27.02.2022
[Lamentações 5.21] Restaura-nos, SENHOR, e faze-nos voltar para ti! Devolve-nos a alegria que tínhamos antes!
Se listasse os 10 livros da Bíblia que mais gosta ou que mais conhece, tenho certeza de que você não faria constar as Lamentações de Jeremias. Ou estou enganado? Seja honesto: você já tinha ouvido falar de Lamentações? já havia lido este livro? o que achava dele? recomendaria a alguém a sua leitura? Por quê?
Esta é a décima e última exposição bíblica que faremos de Lamentações. Não tenho certeza, mas espero que você que acompanhou esta série de mensagens passe a apreciar este livro, se não a inseri-lo entre os seus top 10 mais amados da Bíblia.
Esta série tem sido surpreendente para mim. Confesso a vocês que iniciei estes estudos com um pouco de apreensão porque sabia o quão sombrios e agourentos esses capítulos podem parecer. No entanto, de alguma forma, o Espírito Santo nos ajudou, ensinou-nos algumas coisas importantes e nos deu um “lugar” bíblico para estar, para apoiar o coração quando a vida estiver cheia de dor. Por isso que eu digo que este livro tem de estar entre os seus mais queridos: você precisará saber lidar com a dor.
Quero parabenizá-los como congregação por seguirem firmes comigo ao longo deste livro, por perseverarem comigo neste estudo. Eu posso imaginar que muitos de vocês não ficaram naturalmente ou inicialmente empolgados quando anunciei que estudaríamos Lamentações, e um de vocês até me abordou para perguntar: “Quanto tempo vai durar essa série, pastor?” Eu sabia o que a pessoa queria dizer com a pergunta – ou seja: “Pastor, esse livro é muito pesado, sombrio demais para se investir tantos domingos no mesmo tema. O senhor não acha que falar tanto de lamentação vai desencorajar em vez de encorajar as pessoas?” Eu entendi esse irmão, e assimilei a sua preocupação.
Lamentações, de fato, pode ser um livro muito pesado para se ficar mastigando em dez mensagens, ao longo de cinco semanas! Mas eu dou testemunho: fiquei muito encorajado pela forma como a grande parte de vocês ouviu as mensagens, engajou-se com elas, reagiu a elas, fez-me perguntas, compartilhou em pequenos grupos e até mesmo como vocês buscaram praticá-las. Por exemplo: um jovem vindo de outra igreja, uma igreja de tradição reformada, testemunhou a mim que, ouvindo sobre a santidade e a justiça de Deus em Lamentações, caiu em si e decidiu retomar com arrependimento e fé a caminhada com o Senhor. Ele que, até então, confiando na eleição eterna de Deus, justificava-se na soberania de Deus na salvação para continuar no pecado. Glória a Deus por esse testemunho! E que Deus o preserve em perseverança; pois sem santificação – sem ter uma vida santa – ninguém verá o Senhor (Hb 12.14).
Não sei quando ou se voltaremos a Lamentações como congregação; pelo menos não em breve. Então, deixe-me apenas lembrá-los de como é especial estudar a palavra de Deus juntos toda semana. Como nós precisamos disso! E vocês são um povo especial, como sou grato por ouvirem com tanta atenção e devoção a palavra de Deus pregada deste púlpito. É uma grande honra ensinar a Bíblia a você semana após semana aqui na Segunda Igreja Batista em Goiânia. Parabéns por perseverarem! Glória a Deus!
Começamos esta série com quatro razões principais para estudar Lamentações de Jeremias. Recorde-as comigo:
Desse modo:
Nas mensagens anteriores, apresentei a vocês alguns princípios ou fiz algumas declarações que pudessem servir como âncoras para seu coração. Por exemplo:
Eu realmente espero que o tema do lamento, o livro de Lamentações e os Salmos de Lamento continuem a ser um lugar especial para você quando as dores e as lutas chegarem. Além disso, estes são tempos muito interessantes do ponto de vista político e cultural, e espero que este livro tenha lhe dado um lugar para ir quando estiver ansioso, com medo ou até mesmo com raiva dos governantes. Espero que você tenha uma nova categoria em sua alma para saber lidar com a geopolítica do Brasil e do mundo.
