06.10.2024
Êxodo 19.5-6 (NVT)
5Agora, se me obedecerem e cumprirem minha aliança, serão meu tesouro especial dentre todos os povos da terra, pois toda a terra me pertence. 6Serão meu reino de sacerdotes, minha nação santa’. Essa é a mensagem que você deve transmitir ao povo de Israel”.
Qual é a prioridade mais importante da vida? Ou, dito de outra maneira, qual é o investimento mais valioso que você pode fazer ao longo de todos os seus dias na terra?
Essa é uma pergunta que deve ser feita a si mesmo muitas vezes ao longo da existência. É o tipo de questionamento profundo que surge, sobretudo, quando se passa a ter fé salvadora em Jesus Cristo, tornando-se discípulo e seguidor de Jesus. Essa indagação – Qual é a prioridade mais importante da vida? Ou: qual é o investimento mais valioso que posso fazer ao longo de todos os meus dias na terra? – se intensifica após uma leitura cuidadosa do trecho do livro de Êxodo que temos diante de nós nesta noite: 19.1—20.21. Espero, ao longo deste estudo panorâmico, deixar evidente o quanto essa passagem impõe uma reflexão urgente, séria e sincera sobre a questão da prioridade ou do investimento mais valioso da vida.
À primeira vista, alguns podem considerar essa passagem irrelevante ou até obsoleta, pois Êxodo 19.1—20.21 coloca Moisés e o povo sob a sombra das tábuas de pedra da lei. É verdade que o texto narra o encontro de Deus com Moisés, mas ele culmina na entrega da lei escrita em pedra e no estabelecimento da aliança com o povo no Sinai. Diante disso, talvez você pergunte com espanto: “Como posso encontrar a prioridade mais importante da vida em um texto da Bíblia que trata da LEI? LEI! É isso mesmo?” — alguém poderia questionar. Afinal, no Novo Testamento lemos que, em Cristo, “fomos libertos da lei” (Rm 7.6, NVT) e que “não estamos debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6.15, ARA). “Ora, francamente, como encontrar a prioridade mais importante da vida em um texto que trata da LEI?”
Seria uma pena, se não fosse uma tragédia, esse tipo de pensamento — uma visão que já se disseminou em muitos círculos evangélicos. É como uma bomba que atinge o coração do entendimento correto, ferindo espiritualmente e, em alguns casos, causando até mortes espirituais. Acima de tudo, porque o próprio Cristo não tratou a lei dessa maneira, como tantos fazem hoje, apelando para a graça — sim, a “graça”. Essas pessoas colocam a lei e a graça como inimigas, quando, na verdade, a “graça” que proclamam é distorcida e barata — uma verdadeira (des)graça! Ouça o que o Salvador disse sobre a lei – e tire suas próprias conclusões:
Mateus 5.17-19 (NVT)
17“Não pensem que eu vim abolir a lei de Moisés ou os escritos dos profetas; vim cumpri-los. 18Eu lhes digo a verdade: enquanto o céu e a terra existirem, nem a menor letra ou o menor traço da lei desaparecerá até que todas as coisas se cumpram. 19Portanto, quem desobedecer até ao menor mandamento, e ensinar outros a fazer o mesmo, será considerado o menor no reino dos céus. Mas aquele que obedecer à lei de Deus e ensiná-la será considerado grande no reino dos céus.
Paulo, o mesmo que escreveu que, em Cristo, “fomos libertos da lei” (Rm 7.6, NVT) e que “não estamos debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6.15, ARA), também afirmou que — preste atenção! — “OS QUE PRATICAM A LEI hão de ser justificados” (Rm 2.13, ARA). De fato, Paulo escreveu que “o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm 3.28, ARA), MAS também declarou que “a lei… é boa” (Rm 7.16, ARA) e, em sua carta a Timóteo, acrescentou: “Sabemos que A LEI É BOA QUANDO USADA CORRETAMENTE” (1Tm 1.8, NVT). PORTANTO, cabe ao cristão compreender e fazer o uso correto da lei, sem descartá-la, depreciá-la ou deturpá-la.
