17.11.2024
Êxodo 25.1–31.18 (NVT)
1O Senhor disse a Moisés: 2“Diga ao povo de Israel que me traga suas ofertas. Aceite as contribuições de todos cujo coração os dispuser a doar. 3Aqui está uma lista das ofertas que você aceitará deles: ouro, prata e bronze;
4fios de tecido azul, roxo e vermelho; linho fino e pelos de cabra para confeccionar tecido;
5peles de carneiro tingidas de vermelho e couro fino; madeira de acácia;
6óleo de oliva para as lâmpadas; especiarias para o óleo da unção e para o incenso perfumado;
7pedras de ônix e outras pedras preciosas para serem fixadas no colete e no peitoral do sacerdote.
8“Instrua os israelitas a construírem para mim um santuário, para que eu viva no meio deles. 9Devem fazer esse tabernáculo e sua mobília de acordo com o modelo que eu lhe mostrarei.”
“Ele não é tão bom. Nós não somos tão maus. Qualquer caminho serve.” Vou repetir, preste atenção: “Ele não é tão bom. Nós não somos tão maus. E qualquer caminho serve.” Essa frase, argumenta Mark Dever, resume em essência a forma como o cristianismo muitas vezes é retratado na atualidade. De fato, parece fazer sentido, pois cada parte se alinha com as demais, reforçando o conjunto como um todo: “Ele não é tão bom. Nós não somos tão maus. Qualquer caminho serve.” Analise comigo.
“Ele não é tão bom.” Você sabe a quem se está referindo? Está se falando de Deus. Pense bem: por que será que, quando Deus aparece como personagem em filmes, quase sempre é em comédias? Ele é retratado como alguém velho, cansado, uma figura simpática, sim!, mas um tanto aloprada. Até em algumas igrejas de hoje surgem teologias que sugerem que Deus é limitado — que ele não conhece o futuro. Essa versão atualizada de Deus já não é tão gloriosa quanto costumava ser. “Ele não é (mais) tão bom.”
Prosseguindo: “Nós (afinal) não somos tão maus.” Já reparou que, hoje em dia, quase todo personagem em romances ou filmes é moralmente ambíguo? Mesmo os heróis, os mocinhos — aqueles que representam o “bem” — são retratados como ingênuos, puros demais. Mas nós não somos tão ingênuos assim, certo? Não somos tão puros. Gostamos de heróis com falhas, afinal. Personagens como Batman, Homem de Ferro, Thor e até Sherlock Holmes só se tornam atraentes quando deixam de ser absolutamente bons, quando passam de imaculados a complexos e perturbados. Até criminosos passaram a ser aclamados nos filmes e nas séries; respeitam-se sua visão de mundo — eles apenas são consistentes com ela, oras! “Nós (afinal) não somos tão maus.”
Aliás, sinceramente, muitas vezes não achamos que é caridoso acreditar que todos são basicamente bons, que agem com boas intenções? Afinal, se algo é intrínseco, deve ser bom, certo? Portanto, ninguém pode julgar o outro. Se conhecêssemos melhor e compreendêssemos mais, provavelmente concordaríamos com as pessoas. “Deus conhece meu coração.” Com certeza, não pode ser tão ruim assim, certo?
Poderíamos continuar, mas penso que já deu para perceber a força do mote: “Nós não somos tão maus.”
“Ele não é tão bom. Nós não somos tão maus. — E a conclusão final? — Qualquer caminho serve.” Sim!, pois se o próprio Deus não é tão diferente de nós e se realmente não somos tão maus, então as diferenças entre diversas formas de espiritualidade ou adoração tornam-se triviais, questões de pouca importância realmente. Essas diferenças perdem realmente o significado quando se assume que até mesmo aqueles que negam a Deus podem ser moralmente íntegros e aceitáveis ao próprio Deus que eles veementemente negam. Nessa visão de mundo, a “embalagem” da religião — seus ritos ou formas (e até seu credo!) — tem pouca relevância.
Não foi Schleiermacher (1768–1834), o teólogo alemão, “pai da teologia moderna”, quem disse que a essência da religião é simplesmente sentir nossa dependência de Deus, independentemente do que acreditamos sobre ele? Será mesmo?!
