03.01.2021
[Gálatas 2.16] E, no entanto, sabemos que uma pessoa é declarada justa diante de Deus pela fé em Jesus Cristo, e não pela obediência à lei. E cremos em Cristo Jesus, para que fôssemos declarados justos pela fé em Cristo, e não porque obedecemos à lei. Pois ninguém é declarado justo diante de Deus pela obediência à lei.
“Andá com fé eu vou… Que a fé não costuma faiá”, cantarolou Gilberto Gil de forma tão repetitiva e em um tipo de melodia tal que impregna na cabeça da gente — “Andá com fé eu vou… Que a fé não costuma faiá…” — Não há como descobrir o que passava na cabeça do artista no momento da composição, mas o “andá” e o “faiá” atentam os ouvidos para o erro gramatical com propósito bastante objetivo: personificar o lema da pessoa humilde, pobre, desprovida de bens e que acredita em dias melhores – andar com fé, tendo a certeza de que deste modo, com fé seja lá no que for, não se falhará.
Andar com fé, não importa em quê, esse é o lema em geral da maioria do brasileiro e que ficou bem colocado na música já citada do cantor de MPB: fé na mulher (Maria); fé na cobra-coral (o guia-chefe do terreiro de umbanda); fé no pedaço de pão (a coisa material que sacia); fé na maré (o trabalho do pescador); fé na lâmina de um punhal (o crime); fé na manhã e à noite, fé no sol do verão (em todos os momentos); certo ou errado até a fé vai onde quer que eu vá, a pé ou de avião… mesmo a quem não tem fé, a fé costuma acompanhar, pelo sim, pelo não… “Andá com fé eu vou… Que a fé não costuma faiá”. Foi desse modo que Gilberto Gil explicou – segundo ele e a maioria crê – que todo mundo tem fé e que a fé, não importa qual ou em quê, jamais nos deixará na mão. O rapper Sabotage diria “Amém!”, posto que cantou quase a mesma mensagem, em uma linha do rap Rap É Compromisso, “Deus ajuda, é verdade, vai na fé não na sorte”.
Ninguém, é verdade, anda sem fé. Todo mundo tem fé em alguma coisa, fé de algum jeito, fé para se obter algo. A fé é uma necessidade intrínseca do ser humano, mas não pode ser fé de qualquer jeito. Importa sim ter a fé certa, do modo apropriado e com o propósito adequado. O texto de Paulo que lemos inicialmente nos revela o conteúdo da fé, o propósito da fé e o significado da fé. Ouça, mais uma vez, Gálatas 2.16:
E, no entanto, sabemos que uma pessoa é declarada justa diante de Deus pela fé em Jesus Cristo, e não pela obediência à lei. E cremos em Cristo Jesus, para que fôssemos declarados justos pela fé em Cristo, e não porque obedecemos à lei. Pois ninguém é declarado justo diante de Deus pela obediência à lei.
Veja: [1] Cristo Jesus é o conteúdo da fé; [2] ser declarado justo (ser aceito e perdoado) diante de Deus é o propósito da fé; e [3] fé é fé somente, sem qualquer adição nossa pelo que fazemos (por exemplo, obediência à lei, como passaram a fazer os gálatas). Esta é a tese de Paulo nesta carta: a vida cristã, do começo ao fim, se dá pela fé, somente pela fé em Cristo para a nossa justificação diante de Deus e santificação para a vida eterna, sem que façamos qualquer coisa para merecer ou contribuir (Gl 2.16; Rm 1.17).
Os gálatas, tendo começado a vida cristã pela fé, rapidamente abandonaram o percurso inicial e passaram a trilhar um novo caminho baseado em obras – uma direção que Paulo considerou espantosa tanto pela direção oposta como pela velocidade elevada (Gl 1.6). Por causa disso, sua carta aos Gálatas é um ataque contundente contra o evangelho das obras e uma defesa vigorosa do evangelho da fé, o evangelho da graça gratuita. John R. W. Stott (1921–2011), competente expositor bíblico que foi, escreveu que
Os gálatas convertidos, que tinham recebido o evangelho da graça, estavam agora se desviando para outro evangelho, um evangelho de obras… Eles não negavam a necessidade de se crer em Jesus para se receber a salvação, mas enfatizavam a necessidade de se ser circuncidado e também de se observar a Lei. Ou seja, era preciso deixar que Moisés terminasse o que Cristo começara. Ou melhor, você mesmo deve terminar, por meio de sua obediência à Lei, o que Cristo começou.
