17.01.2021
[Colossenses 1.28] Portanto, proclamamos a Cristo, advertindo a todos e ensinando a cada um com toda a sabedoria, para apresentá-los maduros [perfeitos] em Cristo.
Maturidade! Perfeição! São essas algumas das características que nós buscamos nas pessoas, consciente ou inconscientemente. Maturidade – perfeição, de algum modo – é o que se espera do cônjuge, dos amigos, empregados, patrões, políticos… de todo mundo. Pais almejam filhos maduros; de preferência, perfeitos. Afinal, é horrível conviver com alguém menos do que perfeito, imaturo. Não é mesmo? Mas…
Será possível encontrar alguém assim, perfeito?
É possível ser maduro ou achar pessoas maduras?
Elas realmente crescem e amadurecem?
As pessoas de fato mudam?
Quando a gente olha para alguns sujeitos – muitas vezes para si mesmo – fica-se com a sensação de que ninguém muda de verdade, ninguém é perfeito. Todo mundo é tudo igual, farinha do mesmo saco. Só casca. Tenho encontrado muita gente cética – pessoas descrentes com a transformação do ser humano. Afinal, são tantos os casos de gente em quem se acreditou e apostou, mas que, no final, era tudo igual a todo mundo – do político à pessoa mais próxima da gente. Com efeito, todo mundo já passou por experiências decepcionantes. E por isso você pode não acreditar mais na transformação do ser humano – nem mesmo na sua.
Amadurecer, tornar-se perfeito, completo ou adulto (como é o sentido da palavra grega usada por Paulo em Colossenses 1.28 – τελειος, teleios) é a necessidade de todo mundo. Maturidade (de fato, santidade) é o processo de transformação ou renovação pelo qual todo ser humano precisa passar, se quiser de fato ver o Senhor (Hb 12.14).
A mensagem de Colossenses afirma a possibilidade de alguém ser perfeito, maduro ou completo, mas somente em Cristo (1.28). Paulo, com efeito, escreveu esta carta para ressaltar a supremacia da divindade de Jesus Cristo sobre todas as coisas, nos céus e na terra, contra aqueles que a combatiam com “filosofias vazias e invenções enganosas provenientes do raciocínio humano, com base nos princípios espirituais deste mundo, e não em Cristo” (2.8-9). Portanto, aceitar pela fé a plenitude de Cristo possibilitará aos cristãos receber a plenitude da vida em Cristo. Veja, Colossenses 2.9-10: “Pois nele habita em corpo humano toda a plenitude de Deus. Portanto, porque estão nele, o cabeça de todo governante e autoridade, vocês também estão completos.”
É possível sim a transformação das pessoas. É possível sim renovar, crescer, amadurecer, tornar-se perfeito ou completo em Jesus Cristo. Esta é a mensagem de Colossenses (1.28): “Portanto, proclamamos a Cristo, advertindo a todos e ensinando a cada um com toda a sabedoria, para apresentá-los maduros [perfeitos] em Cristo.” Mas nada disso se dá pelo esforço humano, automaticamente ou de qualquer jeito religioso ou espirituoso. É preciso que se abrace com fé a supremacia de Jesus Cristo e se exercite, pelo Espírito Santo, a santidade no Senhor, conforme veremos nesta carta.
Colossos era uma cidade não muito expressiva nos dia de Paulo, localizada a cerca de 160 quilômetros ao leste de Éfeso na Ásia Menor (atual Turquia) – aquela era a região das sete igrejas de Apocalipse 1–3. A cidade ficava situava às margens do rio Lico, não muito distante de onde ele desaguava no rio Meandro. Para se ter uma ideia da paisagem: o Vale do Lico se reduzia a uma largura de aproximadamente 3 km em Colossos, e o Monte Cadmo se elevava a 2.400 metros acima da cidade.
Colossos foi uma cidade próspera no século V antes de Cristo, quando o rei persa Xerxes (Assuero, Et 1.1) marchava na região. A lã preta e as tinturas (feitas a partir das reservas de calcário que se achavam naquela área) eram produtos importantes. Além disso, a cidade estava plantada na junção das principais rotas comerciais norte-sul e leste-oeste. Nos dias de Paulo, no entanto, a principal estrada havia sido redirecionada para passar por Laodiceia, desviando-se, assim, de Colossos, o que levou essa cidade ao declínio, promovendo o crescimento das cidades vizinhas: Laodiceia e Hierápolis.
Embora os habitantes de Colossos fossem essencialmente gentios, havia uma grande colônia judaica que datava dos dias de Antíoco, o Grande (223–187 a.C.). A população mista de judeus e de gentios da cidade manifestava-se tanto na composição da igreja quanto na doutrina herética que a assolava, a qual continha elementos do legalismo judeu e do misticismo pagão, conforme veremos na leitura do texto.