VOLTANDO A ÊXODO 19.1—20.21, encontramos o SENHOR Deus propondo uma aliança a Israel. Nesse texto, a santa presença do SENHOR desce sobre o monte Sinai e, de lá, da nuvem de glória, comunica a lei ao seu povo, dando-lhes instruções sobre santidade e justiça, amor a Deus e amor ao próximo. É por meio dessas orientações que a aliança entre Deus e o povo será formalmente estabelecida, selada pelo sangue dos sacrifícios e celebrada em uma refeição de comunhão na presença do SENHOR (lá em Êxodo 24). Descobrimos, então, que o tempo que passamos com Deus em aliança (aliança no sangue de Cristo; cf. Lc 22.20 e 1Co 11.25), como seus filhos, deve ser nossa prioridade número um. A lei, por sua vez, é necessária, pois revela o caráter santo de Deus e estabelece os termos do relacionamento gracioso entre Deus e seu povo.
Itinerário e Cenário da Aliança
Êxodo 19.1-2 (NVT)
1Exatamente dois meses depois de saírem do Egito [literalmente, “na terceira lua nova depois que os israelitas deixaram o Egito, naquele mesmo dia”; ou seja, precisamente dois meses lunares depois do êxodo; fim de maio e começo de junho], chegaram ao deserto do Sinai. 2Depois de levantar acampamento em Refidim, chegaram ao deserto do Sinai e acamparam ao pé do monte.
Depois de viajarem por aproximadamente três meses, os hebreus chegaram ao monte Sinai, não raro identificado com Jebel Musa (em árabe, “a montanha de Moisés”), com 2.285 metros de altitude. No relato bíblico, a importância desse cenário é incontestável. Foi ali que, conforme o texto sagrado, Deus entregou a lei a Moisés, marcando um momento crucial na história de Israel. Aproximadamente dois milhões de israelitas acamparam nas encostas dessas montanhas imponentes, reunidos para ouvir a voz de Deus.
Uma vez chegados ao Sinai, conforme registrado em Êxodo 19.1, os israelitas permaneceriam ali por aproximadamente onze meses. A partida só será relatada mais adiante, no livro de Números, nos seguintes termos, Números 10.11-12 (NVT): “No segundo ano desde a saída de Israel do Egito, no vigésimo dia do segundo mês, a nuvem se elevou acima do tabernáculo da aliança. Então os israelitas saíram do deserto do Sinai e viajaram de um lugar para outro até a nuvem pousar no deserto de Parã.”
Indiscutivelmente, o período descrito no Pentateuco representa os primeiros momentos cruciais na vida do povo de Deus. De acordo com estudos realizados na Bíblia Hebraica, os eventos narrados no Pentateuco abrangem um período total de 2.706 anos. O livro de Gênesis, por exemplo, cobre desde a criação do mundo até a morte de José no Egito, o que corresponde a cerca de 2.300 anos — desde o início da criação até aproximadamente 1.800 a.C. Já os livros de Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio concentram-se principalmente no êxodo do povo de Israel do Egito e nos 40 anos de peregrinação pelo deserto, abrangendo cerca de 120 anos, desde o nascimento de Moisés até a entrada de Israel em Canaã – aproximadamente em 1.406 a.C. (Por curiosidade, desde a entrada de Israel em Canaã até o nascimento de Jesus, decorreram aproximadamente 1.400 anos. De Adão até Cristo, passaram-se cerca de 4.106 anos. E de Cristo até os dias atuais, aproximadamente 2.024 anos. Portanto, de Adão até hoje, somam-se cerca de 6.130 anos.)
Embora os 2.706 anos de história narrados no Pentateuco abranjam um longo período, é notável que apenas onze meses desse tempo tenham sido passados no Sinai. No entanto, esse breve período ocupa quase um terço do conteúdo total do Pentateuco. Conforme destacado por Victor Hamilton, de Gênesis 1.1 a Êxodo 18.27, temos 2.028 versículos; de Êxodo 19.1, quando Israel chega ao Sinai, até Números 10.10, quando Israel deixa o Sinai, são 1.972 versículos; e de Números 10.11 até Deuteronômio 34.12, cobrindo os 38 a 39 anos de peregrinação restantes, temos 1.849 versículos. Esses números destacam a importância singular do tempo que Israel passou no Sinai, como refletido pela grande quantidade de versículos dedicados a esse período nas Escrituras.
Os onze meses que Israel passou no Sinai, apesar de curtos em comparação com o restante da jornada, ocupam uma porção substancial do texto bíblico. Esse período não apenas marca o estabelecimento da lei e da aliança entre Deus e Israel, mas também representa um momento crucial na formação da identidade espiritual e comunitária do povo de Deus.