São muitos, mesmo entre evangélicos, que ainda hoje definem deste modo a vida cristã e praticam desta forma a sua fé: creem em Deus, creem em Jesus Cristo, mas buscam também, de algum modo, contribuir para conquistar o favor de Deus (tanto para a salvação quanto para algum benefício terreno). Paulo diria: “Que absurdo!” (Gl 1.6). Vida cristã é fé do começo ao fim, fé no evangelho, o evangelho da graça gratuita.
Gálatas, com seis capítulos e 149 versículos, é um dos primeiros documentos escritos do cristianismo. Talvez o mais antigo, ao lado da carta de Tiago. Paulo a escreveu de Antioquia da Síria por volta do ano 49 depois de Cristo (Gl 2.11). Seus destinatários foram algumas igrejas que ele ajudou a organizar na região que é hoje a Turquia. Os cristãos da Ásia Menor – em Icônio, Listra e Derbe – que, de uma maneira entusiasmada receberam o evangelho no início (At 13–14), estavam rapidamente se desviando da verdade ao adicionarem obras à fé. Paulo, então, agiu com rapidez para corrigir.
Para absorvermos melhor o conteúdo deste belíssimo documento cristão – o manifesto da liberdade cristã – dividiremos nosso estudo em três partes (as mesmas que Paulo parece ter concebido ao compor a carta): [1] a origem divina do evangelho no qual depositamos nossa fé (1.1–2.21); [2] a essência indissolúvel do evangelho no qual cremos (3.1–4.31); e [3] a vida que é fruto do evangelho no qual temos fé (5.1–6.18).
A fé bíblica tem conteúdo (não é subjetiva ou abstrata), e o conteúdo da fé tem origem em Deus. Dito de outro modo: o evangelho no qual cremos, a mensagem do cristianismo, não é uma mera disposição pessoal, invenção de homens ou convenção de alguma instituição. Não é um mero impulso do coração ou imposição cultural. O evangelho que cremos e proclamamos é a mensagem de Deus – boas-novas de grande alegria, boas-novas de paz e salvação. E os dois primeiros capítulos desta carta de Paulo trata da origem divina da mensagem que creem os cristãos.
Não é um evangelho ou uma mensagem de homens para agradar homens,
mas o fruto da revelação divina:
Gálatas 1.1-2 1Eu, Paulo, apóstolo, nomeado não por um grupo de pessoas, nem por alguma autoridade humana, mas pelo próprio Jesus Cristo e por Deus, o Pai, que ressuscitou Jesus dos mortos, 2escrevo esta carta, com todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia.
Gálatas 1.10-24 10Acaso estou tentando conquistar a aprovação das pessoas? Ou será que procuro a aprovação de Deus? Se meu objetivo fosse agradar as pessoas, não seria servo de Cristo. 11Irmãos, quero que vocês entendam que a mensagem das boas-novas por mim anunciada não provém do raciocínio humano. 12Não a recebi de fonte humana, e ninguém a ensinou a mim. Ao contrário, eu a recebi por revelação de Jesus Cristo. 13Vocês sabem como eu era quando seguia a religião judaica, como perseguia com violência a igreja de Deus. Não media esforços para destruí-la. 14 Superava a muitos dos judeus de minha geração, sendo extremamente zeloso pelas tradições de meus antepassados. 15Contudo, ainda antes de eu nascer, Deus me escolheu e me chamou por sua graça. Foi do agrado dele 16revelar seu Filho a mim, para que eu o anunciasse aos gentios. Quando isso aconteceu, não consultei ser humano algum. 17Tampouco subi a Jerusalém para pedir o conselho daqueles que eram apóstolos antes de mim. Em vez disso, fui à Arábia e depois voltei à cidade de Damasco. 18Então, passados três anos, fui a Jerusalém para conhecer Pedro, com quem permaneci quinze dias. 19O único outro apóstolo que vi naquela ocasião foi Tiago, irmão do Senhor. 20Afirmo diante de Deus que o que lhes escrevo não é mentira. 21Depois disso, fui às províncias da Síria e da Cilícia. 22As igrejas em Cristo que estão na Judeia ainda não me conheciam pessoalmente. 23Sabiam apenas o que as pessoas diziam: “Aquele que nos perseguia agora anuncia a mesma fé que antes tentava destruir”. 24E louvavam a Deus por minha causa.