Pois bem, chegamos a Lamentações 5. Este último capítulo do livro é diferente dos outros quatro. Apesar de retomar alguns temas anteriores sobre a destruição do povo de Israel, Lamentações 5 é um capítulo singular: este é o capítulo que mais contem súplicas ou pedidos em todo o livro. O que se vê aqui é o anseio, a busca por restauração.
No início desta série de mensagens nós recorremos à 2Crônicas 36 para enxergarmos como foi a destruição de Jerusalém. Lamentações não fala de como foi, apresenta-nos como ficou a cidade após a devastação babilônica. Para saber como foi, o leitor precisa recorrer ao último capítulo das Crônicas e ao último capítulo da profecia de Jeremias, respectivamente: 2Crônicas 36 e Jeremias 52. Na Bíblia em português, aliás, na Bíblia cristã (tanto na católica romana quanto na protestante), 2Crônicas vem depois de 1Reis e 2Reis, e o último livro do Antigo Testamento é o do profeta Malaquias. Mas saiba que essa alteração na ordem dos livros foi uma mudança realizada no século III a.C. com a tradução do Antigo Testamento hebraico (língua original) para o idioma grego (a língua franca da época). Essa tradução ficou conhecida como Septuaginta. Pois bem, o último livro do Antigo Testamento na Bíblia hebraica é 2Crônicas, e esse termina com a seguinte nota de esperança:
2Crônicas 36.22-23 22o primeiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, o SENHOR cumpriu a profecia que havia anunciado por meio de Jeremias. O SENHOR despertou o coração de Ciro para registrar por escrito a seguinte proclamação e enviá-la a todo o seu reino: 23“Assim diz Ciro, rei da Pérsia: “O SENHOR, o Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra. Ele me encarregou de construir para ele um templo em Jerusalém, na terra de Judá. Quem pertence ao povo dele, volte para realizar essa tarefa. E que o SENHOR, seu Deus, esteja com vocês!”. [FIM DA BÍBLIA HEBRAICA!]
No entanto, o livro de Lamentações não termina assim nesse tom esperançoso. Jeremias conclui suas Lamentações com três orações de súplicas, buscando o socorro e e a restauração do SENHOR sem saber quando ou como, ou mesmo se, o SENHOR responderia favoravelmente à petição de seu lamento. Essas três orações estão ligadas ao uso do nome do “SENHOR”. Portanto, três vezes aparece o nome do “SENHOR” em Lamentações 5, e cada uma delas marca o início de uma nova petição – nesta ordem:
Lamentações 5.1 Lembra-te, SENHOR, do que aconteceu conosco […]
Lamentações 5.19 Mas tu, SENHOR, reinas eternamente! […]
Lamentações 5.21 Restaura-nos, SENHOR, e faze-nos voltar para ti! […]
A gente poderia resumir a mensagem desses versículos desta maneira:
Lamentações 5.1 SENHOR, NÃO SE ESQUEÇA DE NOSSA DOR!
Lamentações 5.19 SENHOR, TU ÉS SOBERANO!
Lamentações 5.21 SENHOR, RESTAURA-NOS, ALEGRA-NOS!
Pois bem, vamos desembrulhar cada uma dessas frases à luz de seu contexto e, no final, conectar tudo isso ao evangelho da cruz de Cristo.
