23.01.2022
[Lamentações 3.19-24] 19Como é amargo recordar meu sofrimento e meu desamparo! 20Lembro-me sempre destes dias terríveis enquanto lamento minha perda. 21Ainda ouso, porém, ter esperança quando me recordo disto: 22O amor do SENHOR não tem fim! Suas misericórdias são inesgotáveis. 23Grande é sua fidelidade; suas misericórdias se renovam cada manhã. 24Digo a mim mesmo: “O SENHOR é minha porção; por isso, esperarei nele!”.
Embora não se lembre disso, o primeiro som que você emitiu quando saiu dos confins silenciosos, quentinhos, aconchegantes e bem protegidos do útero de sua mãe foi o de um lamento. Você veio à luz brilhante e incômoda aos olhos de quem ainda não havia respirado o ar deste mundo frio e doloroso em que vive agora, e a primeira coisa que fez foi chorar, lamentar. Ninguém precisou ensinar você a lamentar – porque lamentar e chorar é parte natural do tecido deste mundo devastado. Ser humano é lamentar.
É com lágrimas e choro que entramos no mundo, e lágrimas e choro são o que marcam a reunião final de familiares e amigos em nosso funeral. Embora busquemos recordar, cultivar e guardar as boas lembranças do ente querido que morreu, a bem da verdade é que a morte arrancou de nós mais uma pessoa amada da gente, e essa perda é (e sempre será) chocante, dolorosa e inevitável. Nunca saí de um funeral pensando: “É assim que a vida deve ser!” Em vez disso, sempre saio balançando a cabeça e lamentando sobre a brevidade da vida ou a dor que faz parte do nosso existir. Todos nós já provamos disto: a vida é cheia de lamentos, do início ao fim.
Eu sou pastor, e neste ano, Deus permitindo, completarei 24 anos de ministério pastoral (em 1o de novembro de 1998 eu fui consagrado aqui nesta igreja!). Se eu fizesse um balanço destes anos de cuidado pastoral, eu chegaria à seguinte conclusão: o sentimento com o qual eu mais lidei em todos os dias de trabalho foi (adivinha?) a dor; e a emoção com a qual eu mais me deparei no trabalho, seja em meu gabinete pastoral ou em algum aconselhamento, foi (adivinha?) o choro. A dor e o choro são companheiros inseparáveis do pastor. Eugene H. Peterson é bem preciso quando descreve que um dos pilares do ministério pastoral é compartilhar a dor – ele coloca desta maneira:
Entre outras coisas o pastorado é a decisão de lidar nos termos mais íntimos e pessoais com o sofrimento. Isso não significa que vamos tentar encontrar formas de minimizar a dor ou achar caminhos que a evitem. O objetivo maior não é tentar explicar o sofrimento nem procurar uma cura para ele. A tarefa do pastor é se envolver-se com o sofrimento. Trata-se de uma decisão consciente e deliberada de mergulhar na experiência dos que sofrem. Essa disposição tem sua origem e se encontra por completo nos textos das Escrituras que moldam o ministério pastoral.
[O pastor que Deus usa, Mundo Cristão, p. 112.]
Além das dores dos outros, eu, PASTOR Leandro, também lido com as dores de minha família e, obviamente, minhas próprias dores. Eu também choro e lamento – tanto interna quanto externamente, tanto por mim mesmo quanto por outras pessoas.
Mas você sabe o que mais me impressiona nisso tudo?
Tenho aprendido que, embora chorar seja muito natural e fácil, lamentar – o tipo de lamento que é bíblico, honesto e redentor – não é assim tão natural para o ser humano, nem para o crente. Sendo honesto com vocês: há algo no lamento que a princípio me deixa desconfortável, até mesmo assustado.
Pense, por exemplo, na última vez que você se sentou com alguém que estava completamente dominado pela dor e a tristeza. Ou pense em um funeral onde você ouviu o choro estridente de desespero de alguém dominando o local. Esses momentos ficam gravados na nossa mente e coração, e parte da razão pela qual eles são tão assustadores e chocantes é que não temos uma categoria bem desenvolvida ou bíblica para o lamento. Sabemos chorar. Mas talvez não saibamos lamentar.
