27.12.2020
[Romanos 1.16-17] 16Pois não me envergonho das boas-novas a respeito de Cristo, que são o poder de Deus em ação para salvar todos os que creem, primeiro os judeus, e também os gentios. 17As boas-novas revelam como opera a justiça de Deus, que, do começo ao fim, é algo que se dá pela fé. Como dizem as Escrituras: “O justo viverá pela fé”.
Você é uma pessoa carente? Tem carência de quê – amor, atenção, afeto, afago?
Qual é a sua maior carência?
Ah! Você não se sente carente! Então humildade deve ser a sua maior carência.
Todos nós temos carências.
Uma pesquisa encomendada pela Johnson & Johnson ao IBOPE revelou em 2012 a opinião dos brasileiros sobre demonstrações de carinho. O levantamento que contou com dois mil entrevistados, mostrou que 62% da população considera o afeto importante – desses, 35% afirmou que recebeu muito carinho na vida e 28% declarou ter recebido nenhum. 21% dos brasileiros confessou não ter manifestado carinho a ninguém.
— A correria do dia a dia, estilo de vida, entre outros fatores estressantes, podem ter influenciado este resultado — comentou o Prof. Dr. José Roberto Leite, coordenador da Unidade de Medicina Comportamental, do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e fundador do Centro de Estudos em Medicina Comportamental (CEMCO) –, que analisou a pesquisa.
Todos nós temos carências. A questão, no entanto, é o que nós fazemos em face dessas necessidades (reais ou imaginárias; sentidas ou não sentidas): como reagimos? de que maneira nos comportamos? de que forma lidamos com as nossas carências? sobretudo, qual é a nossa mais real e absoluta necessidade?
Qual é a principal carência do ser humano?
Não se precipite para responder. Pense bem.
A cultura ao seu redor ou mesmo as suas necessidades sentidas no coração não serão, por si mesmas, fontes capazes ou mesmo confiáveis às quais recorrer para se responder às questões mais fundamentais da existência. Para responder à pergunta — qual é a minha grande carência? —, você terá que recorrer a uma fonte decisiva de autoridade: a palavra de Deus.
Romanos é a carta que temos para esta ocasião, e ela revelará que a nossa mais real necessidade é de justiça, a justiça de Cristo – ou seja, nossa carência é ser justificado – declarado justo – diante de Deus, por meio da fé na vida e obra de Cristo.
Esta é a carta mais sistematizada em termos de teologia em todo o Novo Testamento, é a obra magna de Paulo. Ela traça a história do evangelho – as boas-novas de Deus – da condenação à glorificação, passando pela justificação e a santificação do pecador. Composta de 16 capítulos e 433 versículos, a carta aos Romanos contém o evangelho segundo o apóstolo Paulo – ele explica de forma profunda [1] como Deus salva qualquer pecador por meio de Cristo (cap. 1-11) e [2] expõe de forma prática como esse novo povo deve viver para a glória de Cristo neste velho mundo do pecado (cap. 12-16).
O autor
A assinatura de Paulo como autor aparece já no cabeçalho que introduz a carta – (Rm 1.1): “Eu, Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo e enviado para anunciar as boas-novas de Deus, escrevo esta carta.” Paulo ditou o conteúdo e Tércio, servindo como escrevente do apóstolo, escreveu tudo (Rm 16.22).
Presume-se que esta tenha sido a carta de número seis do apóstolo no Novo Testamento (antecedida por Gálatas, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Coríntios), escrita por volta de 57 depois de Cristo.
Os destinatários
Paulo era um estranho para a igreja em Roma. Diferentemente de algumas das outras igrejas para as quais escreveu, não foi ele que a organizou ou havia visitado os irmãos. Não sabemos quem organizou a igreja. Talvez alguns judeus que se converteram no Pentecostes retornaram a Roma e começaram uma igreja na capital do império romano (At 2.7-11). Sabemos de fontes extrabíblicas que lá os cristãos se reuniam desde o período bem inicial do cristianismo.
Não sabemos muito sobre a igreja romana em si senão que cristãos judeus e gentios a pertenciam – é tanto que, ao longo da correspondência, ora Paulo se dirige aos judeus (7.1), ora aos gentios (11.13).
