02.05.2021
[João 15.1-8] 1“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. 2Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta. Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que produza ainda mais. 3Vocês já foram limpos pela mensagem que eu lhes dei. 4Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Pois, assim como um ramo não pode produzir fruto se não estiver na videira, vocês também não poderão produzir frutos a menos que permaneçam em mim. 5“Sim, eu sou a videira; vocês são os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, produz muito fruto. Pois, sem mim, vocês não podem fazer coisa alguma. 6Quem não permanece em mim é jogado fora, como um ramo imprestável, e seca. Esses ramos são ajuntados num monte para serem queimados. 7Mas, se vocês permanecerem em mim e minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e isso lhes será concedido! 8Quando vocês produzem muitos frutos, trazem grande glória a meu Pai e demonstram que são meus discípulos de verdade.
Você já deu adeus a alguém que amava? Como você lida com partidas ou separações? Sejamos francos, despedidas não são fáceis. Claro, estamos falando de despedidas entre aqueles que se amam de verdade, com quem se tem vínculo, história juntos. Medo. Solidão. Saudade. Os sentimentos são variados e muitas vezes banhados de lágrimas.
Há casos em que a dor no peito demora passar, e não importa se a partida foi causada pelo luto ou o voou livre do filho ou da filha que está em busca de fazer a vontade do Senhor nalgum lugar distante. Já provou de alguma despedida assim? Já perdeu alguém? Já aprendeu dizer adeus? Já se acostumou? Ah, a dor da separação! Não é fácil quando se ama.
Jesus estava se despedindo dos apóstolos. Todos se reuniram no cenáculo para celebrar a última ceia com ele. Após a refeição e o lava-pés, (Jo 13.1-30), o Senhor começou seu discurso de despedida. Era tudo no privado. O ministério público do Cristo encerrara-se em João 12.37-50. O discurso privado na despedida de Jesus vai do capítulo 13 ao 16, e é coroado com a oração sacerdotal de Jesus em João 17.
Há duas partes nesse discurso. A PRIMEIRA PARTE foi dita lá no cenáculo mesmo; ela começa em João 13.31 e vai até 14.31. A SEGUNDA PARTE do discurso inicia em João 15.1 e encerra em 16.33, e foi proferida na medida em que os discípulos caminhavam escuridão adentro, rumo ao jardim do Getsêmani. Em seguida, vem a oração sacerdotal de Jesus em João 17, a qual está embebida de temas e de palavras de conexão com as partes do discurso anterior (especialmente o que fora dito em João 14–16).
O objetivo do Senhor não era apenas dizer “adeus!” ou “até logo!”. Ora, ele sabia que ressuscitaria, voltaria aos discípulos e depois iria para o Pai, e ambos enviariam o Encorajador, o Espírito Santo à suas ovelhas. Com efeito, Jesus estava sendo intencional (como em tudo o que ele fazia), estava preparando com palavras seus discípulos para serem suas testemunhas no mundo. Cristo conhecia o coração daqueles homens e sabia que eles ficariam abalados com a separação tão abrupta, inda mais porque seria tingida do sangue espirrado da traição egoísta de Judas Iscariotes, a humilhação pública pela qual ele próprio passaria, o sofrimento excruciante ao qual se submeteria e a crucificação desumana na qual padeceria em poucas horas adiante. Talvez por isso Jesus, no final do capítulo anterior, tenha sido tão categórico ao destacar em cor amarela fluorescente a soberania do Pai e do Filho, tingidas pelo amor:
João 14.28-31 28“Vocês me ouviram dizer: Vou, mas volto para vocês. Se vocês me amassem, ficariam contentes porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. 29Isso eu lhes digo agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vocês creiam. 30Já não lhes falarei muito, pois o príncipe deste mundo está vindo. Ele não tem nenhum direito sobre mim. 31Todavia é preciso que o mundo saiba que eu amo o Pai e que faço o que meu Pai me ordenou. Levantem-se, vamo-nos daqui!