Lamentações 5.1 Lembra-te, SENHOR, do que aconteceu conosco […]
A primeira palavra deste capítulo é tematicamente tão importante quanto as primeiras palavras dos capítulos 1, 2 e 4. Esses capítulos anteriores começaram com o advérbio “Como” (na ARA), que pretendia comunicar um elemento de choque pelo que de tão terrível aconteceu. Lamentações 5, como você verá, tem o mesmo nível de espanto, mas o contexto é diferente aqui. Neste capítulo, a expressão de choque (“Como!”) se transformou em uma oração sincera para que Deus se lembre do que aconteceu com eles:
Lamentações 5.1 Lembra-te, SENHOR, do que aconteceu conosco […]
O verbo “lembrar” é muito importante quando se trata do relacionamento de Deus com seu povo. Captura a essência da graça de Deus traduzida na forma de aliança, de como Deus não quebra a aliança com os seus eleitos. Eis alguns exemplos:
Salmos 25.6-7 6Lembra-te, SENHOR, de tua compaixão e de teu amor, que tens mostrado desde tempos antigos. 7Não te lembres dos pecados e da rebeldia de minha juventude; lembra-te de mim segundo o teu amor, pois és misericordioso, ó SENHOR.
O apelo de Jeremias em Lamentações 5.1 para que Deus “se lembre” é no sentido de que Deus faça mais do que não se esquecer deles ou de fazer Deus se recordar de algo que ele não mais se lembrava. Jeremias está pedindo socorro a Deus recorrendo à aliança de Deus com seu povo, ele está reafirmando a aliança com Deus à luz de todas as desgraças que caíram sobre Jerusalém e desse modo pedindo socorro – Lamentações 5.1: “Lembra-te, SENHOR, do que aconteceu conosco […]”. Portanto, “Lembra-te” é uma grande expressão de lamento. É uma forma de oração de súplica carregada de fé na aliança de Deus que nunca, jamais quebra as suas promessas.
Os versículos 2-18 catalogam o que aconteceu com o povo. A lista é muito específica, e é isso que torna o sofrimento em qualquer nível ainda mais doloroso. O que encontramos nestes versículos é um resumo rápido do que os quatro capítulos anteriores detalharam. Vamos lê-los rapidamente:
Lamentações 5.2-18 INVASÃO: 2Nossa herança foi entregue a estranhos, e nossas casas, a estrangeiros. ABANDONO: 3Somos órfãos e já não temos pai, e nossa mãe ficou viúva. INFLAÇÃO: 4Temos de pagar pela água que bebemos, e até a lenha nos custa caro. EXAUSTÃO: 5Os que nos perseguem estão bem perto; estamos exaustos, mas não nos deixam descansar. SUJEIÇÃO: 6Ao Egito e à Assíria nos sujeitamos, para conseguir alimento e sobreviver. DISCIPLINA: 7Nossos antepassados pecaram e já morreram, e nós recebemos o castigo que eles mereciam. CONVULSÃO SOCIAL: 8Escravos se tornaram nossos senhores; não restou ninguém para nos resgatar. DESESPERO: 9Arriscamos a vida à procura de alimento, pois a violência tomou conta do deserto. ENFERMIDADE: 10A fome nos escureceu a pele, como se tivesse sido queimada no forno. VIOLÊNCIA SEXUAL: 11As mulheres de Sião e as moças das cidades de Judá são violentadas por nossos inimigos. DESONRA E MAUS TRATOS: 12Os príncipes são pendurados pelas mãos, os idosos são tratados com desprezo. ESCRAVIDÃO: 13Os rapazes são levados para trabalhar nos moinhos, os meninos cambaleiam sob os pesados fardos de lenha. PRANTO: 14As autoridades não se sentam mais à porta das cidades, os rapazes não tocam mais música. 15A alegria desapareceu de nosso coração, nossas danças se transformaram em pranto. VERGONHA: 16A coroa caiu de nossa cabeça; que aflição por causa de nosso pecado! TRISTEZA: 17Nosso coração desfalece, nossos olhos se embaçaram de lágrimas, DEVASTAÇÃO: 18pois o monte Sião está desolado; tornou-se morada de chacais.
