29.11.2019
AS LENTES DA GRATIDÃO
2Crônicas 20.21
Depois de consultar o povo, o rei [Josafá] nomeou cantores para irem adiante do exército, cantando e louvando o SENHOR por sua santa majestade [com vestimentas sagradas]. Cantavam assim: “Deem graças ao SENHOR; seu amor dura para sempre!”.
NÃO É FÁCIL A GRATIDÃO
Viver com gratidão não é fácil para ninguém. Não é algo natural nem para o cristão.
Sabemos que devemos contar as bênçãos, mas é muito mais fácil falar das nossas desgraças. Agimos assim mais naturalmente. Todos nós sabemos: dificuldades e angústias capturam nossos pensamentos e interrompem nossos dias bem mais facilmente do que as bênçãos e as alegrias delas decorrentes. O problema é que contar nossas misérias faz encolher nossa alma e, no final, ficamos mais miseráveis do que quando começamos.
Contar nossas bênçãos pode ser tarefa árdua a princípio, um ato de tributar obediência e não um transbordar de alegria, mas, no final, abrirá espaço no nosso coração. Quando escolhemos nos concentrar naquilo que nos foi concedido, em vez de remoer o que está nos faltando, sentimo-nos mais feliz. Mais contentes. Menos agitados.
Ainda melhor: Quando escolhemos encarar nossas misérias, olhando-as nos olhos, para ver nelas bênçãos, algo milagroso acontece dentro da gente. Passamos a enxergar toda a vida de maneira diferente. Vemos nossas circunstâncias através das lentes da fé. Somos capaz de declarar com confiança que, mesmo nas piores circunstâncias, Deus ainda é bom e há muito pelo que agradecer.
A PERSPECTIVA DOS PEREGRINOS
É comum se pensar que o primeiro Dia de Ação de Graças nasceu de uma alegre celebração dos peregrinos ingleses que, fugindo da perseguição religiosa na pátria mãe do continente para a liberdade do novo mundo, após terem se instalado na colônia americana, desfrutado de uma colheita abundante, decidiram compartilhar com os nativos americanos a provisão abundante de Deus naquela nova terra fértil. Mas não foi bem assim. Celebrar o primeiro Dia de Ação de Graças foi um ato de fé e adoração sóbrias, não uma resposta natural à prosperidade e à abundância.
No outono de 1620, o Mayflower (navio que os transportava) partiu para a Virgínia com 102 passageiros a bordo. Em 16 de dezembro, eles desembarcaram em Massachusetts, ao norte do destino pretendido, exatamente quando o inverno estava chegando. O clima do norte era muito mais severo que o da Virgínia, e os colonos não estavam preparados para o inverno que se aproximava. A estação trouxe temperaturas amargas e doenças galopantes. Os abrigos eram rudimentares. A comida era escassa. As pessoas estavam morrendo.
Naquele inverno, todas as famílias, com exceção de três, cavaram túmulos no solo duro da Nova Inglaterra para enterrar um marido, esposa ou filho. Na primavera de 1621, metade dos peregrinos havia morrido de doença e fome. Ninguém ficou intocado pela tragédia.[Assista Saints & Strangers, uma série de dois episódios na Netflix, pois narra a história dos primeiros peregrinos que chegaram ao que hoje são os Estados Unidos.]
Não obstante a todas as perdas dolorosas, algumas até traumáticas, os peregrinos escolheram agradecer. Eles aprenderam nas Escrituras que o povo de Deus deveria agradecer a Deus em todas as circunstâncias. Entenderam, à partir de textos como 2Crônicas 20, por exemplo, que mesmo antes da provisão ou da libertação, os israelitas eram instruídos a dar graças. Tanto é que se você ler todo o texto ao qual nós nos referimos, descobrirá que o rei Josafá viu o poder da ação de graças em ação, quando os inimigos dos israelitas foram derrotados diante dos olhos deles enquanto o povo louvava a Deus (2Crônicas 20). E as palavras que eles usaram para celebrar (2Cr 20.21) foram semelhantes ao belo refrão que atravessa tantos salmos. Por exemplo, o Salmo 118.1: “Deem graças ao SENHOR, porque ele é bom; seu amor dura para sempre!”.
Os peregrinos (separatistas ingleses, dissidentes da igreja da Inglaterra) e o povo de Deus nos dias de Josafá escolheram agradecer pelo que tinham, em vez de se concentrarem em tudo o que haviam perdido. Eles tiveram que procurar as bênçãos. Ativa e deliberadamente. As ações de graças deles não se baseavam em circunstâncias agradáveis, mas no entendimento de que Deus deveria ser agradecido tanto na prosperidade quanto na adversidade (na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza o Senhor deve ser louvado). A gratidão deles não era uma fachada de “pensamento positivo”, mas uma confiança profunda e constante de que Deus estava guiando todas as circunstâncias, mesmo quando a vida era difícil. Ver a vida através das lentes da gratidão mudou a perspectiva deles toda.