Preparação para a Aliança
Após a informação sobre o itinerário e o cenário (Êxodo 19.1-2), o capítulo descreve os dois dias de preparativos do povo para o encontro com Deus no terceiro dia (v. 3-15), seguidos pelos preparativos finais na manhã desse dia (v. 16-24). Esses preparativos enfatizam a necessidade de consagração total do pecador que se aproximará do Deus santo. A preparação para a aliança é estruturada em torno de três ciclos de subida e descida de Moisés, simbolizando a mediação entre Deus e o povo, e reforçando a seriedade e santidade do encontro com o Senhor.
Fundamento, Motivação e Propósitos da Aliança
Êxodo 19.3-8a (NVT)
[Fundamento: a eleição da graça:] 3Então Moisés subiu ao monte para apresentar-se diante de Deus. Lá de cima, o Senhor o chamou e disse: “Transmita esta mensagem à família de Jacó; anuncie-a aos descendentes de Israel: [Motivação: a redenção e a preservação pela graça:] 4‘Vocês viram o que fiz aos egípcios. Sabem como carreguei vocês sobre asas de águias e os trouxe para mim. 5Agora, [Propósitos: 1. a formação de um povo especial, 2. que servem com amor e 3. em santidade] se me obedecerem e cumprirem minha aliança, [1.] serão meu tesouro especial dentre todos os povos da terra, pois toda a terra me pertence. [2.] 6Serão meu reino de sacerdotes, [3.] minha nação santa’. Essa é a mensagem que você deve transmitir ao povo de Israel”.
7Moisés voltou do monte, convocou os líderes do povo e lhes comunicou tudo que o Senhor havia ordenado. 8aTodo o povo respondeu a uma só voz: “Faremos tudo que o Senhor ordenou!”. […]
Requisitos da Aliança
Êxodo 19.8b-15 (NVT)
8b[…] E Moisés comunicou ao Senhor a resposta do povo.
9O Senhor disse a Moisés: “Virei até você numa nuvem densa, para que o povo me ouça quando eu lhe falar e, assim, confie sempre em você”.
Moisés relatou ao Senhor o que o povo tinha declarado. 10Então o Senhor disse a Moisés: “Desça e consagre o povo, hoje e amanhã. Providencie que eles lavem suas roupas 11e estejam prontos no terceiro dia, pois nesse dia o Senhor descerá sobre o monte Sinai à vista de todos. 12Marque um limite ao redor de todo o monte e avise o povo: ‘Tenham cuidado! Não subam ao monte, nem mesmo toquem o limite. Quem tocar o monte certamente será morto. 13Ninguém ponha a mão na pessoa ou no animal que ultrapassar o limite; antes, apedreje-o ou atravesse-o com flechas. Quem cruzar o limite não poderá continuar a viver’. Mas, quando soar o toque longo da trombeta, o povo poderá subir ao monte”.
14Moisés desceu do monte e foi até onde o povo estava. Ele os consagrou, providenciou que lavassem suas roupas 15e lhes disse: “Preparem-se para o terceiro dia e, até lá, não tenham relações sexuais”.
Os Mediadores da Aliança
Nos dois primeiros ciclos, correspondentes aos dois dias de preparativos, Moisés subiu ao cume do monte para se encontrar com Deus e receber Suas instruções (v. 3, 6, 8b-13). Em seguida, desceu até o povo, que estava no sopé, para transmitir a mensagem divina e ouvir a resposta deles (v. 7, 8a, 14, 15).
No terceiro dia, Moisés começou no sopé do monte, mas foi chamado novamente ao cume para se encontrar com Deus e receber as Tábuas de Pedras da lei (v. 20-24). Todo o processo de preparação é marcado pela presença de Moisés no cume do monte, onde ele recebe as instruções diretamente do SENHOR.
Êxodo 19.16-25 (NVT)
16Na manhã do terceiro dia, houve estrondo de trovões e clarão de raios, e uma nuvem densa envolveu o monte. Um toque longo de trombeta ressoou, e todo o povo que estava no acampamento tremeu. 17Moisés conduziu o povo para fora do acampamento, ao encontro de Deus, e todos pararam ao pé do monte. 18O monte Sinai estava todo coberto de fumaça, pois o Senhor havia descido em forma de fogo. Nuvens de fumaça subiam ao céu, como de uma imensa fornalha, e todo o monte tremia violentamente. 19Enquanto o barulho da trombeta aumentava, Moisés falava e Deus respondia com voz de trovão. 20O Senhor desceu sobre o topo do Sinai e chamou Moisés para o alto do monte, e ele subiu.