O cenário era de desgraça, literalmente. Aonde quer que as pessoas olhassem, não havia nada além de destruição. Todos os níveis da nação foram afetados. Tudo foi arruinado. A única esperança da nação era que Deus não tivesse se esquecido da situação deles à luz de sua aliança. Eles estavam apostando sua esperança na aliança do SENHOR – o Deus que não abandona seu povo no sofrimento:
Salmos 56.8-11 8Conheces bem todas as minhas angústias; recolheste minhas lágrimas num jarro e em teu livro registraste cada uma delas. 9Meus inimigos baterão em retirada quando eu clamar a ti; uma coisa sei: Deus está do meu lado! 10Louvo a Deus por suas promessas, sim, louvo o SENHOR por suas promessas. 11Confio em Deus e não temerei; o que me podem fazer os simples mortais?
É fonte de grande esperança recordar de que Deus vê e conhece nossas angústias e coleciona nossas lágrimas. Ele não se esquece do povo da sua aliança. Ele não quebra a aliança. Deus não é contra a menina de seus olhos. E Lamentações 5 nos lembra de que há algo extremamente reconfortante em saber que Deus se lembra.
Lamentações 5.19 Mas tu, SENHOR, reinas eternamente! […]
Essa é a segunda oração ligada ao nome do SENHOR neste capítulo, e seu foco está no governo soberano de Deus sobre todas as coisas – o que é realmente muito importante à luz da descrição das desgraças registradas nos versículos 1-18. As circunstâncias da vida não são aleatórias, elas têm uma narrativa à qual se encaixar. Por si mesmas, a esmo, sem a metanarrativa bíblica, você será tentado a tirar a conclusão de que a vida está totalmente fora de controle, ou pior, que Deus não está no controle.
No entanto, lemos repetidamente neste livro sobre a mão direta do SENHOR em tudo, incluindo o sofrimento do povo. Em Lamentações 1 e 2, lemos declarações como estas, por exemplo: [1.] “O Senhor me tirou a força e me entregou a meus inimigos; estou indefesa nas mãos deles” (1.14); [2.] “O Senhor tratou meus homens valentes com desprezo. Por ordem sua, um grande exército veio para esmagar meus jovens guerreiros. O Senhor pisou a amada cidade de Jerusalém como se pisam uvas no tanque de prensar” (1.15); e [3.] “Em sua ira, o Senhor cobriu com uma sombra a bela Sião. […] No dia de sua grande ira, o Senhor não teve compaixão nem mesmo de seu templo” (2.1).
Que se conclui?
Embora a Babilônia tenha sido o meio de julgamento e de disciplina, em última análise, era o próprio Deus quem estava por trás daquela devastação. Deus usou uma nação pecaminosa e pagã para cumprir seus propósitos divinos.
Lamentações 5.19 é curto, mas é muito importante. Reconhece que existe uma realidade maior do que o sofrimento e a destruição da cidade de Jerusalém. Admite a supremacia de Deus sobre tudo, incluindo a dor. Atesta que o centro do universo é o trono de Deus – Lamentações 5.19: “Mas tu, SENHOR, reinas eternamente! […]”
Este “Mas” de Lamentações 5.19 é a segunda conjunção que representa um pivô importante no pensamento teológico de Jeremias. A primeira foi o “porém” de Lamentações 3.21: “Ainda ouso, porém, ter esperança”. A conjunção “porém” desse versículo nos levou a verdades que criam esperança – a esperança brota da verdade bíblica repetida para o nosso coração. Desse modo, Lamentações 3 foi um convite para tirarmos os olhos das circunstâncias difíceis e colocá-los na verdade sobre quem é Deus. Em Lamentações 5, a conjunção “Mas” é uma declaração de fé sobre quem está realmente no controle de todas as circunstâncias. Em outras palavras, o que você crê sobre a soberania de Deus e sua supremacia sobre todas as coisas realmente importa e fará toda a diferença quando a vida começar a doer.