Realmente, ver a vida através das lentes da gratidão a Deus pode mudar tudo.
ESCOLHA SEU FOCO
Eu invejo os bons fotógrafos. Eles veem coisas, objetos, animais, ângulos ou pessoas que eu nunca notaria. Sabem ver as coisas e usar a luz em seu favor. Eu? Por mais que esteja diante de um celeiro velho e destruído em alguma fazenda antiga, contemple um prédio em ruínas precisando de reforma ou esteja face a uma das mais belas maravilhas do mundo, minhas fotos nunca serão boas. Por quê? Eu não sei ver. Não tenho olhos fotográficos. Meus olhos, nesse sentido, não são artísticos.
Os olhos dos fotógrafos, por sua vez, enxergam a linda estrutura desgastada, vê o ângulo certo e sabe usar a iluminação natural. Tanto que as fotos desses invejáveis artistas, observe você, sempre revelam ângulos e linhas únicos, trazem aos olhos da gente os detalhes belamente intrincados que nem de perto nós os comuns teríamos conseguido enxergar. Por que, meu Deus?
Esses fotógrafos estão dispostos não apenas a olhar, mas também a ver e a enxergar muito além do óbvio e saborear as pequenas coisas. São pacientes (“Quem não gosta de esperar não pode ser fotógrafo. […] É preciso descobrir o prazer da paciência.” — Sebastião Salgado, Da minha terra à Terra). Esses fotógrafos sabem esperar e sabem quando devem ser rápidos. Esperam. Agem. Tentam de novo. Observam. Chegam perto. Tocam o objeto com o coração. Eles sabem que é o fotógrafo que faz a foto e não a câmera.
As fotos de tirar o fôlego sempre são aquelas que, fruto principalmente da paciência, retratam o que nós teríamos ignorado completamente. O segredo é saber focar as lentes na coisa certa, no ângulo certo e sob a luz ideal. Da mesma forma, a maneira como enxergamos a própria vida depende do que escolhemos focar. De alguns ângulos, parece uma bagunça. Mas de outros cantos, é linda. Nossa perspectiva depende de onde direcionamos nossas lentes. O foco deve ser a glória de Cristo. O ângulo é o da nossa santificação. A luz é a do evangelho da glória de Cristo. Esta perspectiva nos levará a enxergar a vida com as lentes da gratidão. E isto mudará tudo.
A GRATIDÃO NOS AJUDA A VER
A gratidão nos ajuda a ver, ver a glória de Cristo. Como assim?
Infelizmente, além de não ser para nós natural a gratidão, geralmente não experimentamos alegria em Deus através da gratidão. Costumamos agradecer por causa de algum sentimento de obrigação. É mal educado não agradecer. Fica feio. Não é mesmo? Aprendemos que é assim, desde cedo na vida. Ocorre a mesma coisa em relação a Deus: agradecemos as bênçãos de Deus por dever, obrigação (“temos que agradecer!”), e dessa forma nós não compreendemos como a gratidão nos ajuda a ver a gloriosa misericórdia de Deus, aumentando nossa alegria.
O problema, como já dissemos, está em enxergarmos a ação de graças, a expressão de gratidão como uma obrigação a ser cumprida. Ou seja: Deus fez algo por mim e agora eu devo a ele a minha gratidão. E depois que eu digo “obrigado”, minha dívida foi paga. Mas não é assim que a Bíblia fala sobre ação de graças. Considere, primeiro, como a palavra de Deus, frequentemente, liga ação de graças com alegria.
Sl 97.12 (NAA) | Alegrem-se no Senhor, ó justos, e deem graças ao seu santo nome.
Sl 107.22 (NVT) | Que ofereçam sacrifícios de ações de graças e anunciem suas obras com canções alegres.
Então, alegria e ação de graças estão conectados. Mas como?
Quando damos graças, nos alegramos com o que Deus deu. Pense, por exemplo, na alegria que sentimos ao sermos promovido no trabalho ou ao sermos curados de alguma enfermidade. Certamente, a alegria nos dons ou dádivas de Deus faz parte da gratidão. Mas não é a única alegria da gratidão. E não é a maior alegria.
A MAIOR ALEGRIA DA GRATIDÃO
Descobrimos qual é a maior alegria da gratidão ao observarmos quantas vezes a palavra de Deus vincula ação de graças com louvor.