21Então o Senhor disse a Moisés: “Desça e alerte o povo que não ultrapasse o limite para ver o Senhor. Do contrário, muitos morrerão. 22Até mesmo os sacerdotes, que se aproximam do Senhor, deverão purificar-se para que o Senhor não os destrua”.
23Moisés respondeu ao Senhor: “Mas o povo não pode subir ao monte Sinai. Tu já nos advertiste: ‘Marque um limite ao redor de todo o monte para separá-lo como lugar sagrado’ ”.
24O Senhor, porém, disse: “Desça do monte e depois suba de novo, acompanhado de Arão. Enquanto isso, não permita que os sacerdotes nem o povo ultrapassem o limite para se aproximar do Senhor. Do contrário, ele os destruirá”.
25Moisés desceu até onde o povo estava e lhes comunicou o que tinha sido dito.
DEUS PASSARÁ À ENTREGA DA LEI. Antes de avançarmos, contudo, é importante esclarecer o uso do termo “lei”.
Bruce Waltke informa que a tradução tradicional de tôrâ por lex (Agostinho), Gesetz (Lutero) e “lei” (nos vários idiomas) induz a uma interpretação equivocada, pois, no mundo ocidental, o conceito de “lei” tem suas raízes no direito romano. Consequentemente, em nossa cultura, o termo “lei” evoca um código impessoal e obrigatório de conduta, cujo cumprimento é garantido pela imposição de penalidades por uma autoridade controladora. No entanto, NA BÍBLIA HEBRAICA, o sentido básico de tôrâ é “ensino catequético”, que visa instruir e guiar a nação eleita, funcionando como sua constituição. Um exemplo claro disso é que os Dez Mandamentos — como veremos a seguir — não apresentam penas diretamente associadas ao seu descumprimento. Portanto, dada a riqueza de significados de tôrâ, muitos estudiosos defendem que seria mais adequado transliterar o termo, em vez de traduzi-lo simplesmente como “lei”.
Atenção: fatos importantes sobre mediação e contexto da lei mosaica.
Com base em análises de leis, tratados e alianças do antigo Oriente Próximo, datados entre o terceiro milênio a.C. (c. 2500–2300) e o início do primeiro milênio a.C. (c. 900–650), além de considerações sociológicas da época, argumenta-se que Moisés foi mesmo o mediador tanto da aliança do Sinai (Êxodo-Levítico) quanto de sua renovação (Deuteronômio).
Outro ponto a destacar é que essas leis do mundo antigo consistem em um TRÍPTICO [isto é, um códice feito de três placas] DE NORMAS QUE REGULAM OS RELACIONAMENTOS: leis, que governam as interações entre os membros de um grupo; tratados, que regulam as relações entre dois grupos politicamente distintos (ou entre senhor e servo); e alianças, que regulam o relacionamento entre um grupo e a divindade que o governa. Assim, a aliança é “religiosa”, pois serve à divindade por meio da adoração; ela é também “social”, já que inclui normas para a vida prática (lei); e, por fim, “política”, pois a divindade assume o papel de soberano exclusivo sobre o grupo.
Agora, a singularidade da lei mosaica.
Com exceção de Israel, não há registros de nenhuma outra religião do antigo Oriente Próximo que tenha firmado uma aliança entre um deus e seu povo. Por isso, não há menção de um povo que tenha a santidade como distintivo, refletindo a santidade de seu deus. Apenas Israel. No entanto, do ponto de vista formal, a lei entregue no Sinai — quando considerada em sua totalidade a partir de Êxodo 20, juntamente com o livro de Levítico e sua renovação nas planícies de Moabe (em Deuteronômio) — [a lei entregue no Sinai] apresenta uma mescla das formas jurídicas existentes no antigo Oriente Próximo. Ela combina elementos de leis do terceiro milênio e início do segundo milênio a.C. com tratados entre senhores e servos que surgiram a partir do final desse período.
Isso, de maneira alguma, coloca a lei de Deus como apenas mais uma entre as leis vigentes no mundo antigo. Ao contrário, evidencia tanto a graça comum de Deus quanto a tendência humana de perverter a verdade. A graça comum de Deus é percebida, pois é possível que, através da tradição oral, a revelação divina tenha sido transmitida de geração em geração, e desse modo se espalhado pelo mundo. Por outro lado, a perversão da verdade pelo homem, entregue a si mesmo, é uma consequência natural, distorcendo os propósitos divinos via tradição oral.