Embora Paulo não tivesse ainda conhecido seus leitores, fica claro pela leitura que ele havia recebido bastante informações sobre aqueles crentes. Sabia, por exemplo, que a fé deles em Cristo era amplamente – “comentada em todo o mundo” – o que provavelmente quer dizer o mundo cristão em que o apóstolo vivia e trabalhava; e agradecia a Deus por eles e sempre se lembrava deles em suas orações (1.8-10).
Como Paulo obteve informações sobre a igreja?
Mais ou menos do mesmo modo como familiares de Cloe de Corinto haviam levado ao apóstolo notícias da igreja coríntia (1Co 1.11), é provável que alguns cristãos romanos o tivessem visitado em Corinto (Rm 16.1; 1Co 1.14), local de onde ele escreveu para os romanos. Alguns dos seus amigos próximos, como Áquila e Priscila, que haviam voltado para Roma (Rm 16.3), também podem ter escrito ao apóstolo, relatando-lhe sobre a igreja. Ademais, certamente que Paulo conseguiu suas informações a respeito desses irmãos através dos 20 e tantos amigos pessoais que ele mesmo nomeia e saúda no capítulo final – os quais, ou alguns deles, devem ter se correspondido com o apóstolo (16.3-16). Uma das pessoas citadas foi Febe, serva (diaconisa) da igreja em Cencreia, um porto de Corinto. Ela ainda não havia chegado a Roma, mas estava a caminho de lá e parece ter sido a mensageira que levou esta carta para a igreja romana (Rm 16.1-2).
O apóstolo informa aos irmãos que ele havia planejado visitá-los em muitas ocasiões, mas que fora impedido de fazê-lo (Rm 1.13). Não obstante, esperava em Deus poder desenvolver um ministério espiritual de encorajamento entre eles (Rm 1.11-12) e conseguir convertidos para Cristo do mesmo modo que havia conseguido em outras comunidades de gentios (Rm 1.13). Ele se achava devedor a todos os homens do mundo (Rm 1.14). Portanto, estava ansioso por pregar o evangelho em Roma (Rm 1.15). Desejava, nas palavras dele mesmo, ser “um mensageiro da parte de Cristo Jesus a vocês, os gentios. Anuncio-lhes as boas-novas para que se tornem oferta aceitável a Deus, separados pelo Espírito Santo.” (Rm 15.16).
As razões para a carta
Por que Paulo escreveu Romanos?
Geralmente se diz desta carta que ela é “a teologia sistemática de Paulo” – uma declaração sistematizada clássica e atemporal da fé cristã e, particularmente, do evangelho de Cristo. É fácil enxergar Romanos assim, em parte porque Paulo não aborda situações ou controvérsias específicas como ele faz, por exemplo, nas cartas aos coríntios ou aos gálatas. Embora seja verdade que Romanos seja uma declaração clássica da fé cristã, não é simplesmente uma lista de proposições teológicas desconexas. Paulo apresenta um argumento sustentado que explica o evangelho cristão e usa o argumento para se apresentar e se dirigir aos leitores como em qualquer carta pessoal.
De forma prática:
1. Paulo escreveu para corrigir as acusações e os erros dos opositores judaizastes, explicando as principais facetas da fé e da mensagem apostólica. Assim, o apóstolo expôs as doutrinas do evangelho que estão no centro da fé cristã e que, portanto, devem ser centrais na fé de qualquer pessoa ou igreja verdadeiramente cristã. Missionário-pastor-teólogo que era, intentava curar as divisões que haviam surgido como resultado do ministério daqueles mestres cujos erros doutrinários deveriam ser cuidadosamente evitados. Romanos 16.17-18:
17E agora, irmãos, peço-lhes que tomem cuidado com aqueles que causam divisões e perturbam a fé, ensinando coisas contrárias ao que vocês aprenderam. Fiquem longe deles. 18Esses indivíduos não servem a Cristo, nosso Senhor, mas apenas a seus próprios interesses, e enganam os inocentes com palavras suaves e bajulação.