Bem, meu amigo, minha amiga, se o único Deus que você conhece não é tão diferente de você — um Deus de quem você realmente nem precisa, um Deus que você pode encontrar de qualquer forma que escolher — então tenho notícias incríveis para você nesta noite. Notícias verdadeiramente maravilhosas. Há Alguém que não é nada parecido com isso. Alguém que é genuinamente, totalmente e completamente bom, e Alguém que conhece a verdade sobre você — e sobre o que você não é (tão bonzinho, tão boazinha assim). Ele é um Deus que, ao contrário do que você pensa, você não conhece tão bem quanto imagina, mas que pode passar a conhecer verdadeiramente nesta noite.
Por mais que o neguem ou o ignorem, há um Deus único e verdadeiro que destroça as ideias vagas que muitas pessoas têm ao pensar em Deus hoje. Para conhecê-lo, recorremos à Bíblia, especificamente ao livro de Êxodo, nos capítulos 25 a 31. Não leremos todos esses sete capítulos, mas desejo que você compreenda os eventos e a mensagem que se desenrolam nesta seção do segundo livro das Escrituras.
Primeiramente, recordemos nosso ponto atual de estudo. Já exploramos Gênesis, o livro que trata da aliança de Deus com os patriarcas. Agora, em Êxodo, a narrativa de Gênesis continua. Gênesis relatou a criação do mundo e da humanidade, a queda de Adão e Eva no pecado — e nossa queda coletiva com eles, os representantes da raça humana —, resultando em culpa nossa e separação de Deus. Contudo, mesmo então, Deus não nos abandonou. Muitos anos depois, o Criador, o SENHOR, escolheu Abraão, Isaque e Jacó (ou Israel) e os abençoou. Gênesis terminou com o povo de Deus sendo preservado da extinção devido à fome, através de José, um dos filhos de Israel, que, ao alcançar posição de poder no Egito, salvou sua nação ainda em fase embrionária.
Êxodo retoma a história cerca de 400 anos após a época de José. Neste momento, o povo de Deus já estava desfalecendo na escravidão do Egito. Deus, no entanto, ouviu seu clamor e lembrou-se das promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó. Assim, no início de Êxodo, o SENHOR, o grande EU SOU, levantou Moisés para conduzir seu povo para fora do Egito com sinais e maravilhas poderosas. Ele os guiou pelo deserto até o monte Sinai, exatamente onde estamos agora, e formalmente tomou a nação como sua, dando-lhes sua lei e seus regulamentos. Israel aceitou os termos e se consagrou ao SENHOR Deus em aliança, como seu povo especial.
Esse foi o resumo da história bíblica até aqui — uma “versão compacta”, a “edição pocket” da história da redenção que se desenrola nas páginas da Bíblia Sagrada.
Na última mensagem, paramos no capítulo 24 de Êxodo, no Sinai. Recapitulando: o propósito da última seção do livro — de 21.1 a 24.18 — era fornecer uma base para o ensino sobre a natureza da justiça divina: o amor a Deus e ao próximo na prática; a ética e a moral do povo de Deus. Pois bem, analisando casos específicos de aplicação da vontade de Deus em situações concretas, o leitor do Pentateuco poderia aprender os princípios fundamentais que sustentam a relação da aliança. Enquanto os “Dez Mandamentos” (20.1-17) forneciam uma declaração geral da lei moral de Deus — que são os princípios básicos e inalienáveis de justiça que o SENHOR exige de seu povo —, os exemplos selecionados nos capítulos seguintes (21.1–24.18) demonstravam, de forma prática, como esses princípios ou ideais deveriam ser aplicados a situações reais por meio de regulamentos: como seria a “socialização”, a “sociedade civil” do povo de Deus.
Agora, aqui nos capítulos 25 a 31, Deus chama Moisés mais uma vez ao monte para encontrá-lo. Esses capítulos, então, tratarão das instruções que o Senhor dará a Moisés sobre as ofertas para o tabernáculo e as vestes sacerdotais. Observe a conclusão da seção anterior, introduzindo-nos a esta nova cena:
Êxodo 24.15-18 (NVT)
15Então Moisés subiu ao monte, e a nuvem cobriu o monte. 16A glória do Senhor pousou sobre o monte Sinai, e a nuvem o cobriu por seis dias. No sétimo dia, o Senhor chamou Moisés de dentro da nuvem. 17Para os israelitas que estavam ao pé do monte, a glória do Senhor no alto do Sinai parecia um fogo consumidor. 18Moisés desapareceu na nuvem ao subir ao monte e ali permaneceu quarenta dias e quarenta noites.