Assim, a existência de leis, tratados e alianças no antigo Oriente Próximo não diminui o valor da lei dada por Deus a Moisés e a Israel. Pelo contrário, essa diversidade legal exigiu a introdução do padrão de verdade revelado pelo próprio Deus ao homem. E é exatamente isso que encontramos na lei de Moisés: o diapasão divino da verdade.
Os Dez Mandamentos
Os Dez Mandamentos (Êxodo 20.1-17) constituem a primeira das três partes da lei mosaica. A segunda parte abrange os “estatutos” (Êxodo 20.18—24.18), que detalham normas de convivência e comportamento do povo, assunto que abordaremos na próxima mensagem, sob o título O Livro da Lei. A terceira e última parte da lei mosaica trata das instruções sobre a “liturgia” (Êxodo 25.1—Levítico 27.34) e dos preparativos para a continuidade da jornada no deserto (Números 1.1—10.10). Além disso, outras leis serão promulgadas ao longo da peregrinação entre o Sinai e Moabe, sendo que, em Deuteronômio, a aliança será renovada, reafirmando o compromisso do povo com Deus.
Destacam-se três aspectos principais na lei de Deus: [1.] o relacionamento correto do homem com Deus, [2.] o relacionamento entre os homens e [3.] o povo de Deus reunido em adoração. A lei aborda santidade, comunidade e adoração, estabelecendo a base para uma vida em conformidade com a vontade divina. Ela é, portanto, boa — muito boa! Não apenas orienta os relacionamentos com Deus e o próximo, mas também reflete a santidade de Deus e Seu desejo de formar uma comunidade justa e adoradora. Através da lei, o povo de Deus é chamado a viver em santidade e comunhão, demonstrando a bondade e sabedoria divinas em todas as áreas da vida.
Os Dez Mandamentos são introduzidos por um preâmbulo – um relatório preliminar – que enfatiza o papel do SENHOR como libertador, ao lembrar que foi ele próprio quem resgatou Israel da escravidão no Egito. Esse ato de libertação não só confere a Deus o direito de exigir a obediência do povo, mas também constitui um chamado à fé e à confiança no Deus que os redimiu e, portanto, os preservaria.
Êxodo 20.1-2 (NVT)
1Então o Senhor deu ao povo todas estas palavras:
2“Eu sou o Senhor, seu Deus, que o libertou da terra do Egito, onde você era escravo.
DADO IMPORTANTE. Fica claro em várias passagens bíblicas que o cumprimento da lei de Moisés ou a obediência à lei de Moisés deveria ser buscado como fruto da fé. Isso é muito importante porque mostra que, desde o princípio, mesmo com a lei, tudo sempre foi pela graça, por meio da fé. Nunca houve um tempo em que se vivesse apenas pela lei e, depois, pela graça. Jamais. Sempre foi graça, sempre foi pela fé. Aqui estão apenas dois exemplos claros:
Números 14.11 (NVT) e o SENHOR disse a Moisés: “Até quando este povo me tratará com desprezo? Será que nunca confiarão em mim, mesmo depois de todos os sinais que realizei entre eles?
Deuteronômio 1.32-33 (NVT) 32“No entanto, mesmo depois de tudo que ele fez, vocês se recusaram a confiar no SENHOR, seu Deus, 33que vai adiante de vocês buscando lugares para acamparem e guiando-os com uma coluna de fogo durante a noite e uma coluna de nuvem durante o dia.
Mais tarde, ao interpretar a história dos fracassos de Israel no deserto, o salmista atestou o seguinte:
Salmo 78.15-22 (NVT) 15No deserto, partiu as rochas para lhes dar água, como a que jorra de um manancial. […] 17Ainda assim, continuaram a pecar contra ele e se rebelaram contra o Altíssimo no deserto. 18Puseram Deus à prova em seu coração […] 22pois não creram em Deus nem confiaram em seu cuidado.
Cumprir ou obedecer os mandamentos de Deus deveria ser o fruto natural da fé — uma fé que se alimenta dos poderosos e graciosos atos de Deus, como já havia acontecido no passado. Os feitos divinos, demonstrados repetidamente na história de Israel, serviam de base para a confiança e obediência do povo, mostrando que a resposta à lei deveria sempre brotar de um coração que crê por se lembrar da graça e provisão de Deus. Por exemplo, Êxodo 14.31 (NVT): “Quando o povo de Israel viu o grande poder do SENHOR contra os egípcios, encheu-se de temor diante dele e passou a confiar no SENHOR e em seu servo Moisés.”