Trata-se de um evangelho com conteúdo cognitivo específico (proposições, asserções, verdades),o que nos torna capazes de reconhecê-lo, recebê-lo ou rejeitá-lo, e reparti-lo ou rebatê-lo:
Gálatas 1.6-9 6Admiro-me que vocês estejam se afastando tão depressa daquele que os chamou para si por meio da graça de Cristo. Vocês estão seguindo um caminho diferente que se faz passar pelas boas-novas, 7mas que não são boas-novas de maneira nenhuma. Estão sendo perturbados por aqueles que distorcem deliberadamente as boas-novas de Cristo. 8Que seja amaldiçoado qualquer um, incluindo nós, ou mesmo um anjo do céu, que anunciar boas-novas diferentes das que nós lhes anunciamos. 9Repito o que disse antes: se alguém anunciar boas-novas diferentes das que vocês receberam, que seja amaldiçoado.
O evangelho que cremos deve ser balizado pelo ensino dos apóstolos:
Gálatas 2.1-10 1Catorze anos depois, voltei a Jerusalém, dessa vez com Barnabé, e Tito também nos acompanhou. 2Fui para lá por causa de uma revelação. Reuni-me em particular com os líderes e compartilhei com eles as boas-novas que tenho anunciado aos gentios. Queria me certificar de que estávamos de acordo, pois temia que meus esforços, anteriores e presentes, fossem considerados inúteis. 3Mas eles me apoiaram e nem sequer exigiram que Tito, que me acompanhava, fosse circuncidado, embora fosse gentio. 4Essa questão foi levantada apenas por causa de alguns falsos irmãos que se infiltraram em nosso meio para nos espionar e nos tirar a liberdade que temos em Cristo Jesus. Sua intenção era nos escravizar, 5mas não cedemos a eles nem por um momento, a fim de preservar a verdade das boas-novas para vocês. 6Quanto aos líderes — cuja reputação, a propósito, não fez diferença alguma para mim, pois Deus não age com favoritismo —, nada tiveram a acrescentar àquilo que eu pregava. 7Ao contrário, viram que me havia sido confiada a responsabilidade de anunciar as boas-novas aos gentios, assim como a Pedro tinha sido confiada a responsabilidade de anunciar as boas-novas aos judeus. 8Pois o mesmo Deus que atuou por meio de Pedro como apóstolo aos judeus também atuou por meu intermédio como apóstolo aos gentios. 9De fato, Tiago, Pedro e João, tidos como colunas, reconheceram a graça que me foi dada e aceitaram Barnabé e a mim como seus colaboradores. Eles nos incentivaram a dar continuidade à pregação aos gentios, enquanto eles prosseguiriam no trabalho com os judeus. 10Sua única sugestão foi que continuássemos a ajudar os pobres, o que sempre fiz com dedicação.
O evangelho tem autoridade sobre “autoridades espirituais”:
Gálatas 2.11-16 11Mas, quando Pedro veio a Antioquia, tive de opor-me a ele abertamente, pois o que ele fez foi muito errado. 12No começo, quando chegou, ele comia com os gentios. Mais tarde, porém, quando vieram alguns amigos de Tiago, começou a se afastar, com medo daqueles que insistiam na necessidade de circuncisão. 13Como resultado, outros judeus imitaram a hipocrisia de Pedro, e até mesmo Barnabé se deixou levar por ela. 14Quando vi que não estavam seguindo a verdade das boas-novas, disse a Pedro diante de todos: “Se você, que é judeu de nascimento, vive como gentio, e não como judeu, por que agora obriga esses gentios a viverem como judeus? 15Você e eu somos judeus de nascimento, e não pecadores, como os judeus consideram os gentios. 16E, no entanto, sabemos que uma pessoa é declarada justa diante de Deus pela fé em Jesus Cristo, e não pela obediência à lei. E cremos em Cristo Jesus, para que fôssemos declarados justos pela fé em Cristo, e não porque obedecemos à lei. Pois ninguém é declarado justo diante de Deus pela obediência à lei”.