Para você não pensar que essa é uma verdade rara, encontrada apenas em Lamentações, olhe para um salmo comigo:
Salmos 102.1-12 1SENHOR, ouve minha oração, escuta minha súplica! 2Não escondas de mim o rosto na hora de minha aflição. Inclina-te para ouvir e responde-me depressa quando clamo a ti. 3Pois meus dias somem como fumaça; como brasas ardentes, meus ossos queimam. 4Meu coração está esgotado, secou-se como capim; até perdi o apetite. 5Por causa de minha ansiedade, não passo de pele e osso. 6Sou como a coruja no deserto, como a pequena coruja num lugar desolado. 7Não consigo dormir; sou como o pássaro solitário no telhado. 8Todos os dias meus inimigos me insultam; zombam de mim e me amaldiçoam. 9As cinzas são meu alimento, e as lágrimas se misturam com minha bebida, 10por causa de tua ira e de tua fúria, pois me levantaste e depois me lançaste fora. 11Minha vida passa rápido, como as sombras que se vão; vou murchando, como o capim. 12Tu, porém, SENHOR, reinarás para sempre; teu nome será lembrado por todas as gerações.
Se Deus não fosse soberano, o salmista não poderia ter continuado a orar nestes termos:
Salmos 102.13 Tu te levantarás e terás misericórdia de Sião; já é tempo de lhe mostrar compaixão, este é o momento esperado.
A misericórdia de Deus é um atributo que escorre de sua soberania. Tire a soberania de Deus sobre tudo, arranque dele a supremacia sobre todas as coisas, inclusive nossas dores, e restará um deus incapaz de ter misericórdia, posto que sem a soberania e a supremacia ele não terá condições de agir nem mesmo com misericórdia.
Sem a soberania de Deus o sofrimento se torna intolerável, inútil e sem esperança. Mas a soberania de Deus não responde a todas as nossas perguntas – veja:
Lamentações 5.19-20 19Mas tu, SENHOR, reinas eternamente! Teu trono permanece de geração em geração. 20Por que continuas a te esquecer de nós? Por que nos abandonaste por tanto tempo?
Jeremias cria e confessava a soberania de Deus, ainda assim continuava sem um monte de respostas. Mas a presença de perguntas difíceis não nega a realidade e a esperança do governo de Deus sobre todas as coisas. Jeremias não tinha todas as respostas, mesmo com boa teologia, mas o que ele já sabia era o bastante para ancorá-lo naquele temporal.
Existe alguma coisa acontecendo em sua vida pela qual você precisa orar dizendo: “Mas tu, SENHOR, reinas eternamente!”? Você se vê na mesma situação do povo de Judá, após a devastação babilônica – invadido, abandonado, sem dinheiro, exausto, disciplinado, escravizado, em convulsão social, desesperado, enfermo, violentado, desonrado e mal tratado, envergonhado, triste e pranteando? Encontra-se devastado? Sua vida ou parte dela foi esparramada no chão, em cacos? Você está tateando no escuro? A realidade é praticamente insuportável para você? Você vive perguntando: “Por que continuas a te esquecer de mim, SENHOR? Por que me abandonastes por tanto tempo?” Se assim for, eu sugiro que seria bom para você se juntar a Jeremias e dizer: “Mas tu, SENHOR, reinas eternamente!”. — Preencha a seguinte lacuna em branco: “SENHOR, eu estou ______________, mas tu reina eternamente!” — Como trará paz a você descansar sob o governo soberano de Deus mesmo quando sua cidade, sua nação, sua família ou sua própria vida estiver em cacos no chão, tateando no escuro, fugindo da realidade!
Lamentações 5.21 SENHOR, RESTAURA-NOS, ALEGRA-NOS!
A oração final do capítulo 5 e de encerramento do livro de Lamentações é um apelo à restauração. O verbo “restaurar” significa reparar, recuperar ou fazer voltar a uma posição ou estado melhor ou ao original. Recobra a promessa de que Deus restauraria seu povo, traria seu povo de volta da deportação.
Um pouco da história ajudará neste ponto.