2. Paulo escreveu para assegurar que a igreja o recebesse bem em Roma e então o apoiasse na sua missão à Espanha. Romanos 15.23-24, 28-29:
23Mas, agora que terminei meu trabalho nessas regiões, e depois de tantos anos de espera, estou ansioso para visitá-los. 24Planejo ir à Espanha e, quando for, espero passar por Roma. E, depois de ter desfrutado um pouco de sua companhia, vocês poderão me ajudar com a viagem. […] 28Assim que eu tiver entregado o dinheiro [dos macedônios aos irmãos de Jerusalém] e completado essa boa ação dos gentios [macedônios], irei à Espanha, visitando vocês de passagem. 29E estou certo de que, quando for, Cristo abençoará ricamente nosso tempo juntos.
3. Paulo escreveu para neutralizar as tensões que existiam entre os crentes judeus e gentios, abordando a questão que ardia na alma dele: o destino de seu próprio povo, os judeus e o lugar dos gentios na história da salvação. Esse último propósito parece ser a força motriz por trás da carta inteira. Romanos 11.30-32:
30Em outros tempos, vocês, gentios, foram rebeldes contra Deus, mas agora, por causa da desobediência deles [judeus], vocês receberam misericórdia. 31Agora eles são os rebeldes, e Deus foi misericordioso com vocês, para que eles também participem da misericórdia dele. 32Pois Deus colocou a todos debaixo da desobediência para que de todos tivesse misericórdia.
Um panorama de Romanos
Obviamente, não podemos cobrir tudo o que Paulo escreveu aos romanos nos poucos minutos que nos restam. No entanto, é possível resumir a carta com uma palavra: justiça. Dito de outro modo: Paulo escreveu para ensinar que “as boas-novas revelam como opera a justiça de Deus, que, do começo ao fim, é algo que se dá pela fé. Como dizem as Escrituras: “O justo [quem foi declarado justo] viverá pela fé”. (Rm 1.17). O testemunho de Lutero a respeito de seu relacionamento com esta carta é interessantíssimo, para dizermos o mínimo. Escreveu o reformador:
Eu realmente desejava entender a epístola de Paulo aos Romanos e nada ficou no caminho, a não ser a expressão justiça de Deus, porque eu entendia que a justiça pela qual o justo Deus age é a de punir os maus […] Meditei noite e dia […] Até compreender que a justiça de Deus é aquela em que por meio da graça e da misericórdia absoluta, ele nos justifica [declara-nos justos perante ele] pela [nossa] fé. Por causa disso, senti que renasci e adentrei pelas portas abertas do paraíso.
Comumente, quando se fala de justificação, o que se tem em mente ou se entende estar dizendo é que se está fazendo alguma defesa de algo ou alguém que não tem qualquer justificativa. Frequentemente nós utilizamos o verbo justificar de forma negativa, no sentido de se desculpar de alguma coisa indesculpável: “Ah, você está apenas tentando se justificar!”. Em outras palavras, “Você está tentando explicar algo que sabe que está errado.” No Novo Testamento e na história do pensamento cristão, entretanto, a ideia de justificação se refere mais particularmente à questão eterna da salvação [à maior carência do ser humano]: como uma pessoa poderá se apresentar adequadamente diante de Deus? ou como uma pessoa poderá se acertar com Deus?
Ser justificado é ser declarado justo ou ser aceito diante de Deus – e esta é a grande questão abordada por Paulo nesta carta, é a resposta para a maior carência de qualquer ser humano: como pecadores podem ser justificados (aceitos) aos olhos de Deus? Em linhas gerais, Paulo responde a esta questão – a grande questão da existência (como pecadores podem ser justificados – aceitos – aos olhos de Deus?) – em cinco partes:
Em síntese, Paulo expõe o nosso maior problema (o pecado: 1.1—3.20), a solução de Deus para o nosso maior problema (a justificação, a santificação e a soberana graça de Deus: 3.21—11.36) e a resposta devida ao ser humano (a consagração: 12.1—16.27).
Saudação, contexto e tese (1.1-17)
Paulo se declara apóstolo do verdadeiro evangelho de Cristo, prometido desde o Antigo Testamento pelos profetas (vs. 1-7), saúda os romanos e expressa seu desejo de visitá-los para edificação e pregação do evangelho, posto que se sente devedor a todos no mundo (vs. 8-15). Suas observações pessoais atingem o clímax com uma declaração ousada de sua fé, que serve também de tese para a carta (vs. 16-17):
16Pois não me envergonho das boas-novas a respeito de Cristo, que são o poder de Deus em ação para salvar todos os que creem, primeiro os judeus, e também os gentios. 17As boas-novas revelam como opera a justiça de Deus, que, do começo ao fim, é algo que se dá pela fé. Como dizem as Escrituras: “O justo viverá pela fé”.