Pedro estava errado, e Paulo o corrigiu pelo evangelho, posto que não se pode alcançar justiça pela obediência à lei, mas só pela fé no Cristo crucificado (2.17-21).
Posto que o evangelho no qual depositamos nossa fé é de origem divina, tem conteúdo, pode ser aferido e é aferidor, Paulo passa a esclarecer a essência indissolúvel do mesmo. Os capítulos 3 e 4, portanto, compões não apenas o coração da carta, mas também o coração de nossa fé.
Qual exatamente é a mensagem do evangelho?
No que creem os cristãos?
Justificação somente pela graça, por meio somente da fé em Cristo somente é o que nós professamos, preservamos e partilhamos. Agora veja como isto se desembrulha:
O custo da graça – a morte de Cristo:
Os capítulos 3 e 4 são uma ampliação do resumo do evangelho na introdução da carta, o qual nos revela o custo da graça (é de graça para nós, mas não foi barato para Deus).
Gálatas 1.3-5 3Que Deus, o Pai, e nosso Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz. 4Jesus entregou sua vida por nossos pecados, a fim de nos resgatar deste mundo mau, conforme Deus, nosso Pai, havia planejado. 5Toda a glória a Deus para todo o sempre! Amém.
O meio da graça – fé em Jesus Cristo:
Gálatas 2.19-21 19Pois, quando procurei viver por meio da lei, ela me condenou. Portanto, morri para a lei a fim de viver para Deus. 20Fui crucificado com Cristo; assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Portanto, vivo neste corpo terreno pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim. 21Não considero a graça de Deus algo sem sentido. Pois, se a obediência à lei nos tornasse justos diante de Deus, não haveria necessidade alguma de Cristo morrer.
A obra da graça – a justificação pela fé:
Gálatas 3. Para conduzir os gálatas de volta ao Caminho, Paulo passou a apresentar uma série de argumentos que explica por que a justificação vem unicamente pela fé, não pelas obras ou mesmo por elas somadas à fé.
Primeiro, o apóstolo apela à experiência dos próprio gálatas:
Gálatas 3.1-5 1Ó gálatas insensatos! Quem os enfeitiçou? Jesus Cristo não lhes foi explicado tão claramente como se tivessem visto com os próprios olhos a morte dele na cruz? 2Deixem-me perguntar apenas uma coisa: vocês receberam o Espírito porque obedeceram à lei ou porque creram na mensagem que ouviram? 3Será que perderam o juízo? Tendo começado no Espírito, por que agora procuram tornar-se perfeitos por seus próprios esforços? 4Será que foi à toa que passaram por tantos sofrimentos? É claro que não foi à toa! 5Volto a perguntar: acaso aquele que lhes deu o Espírito e realizou milagres entre vocês agiu assim porque vocês obedeceram à lei ou porque creram na mensagem que ouviram?
Segundo, Paulo usou o conhecimento do Antigo Testamento: Abraão foi declarado justo por meio da fé e não pelas obras (3.6-9). E prosseguiu o apóstolo:
A lei e os profetas também testemunharam que todos – de Abraão aos cristãos gentios – são justificados pela fé, não pela lei (3.15-18).
A lei foi acrescentada apenas até a vinda de Cristo e serviu para expor o pecado pelo que é (3.19-20).
A lei nunca pôde libertar os pecadores do pecado – essa bênção vem somente pela fé em Jesus Cristo (3.21-22).
A lei cumpriu seu propósito de nos guiar – nós, os judeus (diz Paulo) – para Cristo a fim de que pudéssemos ser justificados pela fé (3.23-25).
Assim, todos vocês que crêem em Cristo são filhos de Deus por adoção, independentemente da nacionalidade, do gênero e da condição social (3.26–4.7).
Contudo, continua Paulo em seu argumento, agora que vocês não são mais escravos da lei, por que estão voltando atrás como se quisessem ser escravos de novo (4.8-11)? Vocês costumavam me ter em altíssima estima! O que aconteceu (4.12-16)? Sinto muito se tenho de inquiri-los desse modo, mas esses falsos mestres querem apenas prejudicar vocês (4.17-20)!