João 15, conforme já foi dito, inaugura a segunda parte do discurso de despedida de Jesus. Sabemos que é a segunda parte do mesmo porque muda o cenário. Percebeu na última frase de João 14, a última frase do último versículo de João 14: “Levantem-se e vamos embora!” (v. 31)? Pois é, o cenário mudou. Eles saíram do cenáculo e seguiram para o Getsêmani. Isto posto, é bom visualizarmos nosso capítulo como um todo: João 15 abordará [1] a união do cristão com Cristo (15.1-11); [2] a comunhão entre os cristãos (15.12-17); e [3] a relação do cristão com o cosmos (15.18-27).
De todas as coisas que Cristo fala neste capítulo, nada é mais definitivo do que os primeiros oito versículos de João 15. Saiba do seguinte: nosso Senhor não está contando uma parábola, mas falando em metáforas, fazendo analogias para destacar o que há de mais fundamental na vida cristã: nossa união com Cristo para a glória de Deus na nossa frutificação. Esse ponto da mensagem está claro em João 15.7-8:
7Mas, se vocês permanecerem em mim e minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e isso lhes será concedido! 8Quando vocês produzem muitos frutos, trazem grande glória a meu Pai e demonstram que são meus discípulos de verdade.
Percebeu?
É para estar bastante claro qual é o ponto desses oito primeiros versículos de João 15. Trata-se de uma analogia entre videira, viticultor, ramos, frutos e a vida cristã. Jesus quer deixar cristalino, por meio de metáforas, quem é o verdadeiro cristão, qual é o propósito da vida do cristão e de que modo o cristão conseguirá viver essa vida. Portanto, aqui se tratará da natureza da salvação genuína. Descreverá a natureza da verdadeira conversão. Demonstrará qual é a vida cristã genuína: a união com Cristo.
Esta era uma preocupação para o nosso Senhor (inda mais que Judas Iscariotes, um deles, havia desertado!): como alguém saberá que é um cristão de verdade, um crente genuíno, um discípulo verdadeiro? Como alguém poderá afirmar que está realmente indo para o céu? Como alguém saberá que vai escapar do inferno? Como nós saberemos? A união com Cristo e os frutos decorrentes dessa união serão a comprovação.
Este é um texto importantíssimo. Na mesma proporção de importância está a profundidade e as ramificações dos ensinos aqui contidos. Sendo assim, é bom dizer que voltaremos outras vezes aqui para esgotarmos o que nos parece ser fundamental para a vida cristã. Conforme estão postos neste capítulo, [1] precisaremos falar da permanência e frutificação em Cristo, isto é, explicar a doutrina da união com Cristo e consequente frutificação (15.1-11); [2] temos que abordar o tema do amor entre os cristãos (15.12-17) e [3] discorrer sobre a perseverança no Espírito para a proclamação do evangelho no mundo (15.18-27). Mas voltaremos a eles noutras mensagens, Deus permitindo. Hoje, precisamos nos concentrar nas metáforas aqui apresentadas – especialmente à da videira – e, ao final, extrair aplicações para a vida cristã.
A maioria das pessoas que lê ou estuda este texto ou prega a partir dele despreza o que há de mais fundamental nesta passagem: a divindade de Jesus Cristo. Começa assim o trecho em tela, João 15.1: “Eu sou a videira verdadeira”. Depois, no versículo 5, lê-se o seguinte: “Sim, eu sou a videira”.
Mas como isso pode ser uma reivindicação de divindade?
Note: a conjugação do verbo “ser” está na primeira pessoa do singular: “Eu sou”. Mas, e daí? — alguém ainda poderá se perguntar.
Lá em Êxodo, capítulo 3, quando chegou à presença de Deus no deserto, Moisés indagou ao SENHOR a respeito de como se apresentar aos israelitas no Egito como o libertador enviado pelo próprio Deus – e no caso de eles perguntarem “Qual é o nome desse Deus que te enviou?” – , como ele responderia aos hebreus? Então, Êxodo 3.14: “Deus respondeu a Moisés: ‘EU SOU O QUE SOU. Diga ao povo de Israel: EU SOU me enviou a vocês’”.
