21.08.2022
[Gênesis 1.1] No princípio, Deus criou os céus e a terra.
[Mensagem passada, primeira da série: O livro das Origens, sustentamos que precisamos de Gênesis para obter categorias bíblicas. Esta mensagem: Antes da origem, Deus.]
Uma das coisas mais assustadoras a respeito da ciência é que ela tende a trabalhar para nos “emancipar” da revelação bíblica, fazendo-nos rebelar contra o Criador. De fato, não há neutralidade religiosa na ciência. Charles Darwin (1809–1882), por exemplo, o autor de A Origem das Espécies (1859), escreveu dizendo que estava profundamente consciente de sua própria ignorância sobre a teoria da evolução. Em carta a Charles Lyell, em 23 de novembro de 1859, Darwin registrou ter dúvidas terríveis de “ter me iludido e me dedicado a uma fantasia”. Então, por que não parou com o experimento? Quer saber mesmo a razão, lá no fundo de tudo? Robert E. D. Clark, PhD em Cambridge, em livro de 1967 – Darwin: Before and After – , escreveu que“Darwin estava a todo custo determinado a escapar do design e de um Deus pessoal”. Lá no fundo, esta era a motivação de Darwin: não ter que lidar com Deus, não ter que prestar contas a um Deus pessoal, o Criador. Noutro livro impressionante (de 1976) – Why Scientists Accept Evolution – Robert T. Clark e James D. Bales demonstram como a vida de Darwin foi torturada por causa de sua rejeição a Deus. Darwin até se referiu à sua teoria como “o evangelho do diabo” [talvez gostando do que a crítica dizia a respeito de sua teoria]. T. H. Huxley foi o defensor mais comprometido e vocal de Darwin. Em 8 de agosto de 1860, em uma carta a Huxley, Darwin se referiu a ele como “meu bom e gentil agente para a propagação do Evangelho – isto é, o evangelho do diabo.” — Darwin não ter que lidar com Deus, não ter que prestar contas a um Deus pessoal, o Criador. Eis uma carta manuscrita de Darwin que em 2015 foi leiloada por cerca de US$ 90.000:
24 de novembro de 1880
Querido Sr.,
Lamento ter de informá-lo de que não acredito na Bíblia como revelação divina e, portanto, tampouco em Jesus Cristo como o filho de Deus.
Atenciosamente.
C. Darwin.
A carta de próprio punho e assinada por Darwin foi uma resposta a um jovem advogado chamado Francis McDermott — que escreveu em 23 de novembro de 1880 com um pedido muito incomum: “…Se eu quiser ter prazer de ler seus livros, devo sentir que no final não terei perdido minha fé no Novo Testamento. Minha razão ao escrever para o senhor, portanto, é pedir que me dê um Sim ou Não para a pergunta: “O Sr. acredita no Novo Testamento….”? McDermott continua sua carta prometendo não divulgar a resposta de Darwin nas “publicações teológicas”.
A ciência é mesmo uma bênção, mas não se iluda: a ciência [digo, a falácia científica] foi há muito empunhada por muitos como arma de revolução contra Deus. Isso é absolutamente evidente, principalmente, no drama da evolução como a única explicação possível e “cientificamente comprovada” para a origem do Universo. É tanto que uma das visões para a explicação do Universo é a que ficou conhecida como a teoria do estado estacionário (1948); ou seja, o Universo sempre foi e sempre será; o Universo é não-gerado e indestrutível, capaz de se manter eterno. Tal visão, note bem, é materialista e ateísta – pois se o Universo é eterno, não há porque se falar de um Criador; de fato, não há lugar para Deus. Essa teoria, hoje amplamente desacreditada pela comunidade científica, foi um modelo alternativo ao do Big Bang. Essa sim, a teoria do Big Bang, é a visão predominante atualmente sobre o desenvolvimento inicial do Universo. O Brasil Escola, portal para pesquisa do UOL na internet, traz o seguinte resumo:
A teoria do Big Bang é atualmente a mais aceita para explicar a origem do Universo. De acordo com essa hipótese, o Universo surgiu a partir da expansão repentina e violenta de uma partícula extremamente densa e quente. Essa expansão é por vezes chamada de explosão. Nos primeiros momentos, o Universo era constituído pelo plasma de quark-glúons. Com o passar do tempo, esse conjunto de partículas que estava em altíssimas temperaturas resfriou. Junto desse processo e da interação entre os elementos presentes no espaço foi formado o Universo como hoje ele se apresenta. A teoria do Big Bang foi formulada na década de 1920 por meio de análises de outros estudos que descreviam o movimento de afastamento das galáxias. Existem elementos comprobatórios do Big Bang, como a radiação cósmica e o afastamento das galáxias.