Biblicamente falando, o que é lamentar?
LAMENTO NÃO É MURMURO, reclamação, falação. Lamentar não é murmurar.
LAMENTO É UM GRITO alto, um uivo ou uma expressão apaixonada, contundente de dor. O lamento dá voz e palavras às emoções que se sentem por causa da dor, do sofrimento e das perguntas que surgem na alma. Os Salmos estão cheios de lamentos. Pelo menos um terço do Saltério é composto de lamentos – quarenta e dois deles são lamentos individuais e dezesseis são lamentos coletivos. Lamentos são encontrados tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Aliás, os Salmos de lamento são alguns dos que mais fornecem detalhes sobre a crucificação de Jesus: o Salmo 69.21 faz referência ao vinagre que a Jesus foi dado para beber; o Salmo 109.25 prediz a zombaria da multidão; o Salmo 22.18 faz referência aos soldados apostando as roupas de Jesus; o Salmo 22.16 diz: “perfuraram minhas mãos e meus pés”; e Jesus citou o Salmo 22.1 em um de seus brados finais na cruz: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Todos salmos de lamento!
LAMENTOS PODEM SER pessoais ou coletivos. Eles podem ser confissões de uma pessoa lidando diante de Deus com seu próprio pecado ou com o pecado da família, dos amigos, da nação ou do povo. Os lamentos também podem ser imprecatórios [praga, maldição], quando tratam de pecados cometidos contra quem está lamentando.
O LAMENTO LUTA CONTRA as circunstâncias da vida que levantam questões difíceis sobre a aparente ausência da presença de Deus e o mistério dos propósitos da amarga providência divina. Em outras palavras, os lamentos fazem pelo menos duas perguntas: [1.] “Onde está Deus?” e [2.] “Se Deus me ama, por que isso está acontecendo comigo?” Lamento é o que está no coração de Salmos 22.1: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? Por que estás tão distante de meus gemidos por socorro?”
LAMENTAR NÃO É O OPOSTO DE LOUVAR, embora se faça perguntas difíceis a Deus e se lute profundamente com ele. O lamento é um caminho para o louvor. É a transição da pancada da dor para a promessa de Deus. O lamento é um deserto através do qual Deus nos conduz. O lamento luta com o que está quebrado dentro de nós e ao nosso redor. O lamento é a estrada entre a destruição do pecado e a misericórdia de Deus.
LAMENTAR NÃO É NECESSARIAMENTE INCREDULIDADE. Dada a proeminência do lamento nos Salmos e em toda a Bíblia, lamentar – lamentar bem, saber lamentar biblicamente – é na verdade um ato de fé. Problemas, dores e sofrimentos fazem parte do que significa ser humano. E lutar, buscar sentido e lamentar faz parte do que significa ser cristão. Quando entende o problema do pecado no mundo, a grandeza do poder de Deus, a beleza da redenção e o plano futuro do SENHOR para seu povo, o coração do cristão clama com fé, como está posto em Apocalipse 6.10:“Ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, [até quando!?] quanto tempo passará até que julgues os habitantes da terra e vingues nosso sangue?” Isso é lamentar.
TODO LAMENTO É REALMENTE UMA ORAÇÃO. É o clamor de um coração ferido, confuso, cheio de dor, mas crente. O lamento é um ato de fé pelo qual resistimos à tentação de parar de falar com Deus porque estamos zangados ou desencantados com ele. Os lamentos expressam a Deus o que ele já sabe sobre nosso coração ferido. Por isso é que digo: chorar é inerentemente humano; lamentar é inerentemente cristão.
Algo que nós temos feito bastante nos últimos tempos é lamentar. Mas será que estamos lamentando biblicamente, corretamente? Estamos lamentando ou murmurando?
Precisamos checar.