Todo mundo é culpado (1.18—3.20)
O argumento principal da carta tem início com o problema principal da raça humana – o pecado; não somente o pecado, mas também a ira de Deus contra o pecado que exige a justiça de Deus punindo o pecador. Tal condição é um problema para todo mundo, uma vez que, por natureza, todos nós enquadramo-nos em um de três tipos de pessoas:
Em suma, Romanos 3.9-12, 20:
9Pois bem, devemos concluir que nós, judeus, somos melhores que os outros? Não, de maneira nenhuma, pois já mostramos que todos, judeus ou gentios, estão sob o poder do pecado. 10Como afirmam as Escrituras: “Ninguém é justo, nem um sequer. 11Ninguém é sábio, ninguém busca a Deus. 12Todos se desviaram, todos se tornaram inúteis. Ninguém faz o bem, nem um sequer.” […] 20Pois ninguém será declarado justo diante de Deus por fazer o que a lei ordena. A lei simplesmente mostra quanto somos pecadores.
O veredito de Deus é justo: todos somos culpados. A culpa pelo pecado é o nosso principal problema. O perdão de Deus, a justificação diante de Deus é a nossa principal carência. Como, pois, viveremos?
A justificação pela fé em Cristo (3.21—5.21)
Felizmente, existe uma solução, que Paulo mesmo introduz na sequência de duas palavras muito importantes: “Agora, porem” (Rm 3.21). Ouça com fé, Romanos 3.21-24:
21Agora, porém, conforme prometido na lei de Moisés e nos profetas, Deus nos mostrou como somos declarados justos diante dele sem as exigências da lei: 22somos declarados justos diante de Deus por meio da fé em Jesus Cristo, e isso se aplica a todos que creem, sem nenhuma distinção. 23Pois todos pecaram e não alcançam o padrão da glória de Deus, 24mas ele, em sua graça, nos declara justos por meio de Cristo Jesus, que nos resgatou do castigo por nossos pecados.
Com efeito, Romanos 3.21-31 é a descrição de que Cristo, o sangue de Cristo na cruz no lugar do pecador é demonstração, revelação da justiça de Deus. “Com isso”, Paulo escreveu, “Deus se mostrou justo, condenando o pecado [no corpo de Cristo na cruz], e justificador, declarando justo o pecador que crê em Jesus” (Rm 3.26). Desse modo, ninguém poderá se vangloriar, nem judeus nem gentios, afinal, Romanos 3.30-31:
30Existe um só Deus, e ele declara justos tanto judeus como gentios somente pela fé. 31Então, se enfatizamos a fé, quer dizer que podemos abolir a lei? Claro que não! Na realidade, é só quando temos fé que cumprimos verdadeiramente a lei.
Tendo descrito a justiça de Deus em Cristo (Rm 3.21-31), Paulo passa a ilustrá-la na vida de Abraão, o pai da nação de Israel (Rm 4.1-25). Romanos 4.3: “Abraão creu em Deus, e assim foi considerado justo”. Em outras palavras: a justiça de Abraão não era fruto das obras (Rm 4.1-8) nem da circuncisão (4.9-12) nem do cumprimento da lei (Rm 4.13-15), mas da fé (Rm 4.16-25). Romanos 4.20-25:
20Em nenhum momento a fé de Abraão na promessa de Deus vacilou. Na verdade, ela se fortaleceu e, com isso, ele deu glória a Deus. 21Abraão estava plenamente convicto de que Deus é poderoso para cumprir tudo que promete. 22Por isso, por sua fé, ele foi considerado justo. 23E, quando Deus considerou Abraão justo, não o fez apenas para benefício dele. As Escrituras dizem 24que foi também para nosso benefício, pois elas garantem que também seremos considerados justos por crermos naquele que ressuscitou dos mortos a Jesus, nosso Senhor. 25Ele foi entregue à morte por causa de nossos pecados e foi ressuscitado para que fôssemos declarados justos diante de Deus.