Essa revolução no pensamento científico para a explicação da origem do Universo retrocede à 1913, quando um astrônomo do Observatório Lowell em Flagstaff, Estado do Arizona, nos Estados Unidos, Vesto Melvin Slipher, descobriu através de seu estudo do espectro de luz variável de estrelas muito distantes que as galáxias nas quais essas estrelas foram encontradas pareciam estar se afastando da Terra em velocidades tremendas – cerca de até 3 milhões de km/h. Seis anos mais tarde, em 1919, outro astrônomo americano, Edwin Hubble, usou as descobertas de Slipher para formular uma lei para um Universo em expansão, a qual apontava para um momento de criação. Enquanto isso, as teorias da relatividade de Albert Einstein estavam sacudindo a física newtoniana, ao mesmo tempo que dois cientistas do laboratório da Bell Telephone, Arno Penzias e Robert Wilson, estavam usando equipamentos eletrônicos novos e sofisticados para captar radiação de fundo de todas as partes do Universo, que eles agora identificavam como o “ruído” remanescente daquela primeira grande explosão (o Big Bang).
TENHA CERTEZA DE UMA COISA: por mais que se nos apresentem a hipótese (isto mesmo, apenas HIPÓTESE) do Big Bang como fato estabelecido, ainda existem muitos problemas. A teoria científica atual coloca a origem do Universo em um ponto que se aproxima de 20 bilhões de anos lá atrás, o que alguns cristãos consideram inaceitável (eu, inclusive). Entretanto, digamos que a teoria do Big Bang (digamos que a hipótese dessa explosão original) seja verdadeira, ora, essa hipótese diz nada, absolutamente coisa alguma sobre a coisa ou elemento que a causou, tampouco sobre Aquele que a teria causado. Essa teoria também não esclarece o porquê de o Universo ter uma ordem e uma complexidade tão surpreendentes, tampouco como a vida se originou – ainda que apenas em potência lá naquela “partícula extremamente densa e quente” que explodiu dando-nos origem, trazendo-nos à luz. NO ENTANTO, essa teoria ainda é a que mais empolga a comunidade científica, inclusive alguns cristãos que insistem em dizer que “a teoria do Big Bang parece muito com a história que o Antigo Testamento vem contando o tempo todo”, como escreveu Lance Morrow, em artigo na revista Time (em 1979 – se serve de consolo dizer, pelo menos à época alguns ainda tentavam encaixar a Bíblia à ciência; hoje, nem isso!).
Robert Jastrow – que foi astrônomo americano, físico planetário e cientista da NASA – fez declaração ainda mais contundente que a de Morrow para a Time. Jastrow ficou conhecido por dois livros futuristas de sua autoria que estouraram em vendas: Gigantes vermelhos e Anões brancos, e Até que o sol se apague; mas foi no livro Deus e os astrônomos que ele escreveu sobre a consternação dos cientistas que (vira e mexe) são levados – por seus próprios métodos – de volta a um ponto além do qual não são capazes de prosseguir: o Big Bang. Ouça:
Há um tipo de religião na ciência; é a religião de uma pessoa que acredita que há ordem e harmonia no Universo. Todo evento pode ser explicado de maneira racional como o produto de algum evento anterior. […] Essa fé religiosa do cientista é violada pela descoberta de que o mundo teve um começo sob condições nas quais as leis conhecidas da física não são válidas, e como um produto de forças ou circunstâncias que não podemos descobrir. […] Neste momento, parece que a ciência nunca será capaz de levantar a cortina do mistério da criação. Para o cientista que viveu por sua fé no poder da razão, a história termina como um sonho ruim. Ele escalou as montanhas da ignorância; ele está prestes a conquistar o pico mais alto; e enquanto ele eleva a cabeça acima da última pedra, o cientista é saudado por um bando de teólogos que lá em cima de tudo estiveram sentados há séculos.
Tome cuidado, crente! Nada nessa descrição sarcástica de Robert Jastrow deve nos tornar presunçosos, enquanto gente de fé no Criacionismo. Devemos nos lembrar de que não estamos passando sem dificuldades em nossas tentativas de compreender o livro de Gênesis e que até mesmo os antigos hebreus não puderam esbanjar capacidade de compreensão da narrativa bíblica – por exemplo, Jerônimo (347–420 d.C.), o tradutor da Bíblia para o latim, em carta a Paulino, escreveu que os hebreus proibiam (você sabia disso!? os hebreus proibiam!) a qualquer um com menos de 30 anos de expor ou de tentar explicar o primeiro capítulo de Gênesis a qualquer outra pessoa.