Se já lamentávamos bastante, desde que estourou a pandemia nós nos tornamos peritos em lamentações. Ora, e não é para menos, não é gente?! Quantas perdas! Quantas desgraças! Foi por isso que, nestes dois anos de COVID-19, eu já preguei algumas séries de mensagens sobre dor e sofrimento pessoal. Dentre outros temas, primeiro eu fiz uma série sobre o livro de Joel (que deu à luz o meu primeiro livro: A mão de Deus ou o dedo do diabo?); segundo, preguei sobre os combates da alma (lidando com questões tais quais o medo, a ansiedade, a culpa, a tentação etc.); e, mais recentemente, preguei no livro de Jó. Todas essas mensagens foram destinadas a nos ajudar a lidar com a dor da pandemia e seus desdobramentos em um nível mais pessoal.
Voltamo-nos hoje para LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS. Nosso estudo deste livro olhará para o mesmo conceito de dor e sofrimento, mas de duas perspectivas diferentes:
[1.] verá a dor em uma perspectiva coletiva ou comunitária e
[2.] considerará o que devemos fazer quando a dor não passa rapidamente.
EM OUTRAS PALAVRAS, aonde você vai quando a dor é pandêmica e quando não parece que vai terminar em breve? O que você faz? A quê você recorre? Que linguagem você usa para descrever esse quadro? Quais categorias bíblicas estão disponíveis para você neste momento? Como você ora? O que você deve pensar a respeito de tudo? Como se ajudar neste estado de lamentação? Como ajudar alguém que está no meio da lamentação? Essas são algumas das perguntas que buscaremos responder nesta série de sermões – aprenderemos a arte de lamentar. Se não aprendermos a lamentar, viveremos murmurando. Por isso que estou dizendo: aprenda a lamentar.
Você não sabe, mas as duas mensagens para este domingo já estavam prontas. Atos 13.1-3 e Salmo 93. Pergunte à Cris, ela te dirá: preparei as exposições bíblicas nas férias! Até as divulguei em meu Instagram. Mas esta semana, na terça-feira (dia 18/01) eu decidi que pregaria em Lamentações neste restante de janeiro e no início de fevereiro – seis mensagens no total, duas a cada domingo. Depois, Deus permitindo, voltaremos a Atos dos Apóstolos e aos Salmos.
Eu decidi pregar em Lamentações, especificamente, pelas seguintes razões:
1. Desde o início da pandemia, um dos versículos bíblicos que mais tenho utilizado em minhas orações e em aconselhamento pastoral é Lamentações 3.21, que na ARA se lê: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.” e na NVT se acha: “Ainda ouso, porém, ter esperança”. Daí o nome desta série no livro de Lamentações: Ouse ter esperança.
2. Conversando com um irmão na terça-feira ele me abriu que, de novo, deu uma recolhida em casa com a família por causa deste novo surto de COVID; falou da preocupação de pegar e transmitir para funcionários (pelos quais se sente responsável); disse da preocupação em pegar e transmitir para a mãe (que deverá passar por cirurgia em breve); desabafou da angústia de viver as medidas restritivas, esse vai e volta, fecha e abre, essa sensação de “e se eu pegar”, “e se eu transmitir”; e compartilhou da tristeza decorrente desse tempo de muitos dias consecutivos de chuva e céu nublado, sem sol.
Compartilhei com esse irmão, adivinha?, Lamentações 3.21. De fato, compartilhei Lamentações 3.20-33, que descreve as misericórdias do Senhor em dias terríveis. Ele me respondeu: “Poderoso!!! Não me recordava desse texto!!!”
Tal conversa me fez pensar: muita gente deve estar vivendo essa mesma angústia do irmão, e como Lamentações poderá ajudar – tanto a mensagem do livro em si quanto as categorias que o livro ensina para a hora de lamentar!