Que fique bem claro: o exemplo de Abraão no Antigo Testamento atesta que Deus sempre salvou seres humanos pela fé e não pelas obras, rituais religiosos ou mesmo a lei. É pela fé – fé no Cristo ressurreto – que se é declarado justo diante de Deus.
Romanos 3 descreve a justiça de Deus em Cristo. Romanos 4, com o exemplo de Abraão, desenha a justiça de Deus que se recebe somente pela fé em Cristo somente. Romanos 5 declara os benefícios de se ser declarado justo por Deus: paz com Deus (Rm 5.1-2), alegria na tribulação (Rm 5.3-8) e salvação da ira vindoura (Rm 5.9-11).
Paulo então resume a doutrina da justificação ao comparar Adão e Jesus Cristo (Rm 5.12-21). Da mesma forma que Deus imputou o pecado de Adão a toda a raça humana (resultando em condenação e morte para todo mundo em todos os tempos), Deus também, graciosamente, imputa a justiça de Cristo a todos que creem nele (trazendo justificação, paz, alegria e salvação da ira de Deus). Romanos 5.20-21:
20A lei foi concedida para que todos percebessem a gravidade do pecado. Mas, à medida que o pecado aumentou, a graça se tornou ainda maior. 21Portanto, assim como o pecado reinou sobre todos e os levou à morte, agora reina a graça, que nos declara justos diante de Deus e resulta na vida eterna por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor.
A santificação pelo Espírito Santo (6.1—8.39).
Ao se conceber que Deus nos salva ou nos justifica somente pela graça e por meio da fé somente em Cristo – sem obras, rituais ou cumprimento da lei –, alguém poderia ser induzido a pensar que a justiça imputada ao que crê o leva ainda mais ao pecado, permite que ele continue pecando para que aumente ainda mais a graça de Deus (Rm 6.1), uma vez que não há qualquer necessidade de se fazer qualquer coisa para a justificação diante de Deus. Só que não, diz Paulo (Rm 6.2).
Agora que nos unimos a Jesus Cristo pela fé, uma nova força poderosa está atuando em nós pelo Espírito Santo para trazer mudança espiritual à vida do novo homem em Cristo. Assim, em Romanos 6, Paulo explica que não estamos mais sob o domínio do pecado. Uma vez que, pela fé, estamos unidos a Cristo em sua morte e ressurreição (Rm 6.1-14), também, pela fé, estamos mortos para o domínio do pecado e vivos para Deus em santidade (Rm 6.15-23). Romanos 6.20-23:
20Quando eram escravos do pecado, estavam livres da obrigação de fazer o que é certo. 21E qual foi o resultado? Hoje vocês se envergonham das coisas que costumavam fazer, coisas que acabam em morte. 22Agora, porém, estão livres do poder do pecado e se tornaram escravos de Deus. Fazem aquilo que conduz à santidade e resulta na vida eterna. 23Pois o salário do pecado é a morte, mas a dádiva de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Prosseguindo, em Romanos 7, Paulo explica que não estamos mais na escravidão da Lei – que nos mantinha cativos ou condenados por causa de nosso pecado que nos impedia de cumpri-la. O que a Lei fracassou em fazer – que é dar a justiça – agora Deus faz por intermédio de seu Espírito. Romanos 7.21-25:
21Assim, descobri esta lei em minha vida: quando quero fazer o que é certo, percebo que o mal está presente em mim. 22Amo a lei de Deus de todo o coração. 23Contudo, há outra lei dentro de mim que está em guerra com minha mente e me torna escravo do pecado que permanece dentro de mim. 24Como sou miserável! Quem me libertará deste corpo mortal dominado pelo pecado? 25Graças a Deus, a resposta está em Jesus Cristo, nosso Senhor. Na mente, quero, de fato, obedecer à lei de Deus, mas, por causa de minha natureza humana, sou escravo do pecado.