Portanto, não deixe de enxergar em João 15.1 Jesus se autodeclarado Deus: “Eu sou a videira verdadeira”. E não pense que “Eu sou” em João 15.1 é apenas a conjugação do verbo ser, dizendo que Jesus é a videira verdadeira. Esse “jogo de palavras” de Jesus – para referir-se a si mesmo como Deus – está por todo o Evangelho de João. De fato, lá em João 8.58 ele deixa isso muito claro, falando aos líderes judeus: “Eu lhes digo a verdade: antes mesmo de Abraão nascer, EU SOU!”. Ora, não era sem motivos que aquela gente então apanhou “pedras para atirar em Jesus, mas ele se ocultou deles e saiu do templo.” (Jo 8.59).
Jamais leia o Evangelho de João sem notar este fato de fundamental importância: costuradas na narrativa, do começo ao fim, há uma série dessas afirmações – “EU SOU”. O próprio Jesus diz: “EU SOU o Pão da Vida. EU SOU o Pão Vivo que desceu do céu. EU SOU a luz do mundo. EU SOU a porta, EU SOU o pastor, o bom pastor. EU SOU a ressureição e a vida. EU SOU o caminho, a verdade e a vida.” E então Cristo faz a assombrosa e inescapável afirmação que já lemos (Jo 8.58): “Antes mesmo de Abraão nascer, EU SOU – eu existo eternamente.” Não deixe de constatar que Jesus não é outro senão o grande EU SOU, o Deus eterno em carne humana (Jo 1.1-5, 14).
Você poderá perguntar: é importante saber disso, crer nisso, confessar que Jesus é o grande EU SOU, que ele é Deus? Ouça e tire suas próprias conclusões, João 8.24: “a menos que creiam que EU SOU lá de cima, morrerão em seus pecados”. Sobre esse texto, John MacArthur Jr. escreveu com a contundência que lhe é característica:
Posso dizer isso de outra maneira [Jo 8.24]? Se você não crer na divindade do Senhor Jesus, você irá para o inferno, simples assim. Não importa o quão religioso você seja, quão moralista você seja, quão bem suas intenções possam corresponder ao melhor da humanidade: se você não crer que Jesus é Deus, você irá para o inferno. Se você crer que ele é um ser criado de um tipo qualquer, não importa o quão nobre ou elevado, você irá para o inferno. Você morrerá em seus pecados, o que significa que morrerá sem perdão. A pena é o castigo eterno.
Os judeus entenderam exatamente o que Jesus estava dizendo. Tratava-se de um ataque chocante, frontal e devastador à teologia judaica. Aquele sistema teológico [a propósito, uma direita, um conservadorismo sem Cristo], fazia tempo, havia se desviado das Escrituras, o Antigo Testamento (veja Mt 5.17-48). Em que pese todo o erro, era um sistema muito bem desenvolvido pelos homens [um moralismo invejável, diga-se de passagem!]. E foi por isso que Jesus atacou essa teologia. Ele atacou de frente o entendimento que eles tinham de Deus, atacou o entendimento que eles tinham da lei, atacou o entendimento deles de justiça, a perspectiva deles sobre as obras, a fé e a graça, atacou todos os elementos dessa teologia centrada no homem. Por isso eles o odiaram. Afirmar ser Deus – o grande EU SOU (atacando frontalmente a teologia deles) – , foi para os líderes judeus a blasfêmia definitiva, a gota d’água, aquela que se tornou a razão pela qual eles o queriam morto a qualquer custo.
Pois bem, aqui está Jesus Cristo na última noite com seus discípulos, e ele não polpa palavras: ele faz outra declaração poderosa a respeito de sua natureza (Jo 15.1 e 5). Leia com cuidado. Versículo 1: “Eu sou a videira verdadeira”. Versículo 5: “Sim, eu sou a videira”. Não deixe passar desapercebido, sobretudo o que está no versículo 1: “Eu sou a videira verdadeira”.
Note: Jesus escolheu descrever a si mesmo como a videira, apresentar-se como a videira verdadeira. Pergunta: por que a videira, a videira verdadeira?
Alguém poderia argumentar que é para destacar a forma humilde que Jesus assumiu em sua natureza humana, terrena. Afinal, a videira, se não for sustentada por algum tipo de treliça, armação ou amarração, simplesmente crescerá e espalhará seus ramos pelo chão (igual a bucha vegetal ou a melancia no solo), e isso aponta para a humildade ou humanidade de Cristo. A videira, então, seria uma boa metáfora para falar da humildade, da humanidade de Jesus.