Então, na mesma terça-feira, após o post do MM Orlando no grupo de WhatsApp da igreja (contando que está com COVID) e do post da secretaria (comunicando do falecimento do Sr. Veloso, pai do Glauco Borges), uma irmã (certamente angustiada com este momento difícil, coitada!), postou na melhor das intenções: “Boa tarde! Só tristeza e tragédia… Em oração”. Conclui: definitivamente, preciso pregar em Lamentações de Jeremias. Sem contar que o número de irmãos nossos, e de familiares, que está com COVID é assustador, apesar de, graças a Deus os casos estarem mais brandos. Mas fala-se que a Ômicron contaminará 50% da população de Goiás até fevereiro. É muita gente!
Além disso, outras razões me trazem a Lamentações de Jeremias:
3. A dor é inevitável nesta vida – com ou sem pandemias – , e eu quero que você esteja preparado para sofrê-la. Quero prepará-lo não apenas para o momento em que você sofrerá pessoalmente, mas também para o momento em que estiver sua família sofrendo, um círculo de amigos sofrendo, seu pequeno grupo sofrendo, sua igreja sofrendo, sua cidade ou seu país sofrendo. Eu quero que você saiba como lamentar coletivamente, comunitariamente, em vez de murmurar uns com os outros.
4. Outra coisa: a dor gera emoções fortes, então, quero que você saiba o que fazer com elas, sem se descontrolar. Nossa tendência é ou negá-las ou explodir sem controle ou tentar resolvê-las rapidamente. Às vezes a dor não passa rapidamente, e quero que você aprenda a viver em lamento, o tempo que for necessário. QUERO QUE VOCÊ ASSIMILE QUE o lamento bíblico não é apenas um caminho para a adoração, mas é um modo de adoração; e saiba também que é a pena da dor que escreve as canções que nos convidam para dançar, como escreveu o compositor cristão Michael Card.
5. Por fim, sofrer ou lamentar bem, saber lamentar biblicamente, oferece uma grande oportunidade para o nosso evangelismo pessoal, à medida que o mundo ouve de nós e vê em nós uma linguagem centrada em Deus que eles mesmos não conseguem falar. Eugene Peterson oferece este argumento perspicaz:
Uma razão pela qual as pessoas se sentem desconfortáveis com as lágrimas e a visão do sofrimento é que é um ataque blasfemo à sua espiritualidade americana [ocidental] precariamente mantida de busca de felicidade. Elas querem evitar a evidência de que as coisas não estejam bem com o mundo tal como ele é – sem Jesus, sem amor, sem fé… É muito mais fácil manter a fé americana [ocidental] se elas não tiverem que encarar o sofrimento… Portanto, aprender a linguagem do lamento não é apenas necessário para restaurar a dignidade cristã ao sofrimento, ao arrependimento e à morte; a linguagem do lamento é necessária também para fornecer um testemunho cristão para um mundo que não tem linguagem para e, portanto, é alheio às glórias do deserto e da cruz.
Eu sei que você sabe chorar, mas você sabe lamentar? Você sabe lidar com a sua própria dor, a dor dos outros ou a dor de um grupo? Você enxerga o valor e o propósito de aprender a linguagem do lamento? Você entende o quanto o lamento bíblico estampado em sua vida seria útil para um mundo que não tem uma solução categórica para o sofrimento [para a pandemia, por exemplo]?
Nós precisamos deste tópico e precisamos do livro de Lamentações porque nos ajudará a ver que, como William Cowper escreveu, “POR TRÁS DE UMA PROVIDÊNCIA CARRANCUDA, DEUS ESCONDE UM ROSTO SORRIDENTE”. O lamento nos revela essa verdade, repetidamente, e nos ensina como prevalecer em meio à dor e ao sofrimento sem perder a esperança. Portanto, ouse ter esperança, lamentando biblicamente, aprendendo a lamentar.
Você pode achar que não, mas acima e além do choro, o lamento cristão acrescenta algo mais às lágrimas: fornece esperança. Já pensou sobre isso?
Eu sei que a princípio você pode achar estranho e até irônico o que estou dizendo, mas o lamento bíblico requer fé e é, essencialmente, uma oração. Por quê?