Em todo caso, por mais difícil que, num primeiro momento, possa parecer (e é a revolução científica que torna a coisa mais confusa, colocando em xeque o relato bíblico)… por mais difícil que possamos achar o relato da criação em Gênesis (por já estar tão bombardeado com as hipóteses da revolução científica), você pode descansar absolutamente certo de que não são as respostas da revolução científica que irão fornecer as respostas últimas ou definitivas para as necessidades mais íntimas do indivíduo nem para as questões mais complexas da sociedade – como veremos ao longo de nossa série de mensagens no Gênesis.
Permita-me deixar algo bastante claro: a importância do livro de Gênesis, seu significado para a humanidade não está em provar ou refutar quaisquer teorias científicas (resumindo: o propósito não é dizer que o criacionismo é certo e o evolucionismo é errado); da mesma forma que a importância ou o significado da ciência jamais deveria repousar sobre o interesse de se provar ou de se refutar a Bíblia Sagrada.
O VALOR DO LIVRO DE GÊNESIS está em seu ensino sobre a origem de todas as coisas, que é o que a palavra “Gênesis” significa: origens. Gênesis nos leva de volta ao início, às origens, e isso é muito importante porque nosso senso de valor, propósito e significado como seres humanos dependem, em grande parte, de nossas origens.
O mundo contemporâneo não crê assim, mas a verdade é que quando o indivíduo está munido de um senso de dignidade e de significado – fruto de ele conseguir traçar sua ligação com o passado, escavar suas raízes, encontrar sua história e fazer suas conexões – isso traz luz para o presente e direção para o futuro.
É intrigante a gente ter que de algum modo defender o valor de se conhecer nossas origens. Antigamente isso não seria necessário porque a maioria das pessoas pelo menos ainda possuía algum senso de história. As pessoas sabiam de onde tinham vindo e, portanto, tinham uma visão otimista sobre o que o futuro reservava. Só que isso se evaporou da cultura contemporânea, de modo que, como vários críticos sociais corretamente descreveram, essa se tornou a geração do “aqui e agora”, na qual qualquer ligação concreta com o passado foi desconectada (e muitas vezes deletada, de propósito). Foi-nos dito que o passado não tem sentido. Tudo está focado no presente. Os anunciantes nos dizem que “só temos uma chance, e esta é agora!”. Fomos convencidos de que devemos esquecer o passado e não nos preocupar com o futuro. Parece uma boa filosofia, mas a solidão e a ansiedade de uma filosofia como essa são quase intoleráveis.
R. C. Sproul analisou isso em termos de secularismo, que significa “viver dentro dos limites desta era” (secularismo é do latim saeculum, que significa era). Secular, portanto, é a pessoa que vive com sua perspectiva confinada apenas a este período – sem passado, sem futuro e, acima de tudo, sem Deus (que está tanto no presente como no passado e no futuro — e sobre tudo ele exerce controle). Sproul escreveu sobre o homem secular nos seguintes termos:
O homem no século XX esteve ativamente engajado em uma busca por dignidade. É uma busca muito sincera. O movimento dos direitos civis desenvolveu o grito: “Somos seres humanos; somos criaturas de dignidade; queremos ser tratados como seres possuidores de dignidade.” E, nessa linha, muitos outros brados. Mas o existencialista [coerente] nos diz que nossas raízes estão no nada, que nosso futuro está no nada, e então indaga ao semelhante com profunda frustração: “Pense, cara!, se suas origens estão no nada e se seu destino está no nada, como você pode ter alguma dignidade aqui e agora?” […]
Se nossa história passada nos diz que emergimos de uma geleia cósmica, que somos apenas germes evoluídos, que diferença pode fazer se somos germes negros ou germes brancos, se somos germes livres ou germes escravizados? Quem se importa? [Quem vença o mais forte!] Podemos bradar sobre a dignidade do homem, mas a menos que essa dignidade esteja substancialmente enraizada naquilo que tem valor intrínseco, todos os nossos brados de direitos humanos e de dignidade não passam de assobios no escuro. São ingênuos, simplistas e crédulos. E o existencialista entende isso. Ele diz: “Vocês estão brincando quando se chamam criaturas de dignidade. Se tudo o que você tem é o presente, não há dignidade, apenas o nada.”
Isso é o que torna Gênesis importante: este livro é importante porque nos leva às nossas origens – não apenas às origens de uma família em particular, mas às origens da matéria, da vida, dos valores, do mal, da graça, da família, das nações e de tantas outras coisas absolutamente fundamentais… Gênesis nos leva às origens, e de uma maneira que nos une a todos – seres humanos – no mesmo patamar, com a mesma dignidade.