Agora, passamos à próxima seção de Êxodo. Acompanhe comigo:
Êxodo 25.1–31.18 (NVT)
1O Senhor disse a Moisés: 2“Diga ao povo de Israel que me traga suas ofertas. Aceite as contribuições de todos cujo coração os dispuser a doar. 3Aqui está uma lista das ofertas que você aceitará deles: ouro, prata e bronze;
4fios de tecido azul, roxo e vermelho; linho fino e pelos de cabra para confeccionar tecido;
5peles de carneiro tingidas de vermelho e couro fino; madeira de acácia;
6óleo de oliva para as lâmpadas; especiarias para o óleo da unção e para o incenso perfumado;
7pedras de ônix e outras pedras preciosas para serem fixadas no colete e no peitoral do sacerdote.
8“Instrua os israelitas a construírem para mim um santuário, para que eu viva no meio deles. 9Devem fazer esse tabernáculo e sua mobília de acordo com o modelo que eu lhe mostrarei.”
Não leremos todos os sete capítulos desta passagem, pois pode ser mais proveitoso guiá-los por meio de uma visão panorâmica — um esboço que facilite o entendimento de cada seção. Dessa forma, você terá uma estrutura clara e organizada para, se desejar, aprofundar-se e ler cada parte com mais atenção posteriormente. Em tudo, não perca de vista a realidade de que há sim o Deus verdadeiro, o Deus Criador do céus e da terra, e de tudo o que neles há; o Deus da aliança com Abraão, Isaque e Jacó; o Deus da aliança do Sinai; o Deus e Pai de nosso SENHOR e Salvador Jesus Cristo.
A partir do capítulo 25, versículo 10, o SENHOR iniciará as instruções para a construção do tabernáculo, a fabricação dos utensílios e a confecção dos trajes sacerdotais. Mais adiante, nos capítulos 35 a 40, encontraremos a execução detalhada desse projeto sagrado. OBSERVE O SEGUINTE: todos os materiais e recursos necessários serão providos pelas ofertas recolhidas do povo da aliança (25.1-9), mas tudo o que será ofertado já foi previamente dado ao povo pelo próprio SENHOR. Como isso aconteceu? A resposta remonta à noite do êxodo, quando Deus mesmo providenciou os recursos que mais tarde seriam devolvidos a ele em oferta. Leia:
Êxodo 12.35-36 (NVT)
35Seguindo as instruções de Moisés, pediram aos egípcios que lhes dessem roupas e objetos de prata e ouro. 36O SENHOR fez os egípcios serem bondosos com o povo, de modo que lhes entregaram tudo que pediram. Assim, os israelitas tomaram para si as riquezas dos egípcios.
O próprio Deus garantiu que o povo da aliança tivesse todos os materiais que ele exigia. Essa providência nos lembra a oração de Agostinho: “Senhor, dá o que ordenas e ordena o que queres.” Assim, Deus nos mostra que não apenas revela o caminho até ele, mas também providencia os meios para que possamos percorrê-lo; não apenas requer de nós o que devemos fazer, mas também nos capacita para que possamos realizar. Paulo, já no Novo Testamento, em Filipenses 2.13 (NVT), escreveu que “Deus está agindo em vocês, dando-lhes o desejo e o poder de realizarem aquilo que é do agrado dele.”
Curiosamente, o capítulo 31, o último desta seção de Êxodo, começa com uma passagem sobre artesãos habilidosos, aos quais Deus dotou com seu Espírito para que realizassem, com precisão e excelência, as tarefas que ele próprio requereu. Afinal, o SENHOR mesmo, como já vimos nas palavras de Agostinho, dá o que ordena e ordena o que quer. Observe o texto:
Êxodo 31.1-11 (NVT)
1O Senhor disse a Moisés: 2“Veja, escolhi especificamente Bezalel, filho de Uri e neto de Hur, da tribo de Judá. 3Enchi-o do Espírito de Deus e lhe dei grande sabedoria, habilidade e perícia para trabalhos artísticos de todo tipo. 4Ele é exímio artesão, perito no trabalho com ouro, prata e bronze. 5Tem aptidão para gravar e encravar pedras preciosas e entalhar madeira. É mestre em todo trabalho artístico.