Ora, o lamento cristão conhece a causa da tristeza, entende a solução e anseia pela libertação prometida. [1.] O lamento cristão luta com a tensão de que Deus é bom, mas coisas ruins ainda acontecem. [2.] O lamento luta com a promessa de que um dia não haverá mais dor, lágrimas, lamento e morte (Ap 21.4), mas esse dia ainda não chegou. [3.] O lamento cristão reconhece a causa final do sofrimento e anseia pela resolução prometida. [4.] Os cristãos podem realmente lamentar porque entendem a história completa da redenção – criação, queda, Cristo/redenção e glorificação.
VEJA: o choro expressa tristeza pela dor, enquanto o lamento cristão vai além; ele interpreta a causa e a trajetória da dor. Por isso creio que chorar é humano, mas lamentar – lamentar do jeito bíblico – é cristão.
O lamento é uma categoria importante e bíblica, sobre a qual precisamos aprender para praticar. Precisamos lamentar não apenas porque está na Bíblia, mas também porque há muito mais dor ao nosso redor do que imaginamos (e tantas vezes ignoramos). Pense na dor daqueles que perderam pessoas amadas, emprego, saúde, liberdade e tantas coisas mais; todos nós perdemos e temos sofrido por isso; mas não temos sabido lamentar biblicamente, coletivamente. Não é verdade, gente? Sim, é verdade, não temos sabido lamentar! E é lamentável que não estejamos sabendo como lamentar.
HÁ DUAS CATEGORIAS DE LAMENTO NAS ESCRITURAS: o lamento pessoal e o lamento coletivo. O LAMENTO PESSOAL envolve clamar a Deus por causa de [1.] sua própria pecaminosidade (Sl 38), [2.] pessoas pecando contra você (Sl 31), [3.] do que se vê os ímpios praticarem impunimente (Sl 10), [4.] traição sofrida (Sl 55), ou [5.] sofrimento em geral (Sl 22). Mas o lamento não é apenas sobre lutas pessoais.
Um número muito significativo de LAMENTOS COLETIVOS foi escrito para expressar tristeza pelo que aconteceu com um povo inteiro. Por exemplo, no primeiro salmo do livro IV (penúltimo) do saltério se lê o seguinte lamento coletivo:
Salmos 90.7-13 7Somos consumidos por tua ira, ficamos apavorados com tua fúria. 8Tu pões diante de ti os nossos pecados, nossos pecados secretos, e vês todos eles. 9Passamos a vida debaixo de tua ira e terminamos nossos dias com um gemido. 10Recebemos setenta anos, alguns chegam aos oitenta. Mas até os melhores anos são cheios de dor e desgosto; logo desaparecem, e nós voamos. 11Quem conhece o poder de tua ira? Grande é a tua fúria, como o temor de que és digno. 12Ajuda-nos a entender como a vida é breve, para que vivamos com sabedoria. 13Ó SENHOR, volta-te para nós! Até quando te demorarás? Tem compaixão de teus servos.
Os lamentos coletivos dão voz ao sofrimento de um grupo de pessoas, família ou nação. Esses lamentos expressam a tristeza do que está acontecendo com a cultura, a cidade, a nação ou a família. Eles lutam com o mesmo tipo de perguntas com as quais nós lidamos em lamentos individuais, mas o contexto é muito mais amplo. Os lamentos coletivos lamentam dificuldades generalizadas, pecaminosidade institucionalizada ou estrutural ou a disciplina de Deus sobre uma nação ou grupo de pessoas. Os lamentos coletivos expressam tristeza, clamam a Deus por ajuda e servem como um chamado de “despertar” para a geração atual e para as gerações futuras que os lerão.