Pode-se afirmar com segurança que o centro da teologia bíblica é a mensagem de que a vontade de Deus deve ser cumprida – pela fé em Deus – para a glória dele próprio. A expressão mais importante dessa vontade se encontra nos Dez Mandamentos, os quais, por sua profundidade e relevância, merecem os seguintes destaques.
Os Dez Mandamentos podem ser divididos em três categorias principais. Os três primeiros tratam diretamente de Deus e da adoração devida a ele; os seis últimos dizem respeito ao relacionamento com o próximo e ao cuidado com as outras pessoas; e o quarto mandamento (sobre o sábado) serve como uma transição. O mandamento de guardar o dia de descanso refere-se a Deus, mas também está relacionado à humanidade e à criação, situando-se entre as duas seções (I—III: Deus e V—X: homens).
Os quatro primeiros mandamentos são acompanhados de justificativas, pois estabelecem leis únicas que diferenciam Israel e seu Deus de qualquer outra nação. Já os seis últimos são apresentados sem justificativa. Exceto talvez o décimo mandamento, a maioria dessas leis é encontrada em diversas culturas, uma vez que proibições contra assassinato, roubo e adultério são essenciais para a sobrevivência de qualquer sociedade. Essas normas fazem parte da lei moral inscrita na consciência humana, e, por isso, são apresentadas de forma direta, sem necessidade de explicação adicional.
Os Mandamentos em Relação a Deus
Êxodo 20.3-7 (NVT)
3“Não tenha outros deuses além de mim.
4“Não faça para si espécie alguma de ídolo ou imagem de qualquer coisa no céu, na terra ou no mar. 5Não se curve diante deles nem os adore, pois eu, o Senhor, seu Deus, sou um Deus zeloso. Trago as consequências do pecado dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração dos que me rejeitam, 6mas demonstro amor por até mil gerações dos que me amam e obedecem a meus mandamentos.
7“Não use o nome do Senhor, seu Deus, de forma indevida. O Senhor não deixará impune quem usar o nome dele de forma indevida.
O Mandamento de Transição
Êxodo 20.8-11 (NVT)
8“Lembre-se de guardar o sábado, fazendo dele um dia santo. 9Você tem seis dias na semana para fazer os trabalhos habituais, 10mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, seu Deus. Nesse dia, ninguém em sua casa fará trabalho algum: nem você, nem seus filhos e filhas, nem seus servos e servas, nem seus animais, nem os estrangeiros que vivem entre vocês. 11O Senhor fez os céus, a terra, o mar e tudo que neles há em seis dias; no sétimo dia, porém, descansou. Por isso o Senhor abençoou o sábado e fez dele um dia santo.
ESTE É UM MANDAMENTO DE TRANSIÇÃO: é santo para Deus, e aponta que os seres humanos devem entrar em descanso eterno com ele. O apóstolo Paulo, portador de revelação progressiva da parte de Deus, escreveu assim,
Colossenses 2.16-17 (NVT)
Portanto, não deixem que ninguém os condene pelo que comem ou bebem, ou por não celebrarem certos dias santos, as cerimônias da lua nova ou os sábados. Pois essas coisas são apenas sombras da realidade futura, e o próprio Cristo é essa realidade.
Portanto, Cristo é o cumprimento do dia de descanso, e por meio dele nós entramos no descanso eterno com Deus.
Embora – por causa de Cristo – a guarda do dia de descanso já não seja uma característica distintiva do povo de Deus, a maioria das razões para observá-lo ainda permanece válida. Principalmente, embora não estejamos mais debaixo das leis cerimoniais de Israel— e a Bíblia não ordene ao cristão que guarde o sábado —, há em nosso coração o desejo e a necessidade de separar um dia, santificando-o para adoração e reflexão. A pessoa que se sente inclinada a trabalhar sete dias por semana deve refletir sobre qual deus ela realmente está adorando.
As funções do sétimo dia ou do sábado, agora se cumprem no primeiro dia da semana, quando celebramos a ressurreição de Cristo dentre os mortos, no domingo. De fato, os crentes no Cristo ressurreto passaram a se reunir no primeiro dia da semana, o dia do Senhor (Ap 1.10). Nesses encontros, partiam o pão, liam, ensinavam e estudavam as Escrituras (Jo 20.1, 19-23; At 20.7; 1Co 16.2), celebrando a ressurreição de seu Senhor, que abrira com sua vida, morte e ressurreição a porta do descanso. Ele mesmo, Cristo, disse em Mateus 11.28-29 (ARA): “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei […] e achareis descanso para a vossa alma.”