Veja, se vocês querem estar debaixo da lei, não estão conscientes de que Abraão teve um filho escravo, nascido por meios naturais, e um filho livre, nascido como resultado da promessa (4.21-23)? Essa é uma alegoria, para nós, dos que foram escravizados pela lei, e dos que foram milagrosamente libertados pela promessa (4.24-27). Vocês são filhos livres da promessa! Por isso, são perseguidos pelos outros e, consequentemente, devem lançá-los fora da igreja (4.28-31).
A MENSAGEM DO EVANGELHO É ESTA: somos salvos somente pela fé em Jesus Cristo, que morreu por nós e tomou sobre si na cruz a nossa punição. Apenas quando cremos e confiamos em Cristo é que ele aplica ao nosso coração a perfeita justiça e o perdão que conquistou para nós no Calvário.
A questão, portanto, nunca é o que você faz. O ponto é o que Deus fez. Ele leva a glória. Não abrimos nosso próprio caminho para o céu através de alguma fiel observância religiosa ou qualquer outro meio que julgarmos espiritual.
É Deus mesmo que, em seu grande amor em Cristo, abaixa-se para pegar você e a mim. Nesse imenso amor, transbordante de graça, levanta-o em Cristo e segura-o para que o mundo inteiro o veja como um testemunho, não de grandeza, piedade ou religiosidade pessoal, mas “para o louvor de sua graça gloriosa, que ele derramou sobre nós em seu Filho amado” (Ef 6.1).
A mensagem desta carta inteira consiste de uma amorosa admoestação, na qual Paulo, em essência, diz: “Agarrem-se com firmeza ao evangelho e advirtam aqueles que estão se soltando dele!”. O evangelho da graça gratuita deve ser recebido pela fé, e deve-se de igual modo batalhar por ele – com fé.
Você já fez isso? Você faria? Em que circunstâncias? O evangelho está enraizado o bastante em seu coração, é claro e firme o suficiente em seu íntimo para que você seja capaz de identificar o erro e exortar com graça e verdade um amigo ou outra pessoa, mesmo da igreja, a respeito de seu conteúdo?
Por fim, a carta aos Gálatas, como todas as cartas de Paulo, não contém apenas verdade proposicional; ela descreve como é essa verdade quando nós a vivemos.
O cristianismo carrega a grande percepção de que a verdade proposicional e os relacionamentos pessoais – a doutrina e a prática – não são tópicos sem relação uns com os outros nem devem se opor um ao outro. A mente e o coração não devem, e, na verdade, não podem ser divididos. O que você pensa e como você age são aspectos de sua vida integralmente relacionados.
Portanto, [1] tendo demonstrado a origem divina do evangelho no qual depositamos nossa fé: Deus mesmo (1.1–2.21) e [2] definido a essência indissolúvel do evangelho no qual cremos: justificação somente pela fé (3.1–4.31), não devemos nos surpreender com o fato de que Paulo, agora, nos últimos capítulos, [3] volte-se à forma como nós devemos viver. O evangelho tem implicações práticas para nossa vida individual e para nossa vida juntos, como igreja.
Paulo anuncia: Vocês foram libertos, portanto, não troquem a liberdade pela escravidão (5.1)! Se vocês cederem e começarem a exigir a circuncisão, terão desistido da graça, renunciarão à fé (5.2-6). Esses falsos mestres pagarão por isso (5.7-12) – a linguagem é forte: “Esses sujeitos que os perturbam deveriam castrar a si mesmos!” (5.12).
Agora, essa liberdade não é liberdade para pecar (para justificar o pecar), mas é libertação mesmo do pecado (para amar uns aos outros – a lei pode ser resumida no mandamento do amor), Gálatas 5.13-15:
13Porque vocês, irmãos, foram chamados para viver em liberdade. Não a usem, porém, para satisfazer sua natureza humana. Ao contrário, usem-na para servir uns aos outros em amor. 14Pois toda a lei pode ser resumida neste único mandamento: “Ame o seu próximo como a si mesmo”. 15Mas, se vocês estão sempre mordendo e devorando uns aos outros, tenham cuidado, pois correm o risco de se destruírem.