Portanto, enquanto estudamos as Lamentações de Jeremias, quero que você considere o que tem para lamentar pessoalmente. Mas também quero expandir sua visão e compreensão do que significa fazer parte de um grupo, comunidade ou nação que está lamentando (ou deveria, sim, lamentar). Há lamentos que deveríamos estar levando a Deus em nome de nossa família, igreja e nação. — EM OUTRAS PALAVRAS:
[1.] Quais emoções e quais orações devem fluir de seu coração quando a saúde, educação, política, economia, cultura ou segurança desmoronam diante dos nossos olhos no Brasil?
[2.] Que tipo de orações devemos orar quando nossos governantes são ímpios e quando a injustiça parece dominar?
[3.] O que você deve orar quando lê o jornal, assiste ao noticiário, recebe uma notícia perturbadora ou um diagnóstico devastador?
[4.] Existe algo pelo que talvez devêssemos estar lamentando na sociedade, mas não estamos? Por exemplo: aborto, órfãos, racismo, desigualdade social… quais são os pecados da nossa cultura e pelos quais deveríamos estar lamentando, mas não estamos?
[5.] O que devemos orar quando vemos o estado atual da igreja evangélica brasileira, pelo que deveríamos lamentar, mas não estamos – perdemos o evangelho, gente!; hoje é evangelho da prosperidade, evangelho da autoajuda, evangelho da autoestima… meu povo, pelo que deveríamos lamentar na igreja evangélica brasileira, mas não estamos?
CHORAR É HUMANO, MAS LAMENTAR É CRISTÃO. E se o cristianismo é capaz de interpretar corretamente a dor e o sofrimento, então devemos não apenas lamentar nossas dores e tristezas pessoais, mas também as tristezas de outras pessoas, nossa igreja, outras igrejas, nossa cidade e nação. Aqueles que entendem a natureza do pecado e o plano de redenção devem saber lamentar muito mais do que apenas pelas suas próprias dores. Devemos conhecer a linguagem do lamento coletivo, e falá-la.
Jesus falava a linguagem do lamento. Ele lamentou lá no Getsêmani, quando estava profundamente angustiado:
Mateus 26.36-46 36Então Jesus foi com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse: “Sentem-se aqui enquanto vou ali orar”. 37Levou consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu e começou a ficar triste e angustiado. 38“Minha alma está profundamente triste, a ponto de morrer”, disse ele. “Fiquem aqui e vigiem comigo.” 39Ele avançou um pouco, curvou-se com o rosto no chão e orou: “Meu Pai! Se for possível, afasta de mim este cálice. Contudo, que seja feita a tua vontade, e não a minha”. 40Depois, voltou aos discípulos e os encontrou dormindo. “Vocês não puderam vigiar comigo nem por uma hora?”, disse ele a Pedro. 41“Vigiem e orem para que não cedam à tentação, pois o espírito está disposto, mas a carne é fraca.” 42Então os deixou pela segunda vez e orou: “Meu Pai! Se não for possível afastar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade”. 43Quando voltou pela segunda vez, encontrou-os dormindo de novo, pois não conseguiam manter os olhos abertos. 44Foi orar pela terceira vez, dizendo novamente as mesmas coisas. 45Em seguida, voltou aos discípulos e lhes disse: “Como é que vocês ainda dormem e descansam? Vejam, chegou a hora. O Filho do Homem está para ser entregue nas mãos de pecadores. 46Levantem-se e vamos. Meu traidor chegou”.
Jesus lamentou no Getsêmani, e seu lamento o sustentou aos pés do Pai, até que chegasse o traidor.
Jesus também lamentou na hora mais escura de sua vida, lá na cruz:
Mateus 27.45-50 45Ao meio-dia, desceu sobre toda a terra uma escuridão que durou três horas. 46Por volta das três da tarde, Jesus clamou em alta voz: “Eli, Eli, lamá sabactâni?”, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”. 47Alguns dos que estavam ali pensaram que ele chamava o profeta Elias. 48Um deles correu, ensopou uma esponja com vinagre e a ergueu num caniço para que ele bebesse. 49Os outros, porém, disseram: “Esperem! Vamos ver se Elias vem salvá-lo”. 50Então Jesus clamou em alta voz novamente e entregou seu espírito.