A igreja em Colossos foi estabelecida durante os três anos de ministério de Paulo em Éfeso (At 19), e seu fundador não foi o apóstolo, que nunca esteve lá (2.1), mas Epafras (1.5-7), que, aparentemente, foi salvo durante uma visita a Éfeso e, então, ao que tudo indica, organizou a igreja em Colossos no seu retorno para casa. Filemom parece ter sido um dos presbíteros da igreja, a qual se reunia na casa dele mesmo (Fm 1-2).
Alguns anos depois de a igreja em Colossos ter sido fundada, uma perigosa heresia aflorou em seu seio, ameaçando-a com a destruição do evangelho apostólico. A tal “HERESIA COLOSSENSE” não se identifica com qualquer sistema histórico particular. Sabe-se, contudo, que continha elementos do que, mais tarde, ficou conhecido como gnosticismo: [1] que Deus é bom, mas a matéria é má; [2] que Jesus Cristo foi, simplesmente, um de uma série de emanações descendentes de Deus e um ser inferior a ele (uma crença que os levava a negar a verdadeira humanidade de Jesus); e [3] que era necessário um conhecimento secreto e mais elevado do que somente a Escritura para a iluminação e a salvação. A heresia de Colossos também adotou aspectos do legalismo judaico; por exemplo, a necessidade da circuncisão para a salvação, a observância dos rituais cerimoniosos da lei do Antigo Testamento (as leis quanto aos alimentos, aos festivais e ao sábado) e de outras leis humanas. A heresia também abraçava traços pagãos: o culto aos anjos e a experiência mística. Desse modo, face ao gnosticismo, legalismo e paganismo, Epafras ficou tão preocupado com o que enxergava frutificando entre eles que fez uma longa viagem de Colossos a Roma (4.12-13), onde Paulo estava preso.
Da prisão em Roma, em conferência com Epafras, esta carta foi escrita (At 28.16-31), entre 60–62 depois de Cristo – sendo ela, portanto, uma das “epístolas da prisão” (juntamente com Efésios, Filipenses e Filemom). Parece ter sido escrita quase ao mesmo instante que Efésios e foi entregue com ela e a de Filemom por Tíquico (Ef 6.21-22; Cl 4.7-8). RESUMINDO: Paulo compôs esta epístola para advertir os colossenses a respeito da heresia entre eles, e a enviou por Tíquico, o qual estava acompanhando Onésimo, o escravo fugitivo, de volta para seu dono, Filemom, membro (e talvez presbítero) da igreja em Colossos (4.7-9). A carta foi enviada por Paulo e carregada por Tíquico, enquanto Epafras permaneceu em Roma (Fm 23), talvez para receber orientações adicionais do apóstolo Paulo.
A maravilhosa carta que Paulo escreve para a igreja em Colossos é composta de quatro capítulos curtos e contém 95 versículos no total. Você pode lê-la em voz alta em quinze a vinte minutos. Em linhas gerais, temos os seguintes:
Pois bem, agora nós leremos panoramicamente esta carta para examinar alguns aspectos importantes da renovação, da nova vida que se pode ter em Cristo Jesus. Faremos sob os seguintes tópicos: [1] o autor da transformação – Deus; [2] o meio para a transformação – Cristo; [3] o resultado da transformação – vida no Espírito; e [4] incentivos para se permanecer no processo de transformação.
o autor da transformação – Deus
O capítulo 1 de Colossenses deixará muito claro para nós que a fonte da nova vida ou o autor da transformação é Deus mesmos, do começo ao fim, e nenhum outro.
Saudações
Antes, porém, ele saúda a igreja em Colossos:
Colossenses 1.1-2 1Eu, Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, escrevo esta carta, junto com nosso irmão Timóteo, 2aos irmãos fiéis em Cristo, o povo santo na cidade de Colossos. Que Deus, nosso Pai, lhes dê graça e paz.
A gratidão de Paulo
Paulo passa a agradecer ao autor da transformação ocorrida nos crentes colossenses:
Colossenses 1.3-8 3Sempre oramos por vocês e damos graças a Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, 4pois temos ouvido falar de sua fé em Cristo Jesus e de seu amor por todo o povo santo, 5que vêm da esperança confiante naquilo que lhes está reservado no céu. Vocês têm essa expectativa desde que ouviram pela primeira vez a verdade das boas-novas. 6Agora, as mesmas boas-novas que chegaram até vocês estão se propagando pelo mundo todo. Elas têm crescido e dado frutos em toda parte, como ocorre entre vocês desde o dia em que ouviram e compreenderam a verdade sobre a graça de Deus. 7Vocês aprenderam as boas-novas por meio de Epafras, nosso amado colaborador. Ele é servo fiel de Cristo e nos tem ajudado em favor de vocês. 8Ele nos contou do amor que o Espírito lhes tem dado.