O profeta Jeremias havia enviado uma carta aos exilados na Babilônia para encorajá-los a continuar seguindo o SENHOR. Jeremias 29 registra a mensagem e a esperança que lhes foi oferecida:
Jeremias 29.10-14 10Assim diz o SENHOR: “Vocês ficarão na Babilônia durante setenta anos. Depois disso, eu virei e cumprirei todas as boas promessas que lhes fiz e os trarei de volta para casa. 11Porque eu sei os planos que tenho para vocês”, diz o SENHOR. “São planos de bem, e não de mal, para lhes dar o futuro pelo qual anseiam. 12Naqueles dias, quando vocês clamarem por mim em oração, eu os ouvirei. 13Se me buscarem de todo o coração, me encontrarão. 14Serei encontrado por vocês”, diz o SENHOR. “Acabarei com seu exílio e os restaurarei. Eu os reunirei de todas as nações para as quais os enviei e os trarei de volta para casa, para sua terra.”
A esperança para o povo de Israel era de que Deus um dia os traria de volta à sua terra e de que ele restauraria sua antiga glória. Mas esse desejo é muito mais do que apenas um anseio pelos dias de glória de Davi, Salomão, Ezequias ou Josias. A restauração do povo de Deus era principalmente sobre sua restauração de volta a Deus.
Veja, mais do que a perda do templo, da cidade ou de sua identidade, a maior perda foi a da presença e da bênção de Deus. É por isso que Jeremias 29 fala sobre buscar o Senhor e o povo de Deus encontrar o Senhor novamente. A devastação e a perda foram projetadas para despertar o coração para o maior problema do pecado e sua maior necessidade de restauração espiritual. A destruição da cidade e do templo foi orquestrada por Deus para ajudar o povo de Deus a perceber o quão longe eles haviam caído, e produzir neles arrependimento, quebrantamento, confissão de pecado e fé.
Deus os entregou aos seus inimigos para resgatá-los de si mesmos. Deus os havia humilhado. Ele os havia quebrado em pedaços e os jogado no chão. Ele havia chutado todas as muletas em que eles se apoiavam para que eles ficassem desesperados. Ouça a conclusão do livro:
Lamentações 5.21-22 21Restaura-nos, SENHOR, e faze-nos voltar para ti! Devolve-nos a alegria que tínhamos antes! 22Ou será que nos rejeitaste completamente? Ainda estás irado conosco?
Até onde consigo enxergar, o livro termina com esse tom porque [1.] as pessoas estavam se sentido extremamente humilhadas e [2.] elas não conheciam a história completa dos planos de Deus. Não creio que eles estivessem questionando a restauração final de Deus. O livro de Jeremias prometeu com frequência essa restauração. Penso, portanto, que esse tipo de tom está aqui porque o peso da disciplina do SENHOR os levou a um ponto tal que até mesmo o pedido de restauração soa diferente: restaura-nos! leve-nos de volta a ti! alegra-nos! não nos rejeite mais! não repouse sobre nós tua ira!
Observe o valor do sofrimento, seja involuntário ou merecido: ele o transforma profundamente. E é isso que espero que Lamentações tenha feito por você. Oro para que esse livro tenha mudado a forma como você vê a si mesmo, o mundo, a presença do pecado e o estado degradante do mundo. Rogo ao Pai que essas mensagens tenham mudado a forma como você vê a glória de Deus, sua santidade, sua justiça e sua soberania sobre todas as coisas.
Ler um lamento ou fazer um lamento sintoniza seu coração de tal forma que você busca o SENHOR de maneira diferente. O lamento faz com que você olhe para as circunstâncias de sua vida de maneira diferente – tão diferente, na verdade, que você sabe que é o SENHOR mesmo quem está fazendo isso em você. O lamento convida você a ver o mundo através de uma lente diferente. É por isso que “é bom as pessoas se sujeitarem, ainda jovens, ao jugo de sua disciplina” (Lm 3.27). É por isso que você pode ser grato a Deus que o disciplinou ou o entristeceu, mas não te deixou sem alegria (2Co 6.10).