Outros diriam que a videira é uma boa metáfora porque fala de união, da proximidade e da comunhão daqueles que são de Cristo e estão em Cristo. Assim, a vida que flui da videira dá vida aos ramos. Também poderia se pensar que é uma boa metáfora porque fala da produção de frutos, fecundidade, e manifesta o resultado de se estar em Cristo. Ou ainda, que a metáfora ilustra dependência, como nosso Senhor mesmo disse em João 15.5: “sem mim, vocês não podem fazer coisa alguma.”
Portanto, a ênfase seria que a vida dos ramos e os frutos vêm da videira; enfatizaria união, pertencimento, conexão ao Cristo que se fez carne e habitou entre os homens. Tudo isso é bem verdade a respeito da metáfora da videira (a nossa união com Cristo, como já destacamos). Mas há outra mensagem de peso aqui nesta expressão – “a videira verdadeira” (Jo 15.1): a representatividade de Cristo. Como assim?
Veja, quando Jesus diz ser a videira, por que ele usa o adjetivo “verdadeira”? Por que “videira verdadeira”? Já pensou? Por quê? Como veremos, destaca a representatividade de Cristo – a união representativa de Cristo com aqueles que o Pai lhe deu.
O adjetivo grego para “verdadeira” (em João 15.1) é alēthinos e faz referencia ao que é real ou verdadeiro, contrastando-se com a sombra ou o símbolo que o serviu ou precedeu, contrastando-se também com o que é falso. Por exemplo:
Hebreus 8.2 Ele [Cristo, o Sumo Sacerdote verdadeiro] ministra ali no verdadeiro tabernáculo, o santuário construído pelo Senhor, e não por mãos humanas.
Hebreus 9.24 Pois Cristo não entrou num santuário feito por mãos humanas, mera representação do santuário verdadeiro no céu. Ele entrou no próprio céu, a fim de agora se apresentar diante de Deus em nosso favor.
1Tessalonicenses 1.9 pois as pessoas têm comentado sobre como vocês nos acolheram e como deixaram os ídolos a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro. [Qual é o problema dos ídolos? Eles não são deus de verdade!]
1João 5.20 E sabemos que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento para que conheçamos ao Deus verdadeiro. Agora, vivemos em comunhão com o Deus verdadeiro, porque vivemos em comunhão com seu Filho, Jesus Cristo. Ele é o Deus verdadeiro e é a vida eterna.
Ora, Jesus usa o adjetivo “verdadeira”(em João 15.1) – alēthinos – para dizer: “Eu sou a videira verdadeira” com o objetivo de fazer constraste entre ele próprio e outra videira. Mas qual? Qual seria a outra videira com a qual Jesus se contrasta? Sabe qual é? É a videira defeituosa. A videira corrompida. A videira degenerada. A videira infrutífera. A videira silvestre/selvagem. Mas qual? Israel, povo da aliança de Deus. O povo judeu.
A metáfora de Israel como a videira de Deus é tão antiga quanto são antigos os escritos do Antigo Testamento:
Salmos 80.8 Tu nos trouxeste do Egito, como uma videira; expulsaste as nações e nos plantaste no solo.
Jeremias 2.21 Contudo, eu o plantei, como videira de origem pura, da melhor qualidade; como você se transformou em videira silvestre e degenerada?
Em nenhum lugar em toda a Bíblia a rejeição e a infidelidade de Israel em relação ao cuidado gracioso de Deus com a nação é retratado de forma mais pungente do que em Isaías, como se lê:
Isaías 5.1-7 1Agora, cantarei a meu amado uma canção sobre seu vinhedo: Meu amado tinha um vinhedo numa colina muito fértil. 2Ele arou a terra, tirou as pedras e plantou as melhores videiras. No meio do vinhedo, construiu uma torre de vigia e, junto às rochas, fez um tanque de prensar. Então esperou pela colheita de uvas doces, mas o vinhedo só produziu uvas amargas. 3Agora, habitantes de Jerusalém e Judá, julguem entre mim e meu vinhedo. 4O que mais poderia ter feito por meu vinhedo que já não fiz? Por que, quando esperava uvas doces, ele produziu uvas amargas? 5Agora lhes digo o que farei com meu vinhedo: Removerei suas cercas e deixarei que seja destruído. Derrubarei seus muros e deixarei que seja pisoteado. 6Farei dele um lugar desolado, onde as videiras não são podadas e a terra não é capinada, um lugar cheio de espinhos e mato. Darei ordem às nuvens para que não derramem chuva sobre ele. 7A nação de Israel é o vinhedo [a videira] do SENHOR dos Exércitos, o povo de Judá é seu jardim agradável. Ele esperava colher justiça, mas encontrou opressão. Esperava colher retidão, mas ouviu gritos de angústia.