Então, em Romanos 8, Paulo passa a descrever a obra transformadora de vida do Espírito Santo ao libertar-nos do poder do pecado e da morte (Rm 8.1-11), tornando-nos filhos de Deus vitoriosos sobre o pecado (Rm 8.12-17), capacitando-nos para perseverar em meio aos sofrimentos (Rm 8.18-25), ajudando-nos a orar (Rm 8.26-27) e, sobretudo, garantindo-nos a salvação eterna e gloriosa, Romanos 8.28-39:
28E sabemos que Deus faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que o amam e que são chamados de acordo com seu propósito. 29Pois Deus conheceu de antemão os seus e os predestinou para se tornarem semelhantes à imagem de seu Filho, a fim de que ele fosse o primeiro entre muitos irmãos. 30Depois de predestiná-los ele os chamou, e depois de chamá-los, os declarou justos, e depois de declará-los justos, lhes deu sua glória. 31Que podemos dizer diante de coisas tão maravilhosas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32Se ele não poupou nem mesmo seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, acaso não nos dará todas as outras coisas? 33Quem se atreve a acusar os escolhidos de Deus? Ninguém, pois o próprio Deus nos declara justos diante dele. 34Quem nos condenará, então? Ninguém, pois Cristo Jesus morreu e ressuscitou e está sentado no lugar de honra, à direita de Deus, intercedendo por nós. 35O que nos separará do amor de Cristo? Serão aflições ou calamidades, perseguições ou fome, miséria, perigo ou ameaças de morte? 36Como dizem as Escrituras: “Por causa de ti, enfrentamos a morte todos os dias; somos como ovelhas levadas para o matadouro”. 37Mas, apesar de tudo isso, somos mais que vencedores por meio daquele que nos amou. 38E estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o que existe hoje nem o que virá no futuro, nem poderes, 39nem altura nem profundidade, nada, em toda a criação, jamais poderá nos separar do amor de Deus revelado em Cristo Jesus, nosso Senhor.
A eleição (9.1—11.36)
Até o final do capítulo 8, Paulo esteve respondendo ao seguinte dilema: como pode o homem ser justificado diante de Deus? Resposta: somente pela graça, somente pela fé em Cristo somente. Ponto final.
Mas há outro enorme problema: Israel rejeitou Jesus como Messias.
Qual é o problema?
Ora, se podemos ser justificados apenas pela fé em Cristo, e Israel rejeitou a Cristo, então parece que Israel, geopoliticamente falando, será rejeitada por Deus.
Mas onde está o problema?
Ocorre que Deus mesmo prometeu bênção e herança a Israel por meio de Abraão. Percebeu o problema? O que dizer das promessas de Deus a Abraão? O que dizer sobre Deus ao rejeitar a nação que rejeitou seu Messias?
Que Deus é esse que quebra promessas?
Até aqui Paulo discorreu sobre a justificação dos pecadores aos olhos de Deus, mas e quanto à justificação de Deus aos olhos dos pecadores? Como ele manterá sua benção e promessa de salvação a nós (a mim e a você), gentios, uma vez que ele rejeitou os judeus? Esse é o grande problema que Paulo está resolvendo em Romanos 9—11.
A infidelidade que Israel demonstrou ao rejeitar o Messias prometido por Deus não significa que Deus mudou de ideia ou se tornou infiel às suas promessas. Deus é fiel e será glorificado no final – 2Timóteo 2.13: “Se formos infiéis, ele permanecerá fiel, pois não pode negar a si mesmo.” O mesmo Paulo disse no capítulo 3 de Romanos que a falta de fé dos judeus não anula a fidelidade de Deus – Romanos 3.3-4:
3É verdade que alguns deles [judeus] foram infiéis, mas isso significa que Deus será infiel? 4De maneira nenhuma! Ainda que todos sejam mentirosos, Deus é verdadeiro.