Os Mandamentos em Relação aos Homens
Êxodo 20.12-17 (NVT)
12“Honre seu pai e sua mãe. Assim você terá vida longa e plena na terra que o Senhor, seu Deus, lhe dá.
13“Não mate.
14“Não cometa adultério.
15“Não roube.
16“Não dê falso testemunho contra o seu próximo.
17“Não cobice a casa do seu próximo. Não cobice a mulher dele, nem seus servos ou servas, nem seu boi ou jumento, nem qualquer outra coisa que lhe pertença”.
Os Dez Mandamentos, ou Dez Palavras, resumem os relacionamentos que Israel deveria manter tanto com o SENHOR quanto entre si, como povo da aliança (Êx 20.3-17). Esses mandamentos estabeleceram as bases para a fidelidade a Deus e para a convivência harmoniosa entre os membros da comunidade da aliança.
Diante da manifestação direta do SENHOR no monte Sinai, Israel reagiu com temor e admiração, reconhecendo a santidade e o poder de Deus. O povo, profundamente impactado pela majestade divina, demonstrou reverência diante da grandeza do Senhor.
Êxodo 20.18-21 (NVT)
18Quando o povo ouviu os trovões e o som forte da trombeta, e quando viu o clarão dos raios e a fumaça que subia do monte, ficou a distância, tremendo de medo.
19Disseram a Moisés: “Fale você conosco e ouviremos; mas não deixe que Deus nos fale diretamente, pois morreríamos!”.
20Moisés respondeu: “Não tenham medo, pois Deus veio desse modo para prová-los e para que o temor a ele os impeça de pecar”.
21Enquanto o povo continuava a distância, Moisés se aproximou da nuvem escura onde Deus estava.
As Tábuas de Pedra, ou, se preferir, Os Dez Mandamentos, ou ainda, se desejar ser mais literal, As Dez Palavras, colocam-nos à sombra da majestade de Deus. Lembrando que este é o investimento mais valioso da vida: chegar-se à majestade de Deus, frente a frente, cara a cara. Esses mandamentos não são meramente um conjunto de regras, mas uma revelação do caráter divino e uma expressão da vontade soberana de Deus para o seu povo. Eles refletem a santidade e o poder do Deus que os proclamou, e são um convite para vivermos em obediência, pela fé, à luz da grandeza de sua presença e no poder de sua graça. Concluindo, uma estrutura detalhada que explora a profunda relação dos Dez Mandamentos com o caráter de Deus, o evangelho e o Novo Testamento.
I. Considere o Deus Santo que Proclamou os Mandamentos (Êxodo 19.1–20.1)
A. O Chamado de Deus (Êxodo 19.1-6)
Deus chamou Israel para ser seu povo santo, estabelecendo o fundamento da aliança e revelando seu propósito: uma nação de sacerdotes e uma possessão exclusiva.
B. A Santidade de Deus (Êxodo 19.7-25)
A preparação para a entrega da lei destaca a santidade e a majestade de Deus. A manifestação no Sinai demonstra o poder de Deus e a seriedade do momento, preparando o povo para receber Seus mandamentos.
II. Considere o Padrão do Evangelho nos Dez Mandamentos (Êxodo 20.2)
Antes de apresentar os mandamentos, Deus afirma Sua identidade como o libertador de Israel: “Eu sou o Senhor, seu Deus, que o tirou da terra do Egito, onde você era escravo.” Da mesma forma, o evangelho começa com a obra de Deus, que nos liberta do pecado antes de exigir obediência. A obediência, portanto, não é a base da libertação, mas seu fruto. Deus nos liberta, e a nossa obediência surge como resposta a essa graça.
III. Considere a Estrutura dos Dez Mandamentos (Êxodo 20.3-17)
Os Dez Mandamentos estão divididos em duas partes: a primeira seção trata do relacionamento do homem com Deus (mandamentos 1 a 4), e a segunda trata do relacionamento entre as pessoas (mandamentos 5 a 10). Essa divisão reflete o duplo amor exigido por Deus — amor a Deus e amor ao próximo. Essa é a essência do evangelho.
IV. Considere os Atributos de Deus Revelados em Cada um dos Dez Mandamentos (Êxodo 20.3-17)
1. O Primeiro Mandamento (Êxodo 20.3) — “Não terás outros deuses além de mim”. Reflete a soberania e supremacia de Deus. Ele é o único digno de adoração, e esse mandamento revela Seu direito absoluto sobre nossa lealdade.