Assim, sigam o Espírito, não o inimigo dele, a carne (5.16-18):
16Por isso digo: deixem que o Espírito guie sua vida. Assim, não satisfarão os anseios de sua natureza humana. 17A natureza humana deseja fazer exatamente o oposto do que o Espírito quer, e o Espírito nos impele na direção contrária àquela desejada pela natureza humana. Essas duas forças se confrontam o tempo todo, de modo que vocês não têm liberdade de pôr em prática o que intentam fazer. 18Quando, porém, são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei.
Quem vivem na carne, no pecado não herdará o reino de Deus (5.19-21):
19Quando seguem os desejos da natureza humana, os resultados são extremamente claros: imoralidade sexual, impureza, sensualidade, 20idolatria, feitiçaria, hostilidade, discórdias, ciúmes, acessos de raiva, ambições egoístas, dissensões, divisões, 21inveja, bebedeiras, festanças desregradas e outros pecados semelhantes. Repito o que disse antes: quem pratica essas coisas não herdará o reino de Deus.
A presença do Espírito se comprovará pelo fruto na vida do cristão (5.22-26):
22Mas o Espírito produz este fruto: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, 23mansidão e domínio próprio. Não há lei contra essas coisas! 24Aqueles que pertencem a Cristo Jesus crucificaram as paixões e os desejos de sua natureza humana. 25Uma vez que vivemos pelo Espírito, sigamos a direção do Espírito em todas as áreas de nossa vida. 26Não nos tornemos orgulhosos, provocando e invejando uns aos outros.
Cheios do Espírito, cuidem uns dos outros (6.1-5):
1Irmãos, se alguém for vencido por algum pecado, vocês que são guiados pelo Espírito devem, com mansidão, ajudá-lo a voltar ao caminho certo. E cada um cuide para não ser tentado. 2Ajudem a levar os fardos uns dos outros e obedeçam, desse modo, à lei de Cristo. 3Se vocês se consideram importantes demais para ajudar os outros, estão apenas enganando a si mesmos. 4Cada um preste muita atenção em seu trabalho, pois então terá a satisfação de havê-lo feito bem e não precisará se comparar com os outros. 5Porque cada um de nós é responsável pela própria conduta.
Cuidem, em especial, daqueles que ensinam a verdade a vocês (6.6):
Aqueles que recebem o ensino da palavra devem repartir com seus mestres todas as coisas boas.
Nem sempre vemos as consequências do pecado de imediato, mas Deus garantirá que, um dia, todos vejam seus verdadeiros frutos (6.7-10):
7Não se deixem enganar: ninguém pode zombar de Deus. A pessoa sempre colherá aquilo que semear. 8Quem vive apenas para satisfazer sua natureza humana colherá dessa natureza ruína e morte. Mas quem vive para agradar o Espírito colherá do Espírito a vida eterna. 9Portanto, não nos cansemos de fazer o bem. No momento certo, teremos uma colheita de bênçãos, se não desistirmos. 10Por isso, sempre que tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé.
Finalmente, Paulo mesmo assina a carta e faz as últimas considerações (6.11-18):
11Vejam com que letras grandes lhes escrevo, de próprio punho, estas palavras finais! 12Aqueles que procuram obrigá-los a se circuncidarem desejam causar boa impressão para outros, a fim de não serem perseguidos por ensinar que somente a cruz de Cristo pode salvar. 13E nem mesmo aqueles que defendem a circuncisão cumprem toda a lei. Querem que vocês sejam circuncidados só para que eles se gloriem disso. 14Quanto a mim, que eu jamais me glorie em qualquer coisa, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo. Por causa dessa cruz meu interesse neste mundo foi crucificado, e o interesse do mundo em mim também morreu. 15Não importa se fomos circuncidados ou não. O que importa é que fomos transformados em nova criação. 16Que a paz e a misericórdia de Deus estejam sobre todos os que vivem de acordo com esse princípio e sobre o Israel de Deus. 17De agora em diante, que ninguém me perturbe com essas coisas, pois levo em meu corpo cicatrizes que mostram que pertenço a Jesus. 18Irmãos, que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o espírito de vocês. Amém.
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