Essa metáfora – Israel como a videira de Deus – permeou a história da nação mesmo durante o período macabeu (entre o Antigo e o Novo Testamento). Matatias Macabeu (que se rebelou contra os greco-romanos e os sírios em 168 a.C. e reinou na Palestina de 142 a.C. a 63 a.C.) mandou cunhar moedas nas quais havia a imagem de uma videira (não de algum soberano), ilustrando a supremacia de Israel. Até mesmo no templo, o enorme templo de Herodes, havia uma grande videira que tinha sido literalmente esculpida e revestida de ouro, falando de Israel como a videira de Deus.
O que se esperava de Israel era que a vida de Deus fluísse de lá para as nações. Porém, segundo lemos em Oséias, a nação passou a viver para si mesma e transformou as bênçãos de Deus na terra em ídolos desgraçados (literalmente, sem a graça):
Oséias 10.1 Como Israel é próspero! É uma videira viçosa cheia de frutos. Mas, quanto mais seu povo enriquece, mais altares idólatras constrói. Quanto mais fartas suas colheitas, mais belas suas colunas sagradas.
Por isso Deus os julgou, enviando os assírios e babilônios:
Ezequiel 19.7-14 7Derrubou fortalezas e destruiu cidades. A terra e seus habitantes tremiam de medo quando ouviam seu rugido. 8Então os exércitos das nações o atacaram e o cercaram por todos os lados. Lançaram uma rede sobre ele e o apanharam na cova que lhe prepararam. 9Com ganchos o arrastaram para dentro de uma jaula e o levaram ao rei da Babilônia. Eles o mantiveram preso, para que nunca mais se ouvisse sua voz nos montes de Israel. 10“Sua mãe era como uma videira plantada junto à água. Tinha folhagem viçosa e dava frutos, porque havia muita água. 11Seus ramos se tornaram fortes o suficiente para serem cetros de reis. Ela cresceu, ficou muito alta e se elevou acima de todas as outras. 12Mas a videira foi arrancada pela raiz com fúria e atirada ao chão. O vento do deserto secou seus frutos e quebrou seus fortes ramos, por isso ela murchou e foi consumida pelo fogo. 13Agora a videira está plantada no deserto, onde o solo é duro e seco. 14De seus ramos saiu fogo e consumiu seus frutos. Os ramos que sobraram não são fortes o suficiente para serem cetros de reis. “Este é um cântico fúnebre e será entoado num funeral”.
Veja que Deus plantou Israel. Israel, por sua vez, fracassou. Então, o SENHOR se voltou contra Israel em julgamento. Daí que o salmista clama ao SENHOR:
Salmos 80.14-15 14Ó Deus dos Exércitos, suplicamos que voltes! Olha dos céus e vê a nossa aflição. Cuida desta videira 15que tu mesmo plantaste, o filho que criaste para ti.
Israel tinha sido plantada e formada como vinha para ser a dispensa de bênção para as nações (Gn 12.1-3). Israel foi plantada pelo próprio Deus. A vida de Deus chegara a Israel e, consequentemente, deveria chegar às nações por meio de Israel. Mas Israel foi infiel, idólatra, imoral; Israel se fechou em si mesma e Deus trouxe o julgamento. É isso o que o Antigo Testamento nos revela. IMPORTANTE, verificamos a mesma incredulidade e rebeldia já no início do Novo Testamento também; ou seja, não foi apenas o Israel do Antigo Testamento que foi infiel e, portanto, foi rejeitado pelo SENHOR; lemos no Novo Testamento que Jesus faz o mesmo com aqueles que o rejeitaram.