A oração de Paulo
Paulo deseja que nada disso se perca, então ele ora ao autor da transformação:
Colossenses 1.9-14 9Por isso, desde que ouvimos falar a seu respeito, não deixamos de orar por vocês. Pedimos a Deus que lhes conceda pleno conhecimento de sua vontade e também sabedoria e entendimento espiritual. 10Então vocês viverão de modo a sempre honrar e agradar ao Senhor, dando todo tipo de bom fruto e aprendendo a conhecer a Deus cada vez mais. 11Oramos também para que sejam fortalecidos com o poder glorioso de Deus, a fim de que tenham toda a perseverança e paciência de que necessitam. Que sejam cheios de alegria 12e sempre deem graças ao Pai. Ele os capacitou para participarem da herança que pertence ao seu povo santo, aqueles que vivem na luz. 13Ele nos resgatou do poder das trevas e nos trouxe para o reino de seu Filho amado, 14que comprou nossa liberdade e perdoou nossos pecados.
A teologia de Paulo
Paulo passa a revelar o Cristo supremo e todo suficiente para nos transformar (contemple-o e o receba com fé – ele tem poder para transformar).
NOTE: do versículo 15 ao 20 nós temos um hino da igreja primitiva, e nele ouvimos sobre [1] versículo 15: quem é Cristo; e [2] versículos 16-20: o que Cristo fez, faz e fará. Ouça:
Colossenses 1.15-20 15O Filho é a imagem do Deus invisível e é supremo sobre toda a criação. 16Pois, por meio dele, todas as coisas foram criadas, tanto nos céus como na terra, todas as coisas que podemos ver e as que não podemos, como os tronos, reinos, governantes e as autoridades do mundo invisível. Tudo foi criado por meio dele e para ele. 17Ele existia antes de todas as coisas e mantém tudo em harmonia. 18Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja. Ele é o princípio, supremo sobre os que ressuscitam dos mortos; portanto, ele é primeiro em tudo. 19Pois foi do agrado do Pai que toda a plenitude habitasse no Filho, 20e, por meio dele, o Pai reconciliou consigo todas as coisas. Por meio do sangue do Filho na cruz, o Pai fez as pazes com todas as coisas, tanto nos céus como na terra.
Agora Paulo revelará que o Cristo supremo (sua vida e obra) é suficiente para a salvação dos que perseveram no evangelho apostólico:
Colossenses 1.21-23 21Isso inclui vocês, que antes estavam longe de Deus. Eram seus inimigos, dele separados por seus maus pensamentos e ações. 22Agora, porém, ele os reconciliou consigo por meio da morte do Filho no corpo físico. Como resultado, vocês podem se apresentar diante dele santos, sem culpa e livres de qualquer acusação. 23É preciso, porém, que continuem a crer nessa verdade e nela permaneçam firmes. Não se afastem da esperança que receberam quando ouviram as boas-novas, que foram anunciadas em todo o mundo e que eu, Paulo, fui designado servo para proclamar.
O ministério de Paulo
Deus é o autor da salvação. Cristo é o meio (mais sobre isto no cap. 2). E os crentes são os instrumentos para o autor da salvação atuar para transformar o pecador em Cristo. Desse modo, Paulo passa a dar testemunho do seu ministério:
Colossenses 1.24 Alegro-me quando sofro por vocês em meu corpo, pois participo dos sofrimentos de Cristo, que continuam em favor de seu corpo, a igreja.
IMPORTANTE: “participo dos sofrimentos de Cristo” ou “preencho o que resta das aflições de Cristo” (ARA, NVI) não implica que haja uma deficiência na morte expiatória de Cristo e no sofrimento na cruz, o que contradiria a mensagem central desta carta e de todo o resto das Escrituras também (Hb 9.12, 24-26; 10.14). Os sofrimentos de Cristo são, de fato, suficientes, e coisa alguma de quem quer que seja poderá ser adicionado à obra do Calvário para assegurar a salvação. Participar ou preencher “o que resta das aflições de Cristo” diz respeito ao sofrimento futuro de todos os que (como Paulo) experimentarão grandes aflições por causa do evangelho de Deus que deve ser pregado para a transformação do pecador. (Veja nota de rodapé da Bíblia de Estudos NAA).
Paulo prossegue, testemunhando a respeito de seu ministério:
Colossenses 1.25-28 25Deus me deu a responsabilidade de servir seu povo, anunciando-lhes sua mensagem completa. 26Essa mensagem foi mantida em segredo por séculos e gerações, mas agora foi revelada ao seu povo santo, 27pois Deus queria que eles soubessem que as riquezas gloriosas desse segredo também são para vocês, os gentios. E o segredo é este: Cristo está em vocês, o que lhes dá a confiante esperança de participar de sua glória! 28Portanto, proclamamos a Cristo, advertindo a todos e ensinando a cada um com toda a sabedoria, para apresentá-los maduros em Cristo. 29Por isso trabalho e luto com tanto esforço, na dependência de seu poder que atua em mim.
Portanto, Deus mesmo é o autor da transformação, por meio de Cristo – do evangelho de Jesus Cristo – e pela instrumentalidade de homens e de mulheres que se dispõem a sofrer para levar a mensagem de salvação aos que deverão ser transformados.
S.D.G. L.B.Peixoto
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