6“Para ajudá-lo, designei pessoalmente Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã. Além disso, conferi habilidade especial a todos os artesãos de talento para que façam tudo que lhe ordenei:
7a tenda do encontro [ou arca do testemunho];
a arca da aliança;*
a tampa da arca, que é o lugar de expiação;
todos os objetos do tabernáculo;
8a mesa e seus utensílios;
o candelabro de ouro puro e todos os seus acessórios;
o altar de incenso;
9o altar do holocausto e todos os seus utensílios;
a bacia de bronze e seu suporte;
10o vestuário finamente confeccionado: as roupas sagradas para o sacerdote Arão e as roupas para seus filhos usarem em seu serviço como sacerdotes;
11o óleo da unção;
o incenso perfumado para o lugar santo.
Os artesãos deverão fazer tudo conforme eu lhe ordenei”.
O SENHOR Deus do tabernáculo que seria construído era ninguém menos do que o Criador do mundo. Ele criou a humanidade — homem e mulher — com toda a sua beleza e propósito. Ao projetar o tabernáculo, Deus demonstrou novamente sua criatividade, transmitindo a Moisés, no monte Sinais, padrões detalhados para a obra. Deus concebeu, proveu e forneceu cada instrução para esse local sagrado, suas práticas e seus sacerdotes. Ele ainda capacitou e ensinou seu povo, concedendo seu Espírito aos artesãos e habilitando-os a criar esses objetos sagrados com habilidade. Cada detalhe artístico era um reflexo da própria obra gloriosa do Criador.
As direções de Deus foram meticulosas e precisas. No capítulo 25, versículo 9, já lemos, duas vezes, que Deus disse: “Devem fazer esse tabernáculo e sua mobília [exatamente] de acordo com o modelo que eu lhe mostrarei.” Deus foi intencional, cuidadoso e deliberado, como é em tudo o que faz.
Richard Rogers (1551–1618), pregador e escritor inglês, era conhecido por sua vida piedosa e por enfatizar uma conduta disciplinada e rigorosa, refletindo o zelo puritano por uma vida de estrita obediência e devoção a Deus. Certa vez, alguém lhe perguntou: “Por que o senhor é tão rigorosamente preciso, senhor?” Ao que ele respondeu: “Porque, meu caro senhor, eu sirvo a um Deus rigorosamente preciso.”
De fato, meu povo, nosso Deus é um Deus preciso, cuidadoso e intencional. Cada padrão e instrução que deu era deliberado e significativo, revelando que ele próprio é o Autor atento de cada detalhe. Assim como nenhuma dor ou tristeza, nenhuma tragédia ou infortúnio na vida de seus filhos passa despercebido ou sem propósito, cada elemento do tabernáculo foi cuidadosamente moldado para seus propósitos.
Mas, afinal, quais foram as instruções e quais eram seus propósitos?
No capítulo 25, a partir do versículo 10, as instruções começam com a arca da aliança — um objeto sagrado projetado para guardar uma cópia dos Dez Mandamentos, escritos pelo próprio Deus (vs. 10-22). Em seguida, descrevem-se a mesa, que é posicionada diante da arca (vs. 23-30), e o candelabro de ouro puro, com todos os detalhes de sua estrutura e ornamentação (vs. 31-40).
No capítulo 26, são detalhados os elementos do tabernáculo — uma estrutura retangular composta por molduras de madeira (vs. 15-30), coberta por véu e cortinas (vs. 1-14) e cercada por um limite externo, também feito de molduras e cortinas (vs. 36-37).
No capítulo 27, Deus fornece instruções para a construção de um altar para os holocaustos (vs. 1-8) e para o pátio do tabernáculo (vs. 9-19), incluindo orientações para a preparação e o uso do óleo puro de oliva, que manterá os candelabros acesos continuamente (vs. 20-21).
A seguir, vêm as instruções que especificam as vestimentas sagradas que os sacerdotes devem usar (cap. 28) e os procedimentos cerimoniais necessários para sua consagração (cap. 29).