Paulo sofreu muito com a rejeição de Israel (Rm 9.1-5), mas sabia que “nem todos os descendentes de Israel pertencem, de fato, ao povo de Deus” (Rm 9.6). A descendência de Abraão que de fato conta não é a física, “apenas os filhos da promessa são considerados filhos de Abraão” (Rm 9.8), “um remanescente segundo a eleição da graça” (Rm 11.5, ARA) O Israel de Deus é espiritual, conforme a eleição da graça, não o é por direito de nascimento (Rm 9.7-29). Desse modo, Deus permanece justo e fiel. Romanos 9.14-27:
14Estamos dizendo, então, que Deus foi injusto? Claro que não! 15Pois Deus disse a Moisés: “Terei misericórdia de quem eu quiser, e mostrarei compaixão a quem eu quiser”. 16Portanto, a misericórdia depende apenas de Deus, e não de nosso desejo nem de nossos esforços. […] 19Mas algum de vocês dirá: “Então por que Deus os culpa? Não estão apenas cumprindo a vontade dele?”. 20Ora, quem é você, mero ser humano, para discutir com Deus? 22[…] Deus tem o direito de mostrar sua ira e seu poder, suportando com muita paciência aqueles que são objeto de sua ira, preparados para a destruição. 23Ele age desse modo para que as riquezas de sua glória brilhem com esplendor ainda maior sobre aqueles dos quais ele tem misericórdia, aqueles que ele preparou previamente para a glória. 24E nós estamos entre os que ele chamou, tanto dentre os judeus como dentre os gentios. 25A esse respeito, Deus diz na profecia de Oseias: “Chamarei ‘meu povo’ aqueles que não eram meu povo, e amarei aqueles que antes eu não amava”. 26E também: “No lugar onde lhes foi dito: ‘Vocês não são meu povo’, eles serão chamados ‘filhos do Deus vivo’”. 27E, a respeito de Israel, o profeta Isaías clamou: “Embora o povo de Israel seja numeroso como a areia do mar, apenas um remanescente será salvo…
O problema, portanto, nunca esteve em Deus, mas no povo que para ele virou as costas, rejeitando o seu Messias: Jesus Cristo (Rm 10.1-15). A oferta, no entanto, permanece para todos os que aceitarem a palavra pregada (Rm 10.16-20). O problema de Israel (e de todos os que são rejeitados), porém, foi que “O dia todo abri meus braços para eles, mas foram desobedientes e rebeldes” — disse o SENHOR (Rm 10.21; Is 65.2).
Deus não rejeitou totalmente Israel, sempre houve e há na nação os eleitos segundo a graça soberana (Rm 11.1-10). A rejeição de Israel serviu para Deus chamar os gentios à salvação (Rm 11.11-24). E quando o número de gentios se completar, todo o Israel de Deus será salvo (judeus e gentios), Romanos 11.25-32:
25Irmãos, quero que vocês entendam este mistério para que não se orgulhem de si mesmos. Alguns do povo de Israel têm o coração endurecido, mas isso durará apenas até que o tempo dos gentios se complete. 26E assim todo o Israel será salvo. Como dizem as Escrituras: “O libertador virá de Sião e afastará Israel da impiedade. 27E esta é minha aliança com eles: eu removerei seus pecados”. 28Muitos do povo de Israel agora são inimigos das boas-novas, e isso beneficia vocês, gentios. No entanto, porque ele escolheu seus patriarcas, eles ainda são o povo que Deus ama. 29Pois as bênçãos de Deus e o seu chamado jamais podem ser anulados. 30Em outros tempos, vocês, gentios, foram rebeldes contra Deus, mas agora, por causa da desobediência deles, vocês receberam misericórdia. 31Agora eles são os rebeldes, e Deus foi misericordioso com vocês, para que eles também participem da misericórdia dele. 32Pois Deus colocou a todos debaixo da desobediência para que de todos [judeus e gentios] tivesse misericórdia.
Os judeus remanescentes serão salvos pela graça, e no futuro serão reunidos à Igreja. Essa forma de Deus agir fez brotar louvor do coração de Paulo, Romanos 11.33-36:
33Como são grandes as riquezas, a sabedoria e o conhecimento de Deus! É impossível entendermos suas decisões e seus caminhos! 34“Pois quem conhece os pensamentos do Senhor? Quem sabe o suficiente para aconselhá-lo?” 35“Quem lhe deu primeiro alguma coisa, para que ele precise depois retribuir?” 36Pois todas as coisas vêm dele, existem por meio dele e são para ele. A ele seja toda a glória para sempre! Amém.
Colocando em prática a justiça de Deus (12.1—15.13)
Como a maioria das cartas de Paulo, Romanos traz, caminhando para o final, uma grande seção de aplicação prática. Romanos 12—16 trata de demonstrar a aplicação da justiça de Deus na prática da vida comum. Uma vez que recebemos a maravilhosa graça de Deus na salvação, e fomos empoderados pelo Espírito Santo, a única coisa que resta a nós cristãos é viver em novidade de vida, Romanos 12.1-2:
1Portanto, irmãos, suplico-lhes que entreguem seu corpo a Deus, por causa de tudo que ele fez por vocês. Que seja um sacrifício vivo e santo, do tipo que Deus considera agradável. Essa é a verdadeira forma de adorá-lo. 2Não imitem o comportamento e os costumes deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma mudança em seu modo de pensar, a fim de que experimentem a boa, agradável e perfeita vontade de Deus para vocês.
