensagem e crê naquele que me enviou tem a vida eterna [uniu-se à videira verdadeira]. Jamais será condenado [jamais será cortado da videira], mas já passou da morte para a vida [foi totalmente podado, está absolutamente limpo].” Já passou da morte para a vida!
Se você acha que é surpreendente Jesus dizer a Pedro: “Você já está completamente limpo” (Jo 13.10); e dizer aos ramos: “Vocês já foram limpos ou podados” (Jo 15.3), considere como é surpreendente ouvi-lo dizer (em Jo 5.24) a respeito de todos os verdadeiros crentes: “Vocês já passaram da morte para a vida. Vocês não entrarão em julgamento, porque vocês já passaram pelo julgamento em Cristo. Vocês já estão do outro lado do julgamento. Vocês nunca serão cortados da videira e queimados no fogo.” Isso é maravilhoso! Então, [1] o viticultor nos limpa pela mensagem do evangelho.
SEGUNDO, O SOFRIMENTO ESTÁ A SERVIÇO DA PALAVRA DO EVANGELHO. A palavra do evangelho é que limpa para a vida eterna; e é essa mesma palavra ou mensagem que limpa e poda para a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12.14). O viticultor tem uma faca ou tesoura de poda. Mas, o que exatamente é essa faca? João 15.3 responde a essa questão: “Vocês já foram limpos pela mensagem [pela palavra que vos tenho falado, ARA]”. A fé do crente nasceu de ele ouvir a palavra. O cristão verdadeiro foi salvo por crer na palavra. Foi a palavra da verdade que gerou vida no verdadeiro discípulo. Os cristãos, portanto, são revividos, nutridos e podados pela palavra de Cristo.
Em última análise, não são as aflições em si que são a faca de poda, a palavra de Deus que é a faca. Hebreus 4.12: “Pois a palavra de Deus é viva e poderosa. É mais cortante que qualquer espada de dois gumes, penetrando entre a alma e o espírito, entre a junta e a medula, e trazendo à luz até os pensamentos e desejos mais íntimos.” Deus corta fora ramos mortos e poda ramos vivos para a frutificação pela lâmina da palavra.
O Pai é o viticultor, ele é disciplinador. Ele tem a lâmina da palavra em sua mão para nos podar. Mas o Pai é também aquele que, em soberana e tantas vezes amarga providência, traz as provações, os problemas que nos perfuram fundo. No entanto, é a palavra o verdadeiro instrumento cortante, porque quando vem a provação e reagimos mal, a palavra nos convence, traz-nos de volta ao trilho da fé. A palavra poda nosso desrespeito pelos propósitos de Deus. A palavra poda nosso orgulho e nossa hostilidade. A palavra poda nossa raiva. A Palavra poda nossos questionamentos e nos acusa, e consola e conforta. As provações, de fato, são o cabo da faca. A lâmina é a palavra de Deus. O Pai traz a provação e a lâmina é a palavra de Deus. A palavra de Deus é a faca.
Ouça como Charles H. Spurgeon explicou isso:
É a Palavra que poda o cristão. É a verdade que o purifica. A Escritura tornada viva e poderosa pelo Espírito Santo, eventualmente e efetivamente, limpa o cristão. A aflição é o cabo da faca. A aflição é a pedra de amolar que amola e afia a faca. Mas a faca é a palavra. A aflição é o instrumentador. A aflição é aquele que tira nossas vestes cirúrgicas, desnuda a carne doente e passa o bisturi ao cirurgião que fará o corte. Aflição nos prepara para a faca, para sentir a poda da palavra de Deus. O viticultor é Deus. A aflição é o cabo da lâmina e a ocasião do corte. Mas a poda, a poda é feita pela lâmina da Escritura. A palavra de Deus é a faca que corta. Por quê? Para que produzamos mais frutos. Quanto mais você conhece a palavra, quanto mais você a ama, melhor você reage às provações e tanto mais você permite que a faca, na mão do viticultor, faça seu trabalho.
Em um dos parágrafos mais lindos do Salmo 119 nós encontramos o salmista descrevendo o papel da aflição e da palavra de Deus na poda que Deus faz nos seus filhos para que eles deem ainda mais frutos. Leia comigo, e não deixe de notar que a aflição é o cabo e a palavra de Deus é a lâmina da faca que poda:
Salmo 119.65-72 65Muitas coisas boas me tens feito, SENHOR, como prometeste. 66Ensina-me bom senso e dá-me conhecimento, pois creio em teus mandamentos. 67Antes de me disciplinares, eu vivia desviado; agora, porém, sigo tua palavra de perto. 68Tu és bom e fazes somente o bem; ensina-me teus decretos. 69Os arrogantes mentem a meu respeito, mas eu obedeço às tuas ordens de todo o coração. 70O coração deles é tolo e insensível, mas eu tenho prazer em tua lei. 71O sofrimento foi bom para mim, pois me ensinou a dar atenção a teus decretos. 72Tua lei é mais valiosa para mim que milhares de peças de ouro e de prata.