No capítulo 28, Deus descreve em detalhes as vestes sacerdotais, incluindo o colete sacerdotal, com destaque para as duas pedras de ônix gravadas com os nomes das tribos de Israel, simbolizando o povo diante de Deus (vs. 6-14); o peitoral com as doze pedras preciosas, cada uma gravada com o nome de uma tribo, e o uso do Urim e do Tumim para discernir a vontade divina (vs. 15-30); o manto com romãs e sinos de ouro na barra (vs. 31-35); o turbante com a placa de ouro gravada com a inscrição “Santo Para o Senhor” (vs. 36-38); além da túnica bordada, o cinturão e outras peças sagradas, que completam o traje sacerdotal (vs. 39-43).
No capítulo 29, Deus apresenta as instruções para a consagração dos sacerdotes. O processo inclui o sacrifício de um novilho como oferta pelo pecado e de dois carneiros para a consagração (vs. 10-28), além da unção com óleo (vs. 4-9) e a aspersão de sangue, simbolizando a purificação e separação dos sacerdotes para o serviço exclusivo a Deus (vs. 20-21). A cerimônia de consagração deveria durar sete dias, reafirmando diariamente o compromisso dos sacerdotes com o SENHOR e sua total dedicação ao santuário (vs. 35-37).
No capítulo 30, Deus apresenta regulamentações sobre o altar de incenso (vs. 1-10), o dinheiro da expiação, que cada israelita deve oferecer como resgate por sua vida (vs. 11-16), a bacia de bronze para purificação, destinada às lavagens dos sacerdotes antes de entrarem no Tabernáculo (vs. 17-21), e as fórmulas específicas para o óleo da unção (vs. 22-33) e o incenso sagrado (vs. 34-38), ambos de uso exclusivo no santuário.
No capítulo 31, após descrever a capacitação divina que equipa um grupo de artesãos liderados por Bezalel e Aoliabe para realizar o trabalho necessário à construção do tabernáculo (vs. 1-11), encontramos instruções sobre o dia do Senhor. O sábado é prescrito para Israel como sinal da aliança e como um dia separado para Deus, em observância perpétua, fundamentado no descanso de Deus após a Criação (vs. 12-17).
Assim, essa seção se conclui com um epílogo: o SENHOR entrega a Moisés o sinal visível da aliança, as duas tábuas de pedra, conforme se lê em Êxodo 31.18 (NVT):”Quando o SENHOR terminou de falar com Moisés no monte Sinai, entregou-lhe as duas tábuas de pedra gravadas com os termos da aliança, escritas pelo dedo de Deus.”
Como, então, devemos ler, entender e extrair benefícios de seções como esta? Teremos de recorrer a um estudo profundo de numerologia bíblica para desvendar significados específicos em cada instrução? Ou faremos uso de alegorias as mais mirabolantes, como tantos têm feito ao longo das épocas? Sim! Com frequência, cristãos se concentram nos detalhes mais minúsculos desses capítulos. Gregório, o Grande, por exemplo, sugeriu que, em Êxodo 25.12, ao mencionar as quatro argolas de ouro nos cantos da arca, a arca simbolizaria a igreja, e as quatro argolas representariam os quatro Evangelhos — Mateus, Marcos, Lucas e João — que a sustentam. Ele também interpretou que os dois querubins mencionados no versículo 18 representam o Antigo e o Novo Testamento, enquanto o linho finamente tingido de roxo e vermelho do tabernáculo, mencionado no capítulo 26, simbolizaria o amor a Deus e ao próximo.
Essa abordagem interpretativa alegórica, no entanto, não foi exclusiva de Gregório. Outro pregador dos primeiros séculos sugeriu que as bases de prata descritas no capítulo 26 para as armações que sustentavam o tabernáculo representam os profetas, enquanto os travessões de madeira de acácia para ligar as armações, simbolizariam os apóstolos. Essas interpretações poderiam se estender indefinidamente. Contudo, é importante observar que esse tipo de interpretação alegórica, por sincera e piedosa que seja, está longe de ser a forma mais responsável de buscar o sentido do texto.
Se, por um lado, a alegoria não é adequada como método de interpretação, por outro, a tipologia é um conceito intrínseco à própria Bíblia. Na interpretação bíblica, a alegoria é uma abordagem que entende certos textos como metáforas ou símbolos representando verdades espirituais ou teológicas mais profundas, além do sentido literal. Nesse método, detalhes de uma passagem podem ser interpretados como símbolos de ideias espirituais ou morais. A alegoria era amplamente utilizada por alguns dos pais da igreja, como Orígenes e até mesmo Agostinho, para extrair do texto “significados espirituais ocultos” — como vimos anteriormente.