Ouça com atenção o que nos escreveu o apóstolo Mateus – na parábola dos lavradores maus. Veja como Jesus ilustrou por parábola a rejeição dos profetas enviados por Deus, seus mensageiros, o que culminaria com a rejeição e crucificação do Messias:
Mateus 21.33-44 33“Agora, ouçam outra parábola. O dono de uma propriedade plantou um vinhedo. Construiu uma cerca ao redor, um tanque de prensar e uma torre para o guarda. Depois, arrendou o vinhedo a alguns lavradores e partiu para um lugar distante. 34No tempo da colheita da uva, enviou seus servos a fim de receber sua parte da colheita. 35Os lavradores agarraram os servos, espancaram um deles, mataram outro e apedrejaram o terceiro. 36Então o dono da propriedade enviou um grupo maior de servos para receber a parte dele, mas o resultado foi o mesmo. 37“Por fim, o dono enviou seu filho, pois pensou: ‘Certamente respeitarão meu filho’. 38“No entanto, quando os lavradores viram o filho, disseram uns aos outros: ‘Aí vem o herdeiro da propriedade. Vamos matá-lo e tomar posse desta terra!’. 39Então o agarraram, o arrastaram para fora do vinhedo e o mataram. 40“Quando o dono da terra voltar, o que vocês acham que ele fará com aqueles lavradores?”, perguntou Jesus. 41Os líderes religiosos responderam: “Ele os matará cruelmente e arrendará o vinhedo para outros, que lhe darão sua parte depois de cada colheita”. 42Então Jesus disse: “Vocês nunca leram nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram se tornou a pedra angular. Isso é obra do Senhor e é maravilhosa de ver’? 43Eu lhes digo que o reino de Deus lhes será tirado e entregue a um povo que produzirá os devidos frutos. 44Quem tropeçar nesta pedra será despedaçado, e aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó”.
Mesmo os discípulos, assim como todos os outros judeus, pensavam: “Hmm, eu sou judeu. Logo, estou conectado com Deus. Israel, o povo de Deus, o povo judeu, é a fonte da bênção divina. Ora, eu sou judeu. Eu nasci judeu. Eu sou a semente de Abraão. Estou, portanto, conectado com Deus.” Mas não é essa a verdade. Israel fracassou. Nesse sentido, a videira foi arrancada. É por isso que nosso Senhor chega e diz aos apóstolos no privado (Jo 15.1 e 5): “Se vocês querem estar conectados a Deus, vocês têm que estar conectados, não a Israel, mas a mim. Eu sou a videira verdadeira. Eu sou a videira perfeita. Através de mim, a vida de Deus flui a vocês e, através de mim em você e de vocês em mim (através de nossa união espiritual), a todos que creem em meu nome.”
Paulo entendeu isso. Ele escreveu aos romanos reconhecendo os privilégios da nação de Israel:
Romanos 9.1-5 1Digo-lhes a verdade, tendo Cristo como testemunha, e minha consciência e o Espírito Santo a confirmam. 2Meu coração está cheio de amarga tristeza e angústia sem fim 3por meu povo, meus irmãos judeus. Eu estaria disposto a ser amaldiçoado para sempre, separado de Cristo, se isso pudesse salvá-los. 4Eles são o povo de Israel, escolhidos para serem filhos adotivos de Deus. Ele lhes revelou sua glória, fez uma aliança com eles e lhes deu sua lei e o privilégio de adorá-lo e receber suas promessas. 5Do povo de Israel vêm os patriarcas, e o próprio Cristo, quanto à sua natureza humana, era israelita. E ele é Deus, aquele que governa sobre todas as coisas e é digno de louvor eterno! Amém.
No entanto, de nada tudo isso adiantava. Por que não? Ouça o apóstolo, mais adiante:
Romanos 10.1-4 1Irmãos, o desejo de meu coração e minha oração a Deus é que o povo de Israel seja salvo. 2Sei da dedicação deles por Deus, mas é entusiasmo sem entendimento. 3Pois, não entendendo a maneira como Deus declara as pessoas justas diante dele, apegam-se a seu próprio modo de se tornar justos tentando seguir a lei, e recusam a maneira de Deus. 4Pois Cristo é o propósito para o qual a lei foi dada. Como resultado, todo o que nele crê é declarado justo.