Jesus lamentou na cruz, e seu lamentou o sustentou nos braços do Pai, até que chegasse a hora de ele entregar seu espírito na morte ao Pai.
Durante seu ministério, Jesus lamentou sobre Jerusalém:
Mateus 23.37-39 37“Jerusalém, Jerusalém, cidade que mata profetas e apedreja os mensageiros de Deus! Quantas vezes eu quis juntar seus filhos como a galinha protege os pintinhos sob as asas, mas você não deixou. 38E, agora, sua casa foi abandonada e está deserta. 39Pois eu lhe digo: você nunca mais me verá, até que diga: ‘Bendito é o que vem em nome do Senhor!’”.
Esse lamento, longe de estar atestando que o Senhor não é soberano na salvação de suas ovelhas, longe de estar comprovando que a soberania de Deus tem limitações em face do “livre-arbítrio” do homem… esse lamento de Jesus, de fato, está declarando, como bem escreveu John MacArthur, que Jesus “é cheio de compaixão, sinceramente bom para todos [inclusive para os que o perseguem], desejoso do bem, não do mal – e, portanto, não se deleita na destruição dos ímpios (Ez 18.32; 33.11).”
O choro de Jesus pelo pecador não é de impotência, mas de compaixão. O soberano Cristo, com efeito, chora e lamenta pela dureza do coração dos pecadores que se recusam a se render à sua graça:
Lucas 19.41-44 41Quando Jesus se aproximou de Jerusalém e viu a cidade, começou a chorar. 42“Como eu gostaria que hoje você compreendesse o caminho para a paz!”, disse ele. “Agora, porém, isso está oculto a seus olhos. 43Chegará o tempo [anos 70, destruição de Jerusalém e do templo pelo romanos sob o comando de Tito] em que seus inimigos construirão rampas para atacar seus muros e a rodearão e apertarão o cerco por todos os lados. 44Esmagarão você e seus filhos e não deixarão pedra sobre pedra, pois você não reconheceu que Deus a visitou.”
O lamento de Jesus pelos pegadores, inclusive por aqueles que o perseguiram e o mataram, guardou o coração dele da ira – a ponto de permiti-lo orar por eles lá da cruz, Lucas 23.34: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”.
JESUS FALAVA A LÍNGUA DO LAMENTO – lamentou na hora da angústia, lamentou na hora da escuridão, lamentou diante dos pecadores. Nós precisamos aprender a lamentar. Agora, só aprende a lamentar assim como Jesus quem prova de Jesus como salvador e vive pela mesma esperança que sustentou Jesus em todos os seus lamentos: a glória de Deus no céu:
Hebreus 12.2-3 2Mantenhamos o olhar firme em Jesus, o líder [autor] e aperfeiçoador de nossa fé. Por causa da alegria que o esperava, ele suportou a cruz sem se importar com a vergonha. Agora ele está sentado no lugar de honra à direita do trono de Deus. 3Pensem em toda a hostilidade que ele suportou dos pecadores; desse modo, vocês não ficarão cansados nem desanimados.
Eu e você precisamos aprender a lamentar.
Que tal você começar olhando para Jesus, autor e aperfeiçoador da fé?
Busque em Cristo fé. Coloque nele sua fé. Sustente sua fé na esperança da vida eterna. Aprenda a lamentar.
Lamentações 3.19-24 19Como é amargo recordar meu sofrimento e meu desamparo! 20Lembro-me sempre destes dias terríveis enquanto lamento minha perda. 21Ainda ouso, porém, ter esperança quando me recordo disto: 22O amor do SENHOR não tem fim! Suas misericórdias são inesgotáveis. 23Grande é sua fidelidade; suas misericórdias se renovam cada manhã. 24Digo a mim mesmo: “O SENHOR é minha porção; por isso, esperarei nele!”.
À noite, Deus permitindo, voltaremos à Lamentações, ousando ter esperança.
S.D.G. L.B.Peixoto
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Pr. Leandro B. Peixoto