A tipologia, por sua vez, é uma forma de interpretação que identifica certos eventos, personagens ou instituições do Antigo Testamento como “tipos” (ou prefigurações) de realidades futuras, especialmente cumpridas em Cristo e no Novo Testamento. Diferentemente da alegoria, a tipologia preserva o significado histórico original do texto, mas o considera uma sombra ou preparação para uma revelação mais completa no futuro. Exemplos incluem Adão, visto como um “tipo” de Cristo (o “segundo Adão”), o sacrifício do cordeiro pascal, que prefigura o sacrifício de Jesus, e o jardim do Éden, entendido como um tipo da cidade celestial final descrita em Apocalipse, onde Deus e a humanidade habitam juntos em bem-aventurança.
Em resumo, enquanto a alegoria busca significados espirituais em elementos específicos do texto, a tipologia identifica padrões históricos que se cumprem posteriormente, especialmente em Cristo.
Desse modo, não é seguro aplicar o método de interpretação alegórica para compreender passagens como Êxodo 25 a 31. A tipologia, por outro lado, foi o método adotado pelos próprios autores do Novo Testamento para interpretar e aplicar essas passagens à vida dos crentes. Por exemplo, o véu que separa o lugar santo do Santo dos Santos no tabernáculo e no templo, segundo Hebreus 10.20, representa o corpo de Cristo. Pela ruptura de sua carne, um caminho foi aberto para que os pecadores entrem na presença de Deus e para que a presença de Deus se aproxime de nós.
Portanto, para interpretar esses tipos corretamente, precisamos ser guiados pelo ensino do Novo Testamento. O Novo Testamento revela algum elemento como tipo ou enfatiza um significado particular? Ou, ao contrário, seria essa uma interpretação imaginativa, como a que sugere que as quatro argolas da arca correspondem aos quatro Evangelhos?
Se examinarmos esses capítulos em detalhes, poderemos aprender muito, analisando cada parte e distinguindo entre elementos que funcionam como tipos genuínos e aqueles que servem apenas como detalhes históricos. Contudo, no pouco tempo que nos resta, desejo que nos mantenhamos com um passo atrás para observar o quadro geral. À luz do que já vimos, bem como à luz do Novo Testamento, o que Êxodo 25 a 31 pinta para nós são verdades essenciais sobre Deus, sobre seu povo e sobre como um Deus tão santo e glorioso habita com um povo tão pecador e depravado. Essas são as principais lições que Deus queria ensinar ao seu povo por meio da construção do tabernáculo no deserto, e são elas as que mais precisamos compreender hoje.
O texto sobre o tabernáculo revela características profundas e marcantes de Deus.
Essas revelações preparam o leitor para refletir sobre o que o tabernáculo também ensina a respeito do povo de Deus, pois o conhecimento de Deus é essencial para que seu povo compreenda sua própria identidade e propósito.
O texto sobre o tabernáculo também revela muitas verdades profundas sobre o povo de Deus e sobre a condição humana de maneira geral, destacando tanto a natureza de nossa relação com Deus quanto nossa dependência total dele. Aqui estão os principais pontos:
Em resumo, o texto nos mostra que somos criados para estar em comunhão com Deus, mas que o pecado nos separa dele. Ainda assim, em sua misericórdia, Deus providenciou um meio de restauração, chamando-nos ao arrependimento e à fé, e à santidade por meio da fé. Nossa existência e nosso culto devem refletir essa dependência total de Deus e a obediência ao que ele revelou sobre si mesmo.
Êxodo 25 a 31 nos ensina, por fim, como o tabernáculo representava o caminho para que um Deus santo habitasse com um povo pecador, oferecendo um modelo repleto de significados. Embora o tabernáculo fosse uma estrutura física, seu propósito era transmitir verdades espirituais profundas que permanecem relevantes para nós.
O tabernáculo, então, é um modelo rico em tipos e significado. Ele nos ensina sobre a gloriosa santidade de Deus, a necessidade inalienável de sacrifício para a reconciliação e o desejo de Deus de habitar entre seu povo. O tabernáculo aponta para Cristo, o verdadeiro tabernáculo, e nos convida a uma comunhão profunda com Deus, agora acessível pelo sacrifício de Jesus.
S.D.G. L.B.Peixoto
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