A maneira de Deus salvar não é por meio de Israel, mas pela fé na videira verdadeira, Jesus Cristo. Veja, só para fazer uma comparação, no capítulo 8 de Hebreus, versículo 2, o autor de Hebreus diz que “Jesus é o verdadeiro tabernáculo”. Ele é a videira verdadeira. O templo verdadeiro. É nele e por ele dele que flui a vida de Deus. Colossenses 2.7: “Aprofundem nele [em Cristo] suas raízes e sobre ele edifiquem sua vida. Então sua fé se fortalecerá na verdade que lhes foi ensinada, e vocês transbordarão de gratidão.”
Ora, não fazia muito tempo, Jesus já havia dito aos discípulos que Israel seria destruída e o templo viria ao chão de uma vez por todas. Jesus já os havia advertido de que estava tudo desabando. Havia acabado. Era o fim. Ele já havia pronunciado julgamento sobre Israel. Não ficaria pedra sobre pedra. A fúria de Deus seria descarregada. Veja Mateus capítulo 24.
Por isso é importante que entendamos (e que eles entendessem) que a dispensa de bênçãos não é Israel. “Pois nem todos os descendentes de Israel pertencem, de fato, ao povo de Deus. Paulo escreveu em Romanos 9.6-7: “Só porque são descendentes de Abraão não significa que são, verdadeiramente, filhos de Abraão.” Em Cristo está a vida. Em Cristo estão os verdadeiros filhos de Abraão. Cristo é a videira verdadeira. Cristo é a verdadeira luz. Ele é a verdadeira comida e a verdadeira bebida. Ele é o verdadeiro pão.
Portanto, qualquer pessoa que queira receber a vida de Deus, a vida eterna, tem que se conectar pela fé a Cristo, tem que se conectar a ele genuinamente, com o Deus que ele é, com o EU SOU que ele é. Todas as outras videiras são videiras falsas. Israel é uma videira degenerada e morta. Cristo é a videira verdadeira e viva: ele é o grande Deus EU SOU, a nossa vida e o nosso representante diante de Deus.
Deus permitindo, na próxima mensagem, nós voltaremos a João 15.1-8. Nós ainda precisamos ver as outras metáforas de Jesus: o viticultor, os ramos e os frutos. Precisamos saber qual é o significado prático de permanecer em Cristo e frutificar. E ainda: o que Jesus quiz dizer com “Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta… Quem não permanece em mim é jogado fora, como um ramo imprestável, e seca. Esses ramos são ajuntados num monte para serem queimados.”? O que ele quiz dizer com “Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que produza ainda mais.”? O que ele quiz dizer com “Vocês já foram limpos pela mensagem que eu lhes dei.”? Percebeu? Ainda há muito o que desembrulhar aqui neste texto. Ele é preciosíssimo e, portanto, não podemos nos apressar. Voltaremos a ele, Deus permitindo, na próxima semana. Há muito aqui para a nossa vida cristã.
Por ora, precisamos fazer algumas aplicações relacionadas ao fato de Jesus Cristo, o grande EU SOU, ser a videira verdadeira. Permitam-me fazer três aplicações:
I. PRIMEIRO: Jesus é o grande EU SOU. Ele é o próprio Deus. Jesus não é um mero profeta ou homem iluminado. Jesus é Deus. SENDO DEUS, ele possui ou é a própria vida, e a sua vida trouxe luz a todos os que creem (Jo 1.4). Em outras palavras: em Cristo nós recebemos nova vida, nascemos de novo. E a vida que nós recebemos de Cristo nos faz ver ou enxergar de verdade.
A maneira como se dá essa experiência é que, no próprio ato de ganhar vida, nascer de novo, nossos olhos se abrem milagrosamente, passamos a ver Cristo por quem ele realmente é e o recebemos consciente e alegremente. Sua glória flui em nosso coração. Chamamos isto de fé. Chamamos também de novo nascimento. Chamamos de ver com novos olhos, os olhos do coração. Chamamos ainda de união com Cristo. Em Cristo, o grande EU SOU, nós temos vida eterna, e luz, e visão do que de fato importa: a beleza de Cristo. Não há lacunas de tempo entre essas experiências: nascer de novo, abrir os olhos espirituais, ver a glória de Cristo e recebê-lo com fé… tudo isso acontece simultaneamente, na regeneração. É o fruto da nossa união com Cristo.