Adiante, neste mesmo salmo, nós lemos (Sl 119.143): “Quando aflição e angústia pesam sobre mim, encontro prazer em teus mandamentos.”
O Pai não está perdendo seu tempo
O Pai não está perdendo tempo quando ele poda e disciplina você (e a mim). Vãos são os raciocínios que dizem algo do tipo: “Bem, se eu estou limpo e podado, e já passei do julgamento, então não preciso de qualquer disciplina do Pai. Para quê? Por quê?” Ora, aqueles que pensam ou falam dessa maneira ouvirão a mesma repreensão de Jesus a Pedro: “Se eu não te lavar, você não terá comunhão comigo” (Jo 13.8). Se o Pai não podar você, você não está limpo. Você não é discípulo. Discípulos de verdade se submetem à poda do Pai com o fim de que frutifiquem ainda mais para a glória do Pai.”
De fato, João 15.8: “Quando vocês produzem muitos frutos, trazem grande glória a meu Pai e demonstram que são meus discípulos de verdade.” O Pai nunca perde tempo com a poda diária na vida de seus discípulos. Ele os está salvando, santificando, satisfazendo e, assim, mantendo-os frutíferos de múltiplas maneiras que, no final, comprovarão que são reais e que trarão grande glória a seu nome.
Portanto, não resmungue da obra do viticultor em sua vida. Prove que você é um verdadeiro discípulo, que você é um verdadeiro crente, que você é um verdadeiro ramo da videira, submetendo-se à poda e à limpeza. O ponto de João 15.3 – “Vocês já foram limpos pela mensagem que eu lhes dei” – é este: aceite a poda (Jo 15.2)! Por quê? Porque você está completamente limpo, já foi podado, já é um verdadeiro discípulo (Jo 15.3) – e precisa ser santificado para a frutificação (Jo 15.2, 8)!
Paulo escreveu sobre essas podas necessárias na vida dos que já foram podados por Deus em 1Coríntios 5.7: “Livrem-se do fermento velho, para que sejam massa nova, sem fermento, o que de fato são. Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado.” Noutra carta, o mesmo apóstolo escreveu, Filipenses 3.12: “Não estou dizendo que já obtive tudo isso, que já alcancei a perfeição. Mas prossigo a fim de conquistar essa perfeição para a qual Cristo Jesus me conquistou.” A poda é necessária para a corrida da fé, Hebreus 12.1: “[…] livremo-nos de todo peso que nos torna vagarosos e do pecado que nos atrapalha, e corramos com perseverança a corrida que foi posta diante de nós.”
Assim, os que foram podados para a salvação, o viticultor continua podando para a frutificação e a glória do Pai (Jo 15.1-3, 8): “1Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. 2Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta. Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que produza ainda mais. 3Vocês já foram limpos pela mensagem que eu lhes dei. […] 8Quando vocês produzem muitos frutos, trazem grande glória a meu Pai e demonstram que são meus discípulos de verdade.”
Sobre A FRUTIFICAÇÃO DOS RAMOS, Deus permitindo, nós estudaremos na semana que vem. Ainda temos que aprender o significado de permanecer em Cristo, frutificar para a glória de Deus e quais são os sabores provados pelos ramos da videira.
Hoje nós estudamos A VIDA NA VIDEIRA: vimos que [1] a vida dos ramos começa na videira e que [2] o trabalho do viticultor consiste em cortar e jogar fora os ramos que não frutificam, além de podar ou limpar os ramos frutíferos para que deem ainda mais frutos. Essa, pois, é a vida na videira: recebemos seiva e vida de Cristo e somos constantemente podados para gerarmos ainda mais frutos. PORTANTO, ser crente de verdade é estar unido a Cristo pela fé na palavra; o crente verdadeiro é constantemente podado pela faca da palavra para que não cesse a frutificação para a glória de Deus.
Aplicações
UNA-SE A CRISTO PELA FÉ – arrependimento e fé. União com cristo é o que consiste ser cristão verdadeiro.
SUBMETA-SE À PODA DE DEUS – para a sua frutificação. A poda para a frutificação serve ao propósito de revitalizar nossa união frutífera com Cristo.
RENOVE SUA MENTE COM A VERDADE: Deus poda sim aos que ama e frutificam, para que frutifiquem ainda mais. Crente de verdade precisa de poda, sim senhor!
S.D.G. L.B.Peixoto
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Pr. Leandro B. Peixoto