Sl 35.18 | Então te darei graças diante da comunidade e te louvarei perante todo o povo.
Sl 69.30 | Então louvarei o nome de Deus com cânticos e o exaltarei com ações de graças.
Lc 17.15-16 | 15Um deles [dentre os 10 leprosos], ao ver-se curado, voltou a Jesus, louvando a Deus em alta voz. 16Lançou-se a seus pés, agradecendo-lhe pelo que havia feito. Esse homem era samaritano.
Perceba que, num primeiro momento, não dá para distinguir ação de graças e louvor. Mas, claro, nalgum sentido elas são diferentes: a ação de graças se concentra mais no que Deus faz, enquanto o louvor se concentra em quem Deus é.
Não obstante à diferença, os versículos que lemos demonstram que sempre há uma conexão entre ação de graças e louvor. A ação de graças (gratidão pelo que Deus faz) se liga ao louvor por não ignorar quem é Deus. Assim, render graças ao SENHOR, agradecer nos ajuda a ver e louvar quem é Deus. E esse ato de ver e louvar a Deus é a maior alegria da gratidão.
Como é que isso funciona?
COLOCANDO AS LENTES DA GRATIDÃO
Digamos que você recebeu uma promoção e queira agradecer a Deus. A gratidão começa por ver o valor e a misericórdia dos dons ou dádivas de Deus.
Funciona assim: Você lembrará a si mesmo do valor dessa promoção — talvez seja um trabalho mais interessante, salário mais alto e uma carreira melhor. Daí, você vai refletir sobre a misericórdia dessa promoção — que, por ser um pecador que merece apenas o inferno, esse presente é uma misericórdia infinitamente cara, comprada para você pelo sofrimento de Jesus na cruz.
Então, na medida em que você agradece a Deus, recontando para si mesmo o valor e a misericórdia dessa promoção, a experiência será como colocar óculos — você começa a ver ainda mais claramente a glória da graça de Deus em Cristo. E isso aumentará sua alegria em Deus, porque contemplar a gloriosa misericórdia de Deus é a alegria que plenamente satisfaz.
Portanto, quando Deus nos chama para agradecer, ele não está apenas nos chamando para agradecer pelo que ele fez (ação de graças). Ele está nos chamando para nos alegrarmos com quem ele é (louvor), conforme ficou demonstrado no que ele fez. Agradecer a Deus nos leva a ver mais de Deus, e ver mais de Deus é a nossa maior alegria.
CRESCENDO EM DIREÇÃO À GRATIDÃO
Como podemos agradecer, render graças a Deus de uma maneira que aumente nossa alegria em Deus? Permitam-me concluir, apresentando-lhes cinco etapas.
Primeiro, peça a ajuda do Espírito. O objetivo da ação de graças, ou de um Dia de Ação de Graças, é ver e sentir a glória da misericórdia de Deus, e nós não conseguiremos fazer isso sem a obra do Espírito. Então, peça. Ore a Deus. Peça a ajuda do Espírito.
Segundo, pondere o valor dos dons de Deus. Considere o valor de cada dádiva de Deus. Pense em saúde, amigos, comida na sua frente, trabalho, sustento, etc. Pense especialmente no Salvador, cuja morte pagou por seus pecados, permitiu-lhe desfrutas de coisas boas desta vida e adquiriu plenitude de alegria nele para sempre.
Terceiro, pense na misericórdia dos dons de Deus. Não apenas não merecemos esses dons ou dádivas de Deus, mas por causa de nossos pecados, tudo o que merecemos é o julgamento de Deus. Peça a Deus para ajudá-lo a ver isso, para que você se sinta mais maravilhado com a graça e a misericórdia exibidas neste presente comprado por sangue.
Quarto, faça isso até conseguir ver e sentir mais da gloriosa misericórdia de Deus. Continue orando pela obra reveladora de Jesus a você pelo Espírito, e continue pensando no valor e na misericórdia dos dons de Deus, até você sentir mais da gloriosa misericórdia de Deus em Cristo.
Quinto, expresse sua ação de graças e alegre louvor a Deus. Agradeça a Deus pelas dádivas, expressando o valor de cada uma e a misericórdia de cada uma, regozijando-se em como cada dádiva demonstra a glória da graça de Deus para você em Cristo.
Todos nós precisamos de ajuda para ver a gloriosa misericórdia de Deus em Jesus Cristo. E as lentes da gratidão podem ajudar. Então, para o bem da sua alegria em Deus, coloque as lentes de gratidão. E veja. Renda graças a Deus e louve.
“Deem graças ao SENHOR; seu amor dura para sempre!”. (2Cr 20.21)
Cântico: Te Agradeço.
S.D.G. L.B.Peixoto
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