Louis Berkhof define o valor eterno desta união nos seguintes termos: “a união íntima, vital e espiritual entre Cristo e o seu povo, em virtude da qual ele é a fonte da sua vida e poder, da sua bendita ventura [alegria] e salvação. 2Coríntios 5.17 “Logo, todo aquele que está em Cristo se tornou nova criação. A velha vida acabou, e uma nova vida teve início!”
II. SEGUNDO: Jesus é A VIDEIRA VERDADEIRA. Jesus é o representante da raça eleita de Deus. Ele é o cumprimento de tudo o que Deus intencionou para o ser humano, e para Israel – que fracassaram (todos fracassaram, judeus e gentios). Então Jesus veio, incarnou-se, montou tabernáculo entre nós, e se tornou o verdadeiro tabernáculo de Deus entre os homens. Jesus, portanto, é aquele para quem Israel apontava, aquele que produz bom fruto e abençoa a todos – todas as gentes, tribos, povos e nações. Jesus, desse modo, substituiu o templo, as festas judaicas, Moisés, vários lugares santos; ele cumpriu a lei; e nesse ponto do Evangelho de João ele substitui Israel como o próprio local de habitação do povo de Deus. A videira verdadeira não é, portanto, o povo apóstata (também não é igreja, instituição), mas sim o próprio Cristo.
É libertador saber que em Cristo está a nossa perfeição. Ele é o nosso substituto legal diante do Pai, que é santo e justo. Ele é a expressão da graça e do amor de Deus derramados a nós pecadores para a nossa justificação e salvação. Portanto: nós não nos agarramos a cerimônias ou rituais para sermos aceitos por Deus, agarramo-nos pela fé a Cristo; não recorremos a instituições, igrejas, santos, intercessores, sacerdotes, gurus ou mediadores para chegarmos a Deus, recorremos a Cristo, ele mesmo é Deus e o nosso representante-mediador-substituto; não precisamos consertar a vida primeiro para depois irmos a Deus (jamais conseguiremos! olhe para a vida de Israel, eles não conseguiram! e vejam que eles tinham tudo: aliança, lei, profeta, mas fracassaram!), precisamos de Cristo. Cristo é a videira verdadeira: ele é o nosso representante, substituto, sacrifício e tudo o mais diante de Deus Pai. Ele é a nossa vida.
III. TERCEIRO: Os crentes em Jesus são O VERDADEIRO ISRAEL DE DEUS. R. C. Sproul, pregando em João 15.1 – “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador” – , afirmou com muita propriedade:
Muito do mundo evangélico cristão hoje é dado à teologia que surgiu no século XIX e está comprometido com a ideia de que Deus teve dois planos distintos de redenção – um para os judeus, no Antigo Testamento e outro para a igreja, no Novo Testamento. Essa escola da teologia rejeita categoricamente a ideia de que a igreja de Jesus Cristo é o cumprimento do Israel do Antigo Testamento. Essa é uma ruptura lamentável com o cristianismo ortodoxo, e sua popularidade absoluta não a permite se restabelecer. De fato, este versículo [João 15.1] a enfraquece, pois aqui nosso Senhor claramente se identifica com o Israel de Deus [“a videira verdadeira”]. Ele declarou que cumpriu tudo o que era exigido da nação de Israel no Antigo Testamento.”
Exatamente o que atestou o apóstolo Paulo:
Gálatas 3.28-29 29Não há mais judeu nem gentio, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos vocês são UM EM CRISTO JESUS. 29E agora que pertencem a Cristo [a videira verdadeira], são verdadeiros filhos de Abraão [o verdadeiro Israel], herdeiros dele segundo a promessa de Deus.
Quatro implicações para o nosso relacionamento com Israel [John Piper]:
Volte-se para Cristo com fé: ele é o próprio Deus, o grande EU SOU, o justo e o justificador, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, a videira verdadeira.
Volte-se para Cristo com fé: você achará vida plena, perdão, justificação, família e herança eternas.
Glória a Deus por Cristo Jesus! Glória a Deus pela videira verdadeira!
S.D.G. L.B.Peixoto
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