Chegamos ao final desta série, ao final de Lamentações e à conclusão de nosso estudo sobre o lamento. Mas, antes de nos despedirmos deste livro, quero lembrá-los de que o mesmo profeta que registrou as palavras sombrias de Lamentações também anunciou que chegaria o dia em que Deus lidaria de uma vez por todas com o problema da destruição de Jerusalém. Ouça as palavras esperançosas do profeta Jeremias ao falar sobre a vinda da nova aliança por meio do sangue do Messias que sabemos ser Jesus:
Jeremias 31.31-34 31“Está chegando o dia”, diz o SENHOR, “em que farei uma nova aliança com o povo de Israel e de Judá. 32Não será como a aliança que fiz com seus antepassados, quando os tomei pela mão e os tirei da terra do Egito. Embora eu os amasse como o marido ama a esposa, eles quebraram a aliança”, diz o SENHOR. 33“E esta é a nova aliança que farei com o povo de Israel depois daqueles dias”, diz o SENHOR. “Porei minhas leis em sua mente e as escreverei em seu coração. Serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. 34E não será necessário ensinarem a seus vizinhos e parentes, dizendo: ‘Você precisa conhecer o SENHOR’. Pois todos, desde o mais humilde até o mais importante, me conhecerão”, diz o SENHOR. “E eu perdoarei sua maldade e nunca mais me lembrarei de seus pecados.”
E o profeta Ezequiel, lá na Babilônia, disse isto:
Ezequiel 36.22-27 22“Portanto, transmita ao povo de Israel esta mensagem do SENHOR Soberano: Eu os trarei de volta, ó povo de Israel, mas não porque merecem. Farei isso por causa do meu santo nome, que vocês desonraram entre as nações. 23Eu lhes mostrarei a santidade de meu grande nome, o nome que vocês desonraram entre as nações. E, quando eu mostrar minha santidade por meio de vocês diante das nações, diz o SENHOR, elas saberão que eu sou o SENHOR. 24Pois eu os reunirei dentre as nações e os trarei de volta para sua terra. 25“Então aspergirei sobre vocês água pura, e ficarão limpos. Eu os purificarei de sua impureza e sua adoração a ídolos. 26Eu lhes darei um novo coração e colocarei em vocês um novo espírito. Removerei seu coração de pedra e lhes darei coração de carne. 27Porei dentro de vocês meu Espírito, para que sigam meus decretos e tenham o cuidado de obedecer a meus estatutos.
Como o evangelho se relaciona com o lamento?
Por meio de Cristo, o problema por baixo de todo problema, nosso pecado, foi tratado de tal forma que a nova aliança foi inaugurada. A morte de Cristo trouxe o fim da condenação, do julgamento e da ira de Deus. A morte e a ressurreição de Cristo tornaram possível que você nascesse de novo e que o Espírito de Cristo habitasse sua vida. Portanto, enquanto o cristão estiver vivendo neste mundo quebrado pelo pecado, ele aguardar a promessa da palavra de Deus de que um dia todo o lamento cessará:
Apocalipse 21.1-5 1Então vi um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra já não existiam, e o mar também não mais existia. 2E vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, como uma noiva belamente vestida para seu marido. 3Ouvi uma forte voz que vinha do trono e dizia: “Vejam, o tabernáculo de Deus está no meio de seu povo! Deus habitará com eles, e eles serão seu povo. O próprio Deus estará com eles. 4Ele lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor. Todas essas coisas passaram para sempre”. 5E aquele que estava sentado no trono disse: “Vejam, faço novas todas as coisas!”.
Chorar é humano, mas lamentar é cristão – mas não para sempre. Jesus comprou nossa restauração e um dia, em breve, ele próprio colocará fim ao nosso lamento! Portanto, dizemos “Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22.20). Até lá, o que mais precisamos é de que a graça do Senhor Jesus esteja com todos (Ap 22.21). E ela está. Basta você invocá-la com arrependimento e fé.
S.D.G. L.B.Peixoto
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