2. O Segundo Mandamento (Êxodo 20.4-6) — “Não farás para ti imagem de escultura”. Proíbe a idolatria e reflete o zelo de Deus por sua santidade. Ele não permite que sua glória seja compartilhada com ídolos e exige devoção pura, livre de qualquer distorção em imagem ou escultura.
3. O Terceiro Mandamento (Êxodo 20.7) — “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão”. A santidade do nome de Deus é enfatizada aqui. O nome de Deus é sagrado. Portanto, o uso correto de seu nome reflete reverência e temor piedoso.
4. O Quarto Mandamento (Êxodo 20.8-11) — “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar”. Este mandamento reflete o descanso e a ordem da criação, lembrando a soberania de Deus sobre o tempo. É um convite para descansar na provisão de Deus e relembrar a sua obra criadora e, principalmente, salvadora.
5. O Quinto Mandamento (Êxodo 20.12) — “Honra teu pai e tua mãe”. Reflete a autoridade de Deus delegada à família. A estrutura familiar está no centro da ordem social, e o respeito à autoridade começa no lar.
6. O Sexto Mandamento (Êxodo 20.13) — “Não matarás”. Reflete o valor da vida, dado por Deus. Cada vida humana tem dignidade porque é criada à imagem de Deus, e o assassinato é uma violação direta desse valor.
7. O Sétimo Mandamento (Êxodo 20.14) — “Não adulterarás”. Reflete a fidelidade no casamento, que é um reflexo da aliança de Deus com seu povo. O casamento é sagrado, e a infidelidade é uma quebra dessa aliança.
8. O Oitavo Mandamento (Êxodo 20.15) — “Não furtarás”. Reflete o respeito pela propriedade alheia e a justiça de Deus. O furto destrói a confiança e a paz na comunidade.
9. O Nono Mandamento (Êxodo 20.16) — “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”. Reflete a verdade e a justiça que devem governar as relações humanas. A verdade é fundamental para a justiça e para o caráter de Deus.
10. O Décimo Mandamento (Êxodo 20.17) — “Não cobiçarás”. Reflete o contentamento e a pureza do coração que Deus deseja em seu povo. Este mandamento revela que o pecado não é apenas externo, mas nasce nos desejos internos – dos ídolos do coração.
V. Considere como os Escritores do Novo Testamento Enfatizam os Dez Mandamentos
Os escritores do Novo Testamento reafirmam os Dez Mandamentos como princípios morais contínuos. Jesus, Paulo e Tiago ensinam que a lei é cumprida no amor (Romanos 13.8-10, Tiago 2.8-12). O chamado para viver de acordo com a lei continua relevante, mas agora é entendido à luz da fé em Cristo, pelo poder do Espírito Santo.
VI. Veja Como Jesus os Cumpre
Jesus não apenas confirma os mandamentos, mas os aprofunda. Ele ensina que o verdadeiro cumprimento da lei vai além da obediência externa e alcança o coração. Por exemplo, Jesus amplia o sexto mandamento ao ensinar que até mesmo a ira contra o próximo é uma forma de assassinato (Mt 5.21-22), e o sétimo mandamento ao afirmar que o adultério começa no olhar cobiçoso (Mt 5.27-28).
Jesus cumpre a lei perfeitamente e oferece seu cumprimento a nós. Em Cristo, os mandamentos se tornam não apenas um código moral, mas uma expressão de nossa nova vida de fé, movida pela graça e capacitada pelo Espírito Santo.
Romanos 8.3-4 (NVT)
3A lei não era capaz de nos salvar por causa da fraqueza de nossa natureza humana, por isso Deus fez o que a lei era incapaz de fazer ao enviar seu Filho na semelhança de nossa natureza humana pecaminosa e apresentá-lo como sacrifício por nosso pecado. Com isso, declarou o fim do domínio do pecado sobre nós, 4de modo que nós, que agora não seguimos mais nossa natureza humana, mas sim o Espírito, possamos cumprir as justas exigências da lei.
Hoje, nos encontramos face a face com Deus, não por meio de Moisés, mas através de Cristo. Ele não apenas nos chama a Si — “vinde a mim…” — mas é, ele próprio, o reflexo da glória de Deus e a expressão exata do seu ser. Em Cristo, contemplamos plenamente a presença e a essência divina, revelada em toda a sua glória. E contemplá-lo, pela fé, é o maior investimento da vida!
S.D.G. L.B.Peixoto
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