Isso tudo tem implicações na forma como…
Essa é a nova gente que a justiça de Deus inclui na igreja e injeta no mundo.
Planos futuros de Paulo, despedida e doxologia (12.1—15.13)
O apóstolo termina descrevendo seus propósitos com a carta (Rm 15.14-21) e planos de viagem missionária (15.22-23), além de algumas palavras de despedida (Rm 16.1-16). Essas palavras revelam o forte sentimento de comunidade que a Igreja Primitiva nutria em todo no mundo. As advertências finais de Paulo são elucidativas, Romanos 16.17-20:
17E agora, irmãos, peço-lhes que tomem cuidado com aqueles que causam divisões e perturbam a fé, ensinando coisas contrárias ao que vocês aprenderam. Fiquem longe deles. 18Esses indivíduos não servem a Cristo, nosso Senhor, mas apenas a seus próprios interesses, e enganam os inocentes com palavras suaves e bajulação. 19Mas todos sabem que vocês são obedientes ao Senhor, o que muito me alegra. Quero que sejam sábios quanto a fazer o bem e permaneçam inocentes de todo mal. 20Em breve o Deus da paz esmagará Satanás sob os pés de vocês. Que a graça de nosso Senhor Jesus seja com vocês.
A doxologia que conclui a carta é ainda mais preciosa para a vida, vs. 25-27:
25Toda a glória seja a Deus, que pode fortalecê-los, como afirmam as boas-novas. Essa mensagem a respeito de Jesus Cristo revelou seu plano, mantido em segredo desde o princípio dos tempos, 26mas que agora, como os escritos dos profetas predisseram e o Deus eterno ordenou, é anunciada aos gentios de toda parte, a fim de que eles também possam crer nele e lhe obedecer. 27Toda a glória para sempre ao Deus único e sábio, por meio de Jesus Cristo. Amém.
Qual é a sua maior carência?
Olhando para Romanos, como fizemos panoramicamente, você já pode responder com propriedade: “a justiça de Deus em Cristo é a minha maior necessidade” – ela te salva do pecado, declara você justo diante de Deus, enche você de fé nas promessas de Deus para vencer o mundo e o pecado, torna-o uma nova criatura, insere você na igreja, ao passo que injeta você na sociedade para fazer a diferença para a glória de Deus.
As verdade reveladas em Romanos são maravilhosas, mas bastante desafiadoras. Ao refletir a respeito dessa carta, Lutero escreveu: “Apenas um homem humilde pode receber a palavra de Deus”. Acho que podemos entender esse sentimento de Lutero, não é mesmo?
E você?
Você aceita Deus da maneira como ele mesmo se revelou nesta carta – justo e justificador? Ou exige que Deus jogue de acordo com suas regras?
Você concorda, à luz deste documento apostólico, que a sua maior carência é justificação diante de Deus, santificação, comunhão na igreja e novidade de vida no mundo?
Cristo, a justiça de Deus, é o único capaz de suprir sua carência – de perdão pelo pecado, justiça diante de Deus, salvação da ira de Deus, amor real, comunhão verdadeira e sentido profundo para viver. Volte-se para Romanos, para o Cristo de Paulo em Romanos. Leia e releia esta carta. Receba a sua mensagem com fé e humildade.
John Piper descreve qual deve ser a resposta apropriada para tudo o que temos em Romanos:
Ser profundamente sóbrio pela terrível severidade de Deus, ficar humilhado até o pó pela absoluta dependência que temos de sua misericórdia incondicional, ser irresistivelmente atraído pelo infinito tesouro de sua glória pronta para ser revelada aos vasos de glória. Assim, seremos movidos a abandonar toda a confiança nas características ou realizações humanas e nos confiaremos somente à misericórdia. Na esperança de participar da glória de Deus, estenderemos essa misericórdia a outros para que vejam nossas boas-ações e dêem glória ao nosso Pai que está nos céus.
S.D.G. L.B.Peixoto
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