Sem os ensinamentos de Gênesis, a própria vida não teria sentido. Há até mesmo partes da Bíblia que não teriam sentido. Sem o livro de Gênesis, a Bíblia seria como os últimos atos de uma peça teatral sem o seu primeiro ato, ou a história de um livro sem o seu primeiro capítulo. Henry M. Morris escreveu que, sem o Gênesis,
Os livros do Antigo Testamento, narrando as relações de Deus com o povo de Israel, seriam provincianos e intolerantes, caso não estivessem no contexto dos propósitos em desenvolvimento de Deus para toda a humanidade, conforme estabelecidos nos primeiros capítulos de Gênesis. O Novo Testamento, descrevendo a execução e implementação do plano de Deus para a redenção do homem, é redundante e anacrônico, exceto à luz da necessidade desesperada de salvação do homem, conforme estabelecida no registro da história primitiva do homem, registrada apenas em Gênesis. A compreensão do livro de Gênesis é, portanto, pré-requisito para uma compreensão de Deus e seu significado para o homem.
Esta série de mensagens no livro de Gênesis nos permitirá examinar cada um desses assuntos fundamentais em detalhes, revelará quem Deus é e quais são os seus propósitos; expressará as reais necessidades do ser humano e desse modo fornecerá as categorias para compreendermos e comunicarmos o evangelho de Cristo com clareza aos nossos contemporâneos. POR EXEMPLO: o Deus dos cristãos, a origem do ser humano, a origem da família, a origem do mal, a origem da salvação, a doutrina da justificação pela fé, a doutrina da eleição, a origem do julgamento divino e muito mais – tudo isso será examinado em nosso estudo do livro de Gênesis, O LIVRO DAS ORIGENS.
John H. Gerstner (1914–1996), que foi professor de história da igreja no Seminário Teológico de Pittsburgh, narrou uma história curiosa sobre Arthur Schopenhauer (1788–1860), o famoso pessimista filosófico do século XIX. Contou que Schopenhauer não costumava se preocupar em andar muito alinhado, e que muitas vezes se vestia mais como um vagabundo. Certa vez Schopenhauer estava sentado em um parque em Berlim. Sua aparência despertou as suspeitas de um policial, que o abordou e lhe perguntou quem ele pensava que era. Schopenhauer respondeu: “Eu gostaria, por Deus!, que eu o soubesse”. Gerstner concluiu: “a única maneira pela qual Schopenhauer poderia ter aprendido sobre quem ele era teria sido descobrir do próprio Deus, o qual nos revelou essa realidade no livro de Gênesis.”
James M. Boice foi profético ao nos fazer pensar:
Quando os secularistas pipocaram em meados do século passado e cortaram a sociedade daquela época (e desde então) de qualquer senso de história, o ato foi saudado com gritos de júbilo e grande alegria. E tem sido assim desde então! Ser libertado do passado, particularmente do passado bíblico com o Deus de padrões morais e ameaças de julgamento, parecia (e ainda parece) ser a verdadeira salvação. O homem ficou livre! Uma vez livre, ele poderia fazer o que quisesse – que era o que ele queria fazer o tempo todo – sem medo de Deus ou de julgamento! Infelizmente, o homem secular não se deu conta de a que preço essa ilusão de liberdade foi conquistada. Livre do passado? Sim! E do futuro também! Resultado: o homem ficou à deriva em um grande mar de nada, uma bolha nas profundezas, vindo do nada e à deriva em direção a uma praia sem sentido. Não admira que o homem contemporâneo seja vazio, miserável, frustrado. Ele está à beira de um colapso monumental. Ele ganhou a liberdade (assim chamada), mas com a perda de valor, significado e verdadeira dignidade.
O homem ganhou o mundo, mas perdeu a alma.
Felizmente, homens e mulheres podem retroceder… e avançar também. Mas o passado e o futuro não estão nas história que se criam e se nos contam. Passado e futuro estão revelados na Bíblia, onde nos achamos como realmente somos — feitos à imagem do Deus Todo-Poderoso e, portanto, criaturas de valor; caídas tragicamente no pecado, sim, e também colhendo todas as consequências de nossos atos, mas ainda assim resgatáveis por Deus através do poder e da graça demonstrados em Jesus Cristo.
Resgatados por Deus, através de Jesus Cristo, somos levados de volta para Deus: a origem e o fim de todas as coisas. A revolução científica ou qualquer avanço científico, por assim dizer, por mais que se tentem, pode no máximo nos levar de volta ao que eles chamam de Big Bang, ao momento da criação. Mas se aquela explosão colossal original fez desaparecer qualquer coisa que existia antes dela, como sugere a revolução científica, então nada antes desse ponto pode ser conhecido cientificamente, incluindo a causa da explosão. Graças a Deus, porém, que isso não é verdade; como está exposto na frase de abertura da Bíblia Sagrada, Gênesis 1.1, “No princípio, Deus criou os céus e a terra.”
S.D.G. L.B.Peixoto
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